Um pouco mais de azul

segunda-feira, janeiro 31, 2005

Ah, é verdade

Se calhar já alguém se admirou por eu não fazer a mínima menção à campanha eleitoral, aos cartazes que inundam as nossas ruas, ao que uns e outros partidos dizem. Não fiz, nem faço. Do que vou vendo, lendo e ouvindo, vejo uma campanha ao nível do caixote do lixo - e nesse, o meu cão é que tenta fuçar, eu não.

"Anjo da guarda"

A impressora não funcionava desde ontem. Já tinha tentado tudo (ligado, desligado, seguido instruções, inventado outras tantas, rogado pragas, dado palmadas). Falei com o meu "anjo da guarda" informático pelo telefone, e não foi preciso fazer nada: ela começou a funcionar imediatamente mal eu tentei de novo. Eficiência assim, só mesmo de "anjo da guarda"!
Que posso eu dizer, para além de (pela quinquagésima milionésima vez, provavelmente) muito obrigada!

Um ano de ti



Parabéns, Gordito. Hoje, já não cabes nas mãos do teu pai, antes ensaias os primeiros passos. Passou um ano, e este blog que um pai criou para um dia oferecer ao filho termina. Embora compreendendo esse fim anunciado, tenho muita pena. Porque - já aqui o disse, mas nunca é demasiado repeti-lo - é um testemunho tão rico, tão terno, tão cheio de amor que me custa deixar de o ler. Cá dentro, neste coração de mãe, ficaram gravados alguns dos textos. Pedi licença a este Pai para gravar outros, no computador, que um dia possa dar a ler à minha filha, quando ela for mãe. Se me autorizar, serão guardados como um tesouro, porque de um tesouro se trata. Obrigada por nos ter permitido lê-lo. E no Trocas e Baldrocas esperamos por mais textos, agora não destinados ao filho, mas a todos nós.

Momento de humor

Acabo de verificar que alguém veio a este blog com a seguinte pesquisa: "faz mal pôr um supositório no rabo". Não me recordo, de todo, de ter falado aqui de supositórios, e isto não é um blog médico, mas respondo à dúvida. Não, não faz mal nenhum pôr supositórios. Têm sobre os comprimidos pelo menos duas grandes vantagens: maior rapidez de actuação e não fazer mal ao estômago. Pô-los é que não é a coisa mais agradável do mundo, mas há pior, muito pior (injecções, por exemplo, tremo só de pensar!).
Mas, sobre o tema, remeto para umas certas cenas da vida real que muito me fizeram rir - e onde se encontram conselhos muito úteis sobre supositórios (psiu: é um post do João Pedro, o das Ruínas no seu novo poiso; vale a pena!).

De novo um serão

Tranquilo. Com tempo para brincadeiras a três: mãe, filha e cão. Quando vejo esta menina que fugia de cães mal vislumbrava um no horizonte a abraçar o Pluto, a brincar com ele, a deixá-lo lamber-lhe as mãos, penso que vale a pena o esforço extra que o bicho significa.
Mas agora, com filha e cão na cama, não me apetece nada trabalhar... Tenho de apelar a todas as musas (incluindo a da paciência, deve haver uma) para que me inspirem e dêem coragem para acabar com isto. Afinal, neste momento é só introduzir correcções. Porquê esta falta de vontade?
Num instante arranjava dez motivos para ela; o primeiro é cansaço, o segundo enjoo, o terceiro sono, o quarto... sei lá.

Outro dia, recebi o primeiro mail antipático relativo a este blog. Um caramelo qualquer deu-se ao trabalho de me mandar um mail, imagine-se, a dizer que nunca tinha lido blog mais desinteressante. Devia ter apanhado um post deste género; abundam, de facto, sobretudo nos últimos tempos... Mas o que eu achei espantoso foi que alguém se desse à pachorra de mandar um mail assim, ainda para mais havendo comentários à disposição. Não era mais fácil não voltar a pôr aqui os pés, como eu faço em tantos blogs a que não acho ponta de piada, sem ser desagradável para com o seu autor? Escusado será dizer que o dito não-fã levou como resposta um mail sobre boa educação, chazinho em criança, etc e tal. Se hoje ele voltar cá (dizem os livros policiais que o criminoso regressa sempre ao local do crime), recebo mais um mailzito do género.

domingo, janeiro 30, 2005

Do alto da minha torre

Está sol, um sol delicioso. Uma pilha de capítulos prontos aqui à minha frente. Outra pilha (menor!!!) de folhas a rever ao lado. E mais um dia de trabalho... Quando eu acabar isto, aposto, acaba também a seca em Portugal. E eu vou estar livre para passear, e chover a potes.
Mas o importante mesmo é terminar...

Adenda

No alto da minha torre, todos os dias, eu tinha de receber uma visita. Adivinhem quem seria: tem olhos azuis, é magrinha e alta e aqui tem o nome de uma florzinha muito bonita. Quase tão bonita como a tal menina. Sem a ver, não aguentava muito tempo no alto da torre.

(momento lamechas, com filha encostadinha a mim, a falar das saudades que teria se eu fosse para uma torre assim; e eu a dar-me conta de que era óbvio que essa visita teria de existir. Ou nada faria sentido)

sábado, janeiro 29, 2005

Torres

Apetecia-me estar encerrada numa torre. Assim daquelas tipo a da Rapunzel. Inatingível, sem porta, a fazerem chegar-me a comida já pronta por um cestinho. Sem ninguém me chamar, me interpelar, sem horários ou outras obrigações senão a de acabar (raivosamente) a porcaria da tese. Nem príncipe encantado a trepar pela trança ou a vir resgatar-me eu queria. Queria apenas estar no alto da torre até acabar. E depois descê-la pelo meu pé, com um grosso volume debaixo do braço - e então até pode haver um cortejo de príncipes à minha espera cá em baixo, de preferência parecidos com os das fotos aqui de baixo.

É só pedir...



Ralph Fiennes. Continuando a regalar a vista, desta vez não esquecendo que também tenho leitores homens. E que a Kristin Scott Thomas é, na minha opinião, muito bonita. E que há por detrás o deserto.

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Desdramatizando



Porque às vezes há mesmo que parar de pensar e fixar a vista em coisas bonitas...

E como ia dizendo...

Há alturas complicadas, sim. Esta é uma delas. Aqui em baixo ficou o desabafo, a quente, de uma das muitas ocasiões em que ser mãe sozinha custou. O blog, já o disse há muito, serve-me em boa medida para isto. Para dizer sem ter de dizer a ninguém. Para desabafar sem agarrar no telefone e sem recorrer ao ombro de ninguém.
No entanto, vários ombros, uns silenciosos, outros de viva voz, me chegaram, sem eu os pedir. E é por isso que fico de nó na garganta neste momento - são os laços, os afectos, a empatia, essas coisas todas de que já aqui (e não só) muito se falou nos últimos tempos. Só consigo dizer-vos, a todos e a cada um: muito obrigada por esse carinho.
É claro que eu tenho perfeita consciência de que sou, forçosamente, a má da fita. Como nos comentários foi dito, somos nós, as mães sozinhas, que metemos os filhos na cama a horas, os aturamos no dia-a-dia, lhes incutimos disciplina, os obrigamos a 1001 coisas. Aos pais divorciados cabe em geral o papel agradável de deixar fazer o que apetecer, de gozar a presença dos filhos, mas não o de disciplinar. Nós, por via de regra, é que pagamos as favas.
Acresce, no presente caso, que o pai da Miosótis não é um exemplo de pai a seguir; não o era vivendo sob o mesmo tecto, não o é agora - muito menos o é agora. E é óbvio que isso provoca um desequilíbrio que tomba, logicamente, para o pilar com quem ela verdadeiramente conta: eu. Que recebo o melhor, mas também o pior (como sucedeu esta manhã).
Hoje, recordei à minha filha uma história que já lhe tinha contado, uma espécie de parábola, que um dia recebi por mail e tem precisamente a ver com as consequências dos nossos actos, mesmo quando somos pequenos e "não fazemos por mal". Se bem me recordo (ai, esta memória!), um pai, cansado de ver o filho a ser agressivo, refilão, a responder torto, mandou-o pregar um prego numa tábua a cada vez que agisse assim. O filho fê-lo. No final, os pregos representavam todos esses momentos em que ele tinha sido desagradável para com os outros. O filho olhou incomodado. Retiraram os pregos - podiam ser tirados, que alívio, era o perdão. Mas o que o perdão não tirava eram os buracos deixados na madeira pelos pregos...
Sei que a minha filha percebeu a história. Sei que uma parte das suas farronquices é orgulho, e até o orgulho de não querer chorar - de algum modo, também ela está em busca do seu equilíbrio, neste crescer que nunca é fácil e pode ser mais complicado quando pai e mãe não estão juntos e não colaboram verdadeiramente um com o outro. Sei, também, que hoje, em especial, a minha filha viu bem os buracos deixados na madeira pelas suas atitudes e se arrependeu do que fez.
Claro que vai haver muitas outras ocasiões em que me desafiará e porá em causa a minha autoridade. E eu não o vou sentir tão profundamente ou reagir de forma tão emotiva. Mas esta altura é especialmente complicada para mim. Se o pai dela fosse outro, chamava a ele os cuidados com a filha de modo a eu ter a paz necessária para terminar a tese, aproveitando, ainda por cima, para estar mais tempo com ela. Mas o pai dela é como é, e por esse motivo estamos separados, e por isso qualquer reconciliação é impossível. E por isso, também, é sobre mim que recai todo o peso. Não me queixo do peso, note-se - nunca a minha filha me pesará. Queixo-me de ser injusto que ele caia todo sobre mim, o que é diferente; mas arco com ele com todo o gosto.
Mas esta altura, repito, é complicada... Além do trabalho em si, a ela estavam associados muitos sonhos, tornados impossíveis, ou quase.
Ou se calhar os malucos que andaram a calcular o dia mais favorável para depressões (onde terei eu lido isto?) erraram e não foi 2ª feira passada, ou eu ando um bocado desfasada e a neura deu-me uns dias mais tarde, ou ainda (outra hipótese igualmente válida) a minha neura é de longa duração e foi-se distribuindo ao longo de toda a semana.
Fim de lamentos, vamos é assoar o nariz e trabalhar, que isto até anda a avançar e a ficar com cara de tese.

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Merda. Uma pessoa desdobra-se. Tenta estar presente, atenta, adivinhar desejos, prever necessidades. Numa fase em que devia estar sossegada e não pensar senão no trabalho, estou sempre disponível para a minha filha. A paga? Respostas tortas, refilonices, o constante desafiar-me. A menina mais doce do mundo pode ser a menina mais difícil de aturar do mundo. Comigo. Com a empregada, que tanto lhe quer. E isto dói, porra, dói.
Com o pai não há disto. Com os avós muito menos. Eles são muito mais severos do que eu. E fica-me sempre a dúvida: serei eu demasiado permissiva? Será que tentar levar a bem em lugar de levar a mal, ou à bruta, está errado?
Se os desabafos são para mim, se a confiança máxima é para mim, o outro lado é para mim também. E porra, eu não o mereço, sinto-o como uma injustiça! E no fim saem das minhas mãos palmadas, que ficam a doer cá por dentro mais do que a ela doem. Saem castigos que sei que a ferem bem mais que qualquer palmada, e que me custam também porque não quero ter de castigar constantemente. E fica sempre a enorme sensação de que tudo podia ser diferente feito a dois, equilibrado por dois, com a cabeça fria de um a funcionar quando a do outro está quente, com estratégias conjuntas que não existem. Que nunca, afinal, existiram, a não ser por breves momentos, nos momentos graves que exigiam que ele actuasse. Porque as responsabilidades foram sempre, sempre passadas para mim.
Porra, que merda fiz eu da minha vida?

Melancolia

Não sei se é do tema triste que todo o dia me ocupou a cabeça (como se vê pelos posts abaixo). Não sei se de certas pequenas irritantes coisas e do que ainda espero de quem nada devia esperar, burra que sou. Não sei se é do cansaço acumulado, se de desconsolos muito meus aos quais por alto já aludi. Sei que hoje o serão tem sabor a melancolia. E que mais vale é ir dormir, esperando que ela desapareça com o sono.

Se isto é um homem

Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casa aquecidas
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não
Considerai se isto é uma mulher
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno.
Meditai que isto aconteceu
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração.
Estando em casa andando pela rua
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que desmorone a vossa casa
Que a doença vos entreve,
Que os vossos filhos vos virem a cara.
Primo Levi
(tradução encontrada aqui)

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Ainda o nazismo e a Alemanha

Sobretudo depois de ler este post do Lutz (que tem um belíssimo blog, só não está ali ao lado dada a minha proverbial preguiça em mexer no template disto), lembrei-me de dois livros que li recentemente e que falam da Alemanha e (não só, mas também) da forma de lidar dos alemães de hoje com o passado nazi.
Um é um romance que não sei se está traduzido para português; conheço-o em tradução francesa da colecção Folio: Bernhard Schlink, Le Liseur, Paris, Gallimard, 1996. O outro é um conjunto de crónicas sobre a vida na Alemanha dos anos 90, escrito por uma jornalista francesa que vive em Berlim, e que conheço também apenas em francês: Pascale Hugues, Le bonheur allemand, Paris, Éd. du Seuil, 1998. O primeiro perturbou-me bastante. Com o segundo diverti-me e aprendi bastante, creio, sobre o povo germânico.

(Acabo de escrever este post com o Pluto a trepar, decidido, para o meu colo. Qualquer dia escreve ele também sobre a sua vida nesta casa azul.)

Ainda o Holocausto nazi

Leiam aqui. E aqui. Porque não podemos, mesmo, esquecer. Não morreu ninguém que eu conhecesse, não perdi avós nem parentes - porque a minha família vivia aqui, e não na Alemanha, e porque não somos judeus. Mas se a minha família tivesse nascido alemã, polaca, francesa, holandesa, italiana, etc, etc, etc, etc, etc? Quantos não teriam morrido no Holocausto? E o que teria acontecido à minha filha, se tivesse sido deportada? Como a maioria das crianças, seria conduzida às câmaras de gás. Basta pensar nisso para, cá por dentro, toda eu ficar a tremer. E para ter a certeza de que, de facto, é nossa obrigação não esquecer.
Tem-se falado bastante, neste blog e neste, da violência doméstica. Dos senhores do medo. Não é diferente a atitude de um guarda de campo nazi, senhor dos presos, que pode fazer deles o que quer, e a de quem se considera dono da mulher ou dos filhos ou de quem está sob a sua dependência e os maltrata, violenta, faz viver no medo.

Auschwitz



Imagens semelhantes a esta devem hoje aparecer em vários sites da net, e ser mostradas na televisão. Pela minha parte, gostaria de aqui colocar outras, mas tendo em conta que a minha filha aqui vem, não o faço. Essas fotos serão vistas comigo, com uma explicação que só ao tomar contacto com o Diário de Anne Frank começou a ser dada. Fica aqui apenas o portão do campo e a sua cínica afirmação: "Arbeit macht frei". Prendem-se os homens, o trabalho o libertará.
Faz hoje 60 anos que o campo de concentração mais conhecido do nazismo abriu as suas portas e mostrou o horror de que os homens são capazes. Muitos outros campos de concentração existiram e, infelizmente, existem. Mas o que é terrível no plano de extermínio nazi, na solução final encontrada para judeus e todos quantos eram considerados "Untermenschen", é a eficiência na eliminação, o planear a sua morte, a capacidade de explorar tudo, tudo, num ser humano, tanto vivo como morto.
É um arrepio entrar, ainda hoje, num campo de concentração. Aos 16 anos, fui a Dachau. E não sou capaz de relatar o que ali senti; nem mesmo sei se consegui sentir, tal a intensidade do choque, tal o poder da sugestão que parece fazer com que continue a cheirar a carne queimada, tais as imagens, tal a vontade de fugir de um tal sítio que parece ter ficado para sempre amaldiçoado.
Em Dachau, uma das coisas que mais me marcou foi o monumento de memória a quem ali morreu. Aqui o deixo. Para memória futura. Porque isto não é para esquecer, nunca. "Nie wieder", dizem os monumentos. Cabe a cada um de nós impedir que a curta memória humana não esqueça o que isto foi e não permita que aconteça, nunca mais.


Imagem do dia

Filha abraçada ao cão, ela de olhos a brilhar, ele de rabito a abanar. Felizes.
(Vale o frio que rapei a levar o bicho lá fora há bocadito...)

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Palavras

Há dias em que gostava de conseguir escrever sem palavras. Pelo menos, sem palavras inteligíveis. É nessas alturas que invejo os poetas e a sua capacidade de transformar sentimentos em frases, sobretudo quando estas podem ser lidas de muitas maneiras e nunca o leitor saber, exactamente, o que conduziu à sua escrita. A realidade? A ficção? O juntar de palavras bonitas?
Não sei escrever assim. Aliás, não sei escrever (fora o que é trabalho) sem sentir. E isso pode ser uma virtude, mas é tramado também.
Nas caixas de comentários dos posts anteriores, sobretudo daquele que eu intitulei "Perigo à vista", falou-se imenso (eu também) sobre a exposição nos blogs, sobre o porquê de escrever aqui, o que a escrita revela e os perigos que daí resultam. Mas escreveram-se também das palavras mais bonitas, simpáticas e empáticas que aqui me dirigiram, e que agradeço do fundo do coração. Não exagero ao confessar que me fizeram vir lágrimas aos olhos. O que é muito mal feito, diga-se, porque arrisco deixá-las correr - sobretudo hoje, em especial hoje, talvez por estar estafada e talvez por muitas outras coisas que não interessa explicar. Talvez hoje, em especial, por ter sentido, ao mostrar uns sólidos capítulos totalmente prontos de uma tese de que me orgulho (sim, sou orgulhosa, briosa, exigente no que faço, e sei que o que estou a fazer está bom e bem feito), que uma fase há muito desejada está prestes a chegar. Mas que os sonhos associados a ela, esses...
Numa altura assim, sentir o calor das vossas palavras vale ouro. E de novo reflicto sobre as relações estabelecidas, o que aqui se revela e as diferenças face ao dia-a-dia. Ninguém que me visse hoje veria para além do cansaço (esse óbvio, estampado na cara de quem faz demasiadas noitadas há demasiado tempo). Mas, quanto ao resto, a máscara está posta. E aqui, mesmo que por meias palavras, abandono-a, descanso um bocadinho dessa máscara. Permito-me mostrar-me mais frágil. Como quem respira fundo para ganhar forças para continuar. E preciso disso. Por ora, preciso disso. Não sei quanto tempo o "Um pouco mais de azul" sobreviverá ao final da tese e de outros trabalhos que me vão manter agarrada ao computador mais do que eu gostaria nos próximos tempos. Mas sei o quanto este blog e a interacção que me permite têm contribuído para a manutenção da minha sanidade mental.

Notícias plutónicas

Hoje finalmente houve um dia mais sossegado, no que a temas caninos diz respeito. Momentos notáveis a assinalar:
- Sua excelência mais uma vez convencido que é gente a sentar-se à mesa do jantar - mas a sair de lá mal eu disse não; mando-o embora, mas acho-lhe uma piada imensa a vê-lo ali, como que à espera do seu pratito de comida!
- Muitas horas de sossego, primeiro na varanda, ao sol, depois aqui ao meu lado, onde chegou com ar de quem experimenta a ver se não me zango; ficou sossegado em cima de uma almofada. Muito gosta ele de companhia.
- A forma como ele me segue para todo o lado, e me recebe todo contente quando eu chego.
- Imagem para mais tarde recordar: a minha filha feliz com ele deitado no colo, meio a dormir, a fazer-lhe muitas festas, enquanto ambos viam a "Dama e o Vagabundo". Se essa felicidade se mantiver e reforçar, vale bem por todas as vezes em que ando de esfregona e água com lixívia a lavar as porcarias de um cachorro que ainda só está a aprender bons hábitos de higiene!

terça-feira, janeiro 25, 2005

Perigo à vista

Ando com vontade de escrever. Não sobre as peripécias do Pluto, ou as mimalhices da minha filha, ou o andamento da tese. Ando com vontade de escrever como não faço há meses, como costumava no início do blog mas fui deixando de fazer porque já não é escrever para o ar mas saber que desse lado há um feedback que, se tanto me agrada, também por vezes constrange. Não tanto por ser lida, mas por saber por quem sou lida - ou se calhar por não saber. Porque me apetece escrever de coração nas mãos, deixando-me ver a mim mesma, como se nua estivesse. Não sendo apenas a mãe, nem a maluca que arranjou um cachorro na fase final da tese, nem a investigadora que está a chegar ao fim do seu trabalho, mas sendo eu mesma. A que provavelmente se adivinha em tudo o que escrevo, mas não se vê. Um pouco como a roupa que cobre um corpo cujas formas se vislumbram, mas não se sabe realmente como é antes de estar despido. E é dessa nudez de alma que eu ando a precisar (já aqui há tempos eu brinquei com a ideia de strip-tease de almas, lembram-se?).
Escrever aqui vicia. Mais do que isso: cria o hábito da escrita regular num espaço sempre aberto para lançar aos quatro ventos ideias e sentimentos, que de outra forma ficam a jazer num disco duro de computador, ou no fundo de uma gaveta qualquer. Aqui, ficam arrumados, prontos a ser revistos. E temos um interlocutor potencial - o que não deixa de ser importante e necessário, por paradoxal que pareça face ao que acima disse.
Perigo à vista, pois. Para mim, naturalmente. A nudez de alma pode-nos deixar muito mais expostos do que a do corpo, e mostrar muito mais a nossa fragilidade.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Em tons de azul


Renoir, Nevoeiro

Porque hoje o estado de espírito é um pouco esse.

Será problema meu?

Ou há mesmo alguma coisa com boa parte dos blogs do blogspot, a que não consigo aceder?

O que me ocorre neste preciso momento

Fazem-me falta As Ruínas Circulares. Tenho dito.

Peace at last

Por vezes, o meu Windows Media Player a tocar em modo aleatório acerta em cheio. Cheguei aqui, liguei a música e sai-me "Peace at last", dos Blue Nile. É precisamente isso o que me apetece dizer neste momento, depois de filha e cão deitados: finalmente, paz!
Como disse ali em baixo na caixinha de comentários: eu sou doida varrida. A presença do doce furacãozinho Pluto nesta casa comprova-o à saciedade. E agora boa noite, que vou trabalhar.
Eu, a música, o computador e o silêncio que reina em casa. Ahhh, que bom! Até apetece fazer a tese.

domingo, janeiro 23, 2005

Dúvida

O que será mais difícil de aturar: um cachorro que ainda não está educado, ou duas catraias que viraram o quarto da minha filha do avesso?
Apetece-me correr os três às palmadas de jornal dobrado. Irra!

(Resultado: a filha chora, a amiga cala-se, ambas arrumam o que desarrumaram, e o cão tem o rabo para baixo, sabendo bem que fez asneira.)

E não gozem, por favor!!!!!!!!!!!!!!!

2ª impressão

Dorme no quarto uma menina feliz, dorme no sofá da sala um cão meiguinho que me parece muito tranquilo e feliz também. Claro que o meti no seu cesto, com a sua manta - saltou de lá mal virei costas, e passou para o sofá, onde tinha passado já umas horas de mimalheira que deixaram a Miosótis mais sossegada quanto aos ímpetos do cachorro e embevecida com a sua ternura, e eu acabei por ali pôr a manta e deixá-lo aconchegado. Sem um ai (ou ganido, melhor dizendo).
De facto, o Pluto é muito meigo. Além de curioso, como qualquer cachorro de 5 meses, nota-se na sua tentativa de tudo ver, de tudo cheirar que sente ter, finalmente, chegado a um lar. Ainda nãose lhe ouviu um latido, mas já se atirou aos pulos para cima de nós as duas, no sofá.
Em lugar de trabalhar no escritório, levei para a sala uma série de folhas para rever, algumas das quais foram carinhosamente lambidas pelo novo membro da família, enquanto encostava a cabeça no meu peito, enroscado entre nós as duas.
Claro que já tivemos direito a um chichi no chão da cozinha (nada demasiado dramático), mas outras coisas piores foram feitas na rua, quando o levei a passear.
Ficou absolutamente encantado com os chinelos usados cá em casa (aqueles da Serra da Estrela, feitos de carneira) - felizmente há uns velhos, já rotos, que passam a ser para ele destruir, brincar ou o que quiser.
E agora é noite, o cão não se incomodou nada por ficar na sala sozinho, está a dormir mas se eu lá vou vem ter comigo e lambe-me as mãos. Espero que de manhã não acorde com o sofá ensopado (está protegido, mas mesmo assim...), nem com tudo virado do avesso, e que este tenha sido o primeiro de muitos dias passados em conjunto.

Não posso deixar aqui de agradecer a generosidade da Carla, que recolheu e tratou do cachorro com enorme devoção, e ao João Pedro da Costa (não vale a pena linkar, toda a gente já sabe quem ele é e As Ruínas estão encerradas para meditação), que serviu de intermediário e fez questão de nos receber com uma simpatia extrema. É tão bom quando as boas impressões que temos nos blogs demonstram ser ainda melhores na realidade! Um beijo muito grande para ti, João, de nós ambas. E já sabes: o Pluto espera por visitas.

sábado, janeiro 22, 2005

1ª impressão

Claramente, a definição de "calmo e sossegado" varia de pessoa para pessoa.
Não tenho máquina fotográfica digital (se alguém me quiser oferecer uma, sinta-se totalmente à vontade e conte com a minha imensa gratidão). Por esse motivo, vai demorar até colocar aqui uma foto do novo membro da família já cá em casa.
A Miosótis oscila entre o encantada com o animal e o tomar consciência de que um cão tem dentes, salta, brinca aos pulos, etc. Neste momento, está sentada em cima da mesa da sala. O Pluto rói alegremente um osso de borracha. Tem um apetite voraz e fácil de satisfazer: aspira qualquer migalha, come num ápice ração que devia chegar para um dia inteiro, se alguém comer alguma coisa perto dele .
E para mais não chega o tempo, vou ver se a sala ainda está inteira.

Preparativos

Ao final do dia, hipermercado. Odeio hipermercados, já o disse. Ao fim da tarde de sexta-feira em especial. Mas pronto, tinha de ser: o Pluto precisa de uma série de coisas que tinham de ser compradas antes dele chegar. Agora há trela, coleira, comida, biscoitos, malgas e uma coisa para roer e brincar para o cão. Desisti diante dos shampoos e produtos de higiene para cães, quando ele precisar de tomar banho penso no assunto.
Uma coisa já aprendi: a imensa variedade de alimentos para cão que existem no mercado (era a isso que eu me devia dedicar, a fabricar comida para bichos; em lugar de queimar neurónios com doutoramentos que não interessam a ninguém). Até arregalei os olhos, diante dos sacos grandes, médios e pequenos, cheios de comida para cães pequenos e grandes, cachorros ou adultos, a saber a isto ou aquilo. Em forma de croquetes, bolinhas, triângulos, quadrados, ossos, patas de cão, eu sei lá. Comida seca, comida meio-seca, comida húmida. De uma infinidade de marcas, cabendo-nos a nós ler rótulos, comparar preços, pensar nos sabores que o bicho preferirá. Uma trabalheira impossível!
A esta juntaram-se outras tarefas. Como convencer a minha filha que não lhe compro livros a uma semana do seu aniversário. E escolher copos, pratos, velas para a festa. E procurar a fantasia de Carnaval que ela queria (e que não encontrámos - azar, ainda vou ter de procurar noutro lado). Como este ano faz anos perto do Carnaval, ela queria imenso convidar os meninos para virem mascarados. E eu, a mãe palerma, olhos para os seus olhinhos brilhantes e digo que sim.
Pelo meio, tento acabar a tese. Pois... E raios me partam se não vou conseguir fazer isso tudo!

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Pluto - os dias anteriores

Não conseguem imaginar a excitação em que a Miosótis anda por causa do cão. Desde ontem que só pula, canta, não pára quieta, completamente eufórica. O silêncio das horas em que ela está na escola está a ser precioso. Logo à noite vai ser lindo - ansiolítico de novo em acção, já estou a ver. Para a mãe, naturalmente.

A desoras

Custa-me imenso atingir a velocidade de cruzeiro no trabalho. Quando consigo, são estas lindas horas, e o cansaço já se faz sentir, porque não me levantei propriamente às 5 da tarde... No entanto, tenho de aproveitar estes ímpetos laborais, e por isso aqui permaneço, já meia pitosga*, até que acabo a não ver duas linhas direitas no computador e vou para a cama, onde adormeço mal pouso a cabeça na almofada - mesmo quando tento levar trabalho para fazer em vale de lençóis.

* Eu bem te disse que usava a palavra; aqui tens a prova ;)

Frio e soluções para ele

Estou com frio. Tenho os pés gelados. Pluto, já sei onde vais estar ao serão, depois da dona pequenina deitada. Vens para aqui, para debaixo da minha secretária, e aqueces-me os pés, combinado? Eu explico-te a minha tese e tu adormeces pacificamente.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

E porque se tem andado a falar nas coisas bonitas disto dos blogs

E porque outro dia, quando faltou o ADSL, dei comigo a pensar que este fará em breve um ano de vida e no que tem significado ter um blog, aqui vai o relato de uma das coisas mais bonitas que neste espaço azul me sucedeu.

Para muitos dos que aqui vêm há menos tempo, e porque, para grande pena minha, o Haloscan fez o favor de apagar os comentários dos primeiros meses, o que vou contar será novidade. Outros já o sabem, partilharam comigo esses momentos especiais. Sem eles, é bem provável que o rumo deste blog tivesse sido diferente, que até tivesse terminado rapidamente este "registo de salpicos de vida", como um dia lhe chamaram. Porque foi a resposta mais bonita que a minha escrita alguma vez teve, foi o feed-back mais encantador e inesperado.
Todos os dias, de 2ª a 6ª feira, os meus textos apareciam comentados com um poema ou a letra de uma canção, ou pelo menos com palavras calorosas, bonitas, sempre relacionadas com aquilo que eu escrevia. Quem me deixava essas flores na secretária (comparação que inevitavelmente me ocorria a cada vez que encontrava esses comentários)? Alguém que eu não fazia ideia quem era, nem sabia quem eu era também. Alguém que por aqui tinha passado vindo de um blog de um amigo comum e que tinha decidido fazer-me sorrir todos os dias – ajudar a que o dia fosse mais azul, dizia. Sempre me causou admiração a forma como arranjava, no meio do trabalho (porque era do trabalho que ele comentava), o poema exacto, a canção com a letra certa, a palavra a propósito - sempre doce, bem-humorada, sensível. Confesso que várias vezes, ao final de um dia afastada do computador, corria para aqui para ver se cá estava a minha “flor” – estava sempre. Conheci canções lindíssimas com este anónimo comentador (Lilacwine, na voz de Jeff Buckley, foi uma delas, e só por me ter dado a conhecer essa canção e esse intérprete eu teria razão para estar grata). Li versos magníficos, escolhidos de tal forma a dedo que, confesso, me chegaram a comover até às lágrimas. Porque, de facto, ele apenas me deixava coisas bonitas, como que encontrava em versos e canções a tradução dos meus textos, testemunhando uma sensibilidade rara, até porque, nessa altura, escrevi bastante sobre temas dolorosos. Creio que passou a haver visitas que vinham aqui não para me ler a mim, mas para o ler a ele .

Depois de uns meses, desapareceu. Creio que até deixou de me ler. Percebi porquê, apesar de ter tido pena. Perdi, como disse, os seus comentários. Mas não o esqueci, nem à generosidade que o levava a escolher palavras bonitas e doces para uma desconhecida, escritas à sombra de uma sábia chaminé que entrava, por vezes, na conversa. Coitada, com este frio a chaminé deve andar constipada e de cachecol ao pescoço. Será que ainda conversa todos os dias com o Old Ramon?

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Em torno de um círculo que fechou

Já lá disse o que tinha a dizer. As Ruínas são geniais, e muito mais do que isso a nível humano. São mais do que um blog. E por isso, desde que soube que iam fechar (estarão a precisar de cuidados arqueológicos?), o que me ocorre é o tão conhecido diálogo da raposa e do principezinho. Porque ali criaram-se laços, daqueles que parece que tanta gente, no seu dia-a-dia, esqueceu, como dizia a raposinha.




"Foi então que apareceu a raposa.
- Olá, bom dia! - disse a raposa.
- Olá, bom dia! - respondeu delicadamente o principezinho que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira.
- Quem és ti? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...
- Sou uma raposa. - disse a raposa.
- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho. - Estou triste...
- Não posso ir brincar contigo. - disse a raposa. - Não estou presa...
(...)
- O que é que "estar preso" quer dizer?
- É a única coisa que toda a gente se esqueceu.- disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo...
(...)
Foi assim que o principezinho prendeu a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa. - Ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua - disse o principezinho.- Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim...
- Pois quis - disse a raposa.
- Mas agora vais-te pôr a chorar! - disse o principezinho.
- Pois vou - disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo..."

Saint-Exupéry

Enquanto o ADSL "dorme"

Hoje, o ADSL falhou-me. E é nestes momentos de obrigatório afastamento da net que me dou verdadeiramente conta de como a possibilidade de lhe aceder e de escrever aqui tem sido profiláctico e uma forma de iludir a solidão a que o trabalho intelectual obriga.
Dia após dia, noite após noite, há anos já, esta é a minha rotina quase diária: o trabalho na tese. Em horário pós-laboral, na maioria dos casos, pois não sou bolseira de doutoramento.
Dou-me conta, neste momento em que a tese está a chegar ao fim, que as primeiras páginas que escrevi têm já três anos. Foi precisamente em Janeiro de 2002 que as comecei a alinhavar. Ainda me recordo de dizer, com a alegria de quem via uma nova fase do trabalho iniciar-se, que já tinha seis páginas escritas. Quantas, entretanto, se lhes juntaram, quase sempre nascidas aqui, no meu escritório.
É neste cantinho que gosto de trabalhar. Aqui, onde tenho a minha música, os meus livros, o horizonte amplo da minha varanda ensolarada. Aqui, onde há sempre espaço para a minha filha entrar e vir dar-me um, muitos beijos, ou aninhar-se entre almofadas num cantinho que criou ao pé da mãe. Aqui, onde posso estar vestida com roupa velha e confortável, de chinelos e manta sobre as pernas, de pernas debaixo do rabo ou com ambas em cima da secretária (se houver espaço), a comer ou a roer para que os neurónios trabalhem, apurados. De uma forma impossível de estar em qualquer biblioteca, arquivo ou sala de estudo.
Nestas quatro paredes da minha casa, de que tantas vezes me senti prisioneira, a net tem sido, muitas vezes, uma janela para fora. A forma mais fácil de contactar amigos, via mail ou MSN. De me pôr a par de notícias graças aos jornais on-line ou aos blogs. De conversar em caixas de comentários, quando levanto os olhos do trabalho ou este, simplesmente, não rende.

Neste momento em que o modem deixou de funcionar, dou comigo com vontade de fazer um desses intervalos, espreitar o que os blogs do costume possam ter de novo, descansar um pouco do moroso e interminável trabalho de revisão. Em lugar disso, escrevo.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Novas de uma menina doente

Depois dos 38,5º de ontem, do ar caído, da falta de apetite, da noite passada a transpirar e a ter de lhe mudar de pijama por duas vezes... está sem febre, comeu três pratos de feijoada ao almoço (versão levezinha, mas mesmo assim comeu o triplo do que eu comi), brincou toda a tarde e está na sala a ... dançar o "Cats".

Intervalo

(enquanto a minha impressora encrava de 3 em 3 páginas, retardando o meu gozo... de ver aquelas 104 páginas prontas)

Acabei de receber um mail do Coronel Mohammed Ali, antigo médico e conselheiro de Saddam Hussein. Trata-me por "brother" e quer-me dar dinheiro. Há dias assim.

Post-it

Lembrar-me de falar de:

- Bauru
- urgência numa nova impressora (que linda prenda para os meus amigos me darem quando eu me doutorar! uma nova cadeira para a secretária também é precisa, não se esqueçam; prefiro essas prendas a cacaria da Vista Alegre)

E muito importante, para quem aqui tantas vezes me ouve queixar do trabalho. Eu queixo-me, resmungo - mas ver um capítulo ganhar forma final, sentir que faz sentido, que está bem estruturado, que gosto do que leio, dá um gozo dos diabos... E quando digo gozo, é gozo mesmo. Interpretem lá como quiserem (mas não se esqueçam que é só uma analogia ;).

Post à pressa

Acho que havia alguma coisa sobre a qual eu queria escrever, mas não me lembro. Não, não era sobre a saúde da cachopa (ainda não teve febre mas o estado da garganta continua a preocupar-me; o que a não impede de berrar como se a estivesse a esfolar quando a penteio, diga-se de passagem).
Não era, de certeza, nada de importante. Pelo menos, nada de mais importante do que aquilo que verdadeiramente me apetece fazer. Trabalhar. Acabar de pôr em ordem mais um capítulo e passar ao próximo. É preciso aproveitar estas vontades, que raramente duram muito. Vou-me.

segunda-feira, janeiro 17, 2005

A propósito de doenças

Ontem à noite, conversando com uma amiga sobre o facto de a minha filha estar doente, e se eu sabia o que devia fazer, dei-me conta que passei a entender de achaques infantis há quase dez anos. De facto, desde aquele primeiro supositório de paracetamol partido ao meio, porque ela era muito pequenina e só podia tomar metade da dose, até hoje, passando por muitas otites, amigdalites, faringites, adenoidites, gastroenterites e outros tantos vírus nunca identificados que em três dias desapareceram, quantas horas foram passadas velando pela minha filha, quantas noites me levantei a desoras para ir ver a febre, dar o remédio, ou simplesmente escutar se a respiração estava regular, quantas vezes dividi a noite com o pai dela para assegurar que havia sempre um atento e que acordasse à hora do antibiótico.
Dez anos. E a mesma vontade de estar eu doente em lugar dela, de tossir no seu lugar, de engolir com dificuldade em vez dela. E a mesma certeza de que o carinho e a segurança de estar com quem mais ama fazem tão bem como outros remédios. O colinho, os beijos, a mão dada, a voz meiga são medicamentos indispensáveis.
Hoje, os momentos em que esteve mais bem disposta foram passados a brincar com o pai, que a veio ver. E depois aqueles em que, armada de almofadas, uma manta e um livro, se instalou aqui ao meu lado.
Deve ser por causa de todos estes "remédios" que, creio, guardamos de um modo geral boas recordações das nossas doenças infantis. São tempos de mimos, para além da febre, das dores e das preocupações dos pais.
E é engraçado: ainda recordo, perfeitamente, o sabor do comprimido cor-de-rosa, Aspinfantil, que a minha mãe me dava, esmagado, para baixar a febre.

Esclarecendo

Das minhas palavras do post anterior podem-se deduzir, creio, a partir do que leio nos comentários, sentimentos de culpa, de arrependimento se calhar. Esclareçamos.
Não me arrependo nem por um segundo de me ter separado. Tenho é uma imensa pena e raiva por tal ter sido necessário - não era suposto acontecer. Mas aconteceu, e tenho de viver com isso. Com isso e a sensação de ter feito uma grande burrice na minha vida, com as melhores intenções do mundo, mas burrice.
Que sirva para aprender e andar em frente. Não me martirizo a olhar saudosa para o passado. No entanto, quando me vejo perante situações como a que descrevi, quando é mais do que evidente que os erros cometidos afectam quem não tem culpa alguma, quem mais queriamos preservar de toda a dor, fica o tal peso, e a vontade de compensar da melhor maneira possível quem sofre por causa disso.
Mas nem tudo é mau nas burrices, como em nada desta vida. Foi a burrice que me trouxe o melhor da minha vida. Só por isso, valeu a pena. A minha filha é o produto de duas pessoas, não seria ela se o pai fosse outro - e eu gosto dela exactamente como é.

Voltas trocadas

Tudo combinado para uma reunião de trabalho longe daqui. Combinada a noite passada com o pai, o regresso a casa depois do jantar do dia seguinte.
Tudo agora suspenso de dores de garganta que cresceram ao longo do dia, culminando naquele mal-estar em que só se quer mamã e o carinho quente da voz, da mão, da companhia da mãe. E que faço eu? Claro que me preparo para cancelar tudo, caso amanhã ela não esteja melhor. Se ela pudesse ficar aqui em casa, era uma coisa. Levá-la doentita para uma casa gélida, não o faço.

É especialmente nestas ocasiões que sinto a injustiça que constitui pai e mãe viverem separados. Que sinto mais que quem paga as favas é ela, a que nenhuma culpa tem. O desejo de ficar ainda é maior por esse peso que, nunca saindo cá de dentro do meu peito, pesa chumbo nestas alturas.

domingo, janeiro 16, 2005

Ternurices a pedido

Tenho cá por casa uma internauta em miniatura (miniatura? pois, vamos ver por quanto tempo mais...). Descobriu este diabrete de olhinhos azuis umas fotografias muito ternurentas de gatos (claro que não estabelecerão os meus caríssimos leitores nenhuma relação com o seu particular gosto pelo "Cats", nem pensar). E pede-me esta espécie de gatinha que aqui coloque a fotografia mais ternurenta de entre as que encontrou. Já terão percebido, pelo vocabulário usado, que este post está a ser escrito de Miosótis na mimalheira ao pé de mim, ou será que não se nota nem um poucochinho?

Apelo para a humanidade

Combina com as imagens do post anterior. É uma reflexão sobre os recursos deste maltratado terceiro calhau a contar do Sol. Vão ao Afixe, leiam e subscrevam. Poderá ser mais um documento cheio de boas intenções que nada significa. Poderá ser algo mais, se tiver muitos subscritores. O quê? Não sei, confesso. Mas não faz mal a ninguém ler, reflectir sobre o que ali é dito e ganhar cada vez mais consciência de que a nossa acção diária faz, pode fazer diferença para que a Terra continue a ser o nosso planeta azul.

sábado, janeiro 15, 2005

Aves

Hoje estive a ver o Bombordo, na :2. Deixei de lado o trabalho e fiquei a mirar flamingos e outros pássaros marinhos, a ouvir o som calmo das ondas a bater na areia fina de uma espantosa reserva de aves, no sul de Espanha. Apeteceu-me ser flamingo.





Se eu tivesse estudado Biologia, estudaria aves. E ficaria parada, de binóculos nos olhos, a vê-las voar, pousar, viver.

sexta-feira, janeiro 14, 2005

Sonhos de uma noite de sexta-feira

Um dia, vou chegar a sexta-feira sem nada para fazer. Vou preparar com calma o jantar, saboreá-lo com a minha pequenita, sem pressa, e depois sentar-me no sofá. E vou pegar nas lãs, já compradas, e começar a fazer a camisola para ela, enquanto a ensino a tricotar e vejo um filme (em dvd ou cassete, para não aturar intervalos parvos).
Ou então vamos as duas pôr em ordem o quarto dela, arranjá-lo para a menina crescida que já é.
Ou vou simplesmente arrumar o meu escritório de alto a baixo - e descobrir todas aquelas coisas que há séculos não sei onde páram.
Ou arrumar as fotografias em álbuns e colocar-lhes legendas, recordando a cada uma momentos bons que passámos.
Um dia. Quando acabar de esfolar o rabo do porco. Como demora, caramba!
(Ainda demora mais se ficar para aqui a sonhar em lugar de trabalhar. Mãos à obra!)

Olhem só para isto!

Anda uma pobre criatura a trabalhar no duro anos a fio. Passa fins-de-semana agarrada a livros, papéis, documentos. Dorme pouco, tem tese enfiada na cabeça e a sair pelos ouvidos. E depois, quando está a aproximar-se do fim, recebe um mail a dizer assim:

A genuine College Degree in two weeks!
Have you ever thought that the only thing stopping you from a great job and better pay was a few letters behind your name? Well now you can get them!
BA BSC MA MSc MBA PhD
Within 2 weeks! No study required! 100% verifiable!
These are real, genuine degrees that include Bachelors, Masters and Doctorate degrees. They are verifiable and student records and transcripts are also available. This little known secret has been kept quiet for years. The opportunity exists due to a legal loophole allowing some established colleges to award degrees at their discretion. With all of the attention that this news has been generatins, I wouldn't be surprised to see this loophole closed very soon.
Order yours today! Just call the number below. You'll thank me later...

Ao ler isto, confesso que não é propriamente o loophole que me apetece fazer fechar. Antes dar um grande pontapé noutro hole...

E cá vou eu... à tese. À que se faz sem batota, com esforço e dedicação. Gaita para os SPAMs imbecis.

Message personnel

Há séculos que não ouvia isto. Será piroso, será fora de moda. Será. Mas desperta-me recordações de que já nem me lembrava. É doce. É Françoise Hardy, au bout du téléphone, mandando un message personnel.
Au bout du téléphone, il y a votre voix
Et il y a des mots que je ne dirai pas
Tous ces mots qui font peur quand ils ne font pas rire
Qui sont dans trop de films, de chansons et de livres
Je voudrais vous les dire
Et je voudrais les vivre
Je ne le ferai pas,
Je veux, je ne peux pas
Je suis seule à crever, et je sais où vous êtes
J'arrive, attendez-moi, nous allons nous connaître
Préparez votre temps, pour vous j'ai tout le mien
Je voudrais arriver, je reste, je me déteste
Je n'arriverai pas,
Je veux, je ne peux pas
Je devrais vous parler,
Je devrais arriver
Ou je devrais dormir
J'ai peur que tu sois sourd
J'ai peur que tu sois lâche
J'ai peur d'être indiscrète
Je ne peux pas vous dire que je t'aime peut-être

{chanté:}
Mais si tu crois un jour que tu m'aimes
Ne crois pas que tes souvenirs me gênent
Et cours, cours jusqu'à perdre haleine
Viens me retrouver
Si tu crois un jour que tu m'aimes
Et si ce jour-là tu as de la peine
A trouver où tous ces chemins te mènent
Viens me retrouver
Si le dégoût de la vie vient en toi
Si la paresse de la vie
S'installe en toi
Pense à moi
Pense à moi

Mais si tu crois un jour que tu m'aimes
Ne le considère pas comme un problème
Et cours, cours jusqu'à perdre haleine
Viens me retrouver
Si tu crois un jour que tu m'aimes
N'attends pas un jour, pas une semaine
Car tu ne sais pas où la vie t'emmène
Viens me retrouver
Si le dégoût de la vie vient en toi
Si la paresse de la vie
S'installe en toi
Pense à moi
Pense à moi.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Fim de dia

Finalmente, tempo para me sentar e não ouvir barulho, ninguém me seringar os ouvidos com perguntas, esvaziar a cabeça. Para tal, não há melhor do que dizer disparates. Mas ando-os a dizer fora daqui, mais por aquelas bandas, aquelas e ainda aquelas (caso estejam interessados em rir à gargalhada e tiverem mais de 18 anos, vão ver).

Para aqui, ficam as reflexões umpoucomais sérias. Hoje li uma coisa que me fez pensar. "Se eu acreditasse na reincarnação, suicidava-me quase todos os dias." Acho que acabo de descobrir o mistério das tendências suicidas dos coelhitos de que volta e meia se tem falado: eles acreditam na reincarnação. Eu não, ou fazia como eles. Com uma condição, porém: que me garantissem que a vida que se seguia era melhor do que esta; e, já agora, que eu não renascia, por exemplo, em forma de barata - bicho nojento!

Moral da história: os coelhos façam o que entenderem, matem-se até com o amaciador da roupa do JP. Eu prefiro ir vendo tudo o que de bom a minha vida tem e começar de novo, sim, mas sem ser do nada, antes com a bagagem adquirida ao longo dos anos. E com uma companhia que me é por demais preciosa (isto tinha de virar lamechas e eu tinha de encaixar a minha filha neste post, sim).

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Constatação

("É um galicismo!" diria o meu pai; mas ele não está aqui, e por isso uso-o, com o mesmo prazer com que descascava maçãs sem as partir em quartos, sempre que ele não me via fazê-lo.)

Basta um post como o anterior para não haver comentários. E não tinha striptease de almas, imagine-se se tivesse.
Pronto, agora já podem comentar à vontade.

Há dias

em que não se devia ter um blog com uma folhinha em branco a dizer "create new post". Pode dar vontade de escrever o que nem se entende, e fazer um striptease da alma de que depois nos arrependemos de ter deixado sequer vislumbrar.

Depois do tom do anterior post, poderá alguém indagar se eu não sofro de bipolaridade. Não, cá por casa é mais quadripolaridade, ou por aí.

Impossível!

Acabo de ver uma das pesquisas que trouxeram aqui um leitor. Há sempre de tudo, como nas lojas dos chineses. Entre procurar miosótis, papel de parede com miosótis, versos e lengalengas, e andarem mesmo em busca de mim ou do poema que me dá o nick, ou seja, coisas que nem vale a pena mencionar, apareceu-me hoje isto: imagens sensuais a dois a fazerem amor em cima da cama.
Onde, onde??? Quem andou a pôr disto no meu blog, tão auto-censurado no tocante a tais matérias, que isto é uma casa de família onde há crianças pequenas? E o que terá encontrado o leitor curioso e picuinhas, que faz pesquisas com tantos pormenores e é tão conservador (repararam que especifica ser a dois, e só em cima da cama?)
Andariam em busca dos meus canários, que há um ano não fazem outra coisa, apesar de me dizerem que a época de acasalamento só começa em Fevereiro? Já pensei pôr-lhes um calendário na gaiola, mas não me parece que resulte; e desconfio que o canário que morreu foi-se de excesso de actividade a esse nível; mas o que se lhe seguiu também julga que o cio dura o ano inteiro.

Depois de ter escrito isto, vou ter visitantes em busca de temas ainda mais delirantes.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Jantar à luz de velas

Foi hoje a novidade. Viva a EDP.
Acendemos todas as velas que tinhamos e comemos assim. A Miosótis ainda não tem um espírito muito romântico: de 5 em 5 segundos perguntava quando voltava a luz. Eu, muito mais romântica, procurava que não houvesse espinhas no peixe, felizmente já cozido... em fogão a gás.

Sequelas

Não sei se é de tanto mimo, mas desconfio que ternura, beijinhos, abraços e palavras doces têm grande responsabilidade nisto: apesar de um dia longo, complicado, gélido e passado numa constante correria, estou com uma boa disposição digna de mencionar aqui!

domingo, janeiro 09, 2005

Um dia azul (atenção: impróprio para diabéticos)

Conversas do dia:
- Mãe, dá-me um beijinho (repetido às dúzias).

Depois de mais uma boquinha apontada para mim a pedir um beijo:
- Quem é a pessoa que mais gosta de miminho à face da terra?
- Eu, e tu vens em segundo lugar, mamã.

Já outro dia me dizia que deviamos escrever um livro intitulado "Miminho". Seria assim:
1º capítulo: Miminho
Miminho, miminho, miminho, miminho...
2º capítulo: Beijinho
Beijinho, beijinho, beijinho, beijinho...
O livro ficou por aí, no meio de gargalhadas mimalhas. Não duvido que poderia ser um "best-seller"...

(E eu aproveito, colecciono beijos e abraços e momentos passados juntas e guardo-os numa caixinha especial; daqui por uns anos, quando ela crescer e já não quiser tanta meiguice da mãe, abri-la-ei de vez em quando para regalar o coração.)

sábado, janeiro 08, 2005

Olha,

dou-me agora conta que o dia está a chegar ao fim, eu passei-o frente ao computador e não escrevi nada aqui! Por vezes é mais divertido ficar-me por comentários.

E por falar em comentários: vi há pouco um bocado do telejornal da SIC. As desgraças são, de facto, uma mina para os meios de comunicação social. Lá assisti de novo à visão das ondas destruidoras, e a uma reportagem indescritível sobre "como explicar o tsunami" às criancinhas. Irra! Mas não estou para me irritar, por isso calo-me já, e nem sequer falo do novo cartaz do PSD. No entanto, deixo uma suspeita: quem o imaginou é um agente infiltrado do PS. Só pode...

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Fim-de-semana.

Finalmente. Depois de uma semana terrível, de que se salvam alguns momentos muito bons (vários dos quais passados em amena cavaqueira blogosfera fora, confesso). A próxima vai ser pior ainda, e prevejo catadupas de trabalho a cair em cima de mim dentro em breve.
Em condições normais, já seria complicado. Cansada como ando, é de ter vontade de me atirar para cima da cama e chorar. Ou mandar a um certo sítio quem não posso mandar. Ou ainda (sonho dourado!) comprar um bilhete só de ida para as Grenadines.
Ao final de um dia levado do diabo, chego a casa e agarro no trabalho. Vou trabalhar todo o sábado, todo o domingo. E eu só queria estar sossegadinha e passar o fim-de-semana a dormir, sair com a cachopa, aproveitar os saldos para lhe comprar roupa que dê para o próximo ano, ir ver o mar. E ter tempo para escrever uns textos longos aqui, em que não esteja a resmungar nem a "despejar o saco" - já tenho saudades.
O trabalho deve-nos trazer os meios necessários para estarmos bem. Neste momento, porém, o trabalho só faz da minha vida um inferno. Estou farta, e nem sequer é da tese... É mais da falta de sentido de uma série de coisas. Enfim...

Sobrevivi!

E até me diverti.
Rimou.
Agora vou ver se trabalho. Naquilo que vocês sabem. Boa noite!

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Ufff...

Se tiver muitos dias destes, soçobro. Mas o de amanhã ainda vai ser pior...
Ainda por cima, vai terminar comigo a ter de aturar uma data de gente que não quero ver, com quem não tenho a menor vontade de estar, muito menos de trocar ideias. Mas lá me vou eu armar do meu mais "public relations' smile" e mostrar como sou simpática, encantadora, amorosa, além de inteligente e dedicada trabalhadora, claro. Ainda bem que não se lêem os pensamentos - e que nenhuma das pessoas em causa lê este blog ou sabe que sou eu a sua autora...

Há mais de uma hora

que estou a tentar ter coragem para trabalhar. E arranjo todos os pretextos para não o fazer.
Ouço de novo Damien Rice, pus em cima da barafunda da secretária um delicioso gatinho de peluche que foi parte da prenda hoje recebida ao qual puxo os bigodes, percorro blogs de que gosto, vou deixando aqui e ali comentários - mas trabalhar, nada.
Vou mas é para a cama - de folhinhas (seria melhor não usar diminutivo, mas pronto) e caneta na mão. Até o sono me fazer cabecear, vou usá-las que nem romance para ler antes de dormir. Se não for como soporífero...

(Pois... era mais interessante ir sem folhas e sem ser sozinha. Mas essa é outra história. Das que por aqui se contam pouco ;).

terça-feira, janeiro 04, 2005

Quebrar rotinas

Uma coisa de que muitas vezes nos esquecemos, mas sabe mesmo bem. Hoje, fui buscar a Miosótis à escola, ao final da tarde, e em lugar de virmos para casa, fomos ao cinema. Fizemos um jantar rápido de pastelaria e depois deliciámo-nos ambas a ver o "Polar Express". Sozinhas, numa sala de cinema enorme, só para nós. O filme é uma ternurenta história de Natal, que vi como se fosse da idade da minha filhota e por isso diverti-me. Depois viemos para casa, de sorriso nos lábios, abraçadas uma à outra.

Eu sei que este post é melado, mimalhíssimo. E estou-me nas tintas. Gosto de partilhar momentos assim com a minha menina. Tenho de aproveitar enquanto ela os quer partilhar comigo. Adoro sentir os olhos de ambas brilhar por estarmos juntas, cúmplices, companheiras, felizes. São momentos únicos, só nossos, não facilmente partilháveis. Pode até estar mais gente ao lado, o cruzar de olhares e de sentimentos é só das duas. Uma ligação especial de mãe e filha.

Uma prenda

Ontem comecei o dia com uma discussão, hoje com uma prenda. Acho que nunca ninguém teve tanto trabalho em imaginar, embrulhar e dedicar um saquinho cheio de prendas para mim. Fiquei de sorriso de orelha a orelha, abri tudo com muito jeitinho e apeteceu-me dar um enorme abraço à autora daqueles embrulhos todos. Infelizmente, ela não está perto - mas vai recebê-lo, por telefone.
Um dia cinzento, um dia azul - assim é a vida, não é? Felizmente, o coração aquece mais com as coisas boas do que arrefece com as más.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

O porquito expiatório

Experimentem terminar um dia de neura com uma bela sanduiche, bem recheada, de leitão vindo directamente da Mealhada. Vinguei-me com as dentadas no porquito. Nham, nham, que pena já ter acabado!

Modos de apagar coisas feias

Como sempre, a minha mania de ligar músicas a momentos. A discussão desta manhã, as acusações delirantes (de tudo me podes acusar, mas não daquilo, nunca, ainda mais te afastas, me afastas, se de facto pensas, por um momento que seja, daquela forma) ficaram ligados a esta música. Passei o dia com ela na cabeça. Hoje, é ela a maneira de eu chorar sem lágrimas, mesmo sem que esta canção tenha algo a ver contigo ou connosco - um connosco que cada vez menos existe, tu encarregas-te de estragar até a recordação daquilo que nunca se devia estragar e que de algum modo nos unia para sempre, apesar de separados...
E lá estou eu a escrever o que não queria, o que me incomoda expor porque é meu, só meu, mas o blog é para isto que, acima de tudo, serve - e, porra, neste momento, preciso de deitar isto cá para fora. Durante toda a surreal conversa desta manhã, esta canção começou a bailar na minha cabeça, e foi bailando até aterrar aqui.
Nothing unusual, nothing strange
Close to nothing at all
The same old scenario, the same old rain
And there's no explosions here
Then something unusual, something strange
Comes from nothing at all
I saw a spaceship fly by your window
Did you see it disappear?

Amie come sit on my wall
And read me the story of O
And tell it like you still believe
That the end of the century
Brings a change for you and me
Nothing unusual, nothing's changed
Just a little older that's all
You know when you've found it,
There's something I've learned
'Cause you feel it when they take it away

Something unusual, something strange
Comes from nothing at all
But I'm not a miracle
And you're not a saint
Just another soldier
On the road to nowhere

Amie come sit on my wall
And read me the story of O
And tell it like you still believe
That the end of the century
Brings a change for you and me

And Amie come sit on my wall
And read me the story of O
And tell it like you still believe
That the end of the century
Brings a change for you and me
Damien Rice, Amie

Afinal as coisas mudam no ano novo

e para que bela porcaria... Enfim, adiante. O céu continua azul, o sol brilha, e as parvoeiras hão-de assentar e deixar de ter importância.

Escrever

Apetecia-me estar com tempo e cabeça para aqui escrever. Sobretudo acerca das tragédias que ocorrem, como este horror na Ásia, e que tanta gente usa para apontar um dedo acusatório para o Deus em que não acreditam; e da mina que essas tragédias são para a comunicação social ter assunto para encher a cabeça de quem por ela se deixa massacrar.
Mas, em lugar disso, aquilo que preenche o meu pensamento são revisões de notas de rodapé, verificação de bibliografia, e neste preciso momento a maneira de, sem grande alterações a uma parte da tese, nela referir um trabalho fundamental só agora descoberto. Coisas, que por muitos motivos (um dos quais o nível de audiência deste blog, que se mantém tão certinho e me enche de orgulho), não vou aqui contar.
Fico-me pelas intenções. E por desejar uma boa noite, em mais uma madrugada que vem, sorrateira, e me apanha com a boca na botija, isto é, na tese...

domingo, janeiro 02, 2005

Prova de que a mudança de ano não muda mesmo nada

Neste dia radioso, estou enfiada em casa, diante do computador, a trabalhar.

sábado, janeiro 01, 2005

Ano novo

Um novo ano começou. Devo dizer que isso me diz muito pouco. É apenas um dia que se segue a outro, um mês que acaba e outro começa, um ano que vem de novo porque há muito tempo atrás houve quem decidisse que o ano começava no dia 1 de Janeiro - podia ser outro qualquer. Não acredito em propósitos de ano novo (deviam ser de vida nova, em qualquer altura), nem em mudanças provocadas apenas porque se bebeu champagne ao tocarem as 12 badaladas da meia-noite e se engoliram as passas da praxe. A vida continua, igual, boa ou má ou morna, como as circunstâncias a tornam, como nós temos ou não coragem de a fazer.
No entanto, acho que estes momentos de corte com o que está para trás, de renovar as esperanças como quem renova o guarda-fatos no início de uma estação, são necessários ao homem. Drummond de Andrade escreveu de forma magistral o que eu toscamente acabo de esboçar:
"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para frente vai ser diferente."
Por isso, faz sentido desejar um ano novo bom, colocar nele a esperança de melhores dias e, sobretudo, fazermos por isso!
O meu ano começou azul. Cabe-me fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que assim continue. Para já, trabalhar, com entusiasmo e ganas de acabar, depressa, "isto".


 
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