Um pouco mais de azul

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Palavras

Há dias em que gostava de conseguir escrever sem palavras. Pelo menos, sem palavras inteligíveis. É nessas alturas que invejo os poetas e a sua capacidade de transformar sentimentos em frases, sobretudo quando estas podem ser lidas de muitas maneiras e nunca o leitor saber, exactamente, o que conduziu à sua escrita. A realidade? A ficção? O juntar de palavras bonitas?
Não sei escrever assim. Aliás, não sei escrever (fora o que é trabalho) sem sentir. E isso pode ser uma virtude, mas é tramado também.
Nas caixas de comentários dos posts anteriores, sobretudo daquele que eu intitulei "Perigo à vista", falou-se imenso (eu também) sobre a exposição nos blogs, sobre o porquê de escrever aqui, o que a escrita revela e os perigos que daí resultam. Mas escreveram-se também das palavras mais bonitas, simpáticas e empáticas que aqui me dirigiram, e que agradeço do fundo do coração. Não exagero ao confessar que me fizeram vir lágrimas aos olhos. O que é muito mal feito, diga-se, porque arrisco deixá-las correr - sobretudo hoje, em especial hoje, talvez por estar estafada e talvez por muitas outras coisas que não interessa explicar. Talvez hoje, em especial, por ter sentido, ao mostrar uns sólidos capítulos totalmente prontos de uma tese de que me orgulho (sim, sou orgulhosa, briosa, exigente no que faço, e sei que o que estou a fazer está bom e bem feito), que uma fase há muito desejada está prestes a chegar. Mas que os sonhos associados a ela, esses...
Numa altura assim, sentir o calor das vossas palavras vale ouro. E de novo reflicto sobre as relações estabelecidas, o que aqui se revela e as diferenças face ao dia-a-dia. Ninguém que me visse hoje veria para além do cansaço (esse óbvio, estampado na cara de quem faz demasiadas noitadas há demasiado tempo). Mas, quanto ao resto, a máscara está posta. E aqui, mesmo que por meias palavras, abandono-a, descanso um bocadinho dessa máscara. Permito-me mostrar-me mais frágil. Como quem respira fundo para ganhar forças para continuar. E preciso disso. Por ora, preciso disso. Não sei quanto tempo o "Um pouco mais de azul" sobreviverá ao final da tese e de outros trabalhos que me vão manter agarrada ao computador mais do que eu gostaria nos próximos tempos. Mas sei o quanto este blog e a interacção que me permite têm contribuído para a manutenção da minha sanidade mental.


 
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