Um pouco mais de azul

terça-feira, janeiro 25, 2005

Perigo à vista

Ando com vontade de escrever. Não sobre as peripécias do Pluto, ou as mimalhices da minha filha, ou o andamento da tese. Ando com vontade de escrever como não faço há meses, como costumava no início do blog mas fui deixando de fazer porque já não é escrever para o ar mas saber que desse lado há um feedback que, se tanto me agrada, também por vezes constrange. Não tanto por ser lida, mas por saber por quem sou lida - ou se calhar por não saber. Porque me apetece escrever de coração nas mãos, deixando-me ver a mim mesma, como se nua estivesse. Não sendo apenas a mãe, nem a maluca que arranjou um cachorro na fase final da tese, nem a investigadora que está a chegar ao fim do seu trabalho, mas sendo eu mesma. A que provavelmente se adivinha em tudo o que escrevo, mas não se vê. Um pouco como a roupa que cobre um corpo cujas formas se vislumbram, mas não se sabe realmente como é antes de estar despido. E é dessa nudez de alma que eu ando a precisar (já aqui há tempos eu brinquei com a ideia de strip-tease de almas, lembram-se?).
Escrever aqui vicia. Mais do que isso: cria o hábito da escrita regular num espaço sempre aberto para lançar aos quatro ventos ideias e sentimentos, que de outra forma ficam a jazer num disco duro de computador, ou no fundo de uma gaveta qualquer. Aqui, ficam arrumados, prontos a ser revistos. E temos um interlocutor potencial - o que não deixa de ser importante e necessário, por paradoxal que pareça face ao que acima disse.
Perigo à vista, pois. Para mim, naturalmente. A nudez de alma pode-nos deixar muito mais expostos do que a do corpo, e mostrar muito mais a nossa fragilidade.


 
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