Um pouco mais de azul

terça-feira, novembro 30, 2004

Que dia este!

Dia de loucos, de imenso trabalho, de não parar. A não ser ao final da tarde, quando me telefonam e dizem: "o governo caiu". Tive uma sensação de alívio imensa. Não sei o que aí vem, mas saber que não há mais disto alivia-me. É terrível ter um governo em que não se confia minimamente. Agora deixamos de ter. E eu estou a descansar enquanto o jantar fica pronto e me preparo para um serão em paz, ouvindo Rodrigo Leão.

segunda-feira, novembro 29, 2004

Mudando de assunto

Ontem demos com o canário morto na gaiola. Ele não andava com grande aspecto, mas cantava que nem um louco, pelo que pensámos que estaria bem (não sou grande coisa em diagnósticos de canários). Agora temos uma canária viúva. Acho que vai ter de se arranjar novo parceiro para ela, ou fica para ali tristonha, sem o seu companheiro.

De vez em quando...

... pergunto a mim própria como e porquê. Devia andar cega e acreditar no Pai Natal, há 13 anos atrás... É a única explicação.
O pior é que um dos preços que pago por essa cegueira está próximo de ser cobrado. No Natal, qualquer que seja a solução encontrada, vai haver uma sombra no olhar transparente da minha filhota. E eu não queria que essa sombra existisse.

domingo, novembro 28, 2004

A viagem da Amarelinha

Olá, sou a Amarelinha, a folhinha de Outono! Tenho nove aninhos e sou amarela, como diz o nome! Vou contar a minha história para que fiquem a saber mais sobre mim.
Tudo começou numa quinta, perto de um pinhal. Eu estava prestes a cair com o meu irmão e irmã, Castanhinho e Vermelhusca, mas tinha medo porque a árvore era muito alta e eu não me queria magoar. Eu tremia como varas verdes até que veio o Sr. Vento que disse numa voz calma da qual eu gostava muito:
- Todos a bordo para o Reino das Folhas!
Então eu sem saber como soltei-me e voei com o Sr. Vento que já me tinha agarrado.
Em primeiro lugar, fomos até a umas quantas paragens buscar várias folhinhas e depois abriu-se uma passagem e nós entrámos nela tão rápido que da grande tabuleta que estava à porta só consegui distinguir um r e um f. Reparei então que tinhamos entrado no Reino das Folhas.
Então o Sr. Vento começou a abrandar até que parou em frente de um campo coberto de tendas.
Saí e deparei-me com uma enorme tenda que tinha uma tabuleta onde dizia em grandes letras verdes "Tenda da grande árvore da quinta".
Entrei lá dentro e vi-me em frente de uma linda visão. O chão da tenda era de madeira encerada, tinha puffes muito moles e lá ao fundo sentadas em cascas de nozes encontravam-se todas as minhas amigas, colegas e até algumas folhas desconhecidas que assavam castanhas presas em pequenos paus.
Corri a abraçar a minha melhor amiga, um ano mais velha que eu, que me disse:
- A primeira coisa que uma folha recém-chegada deve fazer é visitar o Reino!
Fomos para o autonuvem e dentro de poucos segundos estávamos no grande Museu do Reino onde vimos...
- Amarelinha! Vem jantar!
Oh, tenho de ir, queridos leitores. Prometi à minha nova amiga Célia Folhinha que jantava na tenda dela. Adeus!
E aqui acaba a história da Amarelinha, a folhinha que tinha medo de cair, mas que fez muitos amigos no Reino das Folhas.

Fim

Escrito pela Miosótis, claro está. E eu gostei tanto que guardo aqui esta redacção que ela fez na escola. Não há dúvida que os bons hábitos de leitura ajudam muito na escrita.

sábado, novembro 27, 2004

Intervalei

Também sabe bem. Passear por paisagens cheias de tons outonais, nevoeiro e um frio de rachar. Depois conto.

sexta-feira, novembro 26, 2004

Desabafando

Nem imaginam o que é retomar um texto que foi sendo construído ao longo de mais de dois anos, e onde agora não pode ficar nada pendurado à espera de correcção futura. E quando encontramos um erro nas contas e temos de refazer uma tabela inteira?
Assim passei eu este serão, em busca de "gatos" e resolvendo-os. E descobrindo que pensava ter algures falado de algo importante, e que não escrevi em lado nenhum. Raios partam isto...

quinta-feira, novembro 25, 2004

Vagueando

Vagueando pelo que penso e sinto - saberei distinguir pensar e sentir?
Gosto de passear cá por dentro. Observar sem racionalizar em demasia. Descobrir sensações predominantes, outras que começam a despontar. Mas não me apetece falar sobre o que vejo neste passeio. Não é dia de mostrar "radiografias".

Mais Outono



Vindo do Oriente (mais uma vez obrigada, DK), para comemorar outro dia magnífico cheio de sol.

25 de Novembro

Hoje, três pessoas importantes da minha vida fazem anos.

A primeira é o meu pai. Mais um aniversário que me crava espinhos no coração por o ver como está, mais um dia em que vou procurar arrancar-lhe um sorriso sentido e dizer-lhe, ainda que sem palavras, o muito que lhe quero e o imenso que me dói vê-lo assim. Mas sei que um dia a sua mão magra que pouco mais faz do que apertar a minha, o beijo que não esqueceu como se dá, o carinho do seu olhar me vão fazer muita, muita falta - mesmo que agora me façam tantas vezes fugir, porque nem sempre aguento vê-lo desta forma.

Faz anos também o meu braço direito, quem me permite desligar das tarefas domésticas, quem, desde há nove anos, me substitui junto da minha filha. A minha muito querida empregada, amiga sempre disponível, membro indispensável da família, com quem troco desabafos, alegrias e tristezas, e a quem confio de olhos fechados o meu maior tesouro.

E faz anos, finalmente, um amigo, único dos três aniversariantes que vai ler o que aqui escrevo. Por isso, são no discurso directo as palavras que te dirijo. A ti, amigo em quem deposito uma rara confiança, sem que me tenha arrependido nem por um bocadinho de ta ter concedido. Mostraste merecê-la pelo altruísmo e pela fidelidade, pela ajuda, pela paz que me ofereces. É bom saber-te aí - ou seja, aqui. Ao meu lado. Um beijo de muitos parabéns.

quarta-feira, novembro 24, 2004

Um ano de Professorices

Para o JVC, com muita estima e os mais sinceros parabéns pelo seu blog e o grupo de amigos que soube criar em seu redor. Fazer parte desse grupo é um dos meus prazeres blogosféricos.
Espero que goste (e que a Biblioteca Nacional me perdoe o "pedido de empréstimo"). Acho que adivinha quem é o autor deste poema sem qualquer dificuldade.



Sol

Está um dia tão, mas tão bonito que só me apetece ir apanhar sol, passear, estar no quentinho. Vale-me ter um escritório por onde toda esta luz entra - já que o destino desta tarde é mesmo estar em casa a trabalhar. Mas está a valer a pena o esforço...

terça-feira, novembro 23, 2004

Desenhos (1)

A história dos coelhos suicidas tem dado pano para mangas. Já deu até para um desenho da minha filha, com direito a publicação nas sempre surpreendentes e recomendadas Ruínas Circulares, que deixou mãe e filha todas vaidosas. Aproveitando a deixa, apeteceu-me babar mais um bocadinho e escrever sobre alguns desenhos da minha filha.
Ela não passou propriamente pelas fases usuais dos desenhos das outras crianças, diga-se. Em geral, um garoto de 3 anos desenha uma pessoa como uma bola com olhos e boca de onde saem os braços e as pernas. A Miosótis, talvez porque eu desenhava muito com ela (com a imensa falta de jeito de que Deus me dotou), não fazia assim. Os dela eram mesmo bonecos, com cabeça redonda e os cabelos consoante imaginasse, um triângulo para o vestido (dois mais estreitos para calças), dois traços para os braços, outros dois, com um prolongamento para os lados, para as pernas. No fundo, fazia bonecos como os que eu lhe desenhava; e quando não conseguia obter o resultado que queria, zangava-se e chorava, dizendo "Não consego!". Enchia folhas e folhas de bonequitos assim, cada um diferente do outro na inclinação da cabeça, na expressão, nos cabelos ou na roupa. Eis uma versão dessas bonecas, feita quando ela tinha uns 3 anos e pouco. Anda há anos na minha carteira, e sempre que olho para ela sorrio - acho que vão perceber porquê.


(continua)

segunda-feira, novembro 22, 2004

Lembretes

Ideias para próximos posts:
- efeitos dos "Cats" sobre a minha filha e a sanidade mental da respectiva mãe;
- necessidade de procurar qualquer coisa como "ateliers" de teatro infantil para a minha filha;
- o estado das estradas nos arredores de Coimbra, onde não há sinalização em condições, riscos brancos a demarcar a faixa de rodagem, reflectores ou telefones de emergência;
- o que se poderá passar se um cão que me parece abandonado continuar à entrada do prédio e nos cumprimentar mais vezes com um tão forte abanar de cauda e aos pulos de contente.
Por ora, ficam apenas as ideias. Urge trabalhar. Boa noite!

Ao sabor das palavras

Há alturas em que olhamos à nossa volta e vemos imensa coisa para fazer, e não fazemos. Em que sentimos sono, mas não apetece ir dormir. Apetece escrever, deixar as palavras fluir, sem saber bem onde vão parar. Falar de tudo ou de nada, dizer o que cá vai dentro ou nem isso, apenas usar palavras. Dar-lhes som mesmo sem as pronunciar, apenas escrevendo. Não digo dar-lhes corpo, porque tal significaria que as palavras teriam sentido, e não têm. São fragmentos de breves ideias que não quero concretizar. Não busco qualquer coerência para essas palavras. Basta quanto, coerente, tenho de escrever e dizer todos os dias. Agora é só vontade de deixar as palavras fluir. Talvez como se fosse o fumo de um cigarro, que sobe pelo ar e se fica observar, deixando a mente subir com ele. Eu, que não fumo, que nunca fumei, estou a olhar para uma espiral de palavras, que sobe diante dos meus olhos e toma os rumos que a deslocação do ar, a minha respiração determinam. Posso fixar uma palavra apenas e ver se ela sobe a direito, se desvia, vai para um lado ou para o outro, finalmente se desfaz. Para que palavra hei-de olhar? Não faço ideia, isso já dá muito trabalho à minha mente espreguiçada a olhar o fumo das palavras. Prefiro vê-las desfocadas, de contornos mal definidos. Assim se elevam as palavras e brincam diante de mim.
Tal como no final do cigarro a espiral de fumo se desfaz, desvanecem-se no ar as palavras. Sem fazerem o menor sentido, como preguiçosamente desejei.

sábado, novembro 20, 2004

Momentos de paz

Houve-os esta tarde, confortáveis, doces, familiares. Ficam cá dentro guardados. Fazem bem.

Frase do dia

"Depois de dormir uma noite num saco-cama, acho que percebo como se devem sentir as ervilhas."

sexta-feira, novembro 19, 2004

Fim de mais uma etapa

Como devem ter percebido pelo último post, esta madrugada algo importante aconteceu. Foi o fim de mais uma etapa de uma certa maratona que no final verá a inominável-coisa completa. Aos poucos, começo a ver a linha da meta... Ainda está longe, mas muito mais perto do que quando comecei aqui a despejar os meus lamentos.
Um dia, finda a tese, ainda hei-de escrever sobre o que é metermo-nos numa aventura destas. Uma coisa desde já adianto ser imprescindível: um grande gosto pelo que se investiga. Ajuda também uma dosezita de insanidade mental, ou ninguém se meteria numa trapalhada que no mínimo consome uns 4 ou 5 anos da nossa vida.

Anti-clímax

Faço a última correcção nesta parte do capítulo. Preparo-me para a imprimir, com o sorriso nos lábios de quem cumpriu o dever e terminou uma longa etapa. A porcaria do tinteiro acaba no final da 5ª folha...

quinta-feira, novembro 18, 2004

"João, desenhas-me um coelho?"

E o João desenhou. Um coelho suicida fantástico, claro está. Obrigadíssima, adorei.


Isto resulta!

Há umas folhinhas, rabiscadas com a minha letra miúda, absolutamente preciosas para a minha tese. Tenho andado à procura delas por todo o escritório, no meio de milhentos papéis. Sabia que as tinha colocado em lugar seguro para não se perderem - erro grave! Arrumar é a melhor maneira de uma pessoa desarrumada deixar de saber onde tem as coisas.
Resolvi vir aqui queixar-me amargamente da falta de sorte da minha vida, arrepelar os cabelos, prometer ser muito arrumadinha daqui para a frente (promessa que seria esquecida no exacto momento em que as ditas folhas aparecessem, claro). Mal comecei a escrever este post, fez-se luz, estendi o braço e encontrei-as!
Vou começar a usar este meio para encontrar as coisas que não sei onde deixo. Vai haver posts intitulados "onde estão os óculos de sol?", "alguém viu a chave do carro?", "onde pára o meu porta-chaves?", "que é feito do meu livro de endereços / agenda / revista que estava a ler?".

(Pensando c'os meus botões: será que o método funciona com pessoas? Tipo: "Tal", onde estás tu?" Duvido...)

Pescada e guarda-chuvas

É um post um bocadinho atrasado, mas cheio de boa vontade. Nunca é tarde para começar a fazer uma alimentação saudável, pelo que cá vai disto:

Detesto pescada cozida. Detesto pescada cozida. Detesto pescada cozida.
Detesto pescada cozida. Detesto pescada cozida. Detesto pescada cozida.
Detesto pescada cozida. Detesto pescada cozida. Detesto pescada cozida.
Detesto pescada cozida. Detesto pescada cozida. Detesto pescada cozida.
Detesto pescada cozida. Detesto pescada cozida. Detesto pescada cozida.
Detesto pescada cozida. Detesto pescada cozida. Detesto pescada cozida.

(Não, não endoidei (totalmente). É uma resposta ao pedido do L. Ainda para mais, eu detesto mesmo pescada cozida. Maruca ou abrótea são muito melhores.)

quarta-feira, novembro 17, 2004

Um coelhinho feliz



Um delicioso coelhinho com ar muito feliz, bordado num cantinho de uma tapeçaria do final do século XV, a famosa "Dame à la licorne", que pode ser vista no belíssimo site de um museu que o sabe verdadeiramente ser.

Este post é dedicado a quem me fez dar umas valentes gargalhadas à custa de uns primos sádico-suicidas deste fofo bicharoco.

Em tons escuros

Uma das coisas que mais custa é ver alguém a deixar-se degradar. Alguém que desiste de cumprir as promessas que tem em si, e se deixa ficar apático, sem interesse por nada, fechado na sua concha autista. Alguém que vê a realidade distorcida e se refugia num mundo de faz-de-conta, em lugar de mostrar que é homem e lutar pelo que diz querer (começando por aceitar que não está bem e precisa de ajuda, que orgulhosamente recusa). Alguém que nem pelo que mais ama é capaz de reagir.
Aos poucos, deixa-se de ter pena, e passa-se ao desprezo.
Pareço insensível? Antes fosse...

Em tons de azul (nº ?)



René Magritte, O Sedutor

terça-feira, novembro 16, 2004

Despacho

Tornei-me especialista em correr com vendedores e pessoas a fazer inquéritos ou a anunciar promoções, ao vivo ou pelo telefone. Ainda não sei se os despacho simpaticamente ou não; apenas sei que os deixo desconcertados, e desistem logo das suas estratégias de "marketing".

Construção



Isabel Magalhães, Construção

Finalmente, sinto que estou a chegar ao topo do edifício que ando a construir. Não se admirem, por isso, com a minha ausência da maior parte dos blogs onde costumo comentar, eventualmente mesmo com algum silêncio aqui. É por uma muito boa causa ;-).

segunda-feira, novembro 15, 2004

E para mudar o tom (bem preciso é, livra...)

Acabo de limpar as tripas do meu rato. Livra, muito se suja o bicho! Acho que preciso de um ratinho daqueles sem fio - será que se sujam menos por dentro?
Vou começar a fazer uma lista de prendas de Natal.
1: rato sem fios que não se suje por dentro.
Agora apetece-me ir por aí fora, preenchendo a lista:
2: cadeira para a secretária (esta não sobrevive ao doutoramento)
3: um roupão de tecido polar (vi uns giríssimos, com preço de assustar qualquer um; dava-me um jeitão para ficar na preguiça...)
4: livros, cds, dvds (obviamente, a tese está pronta antes do Natal).
Para já chega. Da próxima vez, acrescento:
5: mobília para a sala (que a actual, por essa altura, espero, terá já seguido o seu destino)
6: um bilhete de avião para as Grenadines (sonhar não custa...).

Outro post que é melhor não escrever

Hoje é daqueles dias em que sinto a tua falta.

Momentos

Há momentos em que apetece especialmente escrever no blog. São precisamente os momentos em que é melhor não o fazer. Caso contrário, sai post intimista, cheio de desânimo, dúvidas, alguma mágoa, algum receio.
Não tem piada ter de passar a tomar a porcaria de remédio que acabo de trazer da farmácia (nem é nada de especial, mas de repente senti-me envelhecida). Cria-se-me um nó na garganta ao perceber como a minha filha está a ser afectada pelo meu trabalho em demasia, pelos fins-de-semana dedicados à tese, com tempo para ela, sempre, mas não com tempo para sair, passear, brincar sem pensar em trabalho. Revolta-me saber que há quem o possa fazer por mim, quem tenha o dever de o fazer, quem devia ter todo o gosto em o fazer - e nada. Serviços mínimos apenas, e mesmo assim...
Anoiteceu, e nesta casa sente-se um frio que não tem a ver com a temperatura, que desce de dia para dia. Daqui a nada, felizmente, a campainha vai tocar, e o frio, como por encanto, desaparecerá ao som de uma vozinha meiga.
Há mesmo momentos em que é melhor não escrever no blog.

Uma onda de ternura



Mais uma vida nasceu, e uma tia apaixonada mira, sem se cansar, um pequenino e imenso milagre. Bem-vinda sejas, Maria.

Missão cumprida (por ora...)

Finalmente, terminei o que me tinha imposto fazer até hoje. Se tivesse avançado um pouquinho mais não teria sido pior, mas os olhos estão a ameaçar greve de zelo e estão fartos de me apontar para o relógio.
Pela primeira vez desde há bastante tempo, vou para a cama satisfeita com o trabalho que consegui fazer. Aleluia!

domingo, novembro 14, 2004

Post com cheiros

Chega-me da cozinha um cheirinho tão bom...
Ao domingo, está-se a tornar hábito fazer um bolo, que serve para levar durante a semana como lanche para a escola, juntamente com o leite. Lá se fez o bolo, com a indispensável ajuda da Miosótis, que anda a esmerar-se na difícil arte de separar gemas e claras ao abrir um ovo. Escusado será dizer que só servirá de lanche para 2ª e 3ª feiras, pois foi muito bem provado ainda quentinho...
Já que ia ligar o forno, decidi fazer um assado para o jantar: entrecosto, que está quase pronto e é o principal responsável pelo cheirinho que invade a casa. Ele e as castanhas, porque estando o forno ligado resolvi arranjá-las para a sobremesa.
Alguém é servido?

Se

Se eu ousasse dizer, a quem quer que seja, ou escrever aqui o que tem andado a bailar-me no pensamento...
Mas não digo nem escrevo. Atiro para um cantinho recôndito desta cabeça que às vezes pensa demais, especialmente no que não deve pensar. Talvez um dia saia de lá. Com um grande bocado de sorte.

sábado, novembro 13, 2004

Poema outonal

Os gatos resguardam-se da chuva.
Alguém diz o teu nome à janela,
olhando as aves que partem para o sul.

Há uma memória embaciada de outro outono,
cinzas no pátio,
o cheiro de alguma coisa que morre, mas não dói.


Maria do Rosário Pedreira, A casa e o cheiro dos livros

sexta-feira, novembro 12, 2004

O meu norte

Estava aqui a pensar. No nascimento da Beatriz, e em tudo o que vai mudar na vida dos seus pais. Num mail em que uma pessoa amiga me confidencia o medo de voltar a enveredar pelo caminho errado - e como saber o certo? Em decisões complicadas que implicam precisamente uma tomada de decisão consciente e responsável.
Dou conta, uma vez mais, que tenho uma bússola que me indica o norte. És tu, minha filha, desde sempre, e sem sequer o saberes. Por existires, por seres a minha maior prioridade, nada havendo de mais importante do que saber-te bem e velar por ti, educar-te, guiar-te até teres asas para voares sozinha. Tu indicas-me o caminho e enches-mo de amor. Do terno amor que, no meio do frio, me aquece o coração, como esta tarde.

Nasceu



A Beatriz. Parabéns, papás.

Formas de aquecer

Chegamos da rua. À porta da garagem, sopra um vento frio.
- Mãe, dá-me 4 beijinhos, um na testa, outro no nariz, um em cada bochecha!
- Não achas melhor esperar por sairmos deste frio? Estou gelada!
Nada a demoveu: sessão de beijinhos patetas no meio do frio.
- Vês? Assim já vais quentinha para casa.
E viemos abraçadas uma à outra, sorrindo. Com o coração deliciosamente quentinho.

Fotografia

Há pouco, o vento soprava com força, fazendo rodopiar centenas de folhas secas, que com uma rajada mais forte se ergueram no ar. Por breves instantes, apenas se viram folhas amarelas a voar, como se fosse uma chuva especial. É nestes dias assim que gosto do Outono. Acho que já o disse, mas repito. Não me canso de sentir e dizer as mesmas coisas, quando gosto mesmo delas.

quinta-feira, novembro 11, 2004

Arafat

Por estas bandas não é muito costume falar de política. Não o vou fazer agora, senão para desejar paz à sua alma (consegui-la-á? dúvidas que tenho sempre em relação a quem leva deste mundo as mãos sujas do sangue alheio...) e que, agora, uma nova esperança de paz possa nascer naquele Médio Oriente ensanguentado. Também para deixar os links para alguns textos que não quero esquecer, e que li aqui, aqui e aqui.

Pensamento das 7 da tarde

Há dias em que me apetecia ficar vazia, como uma folha em branco. Assim como se toda a actividade, física e mental, ficasse suspensa. Não respirar sequer. E depois, aos poucos, à medida que o cansaço fosse passando, regressar, devagarinho, à vida.

quarta-feira, novembro 10, 2004

Toma



Para ti. Apeteceu-me.

Adeus, Lenine

Ao tempo que não ficava na sornice frente à TV, enroscada no sofá. Foi o que fiz ontem, vendo este filme de que gostei, muito. Soube tão bem a preguiça...


Adenda (11/11) - De imprescindível leitura, a queda do muro contada por quem a viveu. O Lutz, do Quase em Português. Que está de parabéns pelo post, e porque o seu blog fez um ano.

terça-feira, novembro 09, 2004

Poesia de tempos de outrora

Influenciada pelo Respirar o mesmo ar, que se lembrou de publicar uma das mais belas cantigas de amigo saída da pena do nosso rei trovador, aqui deixo uma outra poesia trovadoresca, fresca como as camisas lavadas "eno alto" pela formosa menina que cantou D. Dinis.
Levantou-s'a velida
levantou-s'alva

e vai lavar camisas

eno alto:

vai-las lavar alva.


Levantou-s'a louçana,

levantou-s'alva

e vai lavar delgadas

eno alto:

vai-las lavar alva.


(E) vai lavar camisas;

levantou-s'alva;

o vento lh'as desvia

eno alto:

vai-las lavar alva.


E vai lavar delgadas;

levantou-s'alva;

o vento lh'as levava

eno alto:

vai-las lavar alva.

O vento lh'as desvia;

levantou-s'alva;

meteu-s'alva en ira

eno alto:

vai-las lavar alva.


O vento lh'as levava;

levantou-s'alva;

meteu-s'alva en sanha

eno alto:

vai-las lavar alva.

E depois do enjoo

A boa disposição. Não há enjoo que não passe num dia assim - lindo, lindo, lindo. Uma boa tarde para todos, aproveitando as cores do Outono e este sol meigo que hoje nos veio aquecer.

segunda-feira, novembro 08, 2004

Novo nome?

Pelo andar da carruagem, este blog vai ser rebaptizado. Nome mais provável, se não for capaz de acabar depressa a tese: O enjoo.
O Munch, em lugar do Grito, devia ter desenhado o Enjoo; se algum pintor quiser pintar tal tema, pode-me usar como modelo, ao menos tanto enjoo serviria para alguma coisa...

Cores de Outono noutras paragens



Arigato, DK!

domingo, novembro 07, 2004

Bravo de esmolfe

Já que falamos de maçãs a cair sobre a minha filha, que sejam as maçãs melhores do mundo: bravo de esmolfe, claro. Feias, tortas, não normalizadas (como as devoradas nos últimos dias) - e por isso ainda mais deliciosas.

Dentadas em maçãs como metáforas de felicidade em estado puro

Soubesse eu desenhar, e em lugar de estar para aqui a lutar contra o vómito de tese, estaria a fazer o desenho de uma menina alta e magrinha, de cabelos esvoaçantes ao ritmo da sua imparável dança, de braços abertos num campo cheio de maçãs que chovem sobre ela e a rodeiam, e ela a sorrir para mim, dizendo-me, como há bocadinho, por entre abraços e beijinhos de ânimo para me ajudar no trabalho, que sou a melhor mãe do mundo.

Poema para pesar maçãs

Às vezes ainda fecho os olhos, mas já não funciona tão bem.
Outrora, podia pensar numa coisa e fechar os olhos
que de imediato havia uma similitude entre o que pensava
e a imagem que surgia na escuridão. Hoje em dia, nem isso.
Posso, por exemplo, pensar em ti com muita força
e, acto contínuo, cerrar os olhos que me aparece (olha,
quem diria) a motorizada do meu pai.

Mas eu, de olhos abertos, penso mais no teu filho
do que nos cisnes. Uma pessoa nasce e cresce.
Conhece um pai e uma mãe, aprende a falar e a escrever
«mãe» e «pai» e outras palavras mais em idiomas perversos.
Há um dia em que nos deixamos tomar por alguém
pela primeira vez e ocasionalmente a gente
apaixona-se que é o momento da vida em que duvidamos do Newton,
na medida em que verificamos que o centro de gravidade nem sempre
é a Terra: todas as maçãs passam a cair na cabeça da pessoa amada,
esteja ela onde estiver. Viveste tudo isto, ou talvez um pouco mais,
para chegares a uma tarde em que estás sentada na relva
em frente a um lago e olhas para o lado
e vês um rapaz. E eu imagino que, pela primeira vez,
percebes que aquele miúdo (para além de ter todas as maçãs do mundo
a cair-lhe em cima da cabeça) surgiu algures, como quem não quer
a coisa, numa curva mais apertada da tua existência.
Fomos dotados de um poder do qual somos indignos
que é trazer para o mundo um ser apto a detonar
todos os verbos que conjugámos no passado.
Tudo isto é inimaginável e terrível, embora não deixe
de ser belo até à comoção, que é normalmente o nome predicativo
de todos os sujeitos terríveis e distantes.

Lembro-me igualmente de quando te fui ver ao hospital
e recordo ainda com maior exactidão a vontade
que tinha de te ver, pois para mim era óbvio que era outra
a rapariga que estaria ali. Tinhas dado um salto. Pisado um risco.
Nitidamente entrado para outra divisória. Esperava ver-te
transfigurada, na plena posse do teu poder criador,
e não deixava de ter um pouco de medo ao pensar na possibilidade
tão verosímil de não admitires uma presença profana
(inclino agora um pouco o pensamento para os cisnes,
pois era o que me faziam lembrar as enfermeiras ao deslizarem
em silêncio pelos corredores). Entrei no quarto e vi-te.
Estavas bem bonita, sabes. Despojada do teu milagre,
mas bonita. Olhavas para a luz que era a única forma de matéria
que deverias reconhecer naquela altura. Chamei-te pelo nome,
olhaste para o vazio. Estavas cansada e sorriste.

Fecho os olhos e não vejo o teu sorriso. Porém, na
memória, um odor a maçãs e outros cisnes.

João Pedro da Costa

Espero que o autor não se importe por ter copiado para aqui este poema, encontrado neste site, que recomendo (dizemos tantas vezes que tudo cheira a mofo no mundo universitário, aí se podem sentir ideias fervilhantes com odor a coisas novas e brilhantes). É que o poema encantou-me. A forma de expressar como o amor muda toda a nossa maneira de encarar o mundo é linda, linda. Daqui em diante, sempre que olhar para a menina que lá dentro brinca, faz redacções e me interrompe de cinco em cinco minutos com perguntas, dúvidas escolares ou apenas beijinhos, verei, sobre a sua cabeça, todas as maçãs do mundo inteiro.

Pequeno inquérito para o qual espero respostas

Amar-se uma pessoa sabendo que se esperará por ela o tempo necessário, tendo a certeza que ela é a "tal" mesmo que nos dê com os pés, não desistir contra todas as evidências, é:
a) a mais bela forma de amor.
b) uma doce ilusão do primeiro amor.
c) um perfeito disparate.

sábado, novembro 06, 2004

A solidão

"A solidão, que raios, é melhor do que as outras pessoas. É melhor do que nós. (...) A idade adulta chega quando começamos a tratá-la por tu, nunca antes. A velhice virá quando a abraçarmos sem receios (...). É na solidão que somos o mais íntimo de nós. É nela que aprendemos a podar os sentimentos dos excessos que nos confundem e a lapidar o nosso ser do que não somos. O tempo ensina-nos a respeitá-la, a sermos humildes diante da sua sabedoria e a aceitar o prenúncio da sua vinda sem qualquer estreiteza de espírito."

É por isto (e por delírios completamente loucos, pelo sentido de humor e a simpatia, pela música e por coelhos suicidas que, por sinal, andam a fazer falta) que visito tantas vezes As Ruínas Circulares.

Enquanto se trabalha, vai-se sonhando



create your own visited countries map

É claro que o mapa (que encontrei numa série de blogs, o último dos quais este) é pouco fidedigno: ter estado em S. Petersburgo significou que toda a imensa Rússia aparecesse a vermelho, uns dias em Istambul valeram pela Turquia toda. Mas é pelo menos um indicativo - e um mundo inteiro de sonhos a cumprir. E sonhar é preciso, sobretudo quando o sol continua a brilhar lá fora, convidativo, quente, tentador...
Agora não, sol. Mas vai chegar o tempo de te usar e gozar, e de te ver nascer e desaparecer no horizonte em latitudes variadas.
Por entre os pequeninos pontos espalhados pelo mar que separa as Américas, ficam as Grenadines.

Constatação

O dia está radioso. Eu estou à secretária, agarrada a esta merda.

sexta-feira, novembro 05, 2004

O não post

Não vai sair o que me apetecia escrever. Não vou falar do que me incomodou e incomoda, do que me preocupa, do que me deixa ansiosa. Este é um não-post.

quinta-feira, novembro 04, 2004

Interrogações à volta de um puzzle

"PROBLEMA 283. Tenho perante mim apenas duas mil peças de cartão espalhadas ao acaso (...), a quem tenho de dar um sentido. Embora o sentido esteja lá. (...) A diferença, e o problema, é que nos outros puzzles havia uma imagem, uma ideia que me guiava. Neste não. Não sei qual será o retrato final.

PROBLEMA 284. Por vezes, tenho também a sensação de que passamos a vida a tentar edificar de uma forma contraditória labirintos de toda a espécie onde procuramos proteger o segredo que há em nós mas também impedi-lo de sair. Uma dúvida: a vida é um puzzle ou um labirinto?!


Problemas do dia de Ene Problemas. Que partilho, em vários sentidos.

A consciência da nossa mortalidade

Julgamos sempre que somos perfeitos. No máximo, que apenas nos afectam pequenas, ínfimas maleitas, como cáries ou miopia. Ou um bocado de reumatismo nas articulações, quando se deixa de ter vinte anos. Depois, por vezes, somos confrontados com o nosso carácter de meros mortais, iguais a todos os outros. Não somos máquinas perfeitas, mas defeituosas. Não é divertido, nem propriamente fácil, tomar consciência de tal.

quarta-feira, novembro 03, 2004

Against the blues

Bons, óptimos remédios:
- uma voz amiga do outro lado do telefone;
- palavras de ânimo, mesmo desprovidas de som;
- música de Schubert, tocada ao piano por Maria João Pires;
- muitos beijinhos mimados da minha filha.
Todos são bons remédios. Mas o último é o melhor de todos, garanto!

Disposições

Hoje fui invadida por melancolia. Por razões várias. O trabalho que não rende, e que tem de ser interrompido mil vezes por outras obrigações que não me apetece cumprir. O tempo tristonho. Nostalgia do que não chegou a ser. Distâncias que não se desejam. Incertezas. Resultados eleitorais que não me tranquilizam do outro lado do oceano.
Mas a razão principal da melancolia é outra. Cantou-a, magnificamente, Jacques Brel. Já um dia aqui coloquei a letra dessa canção; repito uma parte dela, que explica tão bem o que sinto:

Bien sûr il y a les guerres d'Irlande
Et les peuplades sans musique
Bien sûr tout ce manque de tendres
Il n'y a plus d'Amérique
Bien sûr l'argent n'a pas d'odeur
Mais pas d'odeur me monte au nez
Bien sûr on marche sur les fleurs
Mais voir un ami pleurer!

Arbustos americanos

Pois, lá ganhou ele. Não percebo patavina de política, muito menos de alta política internacional. Mas não gosto de maniqueísmo, e muito menos de que quem tem o poder de mandar o mundo pelos ares seja maniqueísta e se considere escolhido por Deus. Tanta presunção costuma dar maus resultados.

E o pior

É que tenho estado a seguir o conselho do Alberto Caeiro, nada fazendo... E tenho forçosamente de fazer alguma coisa antes de ir dormir.
Sabe, porém, tão bem ficar na calma quietude de um serão silencioso. Sem falar, sem me obrigar a pensar.
Vá, menina, já preguiçaste muito. Retoma o trabalho, ou ele nunca mais termina... Sacode a preguiça dos neurónios e vamos a isto.

terça-feira, novembro 02, 2004

Há quanto tempo não havia Alberto Caeiro neste blog?

Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas noites,
E a minha voz contente dá as boas noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,

A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.

segunda-feira, novembro 01, 2004

Dia de Todos os Santos



Mãe, hoje não vou ao cemitério. Sabes que não gosto de lá ir, sobretudo nesta altura. Lá só está o que menos importa de ti. Por isso não vou. Tu estás é aqui, perto de nós. Estás presente nas fotografias, nas memórias, nos corações. Vives em cada momento nos olhos da tua neta, iguais aos teus. No sorriso que nos deste a ambas. Nos gestos que se repetem. Vives, sobretudo, escondida no cantinho especial onde guardo todas as lembranças de ti - os sons, os cheiros, a voz doce, a maciez das mãos, essas mesmas mãos que arrefeceram um dia por entre as minhas... Vives na estrelinha em que a tua neta te imagina, num Além que desconheço, mas do qual não duvido, como não duvido que tu lá estás.
Por isso, não sinto necessidade de rezar por ti. Preciso mais de te pedir que continues, de longe, a ser a minha Mãe e a fazeres-me sentir o teu amor.
As flores do dia de hoje estão lá dentro - para ti e para todos os outros que nos eram queridos e já cá não estão, e de quem tenho tantas, tantas saudades. Mas nenhumas como aquelas que sinto de ti, Mãe.


 
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