Um pouco mais de azul

segunda-feira, novembro 22, 2004

Ao sabor das palavras

Há alturas em que olhamos à nossa volta e vemos imensa coisa para fazer, e não fazemos. Em que sentimos sono, mas não apetece ir dormir. Apetece escrever, deixar as palavras fluir, sem saber bem onde vão parar. Falar de tudo ou de nada, dizer o que cá vai dentro ou nem isso, apenas usar palavras. Dar-lhes som mesmo sem as pronunciar, apenas escrevendo. Não digo dar-lhes corpo, porque tal significaria que as palavras teriam sentido, e não têm. São fragmentos de breves ideias que não quero concretizar. Não busco qualquer coerência para essas palavras. Basta quanto, coerente, tenho de escrever e dizer todos os dias. Agora é só vontade de deixar as palavras fluir. Talvez como se fosse o fumo de um cigarro, que sobe pelo ar e se fica observar, deixando a mente subir com ele. Eu, que não fumo, que nunca fumei, estou a olhar para uma espiral de palavras, que sobe diante dos meus olhos e toma os rumos que a deslocação do ar, a minha respiração determinam. Posso fixar uma palavra apenas e ver se ela sobe a direito, se desvia, vai para um lado ou para o outro, finalmente se desfaz. Para que palavra hei-de olhar? Não faço ideia, isso já dá muito trabalho à minha mente espreguiçada a olhar o fumo das palavras. Prefiro vê-las desfocadas, de contornos mal definidos. Assim se elevam as palavras e brincam diante de mim.
Tal como no final do cigarro a espiral de fumo se desfaz, desvanecem-se no ar as palavras. Sem fazerem o menor sentido, como preguiçosamente desejei.


 
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