Mãe, hoje não vou ao cemitério. Sabes que não gosto de lá ir, sobretudo nesta altura. Lá só está o que menos importa de ti. Por isso não vou. Tu estás é aqui, perto de nós. Estás presente nas fotografias, nas memórias, nos corações. Vives em cada momento nos olhos da tua neta, iguais aos teus. No sorriso que nos deste a ambas. Nos gestos que se repetem. Vives, sobretudo, escondida no cantinho especial onde guardo todas as lembranças de ti - os sons, os cheiros, a voz doce, a maciez das mãos, essas mesmas mãos que arrefeceram um dia por entre as minhas... Vives na estrelinha em que a tua neta te imagina, num Além que desconheço, mas do qual não duvido, como não duvido que tu lá estás.
Por isso, não sinto necessidade de rezar por ti. Preciso mais de te pedir que continues, de longe, a ser a minha Mãe e a fazeres-me sentir o teu amor.
As flores do dia de hoje estão lá dentro - para ti e para todos os outros que nos eram queridos e já cá não estão, e de quem tenho tantas, tantas saudades. Mas nenhumas como aquelas que sinto de ti, Mãe.