Um pouco mais de azul

sábado, outubro 30, 2004

Bolinhos e bolinhós

Há um velho costume em Coimbra por altura dos Fiéis Defuntos. Depois do jantar, as crianças juntam-se, vestidas de escuro, com as caras pintalgadas de negro, transportando caixas de cartão ou abóboras vazias, decoradas com carantonhas, dentro das quais levam velas acesas. Tocam às portas da vizinhança, e cantam uma lúgubre cantilena, pedindo "bolinhos e bolinhós". As pessoas dão-lhes dinheiro ou guloseimas, que agradecem cantando uns versos apropriados; para quem nada dá, há também versos adequados.
Quando eu era pequena, nunca os meus pais me autorizaram a participar em tal brincadeira, vá-se lá saber porquê. Agora, a minha filha anda com as amigas pela rua fora, disfarçada de bruxa, com uma abóbora iluminada na mão. As influências americanas do Halloween associam-se a esta tradição que não sei datar, mas é bem antiga em Coimbra.
Deixo-vos a cantilena, tal como a escreveu a minha filha num trabalho para a escola:

Bolinhos e bolinhós

Para mim e para vós
Para dar aos finados
Que estão mortos enterrados.

À porta da bela cruz, truz, truz…

A senhora está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de vir à porta

P’ra nos dar um tostãozinho ou um bolinho.

Se derem canta-se:

Esta casa cheira a broa aqui mora gente boa.

Esta casa cheira a vinho aqui mora algum santinho.

Se não derem canta-se:

Esta casa cheira a alho aqui mora algum espantalho.

Esta casa cheira a pão aqui mora algum papão.


 
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