Um pouco mais de azul

quinta-feira, setembro 30, 2004

Arrivederci!

O pouco que tenho escrito nos últimos dias tem uma razão especial: estar de abalada. Nem só de tese vive a 1poucomais, pelo que outras tarefas se somaram àquela durante este mês, preparando uma viagem para diferentes paragens. Não é turismo, é trabalho - mas esperemos que no meio deste possa aproveitar o facto de estar numa belíssima capital europeia.
Por este motivo, durante os próximos dias não haverá notícias minhas - duvido que tenha acesso à net, e nem sequer o vou procurar, porque há que aproveitar bem o pouco tempo livre de que disporei.
Por este motivo também, vou nanar, que o dia de amanhã é de viagem. Arrivederci!

quarta-feira, setembro 29, 2004

Continente

Caro Sr. Eng. Belmiro de Azevedo

Acaba de perder uma cliente do Continente on-line. O seu hipermercado é o único que existe no raio desta cidade onde vivo, e quando começou a ter serviço on-line eu aderi. Apesar de alguns problemas, estava satisfeita com o serviço, que usei durante cerca de um ano; tinha a vantagem imensa de receber no conforto de minha casa as compras que escusava de ir fazer, entregues por funcionários muito delicados com quem se criava uma relação pessoal que fazia lembrar o comércio tradicional. No mês passado, foi impossível fazer compras por esse meio, sem perceber porquê. Ontem, com nova tentativa, fiquei à beira de um ataque de nervos, e sem conseguir comprar o que quer que fosse. Mas, sendo por natureza teimosa e achando que a minha persistência conseguiria vencer as recalcitrâncias de qualquer sistema informático armado em parvo, estive desde as 14h até às 23h com o site do Continente aberto, tentando fazer as compras. Que ora apareciam, ora desapareciam do écran; que demoravam longuíssimos minutos a ser introduzidas no carrinho de compras; que se multiplicavam inexplicavelmente por 3, 4, 5 ou 10, consoante desse na veneta ao servidor. O computador encravou três vezes graças ao seu site, e por três vezes tive de o reiniciar. Por fim, rendi-me à evidência que nem sequer a minha teimosia e o meu optimismo foram capazes de vencer a porcaria de erros do seu site, e desisti. Vou fazer as minhas compras à moda tradicional, e garanto-lhe que não no seu hipermercado.
De certeza que nas suas empresas existe alguém que percebe de informática - por favor, ponha-o a trabalhar no Continente on-line. Os clientes agradecem, e provavelmente o senhor ganha mais algum dinheiro para os trocos.

Errata

Parece que as listas não sairam por obra e graça dos trabalhos manuais. De acordo com as notícias que li (não ouvi a srª ministra a falar), um informático competente terá conseguido criar um programa que permitiu colocar os professores. Fala-se de vários erros, mas ainda não li nada que permitisse saber se os erros são imensos ou, pelo contrário, localizados e facilmente corrigíveis.
Porque é que o tal informático competente não foi procurado antes, não sei. Espero, como já disse abaixo, que se venha a saber o que afinal aconteceu. Suspeito, porém, que tal esperança não passa de um daqueles wishful thinkings que à minha candura ocorrem, de quando em vez...

terça-feira, setembro 28, 2004

Como o artesanato parece ser mesmo superior ao que é produzido pelas máquinas

As listas de colocação de professores sairam, dois dias antes do prazo final! (Obrigada, Homoclinica, por me ter dado a notícia; por acaso já sabia, tinham-me telefonado pouco antes de ler o seu aviso).

Suspiro de alívio. Por razões pessoais (a minha filha já sabe que vai ter a sua querida professora, como tanto desejava) e por razões globais: que desordem seria se desse de novo barraca...
Esperemos que não haja erros em barda nas listas e que o ano lectivo comece finalmente. E que não deixem de ser apuradas todas as responsabilidades relativamente a este triste caso, de preferência não se limitando a arranjar uns bodes expiatórios para sacudir a água do capote de quem tem as responsabilidades últimas sobre o assunto. Sim, Sr. ex-ministro David Justino, é piada para si; e para si também, srª ministra; e para si também, sr. presidente, director ou coisa que o valha da Compta.

E as boas notícias não ficam por aqui, hoje: parece que foi confirmada a libertação das duas italianas sequestradas no Iraque.

Esculturas de que gosto muito



Bernini, Apolo e Dafne

Músicas que me fazem bem

Tarde em Itapoan. Toquinho e Vinicius. E eu a sentir-me menos cansada só por ouvir.

Finalmente...

... sossego. Se a minha vida tiver muitos dias como este, rebento.
Só agora, ouvindo música, sentada diante do computador, consigo ouvir os meus pensamentos. Mas não me apetece ouvi-los - antes queria desligá-los. Apetece-me ficar em branco por dentro.

segunda-feira, setembro 27, 2004

Estranho

Agora que consigo de novo escrever aqui, não me apetece fazê-lo.

Ovo de Colombo

Descobri como obviar aos estranhos ataques de confusão identitária que o meu computador tem sofrido. Abro o Blogger quando ligo o computador e não o volto a fechar...
A outra parte da resolução do problema passa, desconfio, por mandar à fava um certo batráquio e arranjar um serviço de Adsl que funcione como deve ser. A ânsia de conquistar novos clientes não devia fazer esquecer que se deve prestar um bom serviço.

"Coleman não tinha sido um reitor comum" *

«Logo no seu primeiro mês como reitor, Coleman convidara todos os membros da faculdade para uma conversa (...). Foi pedido de antemão a cada um, ou cada uma, que trouxesse o seu c.v. e, para o caso de algum, ou algum, o não levar por se sentir demasiado importante, Coleman tinha-os à sua frente, na secretária. Manteve-os ali durante uma boa hora, e algumas vezes mais (...). Nem sequer hesitou em iniciar a entrevista folheando o c.v. e dizendo: "O que andou a fazer, exactamente, nos últimos onze anos?" E quando lhe responderam, como aconteceu com um número esmagador dos entrevistados, que tinham andado a publicar regularmente na Athena Notes, quando ouviu mencionar, mais vezes do que a sua paciência consentia, as doutas ninharias filológicas, bibliográficas ou arqueológicas que cada um deles seleccionava anulamente de uma antiga tese de doutoramento para "publicação" na revista trimestral mimeografada, com capa de cartolina cinzenta, que não se encontrava catalogada em lugar algum da terra a não ser na biblioteca da universidade, constava que ousou transgredir o código de civilidade de Athena, comentando: "Por outras palavras vocês reciclam o vosso próprio lixo".»

Philip Roth, A mancha humana, Lisboa, D. Quixote, 2004, p. 20

* Dedicado a uma certa "irmandade" que aos poucos se tem constituído nesta blogosfera lusa, e à qual tanto gosto tenho em pertencer.

domingo, setembro 26, 2004

Contagem decrescente (6)

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.

E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade

sábado, setembro 25, 2004

Aleluia!

Agora consegui entrar aqui. Se volto a deparar-me com outros blogs que não o meu quando entro no Blogger, mordo!
(Não sei é quem ou o que será a vítima. Acho que não consigo morder o Blogger...)

Marado

O idiota do Blogger anda marado. Não tenho conseguido aceder ao meu perfil, manda-me para blogs que não são meus, o diabo a quatro. Ora bolas!

sexta-feira, setembro 24, 2004

Interrogação

Porque será que cada vez mais tenho a sensação de que Portugal parece uma espécie de gigantesco reality-show?

Iniciando o dia 3

Não, não vou comentar isto.
Mas a verdade é que não acredito que os trabalhos manuais resolvam o problema. E se dia 30 tudo estiver na maior das confusões?
Não posso deixar de dizer, aqui muito em segredo, que uma parte de mim iria rir, rir, rir à gargalhada (outra parte iria corar que nem um pimentão, com vergonha) se o governo acabasse por cair por causa de não ser capaz de colocar os professores nas escolas. Mais surrealista e ridículo seria impossível. Corrijo: pareceria impossível num país normal, governado por gente competente e responsável. Mas impossível, surrealista e ridículo já é haver 50 000 professores desempregados e milhares e milhares de alunos à espera que as escolas abram por uma razão destas.
Tudo isto me faz lembrar uma citação de Eça de Queirós que vi outro dia aqui: "Este governo não cairá porque não é um edifício, sairá com benzina porque é uma nódoa."

Mistério

Por que carga de água é que o meu computador volta e meia se recusa a escrever aspas assim "." e insiste em transformá-las nisto «.»? Sobretudo quando estou a escrever notas de rodapé?

Nocturno

Uma imensa lua cresce no céu, gorda, amarela. O chão da varanda está morno sob os meus pés descalços.
O meu leitor de CDs está a dar o berro. Tiro o Alma mater da aparelhagem e passo-o para o computador.
Sinto neste serão um inquietante sabor a primeiro dia do resto da minha vida.
E a sensação de estar à espera permanece, sem ao menos saber exactamente por que espero.

Não era nada disto que me apetecia escrever.

quinta-feira, setembro 23, 2004

Contagem decrescente (5)

Olhos nos olhos

Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem

Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci

Mas depois, como era de costume, obedeci


Quando você me quiser rever

Já vai me encontrar refeita, pode crer

Olhos nos olhos, quero ver o que você faz

Ao sentir que sem você passo bem demais


E que venho até remoçando

Me pego cantando

Sem mais nem porquê

E tantas águas rolaram

Quantos homens me amaram

Bem mais e melhor que você


Quando talvez precisar de mim

'Ce sabe a casa é sempre sua, venha sim

Olhos nos olhos, quero ver o que você diz

Quero ver como suporta me ver tão feliz


(Chico Buarque)

Dia estúpido

Pois, há dias assim. Parece que nada se faz ou consegue fazer. Parece que se espera por algo, sabe-se lá o quê.
E o calor cola-me a pele à roupa e à cadeira onde me sento e encosto.

Outono

Apesar do calor pesado que se faz sentir, o Outono chegou. Percebi-o hoje, ao sentir o som dos meus passos sobre as folhas verdes e amarelas que começam a cobrir as ruas.

quarta-feira, setembro 22, 2004

Hoje

apeteceu-me disto.


Um pouco mais do mesmo

Continuo a ler o que se vem dizendo na net sobre os concursos de professores. De novo, vale a pena ler Vital Moreira no Causa Nossa e as reflexões patentes no Network.
A capa do DN volta a ser interessante: letras garrafais anunciam que todas as escolas estarão abertas no início de Outubro.

Iupiiii!!!!!!!

Que maravilhosa surpresa! Estou contente, contente, contente.
Até vale a pena reterem-me o IRS todos os meses para depois ter alegrias assim.
Hoje sinto-me rica. Nem me atrevo a dizer quanto acabo de receber de devolução de IRS para me sentir assim, ou olhariam para mim com ar de piedade, porque aquele montante não enriquece ninguém. Mas para mim, esse dinheiro vale muito. Vai-me permitir levar a minha filha à Eurodisney quando acabar a tese sem ficar à rasca, cumprindo a promessa que lhe fiz, e garante as minhas férias no próximo ano.

Dia 1

Quantas pessoas estarão no Ministério da Educação a fazer trabalhos manuais? E quantos professores terão já sido colocados até ao momento?

Humor manual

Esta história da colocação dos professores deixou-me tão furiosa que pouco mais fiz, este serão, do que ir lendo o que tem sido escrito sobre o assunto, nos blogs e na imprensa on-line. Encontro no JN este primor de notícia. Não há frase que não se preste a dúbias ou divertidas interpretações. Só mesmo um jornalista brincalhão para me fazer rir sobre um assunto tão grave.
Ministra coloca professores “à mão”
Maria do Carmo Seabra, ministra da Educação, em comunicado ao país anunciou que os professores vão ser colocados manualmente.
Este sistema já foi usado em anos anteriores e, segundo a ministra, tudo estará pronto até dia 30 de Setembro. Com isto, as actividades lectivas estarão normalizadas no início do próximo mês.
O concurso de colocação de professores não foi anulado e as escolas têm liberdade para ocupar os alunos da melhor forma.

De repente, uma dúvida atravessa-me o espírito: o jornalista estaria mesmo a querer fazer humor?

terça-feira, setembro 21, 2004

E la nave và...

A nave vai, mas desgovernada, ao sabor da incompetência.
Um ministro anuncia uma coisa, outro o contraria, ou então é o presidente da república que diz não aceitar o anunciado. Descobre-se a galinha dos ovos de ouro no fim dos PPRs e PPHs, como se quem os fizesse não fossem precisamente aqueles que vão conseguindo amealhar uns cobrezitos a custo no final de cada mês, quantos deles com o salário congelado há dois anos, mas a sofrerem um aumento do custo de vida descongelado. Está-se mesmo a ver o Belmiro de Azevedo a fazer o seu PPH, não está? Ou os que aspiram a 18 000 euros mensais de reforma a preocuparem-se com o PPR?
Há pouco, houve mais um episódio da rocambolesca e inimaginável saga da abertura do ano escolar. A srª ministra atirou para o ar mais uma data, mais uma garantia: até ao dia 30, todos os professores serão colocados... à unha!
Deixem-me cá ver se entendi... Em nove dias, vai-se conseguir fazer à mão o que um sofisticado programa de informática que parece ter custado 600 000 euros não consegue fazer há meses? Ora sebo: se é assim tão simples, porque é que não o fizeram logo que se viu que o programa ia dar bronca, tendo-se resolvido com calma e em tempo normal todos os problemas? Mais ainda: se a coisa se faz à mão, numa emergência, em nove dias, isso deve querer dizer que num mês se resolve nas calmas, sem ser preciso programa nenhum e muito menos por preços astronómicos?
E será que alguém acredita que no dia 30 estará mesmo tudo resolvido? A história do menino que grita "lobo, lobo" vem-me à ideia ao ouvir a srª ministra a anunciar data após data.
A srª ministra frisou que as propostas de alteração às regras do concurso tinham sido aprovadas pelas várias partes interessadas. Esquece, no entanto, que não é isso que está em causa. Ninguém tem falado sequer da mudança de regras do jogo a meio do concurso (parece que aconteceu, assim mo dizem professores amigos). Será que essa proposta de alteração explicitamente referia que se ia introduzir um sistema informático novo que não se sabia se ia funcionar, e que, portanto, toda a gente concordou com isso?
Custa ver como a srª ministra não é capaz de assumir as responsabilidades do seu Ministério neste sarilho. Sacode a água do capote para o governo anterior (que decerto tem culpas), para a empresa de informática (que muitas mais culpas terá), mas é incapaz de dizer que a equipa que dirige falhou. E deixemo-nos de coisas: falhou redondamente. Se a responsabilidade pela forma como este concurso decorreu não pode ser atribuída à actual titular da pasta, ela não tem como fugir à acusação de não ter avaliado convenientemente a gravidade da situação. E isso torna-a responsável. Mas não a ouvi, na sua curta declaração, dizê-lo com todas as letras.
Nem a vi a olhar de frente para as câmaras e a dirigir-se directamente aos afectados por estes problemas. Nem a ouvi pedir desculpa. E cada vez mais sinto que isso faz falta, muita falta. Para mim, faz até a diferença entre lhe dar o benefício da dúvida ou não.

Castelos de cartas

Continuo a tentar perceber o que se passa com a lista de colocação dos professores. Vou encontrando dados interessantes. Pelo Blasfémias, chego aqui. O Causa Nossa desvenda mais uns segredos. No Network, leio mais isto.
Junto tudo ao que a senhora ministra disse ontem e ao silêncio incómodo, pesado, que reina sobre esta matéria. Lembro-me do pouco que sei sobre bases de dados, sobre como é complicado afinar os programas, como aparecem erros insuspeitados onde ninguém os imaginaria, como é fácil que tudo encrenque, sobretudo quando se trabalha sob uma enorme pressão. Como o tempo longo é necessário para testar, corrigir, voltar a testar, voltar a modificar, vezes sem conta. Se eu, que nada percebo de informática nem das regras dos concursos de professores, entendo isto, como é que os responsáveis pelo programa, pelos recursos humanos, pelo ministério não entendem?
Há várias perguntas essenciais que têm de ser respondidas, e o mais rapidamente possível.
1) Porque é que se mudou de programa, para algo novo e sem eficácia comprovada?
2) Será que é mesmo possível este programa vir a colocar professores como deve ser?
3) O que é que se faz se estes erros, novos erros e ainda mais erros continuarem a surgir? Ficam os professores por colocar e as crianças sem aulas indefinidamente'
4) De que está à espera o anterior ministro, que tão incomodado se dizia, para explicar o que é que afinal provocou uma tal situação?
5) De que é que está à espera a actual ministra para explicar, também ela (e se calhar devia fazê-lo com David Justino ao lado), o que se passa e o que se pode esperar? Para dar satisfações aos 50 000 professores que não estão colocados ainda, nem sabem quando estarão?
6) Também não seria mau começar-se a pensar no que se vai fazer relativamente aos prejuízos sérios que esta situação provoca a muitos professores; pensar nas consequências e ver de que maneira podem ser colmatadas.
A sensação com que fico, no final de todas as leituras que fiz, é a de que o Ministério da Educação não é senão um castelo de cartas, empilhadas ao longo de anos e anos. Agora está-se a desmoronar.
E continua a faltar o mais elementar: um pedido formal de desculpas por parte do Ministério. Não é casmurrice minha. É uma questão de lisura, de hombridade, de assumir as suas próprias responsabilidades. Não é dizer que o ano começou pessimamente, nem que se lamenta a situação, nem que se está a trabalhar com empenho na tentativa de resolução dos problemas. Não é sequer a ministra demitir-se e abandonar o barco sem ninguém ao leme (que o faça depois de resolvidos os problemas, não antes; ou o faça se reconhecer que não é capaz, ela e a sua equipa, de os resolver). Isso não substitui nem anula a necessidade do que disse. Do pedido de desculpas.

segunda-feira, setembro 20, 2004

País de opereta

A última notícia que vi foi actualizada há 20 minutos atrás, às 21h35 minutos. As listas de colocação dos professores ainda não sairam. Na RTP1, está programado o debate que já referi. Qual será a cara da srª ministra? Será que vai aparecer?
No meu caso particular, esta situação só me afecta por causa da minha filha. Mas lembro-me de outros anos em que também eu estava pendurada de saídas de listas, penso em todos os professores que conheço e têm as suas vidas suspensas porque não sabem onde vão ficar colocados. Penso que isto é uma vergonha, uma falta de respeito indesculpável.
Não é arranjando uns bodes expiatórios que o governo lava a face desta vergonha. Por via de regra, não concordo com demissões a torto e a direito, mas quando no dia 16 se ouve falar em proceder a um inquérito para se descobrir o que se passa (alguém acredita que não soubessem?), quando se reiteram promessas e se voltam a avançar convictamente datas que de novo não são cumpridas, quando a ministra dá a saber que passou todo o fim-de-semana a trabalhar para garantir que tudo estaria em ordem hoje, e são 22h00 e nenhuma lista foi publicada, que pensar senão na total irresponsabilidade e incompetência de quem está à frente do ministério?

PS - O debate na TV começou. E a ministra lá está. Vou ouvi-la.

PPS - E a srª ministra já fez a sua primeira intervenção. Mas não disse o que eu mais gostaria de ouvir, e que acho que todos, professores, pais e alunos, tinham o direito de ouvir da sua boca: um pedido de desculpas.

Coisas boas

Trabalhar com gosto e entusiasmo. Tantas vezes deixo aqui os desabafos de quando estou farta, é justo que fique também registado o contentamento que hoje sinto diante do trabalho que corre bem. E já não me doem as costas, e o dia está bonito, e eu estou com o gás todo para acabar esta parte do trabalho hoje. Viva!!!

Piada

Só pode ser piada. Hoje, no dia em que devem sair as listas de colocação dos professores (sairão? estarão correctas?), a ministra da Educação vai participar num debate televisivo sobre «O novo ano lectivo perspectiva uma escola melhor?». Com este início de ano lectivo, sugerir um tal mote só pode ser uma forma de humor refinado.

domingo, setembro 19, 2004

Contagem descrescente (4)

Estes pequenos posts também se podiam chamar "As palavras que nunca te direi".
Um dia perguntaste-me se não tinha saudades. Claro que tenho, e acorrem nas ocasiões mais indesejadas. Porém, no meio das boas recordações, encontro o espinho. Na altura não o via, mas estava lá, esteve lá sempre. Uma vez visto, nunca mais pôde ser ignorado.

Mar de Setembro

Tudo era claro:
céu, lábios, areias.
O mar estava perto,
Fremente de espumas.
Corpos ou ondas:
iam, vinham, iam,
dóceis, leves, só
alma e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem;
despertos, amam,
exaltam o silêncio.
Tudo era claro,
jovem, alado.
O mar estava perto,
puríssimo, doirado.


Eugénio de Andrade

Contagem decrescente (3)

Lembras-te da agulha? Sabes que agora não dá nada? Será que secou para sempre?

Mimos

- Filha, a tua mãe está podre...
- Não estás nada, mamã. Ainda nem madurinha estás!

sábado, setembro 18, 2004

Post mais umbiguista do que este é impossível

Estou pior que uma velha caquética. Dei um mau jeito tal às costas que mal consigo mexer-me do lado direito; estou para aqui encostada a uma almofada quente a ver se melhoro. Não bastava isso, um dos meus ricos dentinhos resolveu partir a meio do jantar - lá vou eu segunda-feira, logo de manhãzinha, ao dentista, indagar sobre os efeitos secundários do tratamento de uma cárie nesse mesmo dente, ontem. Até lá, fico de boca fechada, porque o raio do dente é mesmo na frente (não se atrevam sequer a imaginar como estou linda quando abro a boca, e muito menos a rir ao pensar nisso!!!!!!!).
Enfim: estou podre. Para cúmulo, em lugar de aproveitar as maleitas para estar sossegadinha sem fazer nada, tenho um serão de trabalho à minha frente, que o tempo não está para ficar para aqui a lamentar-me. Nem isso faz o meu género por mais de 5 minutos, aliás. Acho que já os esgotei. Ao trabalho, pois, sem mais queixumes.

Cinema

Será que já aqui disse que o último CD do Rodrigo Leão, Cinema, é muito, muito bonito?
A música que prefiro é a Rosa. Triste, desolada, mas doce, de algum modo balsâmica. Mais própria para o serão do que para o meio de uma tarde de sol radioso - mas esta música calma ajuda-me a trabalhar. Mãos à obra.

Zangada

Não é fácil fazerem-me ficar zangada, mas conseguiram. Sou meio despistada, ouço as notícias pela metade, tenho uma paciência muito limitada para ler jornais e a disponibilidade dos últimos tempos é mínima. Por isso, demorei decerto uns dias até saber que Mira Amaral, por ter estado 21 meses à frente da CGD, vai ficar com uma reformazinha jeitosa de 18 000 euros mensais. A CGD não é do Estado? Não quer isso dizer que, assim, somos nós todos quem vai pagar semelhante obscenidade? E quantos mais não terão já usufruído de idênticos privilégios, e estarão a receber chorudas quantias do dinheiro de todos nós, que não chega para dar pensões de reforma decentes a quem trabalhou uma vida inteira? Não chega para esses, mas há sempre dinheiro para carros de luxo dos nossos governantes, para pagar todo o bando de parasitas que vive à custa do Estado. Que raio de coisa é esta? Será que isto é viver em democracia?

sexta-feira, setembro 17, 2004

Psiu...

Reparo que apesar das visitas, ninguém diz nada, ninguém deixa comentários. Fico a pensar que o 2º "episódio" de uma certa contagem decrescente deixou os habituais comentadores sem saber o que dizer. Aviso que vai haver mais posts com esse título nos tempos mais próximos. São coisas para mim, que se calhar não deviam ser colocadas aqui, mas à falta de melhor sítio, cá ficam. Este blog é assumidamente umbiguista e a sua autora escreve o que lhe dá na real gana, e também aqui deixa, por vezes, frases destinadas a alguém que nunca as lerá, e por isso, só por isso, aqui estão. Perder-se-iam em pedaços de papel, e não me apetece perdê-las. De algum modo preciso delas. Não perceberam? Não faz mal. Quando virem esses posts, não lhes dêem importância. Não estou triste ao escrevê-los, nem lavada em lágrimas, nem imersa na amargura, nem coisa parecida. São, quando muito, sombras que escurecem por momentos o olhar, e se desfazem quando são passadas a escrito. Como nuvens que tapam o sol - que logo de seguida reaparece.

Contagem decrescente (2)

Acabou de me ocorrer que faz anos por agora o mais triste momento da nossa vida. Sabes que não fixei o dia? Era mesmo para esquecer...

Deliciosamente terno



Recebi esta fotografia por mail e não resisti a colocá-la aqui, tendo no pensamento todas as mamãs dos blogs que já sentiram esta maravilha e todas aquelas que neste momento trazem uma nova vida dentro de si e escrevem sobre a sua gravidez. Com um beijo especial para a Sara.
Ter um dia sido protagonista de algo assim, garanto-vos, faz-me sentir privilegiada por ser mulher.

Ena!

Se calhar é mais para deprimir que para alegrar o motivo pelo qual me apetece despejar uma garrafa de champagne pelas minhas goelazinhas abaixo neste preciso momento, às 2h28 minutos da madrugada do dia 17 de Setembro de 2004, mas a verdade é que é isso mesmo que me apetece. Estou contente, cheguei a um momento giro. Idiota, mas giro. Não, não tentem entender. E não, não foi desta que pirei. Já andei mais longe, isso é verdade. Mas se cheguei até aqui, aguento um pouco mais sem dar definitivamente em maluca.

quinta-feira, setembro 16, 2004

Letras e cubos



Salvador Dali, A Propos of the "Treatise on Cubic Form" by Juan de Herrera, 1960

Afinal não sou só eu

Mais um desabafo indignado sobre o início do novo ano escolar no Contra a Corrente, um dos blogs que gosto muito de ler, diga-se de passagem. Concorde ou não com o que diz o McGuffin, as suas opiniões são inteligentes e tem um grande sentido de humor; ainda por cima é resmungão, pequeno defeito que partilho e que, logicamente, considero quase virtude. É verdade: foi ele quem há tempos teceu as considerações mais coincidentes com as minhas no tocante à questão do aborto.
Mas já me estou a dispersar. "Retournons à nos moutons", ou seja, ao início de ano escolar surreal.
Fiquei a saber pelo Uns e Outros (blog completamente diferente do anteriormente citado, sereno, intimista, inegavelmente bonito, por onde também costumo passar) que há hoje uma manifestação de professores que se vão apresentar ao serviço em frente ao Ministério da Educação. Manifestem-se. Façam-se ouvir. Lutem pelos vossos direitos e pela dignidade da vossa profissão. Mas, por favor, não vão para lá cantar rimas de pé quebrado e dançar o "vira". De folclore estamos todos fartos, e é mais do que tempo que os professores mostrem que devem ser respeitados. Porque não duvido que a fraca imagem que a opinião pública tem da classe professoral é em grande medida responsável pela falta de interesse dos media relativamente à situação que se está a passar.
Caramba, se o caso de meia centena de turistas portugueses em riscos de poderem ser apanhados por um furacão nas Caraíbas mobiliza a atenção dos jornalistas, que fizeram reportagens em directo e gastaram uma data de tempo de antena com isso, porque é que tão pouco relevo se dá à situação dos professores deste país e à vergonhosa actuação do Ministério? (note-se que hoje não vi nenhum telejornal, pelo que corro o risco de estar a ser injusta; mas, não sei porquê, duvido que esteja).

Sozinho

Às vezes no silêncio da noite

Eu fico imaginando nós dois
Fico ali sonhando acordado
Juntando o antes, o agora e o depois

Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho
Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes faz bem
Eu tenho meus desejos e planos secretos
Só abro pra você, mais ninguém
Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela de repente me ganha?
Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?

(Peninha; na voz de Caetano Veloso)

Mais uma música que sai do CD e passa para aqui, num serão de trabalho que rende menos do que devia.
Versos preferidos: quando a gente gosta / é claro que a gente cuida. Simples, não é?

quarta-feira, setembro 15, 2004

Mais sobre o ano lectivo que (não) começa

Não vi telejornais, pelo que não sei se houve uma justificação apresentada pela srª ministra da Educação quanto ao novo adiamento das listas de colocação de professores, um pedido de desculpas, ou o assumir das responsabilidades dos atrasos. Já passei os olhos pelos jornais on-line e nada encontrei sobre o assunto. Apenas os habituais comunicados lacónicos do Ministério, que trata isto como se fosse um mero "fait-divers", e as declarações mais ou menos inflamadas das federações de professores, que têm sempre de incluir umas palermices - deve ser para ninguém as levar a sério, enfim... Querem um exemplo? Dizer que os professores precisam de tempo para conhecer os alunos antes do ano lectivo começar - ora, os alunos conhecem-se é no primeiro dia de aulas! Os professores não têm tempo, isso sim, para se integrar num novo meio escolar; para conhecer os colegas de grupo e, em conjunto, planificar o trabalho a desenvolver; para delinearem estratégias várias, tendo em conta as informações sobre as turmas e as escolas, os problemas que já se sabe existirem, etc, etc. Mas adiante, não é do mau serviço que em geral os sindicatos e federações de professores prestam à classe que representam que eu vinha falar.
O que me preocupa, escandaliza, revolta é que nada ouvi ou li sobre o que disse nas primeiras linhas. E isso brada aos céus! E brada aos céus também que a comunicação social nada faça. Porque é que os jornalistas não vão ver a realidade das escolas de cada zona do país, assim acabando com o eterno jogo de números entre ministério e sindicatos? Porque é que não vão procurar saber o porquê destes incompreensíveis atrasos? Porque é que não fazem as perguntas incómodas a quem de direito? Porque é que não vão saber o que estão a fazer os milhares de pais que não sabem o que fazer aos filhos durante estes dias? Porque é que não perguntam sequer o mais óbvio e lógico, ou seja, porque é que o governo não avisou a tempo e horas que ia haver atrasos significativos, explicando tintim por tintim o que se passava, tratando professores, pais e alunos com o respeito devido, e não como imbecis pelos quais não têm qualquer consideração?
Parafraseando o mais conhecido blogueiro da nossa praça: pobre país, o nosso... Por acaso, ele também tem mantido silêncio sobre o assunto.

Início do ano lectivo

Hoje é dia 15 de Setembro. Amanhã deviam começar as aulas nas escolas do ensino público. Mas não vão começar. Hoje, dia 15 de Setembro, há apenas um professor colocado na escola que a minha filha frequenta e onde são precisos pelo menos oito professores. Hoje, a resposta que recebi quando liguei para a escola é que as aulas começarão no momento em que os professores estiverem colocados. Nunca, pois, antes de terça-feira, já que foi anunciado que apenas nesse dia serão publicadas as listas de colocação dos professores. A situação vivida nesta escola em concreto repete-se, decerto, de norte a sul do país em centenas de escolas. Até terça-feira, no mínimo, há pais a fazer malabarismos para encontrar onde deixar os seus filhos enquanto trabalham (os programas de ocupação dos tempos livres nas férias terminam hoje). Há professores que continuam sem saber se vão permanecer no mesmo local, mudar para outra escola, outra terra, com tudo o que isso significa na sua vida pessoal. É incrível, fantástico, vergonhoso. E nós somos, sem dúvida, um país de brandos e curiosos costumes. Andou-se para aí aos berros, ocupou-se toda a comunicação social durante semanas com um barquito holandês. Houve movimentos de solidariedade, chiadeira por todo o lado, reportagens em directo, o diabo a quatro. E quanto a uma vergonha destas, que afecta a vida de milhares de crianças e dos seus pais, e de milhares de professores, que não implica considerações de ordem moral sobre a vida humana, mas é simplesmente um escândalo sem precedentes e inadmissível, tudo se cala, tudo fica calmamente à espera, se calhar até se acha natural.

Contagem decrescente

Sabes, às vezes parece-me que tudo isto é um simples sonho tolo, surreal, e que vou acordar, contar-to e rirmos os dois à gargalhada. Mas não é sonho nenhum. É real. Triste, dolorosamente real.
Às vezes, dou comigo a pensar que o que mais queria era acordar e ver que não passava de um sonho tão tolo, tão tolo, que nem seriamos capazes de o inventar.

O sorriso

Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz

lá dentro, apetecia

entrar nele, tirar a roupa, ficar

nu dentro daquele sorriso.

Correr, navegar, morrer naquele sorriso.


Eugénio de Andrade

terça-feira, setembro 14, 2004

A coluna do lado

Finalmente tive pachorra para mexer na coluna ali do lado. Fiz uma série de novos links, muitos devidos há imenso tempo; mas já disse aqui que detesto mexer no template. A lista de leituras não está completa: como sempre, dei por concluída a tarefa antes de a ter, verdadeiramente, finalizado. Ainda pensei em dividir os blogs por categorias, mas isso dá-me mais trabalho do que merece: o que eu quero mesmo, afinal, é ter os links à mão para aceder rapidamente a blogs que gosto de ler ou de espreitar. Por ora, fica assim.

Amoras


São tão boas, tão doces, tão iguais às amoras que costumava apanhar em criança. A elas não chegaram os adubos e os pesticidas, as normalizações de tamanhos, as regras ditadas por Bruxelas. Logo à tardinha vamos ver se ainda as há nas silvas do fundo da rua.

Nota: fotografia tirada daqui, onde fui já buscar algumas fotos de flores (seguindo o link dessas, chega-se ao site; tal não sucedia neste caso, e devemos dar o seu a seu dono).

segunda-feira, setembro 13, 2004

No rescaldo

Estou no rescaldo do encontro de sábado. Acho que nunca vieram tantas mamãs dos blogs a este sítio, nem eu tantas vezes as fui visitar como desde anteontem - deve ser vontade de prolongar o encontro, de continuar a conversa. Não se admirem de que fale pouco sobre o assunto. Há coisas que gosto de sentir e calar. A ternura, a simpatia, a tranquila felicidade sentidas no sábado ficam guardadas em silêncio. Como permanecem caladas (pelo menos por agora) outras coisas, só minhas, que pensei e senti nesse dia, ao ver aquele grupo de meninos felizes e aqueles pais que se encontravam, quase todos, pela primeira vez, e que no entanto pareciam já se conhecer.
Não é por acaso que a seguir ao breve resumo que fiz desse encontro surge neste blog a comovente imagem de um cachalote bebé a mamar. Traduz a ternura que senti nessa tarde tão bem passada. Uma tarde azul, de um azul tão intenso e belo como o do mar da fotografia.

Casa

O nome do CD de Morelenbaum e Sakamoto que me acompanha neste momento. Combina com a tranquilidade de um serão em que termino trabalhos vários, preparo outros, depois de o silêncio se ter instalado com o sono da minha garota. A música calma ajuda-me a concentrar e deixa-me serena, em paz.

domingo, setembro 12, 2004

Ternura em tons de azul



(Obrigada, caro Carlos. É linda.)

Divagações

Apetecia-me escrever. Sobre uma data de coisas.
Sobre livros que li, músicas que tenho ouvido.
Sobre o aborto, uma vez mais: o que tenho lido acerca do assunto, os argumentos que vejo esgrimidos.
Sobre a minha filha, que cresce de dia para dia, se encontra no limiar de uma pré-puberdade que anuncia novos tempos e me deixa com uma nostalgia imensa. E com o amargo de boca de não ter tido mais um bebé pequenino no colo. E com o vazio de não acreditar que tal volte a acontecer na minha vida.
E sobre o outro lado da questão: a minha filha e como é bom vê-la crescer, qual passarito que começa a ser capaz de voar pelas suas asinhas, guiada por mim, mas dando ela própria impulso às asas. O que me enche de um imenso orgulho e felicidade.
Sobre a importância cada vez maior dos amigos na minha vida.
Sobre a generosidade e carinho com que uma certa pessoa em especial tem estado ao meu lado, feito suas preocupações e tarefas minhas, ajudado de uma forma tão tocante e eficaz.
Em lugar de escrever, porém, vou dormir. Boa noite!

sábado, setembro 11, 2004

Ao final do dia

Um dia muito bem passado, longe do computador e do trabalho.
Gostei imenso do encontro dos baby-blogs. Os meninos divertiram-se, as mamãs conversaram, os papás não tiveram mãos a medir nas brincadeiras com os filhotes, e a tarde passou calmamente, com a ternura que perpassa por todos esses blogs tornada visível, num belo jardim onde conseguimos encontrar uma sombra acolhedora para nos instalarmos. Foi pena que algumas das pessoas inscritas não tivessem podido estar presentes - mas outras ocasiões haverá, não duvido. Como não duvido que certas empatias pressentidas na distância passaram a ser reais, e outras, já antes tornadas reais, se estreitaram mais ainda.

Ao final do dia, mãe e filha vêem My Fair Lady. E a Miosótis dança pela sala fora, experimentando todos os meus sapatos de salto alto.

11 de Setembro

Há três anos, no meio de obras em casa, estava tão exausta que me deitei a seguir ao almoço. Acordei quando o meu marido me veio dizer que um avião tinha batido numa das torres do World Trade Center em Nova Iorque. Resmunguei, virei-me para o outro lado e procurei continuar a dormir. Não tardou que me viesse chamar de novo, alarmado: novo avião batera na outra torre, tratava-se de um atentado. Saltei da cama, e passámos o resto do dia, incrédulos, a ver as imagens que chegavam dos EUA.
Nunca vou esquecer. Não para espevitar ódios - mas para recusar, sempre e em absoluto, qualquer forma de terrorismo.

sexta-feira, setembro 10, 2004

Ai, estes mails...

Estou francamente divertida. Acabei de receber um mail (para o meu endereço pessoal, note-se; um endereço que não anda pespegado em sites nem blogs) de uma loja de "camisinhas" a informar os seus estimados clientes de uma mudança de visual. Desde quando sou cliente de tal loja??????
Seja como for, e em abono da verdade, devo dizer que acabo de aumentar os meus conhecimentos de cultura geral. Só não entendi uma coisa: porque é que numa série de embalagens das "ditas" aparecem fulanas nuas e noutras uns crocodilos?

Pensamento (masculino) do dia

Se inventaram latas de cerveja fáceis de abrir, porque é que não inventaram "soutiens" com abertura fácil?

(Reflexão feminina sobre o problema em causa: as dificuldades masculinas nesta matéria dariam para uma tese de doutoramento. Ou pelo menos de mestrado. Não sei é em que área de estudos tal tese se poderia integrar. Antropologia? Sociologia? Psicologia? Sexologia? Estudos Femininos? Estudos Masculinos? Direitos do Homem? Estilismo? E que método de abordagem seria o indicado? Experimental, sondagens, inquéritos?...)

PS (salvo seja, que não quero os candidatos a líderes a opinar sobre esta delicada matéria) - Não há nada como retomar o trabalho a dizer disparates. É um dos melhores remédios para as neuras que conheço! Tenham uma sexta-feira feliz!!!

Isto hoje saiu assim em dégradé...

quinta-feira, setembro 09, 2004

Por entre as nuvens

Frase mais ouvida nas últimas semanas

"Mãe, dá-me um beijinho."
A dose é de tal ordem que estou a ficar enjoada - coisa que nunca pensei ser possível. Uma variante é aparecer-me de biquinho estendido, muito esticada para mim, sem nada dizer, apenas aquela boquinha virada para mim a oferecer e a pedir um beijo. Que recebe sempre, claro. E dá em troca, multiplicado por muitos.
Acho que isto é fazer um pouco como os esquilos, que por esta altura devem andar atarefados a fazer provisão de comida para o Inverno. Fica assim guardado um "stock" de beijinhos, prontos a usar em tempo de aulas e nos dias em que estaremos longe uma da outra.
Se a doçura destes miminhos provocasse diabetes, eu estaria em lindo estado...

Coisas da net

E um dia é o Blogger que está em baixo, e no dia seguinte o Haloscan, e amanhã não sei o que será... A gente habitua-se a ter estas coisas à mão e a funcionarem bem, e de repente zás, avarias várias. Quase parece o servidor do mail do Sapo (e mais vale estar caladinha, que tem andado muito direitinho nos últimos dias...).

In between

Em inglês soa-me melhor. Entre trabalhos. Um terminou, outro se perfila na minha frente. Hoje foi dia de transição, com a inevitável arrumação de papéis e livros, a substituição de uns pelos outros. Dia de arrumação mental, também: é necessário sintonizar-me de novo para mais uma etapa da maratona. Que não me apetece correr. Estou farta de me sentir que nem o herói daqueles joguinhos de computador palermas, que estão sempre a saltar obstáculos e vão subindo de nível para continuarem, indefinidamente, a ter de vencer barreiras. Mal dá para recuperar o fôlego, e lá me sinto eu de novo no meio da corrida.E correr para quê, já agora? Boa pergunta... que mais vale não fazer.
Vou é para a cama, que a coruja tem dormido de menos e precisa de uma longa noite de sono tranquilo. Durmam bem!

quarta-feira, setembro 08, 2004

Baby-blogs

O nome designa blogs de mamãs ou papás que falam dos seus rebentos. Vão-se juntar na próxima tarde de sábado, em Coimbra, ainda não se sabe muito bem onde. O encontro não é apenas para pais e mães, está aberto a tios, avós, amigos que queiram aparecer e tiverem paciência para um banho de garotada. Quem está a coordenar o evento é a Cláudia.
Eu, que sou mais do que avessa a "ajuntamentos" desta natureza (coisas do meu feitio, não levem a mal, mas não gosto muito da ideia de aparecer tipo peixe no aquário para quem se olha com curiosidade, se aponta e diz "olha a 1poucomais! afinal não é azul"; por algum motivo este blog é anónimo...*), estou a gostar muito da ideia de ver a Miosótis a brincar com os meninos cujas vidas vou seguindo pelos blogs, e de conhecer quem tão bonitas coisas escreve sobre isto de ter filhos. Por isso, no sábado lá (cá) estaremos.

* Que não haja confusão: as minhas reservas dizem respeito a "grandes ajuntamentos", que se tornam impessoais e podem não ir para além dessa curiosidade por saber quem é quem. O contacto para lá do espaço do blog e o encontro com quem me suscita simpatia já aconteceram e foram, de um modo geral, muito boas surpresas, dando até lugar a amizades que, aos poucos, se têm vindo a consolidar e se cultivam mesmo fora daqui.

terça-feira, setembro 07, 2004

Em tons de azul



Isabel Magalhães, Cidade Suspensa

Prazeres do trabalho intelectual

Sabe tão bem perceber que se está a chegar ao fim... Não, não é a tese (antes fosse!), mas uma coisa bem mais pequenina que me tem "entretido" desde que voltei de férias. No entanto, a sensação é boa na mesma, sobretudo quando olhamos para o que fizemos e percebemos que conseguimos transmitir aquilo que queriamos.

segunda-feira, setembro 06, 2004

Filmes

Se calhar o que vou dizer a seguir é heresia cinéfila, mas acabo de desligar a TV, que estava a dar o "Moulin Rouge", furiosa por ter estado meia hora a prestar atenção ao que achei um atentado à minha inteligência. Não vi o filme quando estreou, nem sabia exactamente do que tratava. Foi um dos maiores baldes de água fria dos últimos tempos no tocante a filmes.

Detesto

A hipocrisia de quem sugere, mas nada de concreto diz. De quem sabe alguma coisa mas não abre o jogo, limitando-se a umas insinuações que sabe bem irem causar preocupação, ficando-se contudo por largas reticências, quando uma palavra podia esclarecer tudo. Não compreendo quem goste de brincar aos gatos massacrando ratos. São as mesmas pessoas que, deixadas com um pouco de poder nas mãos, evidenciam a prepotência que as corrói. Não prestam.

Coruja

De novo. Só assim rende.
O rádio toca a Carta dos Toranja. Vou-me viciar de novo nesta música, estou mesmo a ver.
Já tinha saudades de escrever estes posts patetas e sem interesse para ninguém, a desoras, em pequenos intervalos do trabalho. Gosto da calma do trabalho a estas horas nocturnas, quando a minha filha dorme tranquila e o tempo é só meu. Gosto de estar assim sozinha. Tenho alma de coruja solitária, está visto. Pelo menos enquanto não chegar ao fim da maratona.

domingo, setembro 05, 2004

Beslan

Hoje, por toda a Rússia, há serviços religiosos por alma de quem morreu em Beslan, de quem está ferido, de quem não se sabe onde está ou se ainda vive. Hoje, gesto pequeno e que nada vale, uma vela está acesa cá em casa. Não serve de coisa alguma, mas é a minha maneira muda de dizer quanto me comove, me revolta, me entristece o que sucedeu. Desde que falei do assunto outro dia, as notícias sobre Beslan não param na TV e nos jornais - eu fujo delas. Não quero ver. Não quero odiar quem é capaz de uma coisa destas. Não quero ter desejos de vingança. Lançar sementes de ódio é, não duvido, um dos intuitos do terrorismo. Recuso-me a ir por aí.
Um amigo escreveu sobre a tragédia de Beslan. Disse tudo o que eu sinto. Deixo aqui as suas palavras. E calo-me sobre estes meninos de terror incrédulo estampado nos rostos, onde devia, apenas, haver sorrisos e gargalhadas felizes.
Olho as fotografias dos jornais e os olhos embaciam-se. Vejo crianças com a idade dos meus filhos, nús, a serem transportados ao colo dos pais e de militares, com o terror estampado no rosto, feridos nos corpos por muito tempo e feridos na alma para sempre.
Olho as fotografias, com os olhos cada vez mais baços, e vejo meninos e meninas, com a idade dos meus filhos, a serem transportados em macas, com a lividez da morte nos rostos.
Olho as fotografias, com os olhos cada vez mais embargados, os músculos cada vez mais rígidos, e vejo mães e vejo pais, de olhar desesperado, à procura dos seus meninos, vivos ou mortos.
Olho as letras impressas mas não consigo ler, a não ser as maiores, por entre o baço dos olhos... Tantas centenas de mortos, tantas centenas de feridos... Tantas vidas prematuramente ceifadas, tantas meninas e tantos meninos que já tiveram sonhos e ambições, ilusões e desilusões, amores pueris e desamores também pueris, estirados pelo chão, vivos ou mortos ou mortos-vivos...
Não. Não me interessa saber quem tem razão nesta guerra entre Putin e os rebeldes tchetchenos. Nem me interessa saber se houve uma precipitação de alguém que levou ao massacre. Nem me interessa saber se os rebeldes independentistas tiveram ou não o apoio de mercenários russos ou árabes.
Mas há uma coisa que eu sei: os autores do sequestro de Beslan sabiam que estavam a sequestar uma escola onde havia centenas de crianças. E sabiam que ao agirem daquela forma estavam a pôr em risco a vida daquelas meninas e daqueles meninos, que usaram como escudos humanos. E sabiam que o resultado final seria sempre uma catástrofe, em que as principais vítimas seriam aquelas meninas e aqueles meninos.
E não me venham com filosofias justificativas. Gente como os sequestradores de Beslan não é gente. Se fosse gente, não teria manifestado tamanho desprezo pela vida das meninas e dos meninos de Beslan...

sábado, setembro 04, 2004

Garfield

A este Garfield



prefiro, de longe, este.



Pergunta para os meus botões: porque é que arranjo tempo para ir ao cinema quando são filmes que a minha filha quer ver, e quando são filmes que eu quero ver raramente vou porque não arranjo tempo?

E mais uma

Outra pesquisa fantástica no meu blog: "Harrison Ford fotografias íntimas". Não comento sequer, só rio.

sexta-feira, setembro 03, 2004

Rindo a bom rir

Alguém chegou a este blog com a seguinte pesquisa: "relacionamento conjugal na Pré-História". Ainda me estou a rir. O Google arrisca-se a receber um prémio humorístico.

A meio da noite

Troveja. Tento vencer a aversão ao que tenho de fazer, insisto no trabalho a desoras, quando a concentração me é mais fácil. Mesmo assim, custa. Em lugar de pensar no que devo, dou comigo em busca de focas. Azuladas, pois então. E de certeza vaidosas.



Foto daqui.

quinta-feira, setembro 02, 2004

Que raio de mundo é este?

Onde se fazem reféns centenas de pessoas, a maioria das quais, ao que parece, crianças de tenra idade? Vejo os telejornais e deparo com as imagens de pessoas desesperadas sem saber o que vai acontecer aos seus filhos / irmãos /primos / familiares / amigos. E se fosse a minha filha?

quarta-feira, setembro 01, 2004

Para ti



Esta flor delicada, linda, transparente, que combina contigo, amiga querida, juntamente com um beijo de parabéns e um daqueles abraços apertados que gostamos de dar. Até logo!

Desamar

É uma das coisas mais dificeis: desamar. Destruir voluntariamente quanto se construiu ao longo de anos, dar a machadada final no que estava podre mas ia sobrevivendo, quebrar laços que nos ligam a alguém não só fisicamente, mas afectiva, emocional, espiritualmente. Quebrar um imaginário a dois. Deixar de ser "nós" para voltar a ser "eu". Abandonar um espaço, ou ver esse espaço abandonado por aquele de quem nos separamos, e perceber que todos os objectos que nos rodeiam, ou deixaram de nos rodear, magoam, ferem, trazem recordações que nos fazem sangrar. É todo um mundo que se destrói, que se reduz a cinzas. E depois vem a solidão, que pesa insuportavelmente, mesmo quando é por nós desejada. E vêm as tentações de preencher o vazio, de voltar a sentir - mas algo cá dentro está tão ferido que não se é capaz de sentir, ou o que se sente não é nada do que se queria sentir, e nada vale o que devia valer. Caimos em contradições sobre contradições. Aceitamos o que sabemos não ter futuro e fugimos do que pressentimos poder tê-lo, por mais que desejemos o contrário, porque nos recusamos a sentir, a dar, a permitir que alguém se chegue tão perto que nos possa magoar de novo. Erguemos fortes muralhas em redor de nós próprios, desejando ardentemente que alguém as quebre, mas fugindo a sete pés se esse alguém parece ir consegui-lo. Até porque são tempos de estarmos sozinhos, de nos confrontarmos connosco próprios - mesmo quando nos queremos iludir e vamos cedendo à tentação da companhia, que quase sempre muda bem depressa porque, na verdade, o que nos agrada é a ideia da companhia, ser a de A ou B é quase indiferente, no estado de anestesia do coração em que nos sentimos, e por mais difícil que seja aceitarmos que é assim que estamos. Difícil até ao momento em que olhamos para quem está ao lado e nos perguntamos: "o que é que ando a fazer?"
Depois, muito depois, quando as águas se acalmam, quando as feridas já não sangram, talvez um milagre se dê. Talvez alguém consiga chegar ao topo da muralha, sem nós darmos por ela e sem termos tempo de o impedir de subir, porque o fez com toda a calma pelo lado que não estávamos a guardar, já que nos parecia inexpugnável. Talvez alguém saiba chegar de mansinho e mostrar que não nos magoa, não nos faz mal, só nos traz paz. Talvez haja uns braços que se abrem e nos acolhem neles, e talvez, sem sequer saber como, nos sintamos chegados a um porto de abrigo. Talvez ousemos confiar e descansar um pouco nesse porto de águas calmas, encostando a cabeça nesses braços que desejam enlaçar-nos. Talvez se descubra que nesse porto se está em casa. Quem sabe?...


 
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