Início do ano lectivo
Hoje é dia 15 de Setembro. Amanhã deviam começar as aulas nas escolas do ensino público. Mas não vão começar. Hoje, dia 15 de Setembro, há apenas um professor colocado na escola que a minha filha frequenta e onde são precisos pelo menos oito professores. Hoje, a resposta que recebi quando liguei para a escola é que as aulas começarão no momento em que os professores estiverem colocados. Nunca, pois, antes de terça-feira, já que foi anunciado que apenas nesse dia serão publicadas as listas de colocação dos professores. A situação vivida nesta escola em concreto repete-se, decerto, de norte a sul do país em centenas de escolas. Até terça-feira, no mínimo, há pais a fazer malabarismos para encontrar onde deixar os seus filhos enquanto trabalham (os programas de ocupação dos tempos livres nas férias terminam hoje). Há professores que continuam sem saber se vão permanecer no mesmo local, mudar para outra escola, outra terra, com tudo o que isso significa na sua vida pessoal. É incrível, fantástico, vergonhoso. E nós somos, sem dúvida, um país de brandos e curiosos costumes. Andou-se para aí aos berros, ocupou-se toda a comunicação social durante semanas com um barquito holandês. Houve movimentos de solidariedade, chiadeira por todo o lado, reportagens em directo, o diabo a quatro. E quanto a uma vergonha destas, que afecta a vida de milhares de crianças e dos seus pais, e de milhares de professores, que não implica considerações de ordem moral sobre a vida humana, mas é simplesmente um escândalo sem precedentes e inadmissível, tudo se cala, tudo fica calmamente à espera, se calhar até se acha natural.