Beslan
Hoje, por toda a Rússia, há serviços religiosos por alma de quem morreu em Beslan, de quem está ferido, de quem não se sabe onde está ou se ainda vive. Hoje, gesto pequeno e que nada vale, uma vela está acesa cá em casa. Não serve de coisa alguma, mas é a minha maneira muda de dizer quanto me comove, me revolta, me entristece o que sucedeu. Desde que falei do assunto outro dia, as notícias sobre Beslan não param na TV e nos jornais - eu fujo delas. Não quero ver. Não quero odiar quem é capaz de uma coisa destas. Não quero ter desejos de vingança. Lançar sementes de ódio é, não duvido, um dos intuitos do terrorismo. Recuso-me a ir por aí.
Um amigo escreveu sobre a tragédia de Beslan. Disse tudo o que eu sinto. Deixo aqui as suas palavras. E calo-me sobre estes meninos de terror incrédulo estampado nos rostos, onde devia, apenas, haver sorrisos e gargalhadas felizes.
Olho as fotografias dos jornais e os olhos embaciam-se. Vejo crianças com a idade dos meus filhos, nús, a serem transportados ao colo dos pais e de militares, com o terror estampado no rosto, feridos nos corpos por muito tempo e feridos na alma para sempre.
Olho as fotografias, com os olhos cada vez mais baços, e vejo meninos e meninas, com a idade dos meus filhos, a serem transportados em macas, com a lividez da morte nos rostos.
Olho as fotografias, com os olhos cada vez mais embargados, os músculos cada vez mais rígidos, e vejo mães e vejo pais, de olhar desesperado, à procura dos seus meninos, vivos ou mortos.
Olho as letras impressas mas não consigo ler, a não ser as maiores, por entre o baço dos olhos... Tantas centenas de mortos, tantas centenas de feridos... Tantas vidas prematuramente ceifadas, tantas meninas e tantos meninos que já tiveram sonhos e ambições, ilusões e desilusões, amores pueris e desamores também pueris, estirados pelo chão, vivos ou mortos ou mortos-vivos...
Não. Não me interessa saber quem tem razão nesta guerra entre Putin e os rebeldes tchetchenos. Nem me interessa saber se houve uma precipitação de alguém que levou ao massacre. Nem me interessa saber se os rebeldes independentistas tiveram ou não o apoio de mercenários russos ou árabes.
Mas há uma coisa que eu sei: os autores do sequestro de Beslan sabiam que estavam a sequestar uma escola onde havia centenas de crianças. E sabiam que ao agirem daquela forma estavam a pôr em risco a vida daquelas meninas e daqueles meninos, que usaram como escudos humanos. E sabiam que o resultado final seria sempre uma catástrofe, em que as principais vítimas seriam aquelas meninas e aqueles meninos.
E não me venham com filosofias justificativas. Gente como os sequestradores de Beslan não é gente. Se fosse gente, não teria manifestado tamanho desprezo pela vida das meninas e dos meninos de Beslan...
Olho as fotografias, com os olhos cada vez mais baços, e vejo meninos e meninas, com a idade dos meus filhos, a serem transportados em macas, com a lividez da morte nos rostos.
Olho as fotografias, com os olhos cada vez mais embargados, os músculos cada vez mais rígidos, e vejo mães e vejo pais, de olhar desesperado, à procura dos seus meninos, vivos ou mortos.
Olho as letras impressas mas não consigo ler, a não ser as maiores, por entre o baço dos olhos... Tantas centenas de mortos, tantas centenas de feridos... Tantas vidas prematuramente ceifadas, tantas meninas e tantos meninos que já tiveram sonhos e ambições, ilusões e desilusões, amores pueris e desamores também pueris, estirados pelo chão, vivos ou mortos ou mortos-vivos...
Não. Não me interessa saber quem tem razão nesta guerra entre Putin e os rebeldes tchetchenos. Nem me interessa saber se houve uma precipitação de alguém que levou ao massacre. Nem me interessa saber se os rebeldes independentistas tiveram ou não o apoio de mercenários russos ou árabes.
Mas há uma coisa que eu sei: os autores do sequestro de Beslan sabiam que estavam a sequestar uma escola onde havia centenas de crianças. E sabiam que ao agirem daquela forma estavam a pôr em risco a vida daquelas meninas e daqueles meninos, que usaram como escudos humanos. E sabiam que o resultado final seria sempre uma catástrofe, em que as principais vítimas seriam aquelas meninas e aqueles meninos.
E não me venham com filosofias justificativas. Gente como os sequestradores de Beslan não é gente. Se fosse gente, não teria manifestado tamanho desprezo pela vida das meninas e dos meninos de Beslan...