Um pouco mais de azul

sexta-feira, janeiro 28, 2005

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Merda. Uma pessoa desdobra-se. Tenta estar presente, atenta, adivinhar desejos, prever necessidades. Numa fase em que devia estar sossegada e não pensar senão no trabalho, estou sempre disponível para a minha filha. A paga? Respostas tortas, refilonices, o constante desafiar-me. A menina mais doce do mundo pode ser a menina mais difícil de aturar do mundo. Comigo. Com a empregada, que tanto lhe quer. E isto dói, porra, dói.
Com o pai não há disto. Com os avós muito menos. Eles são muito mais severos do que eu. E fica-me sempre a dúvida: serei eu demasiado permissiva? Será que tentar levar a bem em lugar de levar a mal, ou à bruta, está errado?
Se os desabafos são para mim, se a confiança máxima é para mim, o outro lado é para mim também. E porra, eu não o mereço, sinto-o como uma injustiça! E no fim saem das minhas mãos palmadas, que ficam a doer cá por dentro mais do que a ela doem. Saem castigos que sei que a ferem bem mais que qualquer palmada, e que me custam também porque não quero ter de castigar constantemente. E fica sempre a enorme sensação de que tudo podia ser diferente feito a dois, equilibrado por dois, com a cabeça fria de um a funcionar quando a do outro está quente, com estratégias conjuntas que não existem. Que nunca, afinal, existiram, a não ser por breves momentos, nos momentos graves que exigiam que ele actuasse. Porque as responsabilidades foram sempre, sempre passadas para mim.
Porra, que merda fiz eu da minha vida?


 
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