Um pouco mais de azul

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Em torno de um círculo que fechou

Já lá disse o que tinha a dizer. As Ruínas são geniais, e muito mais do que isso a nível humano. São mais do que um blog. E por isso, desde que soube que iam fechar (estarão a precisar de cuidados arqueológicos?), o que me ocorre é o tão conhecido diálogo da raposa e do principezinho. Porque ali criaram-se laços, daqueles que parece que tanta gente, no seu dia-a-dia, esqueceu, como dizia a raposinha.




"Foi então que apareceu a raposa.
- Olá, bom dia! - disse a raposa.
- Olá, bom dia! - respondeu delicadamente o principezinho que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira.
- Quem és ti? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...
- Sou uma raposa. - disse a raposa.
- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho. - Estou triste...
- Não posso ir brincar contigo. - disse a raposa. - Não estou presa...
(...)
- O que é que "estar preso" quer dizer?
- É a única coisa que toda a gente se esqueceu.- disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo...
(...)
Foi assim que o principezinho prendeu a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa. - Ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua - disse o principezinho.- Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim...
- Pois quis - disse a raposa.
- Mas agora vais-te pôr a chorar! - disse o principezinho.
- Pois vou - disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo..."

Saint-Exupéry


 
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