Um pouco mais de azul

quinta-feira, janeiro 20, 2005

E porque se tem andado a falar nas coisas bonitas disto dos blogs

E porque outro dia, quando faltou o ADSL, dei comigo a pensar que este fará em breve um ano de vida e no que tem significado ter um blog, aqui vai o relato de uma das coisas mais bonitas que neste espaço azul me sucedeu.

Para muitos dos que aqui vêm há menos tempo, e porque, para grande pena minha, o Haloscan fez o favor de apagar os comentários dos primeiros meses, o que vou contar será novidade. Outros já o sabem, partilharam comigo esses momentos especiais. Sem eles, é bem provável que o rumo deste blog tivesse sido diferente, que até tivesse terminado rapidamente este "registo de salpicos de vida", como um dia lhe chamaram. Porque foi a resposta mais bonita que a minha escrita alguma vez teve, foi o feed-back mais encantador e inesperado.
Todos os dias, de 2ª a 6ª feira, os meus textos apareciam comentados com um poema ou a letra de uma canção, ou pelo menos com palavras calorosas, bonitas, sempre relacionadas com aquilo que eu escrevia. Quem me deixava essas flores na secretária (comparação que inevitavelmente me ocorria a cada vez que encontrava esses comentários)? Alguém que eu não fazia ideia quem era, nem sabia quem eu era também. Alguém que por aqui tinha passado vindo de um blog de um amigo comum e que tinha decidido fazer-me sorrir todos os dias – ajudar a que o dia fosse mais azul, dizia. Sempre me causou admiração a forma como arranjava, no meio do trabalho (porque era do trabalho que ele comentava), o poema exacto, a canção com a letra certa, a palavra a propósito - sempre doce, bem-humorada, sensível. Confesso que várias vezes, ao final de um dia afastada do computador, corria para aqui para ver se cá estava a minha “flor” – estava sempre. Conheci canções lindíssimas com este anónimo comentador (Lilacwine, na voz de Jeff Buckley, foi uma delas, e só por me ter dado a conhecer essa canção e esse intérprete eu teria razão para estar grata). Li versos magníficos, escolhidos de tal forma a dedo que, confesso, me chegaram a comover até às lágrimas. Porque, de facto, ele apenas me deixava coisas bonitas, como que encontrava em versos e canções a tradução dos meus textos, testemunhando uma sensibilidade rara, até porque, nessa altura, escrevi bastante sobre temas dolorosos. Creio que passou a haver visitas que vinham aqui não para me ler a mim, mas para o ler a ele .

Depois de uns meses, desapareceu. Creio que até deixou de me ler. Percebi porquê, apesar de ter tido pena. Perdi, como disse, os seus comentários. Mas não o esqueci, nem à generosidade que o levava a escolher palavras bonitas e doces para uma desconhecida, escritas à sombra de uma sábia chaminé que entrava, por vezes, na conversa. Coitada, com este frio a chaminé deve andar constipada e de cachecol ao pescoço. Será que ainda conversa todos os dias com o Old Ramon?


 
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