Um pouco mais de azul

segunda-feira, maio 31, 2004

Regresso a casa (2)

Chegar a casa tem também uns apertozitos de coração. Ao relatar-me as novidades, a minha filha contou que tinha chorado hoje na escola. Tinham feito uma redacção e o tema era o maior sonho de cada um. Eis o que ela escreveu:

"O meu maior sonho

O meu maior sonho, mais do que ir à Disney, mais que ter um irmão, é ter os meus pais juntos de novo, mas não tenho muita esperança que isso aconteça. Eu noto na maneira com que a minha mãe fala para o meu pai, eu não vejo, mas ouço o som deles os dois a discutir.
Eu ainda me lembro de quando o meu pai brincava comigo no sofá e via filmes comigo. Agora já não é o mesmo, é diferente, e eu queria que este sonho se tornasse realidade."

Como não havia a minha garotinha de chorar a escrever isto? Felizmente tem uma professora muito carinhosa que a soube abraçar e consolar e que à noite me ligou para que eu tomasse conhecimento. Já ela tinha contado tudo à mamã - porque à mamã ela sabe que pode contar tudo, porque a mamã tenta compreender todas as coisas que ela conta e explicar-lhe. Saber conservar esta confiança é um dos meus maiores desejos.

Ler este desabafo da minha filha cria um aperto grande cá dentro. Que fazer? Dar-lhe a certeza de que o amor dos pais por ela não diminuiu. Ter os braços sempre, sempre abertos para ela. Infelizmente, realizar o seu sonho não é possível...

Regresso a casa (1)

A coisa melhor que existe no regresso a casa: abrir os braços para a minha filha, ela saltar-me para o colo e ficarmos assim, abraçadas uma à outra, durante vários minutos, sem nada dizer. Chamem-me mãe galinha à vontadinha: mais de três dias longe desta menina e fico cheia de saudades dela. São saudades especiais, vindas do mais fundo de mim. Saudades em que não mando. Saudades como nunca senti por mais ninguém. Saudades que ficaram saciadas neste longo, longo abraço, em mil beijos e nos risos de ambas.

De retour

Et bien, me voici de retour. Parlant français, évidemment. Resultado de passeios pela chiquérrima Côte d'Azur, que tem um mar azulíssimo e onde se descansa muito bem. Foram umas belíssimas mini-férias: acho que até me esqueci de uma coisa chamada tese!
Ao chegar, dei com os tão simpáticos comentários que aqui me deixaram, que compensaram largamente os cerca de 40 e-mails fazendo publicidade aos habituais viagras e afins... Mas nem isso me deixa menos bem disposta. Hoje é um dia muito, muito azul.

quarta-feira, maio 26, 2004

Um pouco mais de azul



Matisse, Baigneuse dans les roseaux, 1952, Nice

Até para a semana!

Durante uns dias, vou dar-me ao luxo de não fazer nada, nadinha. Por pouquíssimo tempo, muito menos do que precisava para de facto descansar - mas agora não é mais do que uma pequena pausa, indispensável e inadiável, para recuperar o fôlego que me permitirá chegar ao fim da maratona na qual me tenho sentido ao longo dos últimos tempos.
Marcamos encontro para segunda-feira à noitinha. Além de desenjoo de tese, vai ser uma curazita de desintoxicação internética e bloguística.
Um grande abraço a quem por aqui passar durante estes dias - esteja à vontade, confio nos meus comentadores habituais para tomarem conta deste blog e o tratarem bem na minha ausência.

I

Hoje é dia de ouvir o novo CD dos Magnetic Fields. Só agora chegou à minha cidadezinha...

terça-feira, maio 25, 2004

Enjoo

Estou farta das fotografias do Figo que pululam pelo país fora. Para qualquer sítio para onde me viro, lá está ele, com um fundo verde e vermelho e ar de herói salvador da pátria. O homem até é uma vista interessante (desde que calado), mas tudo o que é demais enjoa.
Aliás, haverá português com um mínimo de bom senso que não esteja já profundamente enjoado do Euro 2004?

segunda-feira, maio 24, 2004

Um pouco mais de... biscoitos

Hoje, quando cheguei à hora de almoço a casa, tinha biscoitos feitos pela minha filha, com a ajuda da empregada. Esta menina adora fazer bolos, biscoitos, doces. No início, a cozinha ficava num caos indescritível: farinha espalhada por todo o lado, chão barrado de margarina... Agora já não é assim. Faz os biscoitos sozinha, depois de ter a massa pronta, com todo o cuidado. Temos uma série de receitas herdadas da minha avó; mas a preferida de ambas é esta:

120 g margarina
125 g açúcar
250 g farinha
1 ovo

Junta-se tudo e depois da massa estar ligada faz-se uma bola ou rolo, que se corta em pedacinhos iguais com os quais se fazem bolinhas que se põem em lata untada com margarina. Com um garfo molhado em gema de ovo, achatam-se as bolinhas e vão para o forno.

Se quiserem, experimentem. De preferência, com os vossos filhos, que ficarão radiantes por fazer bolinhas, achatá-las com o garfo e no final comer o resultado do seu trabalho. A alegria deles compensa a bagunça na cozinha, garanto.

Serão vegetativo

Apesar do contentamento com o fim destas segundas-feiras sobrecarregadas de trabalho, estou cansada a valer. É que esta ainda foi assim, longa, fatigante. Percorro os blogs do costume. Teço menos comentários do que é habitual, porque estou lenta, os meus neurónios recusam-se a trabalhar depressinha. Penso no que tenho para fazer - mas devagarinho, lentamente... Penso que me apetecia escrever aqui qualquer coisa com pés e cabeça - não sou capaz. Vou ver a previsão meteorológica para os próximos dias; é uma coisa à altura da minha capacidade de raciocínio neste momento.

Iupiiii!!!!

Hoje foi a última das segundas-feiras terríveis!

domingo, maio 23, 2004

Breves nocturnos (2)

Porque é que me sinto sempre culpada quando decido tirar uns dias de férias meus, só meus? Ser mãe vicia...

Breves nocturnos (1)

Desligo o telefone e interrogo-me pela enésima vez: como é que duas irmãs podem ser tão diferentes?

"Fui-o outrora agora..."

Tem havido no Holocénico e aqui (nos muitos comentários a vários posts anteriores) umas saborosas conversas em torno do tempo e da sua percepção, da memória, da nostalgia. Fizeram-me lembrar deste poema de Pessoa. Aqui fica, com votos de um domingo azul.

Pobre velha música!
Não sei porque agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.

Recordo outro ouvir-te.
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.

Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.

Perplexidades nocturnas

Tenho o rádio sintonizado nem sei bem em que estação - uma qualquer que me dá música calma e inspiradora para a ingrata tarefa a que me dedico este serão.
Pelo meio vem a inevitável publicidade. É ela que me provoca perplexidade: publicita-se o conteúdo de uma das numerosas revistas cor-de-rosa da nossa praça. Interessará verdadeiramente a alguém saber que uma loira que apresentou uns programas imbecis na tv saiu do hospital psiquiátrico? Ou que a madrasta da nóvel princesa espanhola não foi convidada para o casório? Ou ainda que o nosso querido ministro da Defesa anda a fazer não sei o quê (de pastilha elástica na boquinha, por certo) mais aquela representante do jet-set nacional muito tia, muito bem que esteve no Big Brother? Livra, eu quero é não saber o que essas pessoas fazem ou por onde andam. E de preferência nunca me cruzar com elas... Às vezes sinto-me vinda de outro planeta.

sábado, maio 22, 2004

Uma vez mais, uma flor



Rosmaninho (visto pela fantástica objectiva do Zé)

Onde se começa em casamentos reais e se termina reflectindo sobre autos-de-fé

Hoje, a notícia do dia é, naturalmente, o casamento do herdeiro da coroa espanhola. O relevo dado pelos nossos media ao evento faz pensar que se trata de um acontecimento de primordial importância para Portugal... Pela minha parte, espero que Filipe e Letizia sejam felizes (desejo sempre isso a todos os noivos) e que Espanha encontre neles, um dia, o pólo congregador de um país onde os separatismos regionalistas são tantos e tão vincados. O meu interesse pelo assunto termina aqui.

Esta boda fez-me lembrar outros tempos. Aqueles em que principes e princesas portugueses e castelhanos casavam entre si, selando pelos laços matrimoniais alianças político-estratégicas de natureza variada. Lembrei-me, ao ler o que hoje escreve JVC no Professorices, que foi o casamento de D. Manuel I com a filha dos Reis Católicos, há mais de cinco séculos, que ditou a sorte dos judeus portugueses e, também, em boa medida, do futuro do reino.
Li outro dia o manuscrito de um processo da Inquisição. Na memória formal das confissões assinadas pelo réu, ficou registado o drama de um cristão-novo que voltou a Portugal no exercício da sua profissão de mercador e se viu denunciado ao Santo Ofício, que o manteve longos meses encarcerado. Tendo partido ainda em bebé com os pais para a Holanda e depois para Ferrara, aí vivera de acordo com a lei judaica, esquecendo o baptismo cristão que recebera ainda em Portugal. Esse era o seu grave, gravíssimo crime... Foi-me impossível não sentir revolta e vergonha ao decifrar, linha a linha, o desenrolar do seu processo. O réu acabou por partir em liberdade, depois de ter de comparecer num auto-de-fé, ter dado informações sobre outros cristãos-novos regressados às práticas judaicas em Ferrara e ter-se mostrado desejoso de passar a viver de acordo com a fé cristã. Não acredito que, por um minuto, tenha acreditado no Deus que lhe impunham à força e sob as ameaças da tortura e da fogueira. Não faço ideia do que lhe veio a acontecer, mas espero que tenha conseguido voltar para Ferrara e aí ter terminado os seus dias sossegado, na observância da sua fé ancestral.

Numa escola dos arredores da minha cidade, vai haver uma reconstituição histórica, como tantas vezes se faz, hoje em dia. Mas desta vez vai-se reconstituir um auto-de-fé. Quando li as breves linhas que noticiavam este evento, dei comigo a pensar se tinha percebido bem. Sou eu que estou a ver tudo ao contrário, ou isto parece estranho e pode mesmo ser perverso? Presumo que tenha havido toda uma preparação por parte dos professores para explicar o que eram os autos-de-fé, o porquê da sua existência, as razões pelas quais os devemos condenar liminarmente. Parto do princípio de que o espírito desta realização seja clara e inequivocamente o de condenação. Mas, mesmo assim, isto soa-me mal. O objectivo destas reconstituições históricas não é lúdico, para além de didáctico? Irão os alunos passar o dia a reflectir sobre a ignomínia dos autos-de-fé, ou a rir à gargalhada perante a brincadeira proposta? Irão os alunos brincar vestidos de judeu condenado, de judeu perdoado, de padre da Inquisição, de carrasco?
Será que estou a ser preconceituosa? Será que estou a ver isto por um prisma errado? O que sei é que não quero a minha filha, daqui por uns anos, a participar em reconstituições de autos-de-fé. Nem de enforcamentos públicos. Nem de campos de concentração nazi. Brinquem às feiras, aos casamentos, aos bailaricos, aos torneios. Mas há coisas com as quais não se brinca. Mesmo que as intenções sejam as melhores - o inferno, ao que consta, está cheiinho delas. E a Santa Inquisição (acreditam que me custa colocar esse adjectivo a preceder tal substantivo?) também as tinha. Afinal, pelo fogo purificador salvavam-se as almas dos pecadores...

sexta-feira, maio 21, 2004

Palavras que são poemas que são desenhos



Guillaume Apollinaire, La colombe poignardée et le jet d'eau

E a escrita, o que é?

"Estes homens da cor de cabrito esfolado que hoje aplaudis entrarão nas vossas aldeias com o barulho das suas armas e o chicote do comprimento da jibóia. Chamarão pessoa por pessoa, registando-vos em papéis que ... vos aprisionarão. Os nomes que vêm dos vossos antepassados esquecidos morrerão por todo o sempre, porque dar-vos-ão os nomes que bem lhes aprouver, chamando-vos merda e vocês agradecendo. Exigir-vos-ão papéis até na retrete, como se não bastasse a palavra, a palavra que vem dos nossos antepassados, a palavra que impôs a ordem nestas terras sem ordem, a palavra que tirou crianças dos ventres das vossas mães e mulheres. O papel com rabiscos norteará a vossa vida e a vossa morte, filhos das trevas".

[O último discurso de Ngungunhanhe, segundo Ungulani Ba Ka Khosa, Ualalapi, Associação dos Escritores Moçambicanos, 2ª edição, p. 118]

O tema da escrita, do valor e importância concedidos à palavra escrita interessa-me especialmente. Agradeço ao José Teixeira, que divulgou este excerto no Ma-Schamba e autorizou a cópia.

Azulices (5)

Cheguei a casa encharcada e mudei de roupa, há horas. Só agora é que me chamaram a atenção para o facto de que vesti o polo do avesso. Ainda bem que nunca sairia com ele(faz parte daquelas roupas adoradas e mais que velhas com as quais ando por casa), ou iria nesta linda figura, sem sequer reparar...
Um velho ditado diz que se recebe uma prenda quando se anda com roupa do avesso. Será?

Dilúvio

Chove torrencialmente na minha cidade. Fui levar a minha filha à escola, debaixo da chuva mais intensa de que me recordo nos últimos anos. Apenas de a levar à porta do edifício e voltar para o carro, fiquei absolutamente encharcada, apesar do guarda-chuva. A chuva é tão forte que, dentro do carro, mal se ouviam os resmungos dos trovões, fortes, prolongados.

quinta-feira, maio 20, 2004

Once upon a time in America

Um grande filme. Uma belíssima banda-sonora. A minha companhia deste serão.

Não vi o filme no cinema quando estreou, mas creio tê-lo visto mais tarde sem ser na televisão. Algures nas milhentas cassetes vídeo (ainda não tenho DVD) que jazem lá dentro à espera da divisão final de bens deve estar este filme. Tenho de o procurar. Quero-o para mim.

Gaivota

Se fosse ave, gostaria de ser gaivota. De voar entre o céu e o mar, no ponto onde o horizonte os confunde. De planar ao sabor do vento. De pousar no mar para descansar e me deixar embalar pela ondulação. De piar lá muito de cima, como que troçando dos tristes homens sem asas. De me acolher a uma praia abrigada no final do dia, e ficar ali, sobre a areia, vendo o sol dissolver-se no azul das águas.
Parto sem rumo com as gaivotas, sinto-me livre. Entrego-lhes o peso que trouxer na alma. Retempero as forças junto ao mar, olhando as ondas, as gaivotas, o céu infinito. Reconcilio-me com o mundo e com a vida.



(obrigada, Acilina)

Discos pedidos (3)

Uma magnífica viagem musical. Schubert interpretado por Maria João Pires. Recomendado em muitas e variadas circunstâncias, nomeadamente para me ajudar a concentrar. Está a cumprir o seu papel muito bem esta manhã.

Para uma gaivota sonhadora voar bem alto no céu.

quarta-feira, maio 19, 2004

Discos pedidos (2)



Para o Hugo, festejando a revelação.
(alto patrocínio: Blue)

Discos pedidos

Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.


Um bocadinho de Paulo de Carvalho, dedicado à Noite, à Cassandra e ao MJMatos.

(Ou como perante uma dor de cabeça tamanho XL provocada pelo calor estúpido que se faz sentir, o melhor remédio é mesmo o bom humor)

Conversando com os meus botões

Só percebemos a falta da água canalizada quando passamos umas horas sem ela. Só nessas ocasiões dou conta da quantidade de vezes que lavo as mãos.

Porque é que ao fechar a porta do carro apanho quase sempre um choque? E porque é que isto acontece também com a porta da garagem?

Em que espécie de conluio andarão metidas as portas da minha casa, que resolveram encravar os trincos à vez? Será que vou conseguir consertá-los, ou o resultado, se tentar, será condená-los à avaria definitiva? Na dúvida, é melhor não mexer... Quem é que se chama para arranjar os trincos das portas?

Porque é que recebo certos mails em triplicado, quadruplicado, decuplicado?

O meu amigo melro canta lá fora.

Em tons de azul (6)



Henri Matisse, A Janela Azul (1912)

A primeira da estação

Acabei de matar a primeira melga deste ano. Estou, a 18 de Maio, quase à 1h da manhã, com a varanda aberta enquanto trabalho. De manga curta e os pés descalços, tal como em pleno Verão. E a primeira melga entrou, gorda, enorme, zunindo em meu redor. Já não saiu.
Às vezes pergunto a mim mesma porque é que há-de haver bichos destes à face da terra. Não se lhes conhece nenhuma utilidade, creio (na minha ignorância de tais matérias). Só servem mesmo para dar cabo da paciência humana, para nos morderem e impedirem de dormir sossegados.
(Que raio de coisa me lembrei de escrever...)

terça-feira, maio 18, 2004

Estrela do Mar

Uma das canções deste senhor de que mais gosto. Para vos acompanhar este serão, tal como me acompanha a mim. O trabalho, hoje, tem de render. Ou começo a entrar em parafuso.

Numa noite em que o céu tinha um brilho mais forte
E em que o sono parecia disposto a não vir
Fui estender-me na praia, sózinho, ao relento
E ali longe do tempo, acabei por dormir

Acordei com o toque suave de um beijo
E uma cara sardenta encheu-me o olhar
Ainda meio a sonhar perguntei-lhe quem era
Ela riu-se e disse baixinho: estrela do mar

"Sou a estrela do mar só a ele obedeço
Só ele me conhece, só ele sabe quem sou
No princípio e no fim
Só a ele sou fiel e é ele quem me protege
Quando alguém quer à força
Ser dono de mim..."

Não sei se era maior o desejo ou o espanto
Só sei que por instantes deixei de pensar
Uma chama invisível incendiou-me o peito
Qualquer coisa impossível fez-me acreditar

Em silêncio trocámos segredos e abraços
Inscrevemos no espaço um novo alfabeto
Já passaram mil anos sobre o nosso encontro
Mas mil anos são pouco ou nada para estrela do mar

"Estrela do mar
Só a ele obedeço
Só ele me conhece, só ele sabe quem sou
No princípio e no fim
Só a ele sou fiel e é ele quem me protege
Quando alguém quer à força
Ser dono de mim..."

Arrumadores de carros

Aqui na minha cidade também os há, naturalmente.
Ainda agora, ao procurar um lugar para estacionar, lá me apareceu um arrumador, com os seus imensos sinais e instruções. Perfeitamente escusados, diga-se: o lugar estava bem à vista e cabiam lá dois carros como o meu. Mas pronto, agradeci a ajuda e, como estava bem disposta, lá lhe dei a moedinha da praxe. Quando regressei, carregada de sacos, ele veio a correr ao pé de mim, para me ajudar a guardá-los na mala. Foi muito mais simpático e atencioso do que a larga maioria das pessoas que tem um emprego a sério e que não irá usar o dinheiro ganho para comprar droga, como será, por certo, o caso deste homem... Mais: a sua postura era digna e não subserviente. Mereceu a minha moeda e merece o meu respeito.

Paternidade (agora com uma piscadela de olho divertida)



Ao procurar fotos para ilustrar o post anterior, dei com esta. Não resisto a colocá-la aqui. Digam lá se não tenho toda a razão em achar lindas as imagens de pais e filhos...

Paternidade



Há já muito tempo que andava a pensar escrever acerca de ser pai. Não mãe, mas pai. Os comentários aos meus pensamentos dominicais levam-me a uma incursão, forçosamente muito breve porque o tempo é pouco, sobre este tema. Ficam só umas ideias alinhavadas, a que voltarei.

1) Poucas imagens de ternura me comovem mais do que as de um pai com um bebé nos braços, a rir com os filhos, a brincar com eles, a perder-se no olhar de uma criança. Felizmente, os homens portugueses estão a deixar de lado preconceitos patetas e a mostrar o seu lado sensível, terno, paternal no melhor sentido da palavra, tal como a querer participar activamente no criar e educar dos seus filhos.

2)Aqui na blogosfera, vários são os homens que, à semelhança das mulheres, criam espaços onde registam as suas experiências como futuros pais, criando os seus próprios diários de uma gravidez que acompanham ao minuto (não tenho os links à mão, depois actualizo) ou nos quais relatam o que sentem enquanto pais. O Um ano de ti é, de todos os blogs do género que conheço, o que mais gosto de ler. Pela escrita fluente e expressiva do seu autor, e sobretudo pela sensibilidade e genuinidade demonstradas na descrição do que este pai caloiro sente e pensa sobre o seu filho recém-nascido e as mudanças profundas que a sua vinda ao mundo provocou. Comovo-me sempre que o leio.

3) Estas mudanças no sentir masculino são das coisas que mais esperança me fazem ter no futuro da humanidade.

4) Sou, por tudo isto, uma acérrima defensora dos direitos dos pais. Quando me divorciei, nem me passou pela cabeça não partilhar com o pai da minha filha o exercício do poder paternal ou limitar a horas estritamente estipuladas o contacto entre ambos. Afastar o pai da filha, mais do que o facto de não viverem na mesma casa já por si só implica? Nunca.

segunda-feira, maio 17, 2004

Coisas boas de um dia estafante

Hoje é segunda-feira, o tal dia de que digo sempre mal. Mas hoje prefiro falar das coisas boas que o dia teve. O sol radioso que me acordou de manhã cedo. A excelente companhia ao almoço. As andorinhas no final do dia, voando alegres de um lado para o outro. O melro de bico amarelo que debicava os canteiros ao lado dos quais passei. O outro melro invisível que me acolheu com o seu canto quando cheguei a casa. O cheiro a terra molhada do jardim.

domingo, maio 16, 2004

Flor com borboleta



Não é um malmequer, mas é linda, não é, Sara?

Pensamentos em domingo de sol (II)

Apetece-me tudo menos passar a tarde a fazer o que tenho de fazer.

Pensamentos em domingo de sol (I)

Às vezes é difícil ser mãe sozinha. São tantas as dúvidas sobre se tomo as decisões correctas, se estou a agir da melhor forma. Custa ainda mais quando sei que qualquer desabafo meu recebe em troca umas ironias injustas de quem sempre se furtou às responsabilidades.

sábado, maio 15, 2004

As bolas de sabão


Edouard Manet, As bolas de sabão (1867)

As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
Amigas dos olhos como as cousas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.

Algumas mal se vêem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer cousa se aligeira em nós
E aceita tudo mais nitidamente.


Gosto tanto desta simplicidade natural de Alberto Caeiro...

Preguiça gostosa

Estou com uma imensa preguiça, depois de uma bela tarde ao ar livre, num dos sítios bonitos (mas tão ao abandono...) desta minha cidade.
Apetecia-me escrever sobre milhafres, pois vi-os a planar no céu, por cima de mim, com as suas grandes asas abertas ao sabor do vento - não consegui encontrar nenhuma fotografia na net que me agradasse para aqui colocar. Podia, em alternativa, deixar aqui a letra de um fado de Coimbra recente, que fala da agonia a que foi condenada a mata de choupos que é um dos ex-libris desta cidade - não a consegui encontrar também.
Assim, mantenho-me nesta preguiça gostosa e não escrevo nada.

Time-sharing

Acabo de receber um e-mail propondo um negócio: a compra de uma casa no Gerês. Por 5000 contos (só na moeda velha consigo ter noção dos montantes grandes), vende-se uma casa de granito a precisar de restauro perto da barragem da Caniçada, com ampla vista sobre o Cávado e 650m2 de terreno à volta.
Ora acontece que, antes de pensar em centros de investigação nas Grenadines, nos meus momentos de enjoo da vida urbana e de investigação, costumava sonhar ir viver para o Gerês e ali, no sossego das montanhas de que mais gosto, criar cabrinhas. Como ainda outro dia se falava aqui da casa de campo cantada pela Elis, venho fazer uma proposta aos meus caríssimos leitores: compramos a casa e restauramo-la em conjunto? Fazemos uma espécie de time-sharing montanhês, e criamos lá carneiros e cabras pastando solenes, esperanças de óculos, filhos de cuca legal, amigos, discos e livros e nada mais?

Que belo pensamento para começar (sim, começar) um quente sábado azul...

sexta-feira, maio 14, 2004

Agradecimentos e citações

Aos poucos, arrumo a casa. Aqui ficam os agradecimentos aos últimos links de que foi alvo este blog em tons de azul, e que, uma vez mais, muito me sensibilizam: Do Portugal Profundo,Estado de Espírito, (Indis)Pensáveis, Dói-me + (que ninguém sabe se é a sério se a brincar), Ad tempus (que bela surpresa descobrir quem era a sua nocturna autora!), BioTerra (onde muito podemos aprender sobre o nosso planeta azul), Shoshana no Céu e na Terra (com imenso gosto refiro esta amiga querida).
Quero ainda chamar aqui a atenção para dois outros blogs: Fernão Capelo Gaivota, que tantas vezes voa até ao "Um pouco mais de azul", e Todos os Guarda-Chuvas de Londres, blog que descobri via Roda Livre (um dos sítios por onde passo todos os dias) e que muito me agradou, desde logo pelo título que traduz o nome de uma canção de que gosto muito.

Ufff... Que trabalheira, tanta linguagem html... Actualizo a lista de leituras mais tarde, que outras tarefas me esperam, para mal dos meus pecados. Já por acaso disse que estou enjoadíssima da minha tese?

Neste momento

Ouço o Desafinado de João Gilberto. Depois de despachar mails e trapalhadas de ordem vária, atiro-me aos papéis em torno dos quais passo os meus dias. Como línguas de gato distraída e gulosamente. O dia está lindo lá fora, a luz entra a jorros pela varanda. Espero ao fim do dia poder dizer que o trabalho rendeu a valer. Até logo!

De novo mãos (e pés)



Marcantonio Franceschini, Study of a Young Woman Playing a Tambourine, and Studies of an Arm, Hands, and Feet, c. 1711

Tanto link...

Visito o Technorati e descubro que tenho uma data de links novos a registar e agradecer. Como não consigo fixar o comando html para fazer links, isso dá-me uma trabalheira de copy+paste. Por isso, não me levem a mal, mas só faço isso mais tarde, está bem?

Uma noite agitada

22h30 - primeira tentativa de levar uma certa menina cheia de genica para a cama
23h15 - já há lágrimas (dela), vozes alteradas (a minha), berreiro de choro palerma (dela de novo, claro); o pior é que estou bem disposta e peo meio dos ralhos tenho uns ataques incontroláveis de riso, que destroem o meu ar autoritário por completo
23h30 - o silêncio reina
c. 1h00 - alguém aparece no escritório a queixar-se de que desfez a cama toda e que assim não consegue dormir; a mãe larga o trabalho e confirma que a cama parece ter sido usada por uma manada de elefantes irrequietos; faz a cama, dá um beijo e regressa ao trabalho
c. 3h00 - a menina aparece de novo, muito incomodada pelas etiquetas do pijama novo; a mãe agarra numa tesoura e corta as malvadas; leva a menina de volta para a cama
15 minutos depois - a menina chama; não consegue dormir, quer a companhia da mãe, quer mimo, quer sei lá o quê; enfia-se na cama da mãe para ver se assim dorme sossegada
5 minutos depois - novo chamamento; mãe sem paciência manda-a dormir depressinha ou volta para a cama dela; um beijinho e um grande xi-coração parecem resolver a coisa
c. 4h00 - "mãe, ainda não te vieste deitar!"
c. 4h30 - vou para a cama; a menina está numa risota pegada, a brincar às sombras chinesas; depois tenta fazer de toupeira (enfiar-se no fundo da cama, por baixo da roupa); só à custa de um veemente ralhete é que consigo silêncio;
c. 5h00 - sono profundo de ambas
10h15 - "mãe, já é tão tarde! perdi os desenhos animados!!!"

Felizmente, esta foi uma noite verdadeiramente excepcional. Juro que não lhe dei café. Aposto que logo me vai pedir para ir cedo para a cama e vai dormir, como é hábito, que nem um anjinho.

quinta-feira, maio 13, 2004

E o primeiro prémio é para...

... quem aqui chegou pesquisando "feitiços para engravidar animais". Isso mesmo. Infelizmente, não sei nenhum feitiço. Nem desses, nem de outros. Mas para que quererá alguém engravidar bichos por bruxaria? Não será melhor tentar a via tradicional, que tão bons resultados tem dado ao longo de milhares e milhares de anos?

Isto de ter uma filha a crescer...

A minha filha cresce que nem erva daninha. A roupa de meia estação que usava no Outono está quase toda pequena, a do Verão passado pior ainda. Por isso, hoje fomos às compras. Fico entre o exasperada e o divertida ao ver como ela já tem opinião própria sobre a roupa. Demasiadas vezes não coincide com a minha, claro. Queixa-se que eu não gosto de roupa à moda, como calças à boca de sino desbotadas no traseiro, ou coisas com desenhos da Barbie. Vai ser lindo quando chegar à adolescência...

Uma casa no campo

O que disse há pouco fez-me pensar nesta canção que a voz da Elis Regina torna tão especial. Com um beijo para todos quantos me fazem sentir que este espaço é de algum modo uma casa assim.

Eu quero uma casa no campo
onde eu possa compor muitos rocks rurais
e tenha somente a certeza dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
onde eu possa ficar do tamanho da paz
e tenha somente a certeza dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
no meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
um filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
a pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
do tamanho ideal
pau-a-pique e sapê
Onde eu possa plantar meus amigos
meus discos
meus livros
e nada mais


(Zé Rodrix/Tavito)

Emancipação

Acho que o meu blog, ao aproximarem-se os 3 meses de idade, se emancipou. Já não precisa de mim, funciona sozinho e em velocidade de cruzeiro. Os leitores conversam uns com os outros, trava-se um diálogo com perguntas, respostas e achegas. Começo a sentir este espaço como uma sala de estar onde recebo os amigos, com sofás confortáveis, almofadas fofas, boa música e literatura. Gosto desta sensação!

Recorde

No final desta 4ª feira, o netcode registou 219 visitas ao "Um pouco mais de azul" ao longo do dia. Nunca tinha passado das 170. A minha alma está parva, e ao mesmo tempo envaidecida. O meu agradecimento, em tons de azul, a todos vós.

quarta-feira, maio 12, 2004

My Fair Lady

Passei o serão na preguiça, a ver com a minha filha My Fair Lady. Para ela, foi a estreia; para mim, um regresso ao meu filme musical preferido. Pelo argumento, pela música, pelos actores - sobretudo por causa de Audrey Hepburn. Uma das mulheres mais belas da história do cinema. A fotografia virá quando encontrar alguma do filme que lhe faça justiça.

E depois do gato, o cão

A minha filha tem um novo cão de brincar. A Associação Portuguesa de Doentes de Alzheimer - uma associação que merece todo o nosso apoio, diga-se - teve a ideia bonita de não se limitar a fazer um peditório, mas de pôr à venda um cachorrinho de tecido macio como aquele que serve de imagem de marca aos sapatos da Hush Puppies (passe a publicidade). A garota encantou-se com o boneco, claro está.
Hoje o cão foi para a escola, foi para o ballet. Chegámos a casa os três (mãe, filha e cão, claro) e encontramos o vizinho com o seu golden retriever de carne, osso e muito pêlo. E o que é que acontece? O cão a brincar cai ao chão, o cão a sério julga que é um brinquedo para ele e zás! abocanha-o. Não o estragou, apenas o lambuzou um pouco. Resultado: um estridente pranto. Queria mesmo desinfectar o boneco (ainda lhe perguntei se desinfectava as mãos quando um cão as lambia; pergunta escusada, porque nunca se chega tão perto de nenhum para permitir que tal aconteça...). Agora está tudo bem, o cãozinho foi limpo com um pano húmido por mim, e encharcado de perfume por ela. Quer dormir com ele esta noite. Confesso: incomoda-me mais a ideia de dormir com tanto perfume (detesto cheiros fortes) do que com saliva canina. De facto, de hipocondríaca ou maníaca das limpezas não tenho nada...

Para o Gato Preto

O gato mais parecido com um pintainho preto de casca de ovo na cabeça que conheço, com os meus sinceros parabéns.


(foto de Sofia Melo, encontrada aqui)

A hipocondria

Descobri que fui linkada por um blog chamado Dói-me, o qual, se não é uma brincadeira, é escrito por alguém obcecado por doenças. Não sei se vai gostar de ler as linhas que se seguem; paciência, não escrevo para agradar a ninguém mas ao sabor do que me apetece ou faz pensar.

Viver com pavor de doenças, em permanente sobressalto por causa de uma dor é um desperdício de tempo, de vida, de paciência - do próprio e de quem lhe é próximo. Sei do que falo: um hipocondríaco fez parte da minha família durante mais de dez anos. Enjoei o tema doenças para o resto da minha vida e pelas reencarnações todas (em que não acredito). É que, além de ter de assistir às pormenorizadíssimas descrições de quanto sentia ou imaginava sentir, os meus pais estavam na altura com doenças sérias e graves. Tinha de um lado as doenças e as queixas imaginadas; do outro, os males reais e graves de quem não dizia um "ai".
Enquanto a minha mãe definhava, dia a dia, ouvia-o a ele ao telefone a falar das dores de estômago, da comida que lhe tinha feito mal, da unha do pé encravada, da falta de vontade de fazer alguma coisa. Enquanto o meu pai estava internado sem sabermos se ia sobreviver, inquietava-o a distância a que a casa da praia ficava do hospital, e como não se sentia lá à vontade porque, se tivesse um enfarte, não chegaria a tempo para ser tratado. Enquanto eu tentava não me ir abaixo, numa fase complicadíssima em que o mundo parecia ter caído sobre a minha cabeça, ele tratava-se da vigésima nona depressão, com muitos comprimidos que, a meu ver, seriam substituíveis com vantagem por algum interesse na vida para além das doenças.
O pior é que não podia mandá-lo simplesmente à fava, com todas as letras(maldito chazinho que bebi em criança...). Ia resmungando uns "sins", "pois", "não se preocupe que isso não é nada", enquanto nem ouvia o que dizia longamente ao telefone. Mandava umas indirectas desvalorizando os sintomas. Ficava pasma perante a catrefada de exames médicos complicados, dolorosos, incómodos a que se submetia por temer ter um cancro. Mais prosaicamente, fazia os possíveis por não ter de telefonar lá para casa - passei por antipática, claro está, mas isso era preferível ao frete hipocondríaco.
Mesmo já divorciada, não escapo de vez em quando a descrições pormenorizadas das suas maleitas. Entra por um ouvido e sai pelo outro, claro, ao mesmo tempo que demonstro uma pressa extrema, uma imensa urgência (de me pôr a milhas, claro). Não consigo entender quem vive assim. Não tenho paciência.

Mas a vida tem ironias terríveis. Agora ele tem mesmo um cancro. E por incrível que pareça, está mais calmo, mais feliz.

Se algum conselho me é permitido dar ao João, o autor do referido blog, é o seguinte: deite o termómetro fora, esqueça a distância a que a farmácia fica, ignore as dores que ocasionalmente sente - e viva! Viva a vida com bom humor, alegria, um sorriso na cara, generosidade para com os outros. Metade dos seus males passa logo, acredite, e vai criando anti-corpos que o protegerão de outras maleitas, reais ou imaginárias. Acredite que será muito mais feliz e ajudará a serem mais felizes os que lhe são queridos.

E de novo uma flor



Linda, não é? Bem digo que este fotógrafo capta a alma das flores; neste caso, conseguiu captar também toda a sua sensualidade.

terça-feira, maio 11, 2004

A educação em Portugal

Via o Que Universidade? (que se está a tornar um verdadeiro guia quanto a artigos sobre temas que me interessam), leio a crónica de António Barreto no Público sobre o estado da educação em Portugal.
Cada vez mais gosto de ler António Barreto e das suas análises lúcidas e inteligentes. É dos poucos políticos que me inspiram um crescente respeito.

Voltei

Cá estou de novo. No final de um dia muito azul, tal como o céu.
Ao voltar para casa, vi um dos arco-íris mais bonitos que algum dia pude observar. Formava um arco perfeito e nítido sobre um campo verde, e mesmo no meio erguia-se a silhueta de algumas árvores. Se tivesse uma máquina fotográfica à mão (e não estivesse no meio da auto-estrada...), a imagem teria ficado gravada num instantâneo que não deixaria de aqui colocar. Na falta da fotografia, fica a descrição; e o momento não se perde.

segunda-feira, maio 10, 2004

Boa noite!



Antonio Canova, Ninfa adormecida (c. 1820)

Ao serão

Queria ter escrito antes, mas "obras" no Blogger impediram-me de o fazer. Agora passou a inspiração e são horas de dormir, que a semana começa cedo e longe daqui. Por isso, não vai haver novidades azuis senão lá para terça à noite. Um bom início de semana para todos!

domingo, maio 09, 2004

Epílogo para uma tarde de domingo chuvosa

Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.


(Alberto Caeiro)

De novo, Caeiro

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...

Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...

Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena...


(Alberto Caeiro)

Tem este poema tudo a ver com o que abaixo escrevi, sobre a inércia e os sonhos por cumprir. Por isso aqui fica.

Servem-me ainda os versos de Caeiro para agradecer ao Walter (que gosta, como eu, da sua poesia) as palavras amigas que me dirigiu. Honram-me de um modo muito particular: o Forum Comunitário tornou-se rapidamente um dos meus blogs favoritos, visitado sempre com renovado prazer.

Ilhas

Via Professorices, dei com a notícia do Público acerca das fantásticas declarações de Dias Loureiro na Madeira: queria este eminente dirigente social-democrata que Portugal "fosse, de norte a sul, uma imensa Madeira", região onde diz encontrar-se "o melhor que há da democracia" e apresentando Alberto João Jardim como "exemplo de comportamento ético". Não, não leram mal, é mesmo o que está escrito no jornal.
É nestas alturas que me valem os meus planos azuis de fuga para as Grenadines. Não pensem que me esqueci do GIRC - nunca, sou de ideias fixas.

Inércias e sonhos por cumprir

"Activar intenções, vencer a inércia implica esforço, para o qual nem sempre temos forças ou coragem. E por isso muitas realizações se ficam pelos sonhos. Em clausura, a liberdade de sonhar liberta, em liberdade, se não acompanhada de uma força para agir, pode ser uma morfina que nos impede de viver." Frases de um dos blogs que acompanho atentamente, o Holocénico. Frases certeiras.
É por isso que este blog se chama "Um pouco mais de azul" e que declarei uma verdadeira guerra ao "quase", ao que nunca passa de um sonho desistido. A força da inércia é terrível. A morfina do sonho inalcançável vicia e mata, a pouco e pouco, o entusiasmo, a alegria, a própria capacidade anímica. Estende garras insidiosas que afectam quem está ao lado e, pouco a pouco, se vê enleado numa teia cinzenta, baça, que puxa para o fundo do poço, rouba a energia, faz pensar que nada importa ou vale o esforço. Faz desistir de viver.
"Um pouco mais de azul" não é, para mim, um simples verso bonito de um poeta talentoso. É um propósito de vida que ultrapassa largamente o espaço do blog. É o lema que me recorda que não quero ficar aquém da minha meta - do azul.

Vícios informáticos

Sabemos que estamos viciados na escrita em computador quando pousamos a folha de papel em que escrevemos e mentalmente carregamos nas teclas ctrl+g...

Ao serão

Gosto da paz destes serões passados aqui no escritório, sossegada, a trabalhar. Hoje é daqueles dias em que me sabem bem. A filhota dorme tranquila, tudo é silêncio, menos a música do Rodrigo Leão (Ave Mundi Luminar) que ajuda a este sentimento de bem-estar. Sinto-me relaxada, não tenho sono, mas sim vontade de trabalhar. É de aproveitar!

sábado, maio 08, 2004

Mais uns agradecimentos

A blogs que passaram a ter o "Um pouco mais de azul" entre os seus links. Muito obrigada a Simplesmente Alex, Ducouto, Vila Dianteira, Virtualmente Manos e Live at Portugal.

Cânone barroco

Pediam-me há pouco que aqui colocasse algo barroco. Assim faço. Não uma imagem, mas música. Uma música que tem o condão de invariavelmente me fazer sorrir e sentir que o mundo pode mesmo ser azul.
Ouvi-a pela primeira vez há muito tempo. Aparecia num videoclip que um canal de tv estrangeiro passava constantemente, com imagens de uma colónia de pinguins. As imagens eram lindas, a música um hino à alegria de viver. Reencontrei-a muitos anos mais tarde, e soube então que foi escrita por um compositor alemão, precursor de Bach, de seu nome Pachelbel. É uma obra pequenina, mas encantadora. Sempre que a ouço (além de a ter no CD onde a descobri - o já várias vezes citado Adagio, dirigido por Herbert von Karajan - tenho-a no computador), sinto que o mundo renasceu; que nos volta a ser dado como se tivesse acabado de sair das mãos do Criador, novo em folha, cheirando a lavado.
Encontram um excerto no link acima.

Num dia lindo...

... uma imagem de outros tempos, para me inspirar em mais um sábado de trabalho.

E de novo um poema

Passeando por blogs, encontrei este poema lindo do Alberto Caeiro. Não resisto a copiá-lo para aqui, com um agradecimento à Vida Secreta das Palavras.

Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor —
Tu não me tiraste a Natureza ...
Tu mudaste a Natureza ...
Trouxeste-me a Natureza para ao pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.


(Alberto Caeiro)

sexta-feira, maio 07, 2004

Músicas e memórias

Penso que acontece a toda a gente associar músicas a acontecimentos ou pessoas. Comigo isso sucede constantemente e sem que eu tenha qualquer voto na matéria. Já aqui me queixei de que ouvir o Until the morning comes dos Tindersticks me fazia pensar em alguém que não merece uma canção tão bonita; o Primeiro beijo do Rui Veloso recorda-me inevitavelmente uma pessoa que costuma ler este blog (será que adivinhará quem é, já que gosta tanto dessa canção?); Enola Gay dos Orchestral Manoeuvres in the Dark é o sol da Foz do Douro num mês de Fevereiro longínquo e o meu primeiro grande (e infeliz) amor.
Os Verdes Anos do Carlos Paredes levam-me sempre, sempre aos meus tempos de estudante universitária e à Queima das Fitas. Às serenatas na Sé Velha, ao pão quente a desoras, a risos, gargalhadas, champagne (cerveja não, obrigada), piqueniques na praia de capa e batina em domingos de garraiada, noites do Parque em que nem importava quem actuava, porque queriamos era dançar, pular, divertirmo-nos. Aos FRA's lançados a preceito. À excelente camaradagem criada entre o grupo que ia no mesmo carro. Aos jantares mais malucos do mundo, acompanhados pelo nosso indecente "hino" e pelo perigosíssimo vinho de Souselas. Às amizades que para sempre ficaram, mesmo que espalhadas pelo país inteiro.
Em tempos de Queima, fica um sorriso de saudade. E os Verdes Anos.

Pão com poemas

A padaria onde costumo abastecer-me teve uma ideia muito gira. Nos pacotes de papel, mandou imprimir poemas. Trouxe para casa, pois, não apenas uma apreciável quantidade de pão de variadas espécies (este gosto denuncia uns bisavós padeiros...), mas ainda dois sonetos de Florbela Espanca e a "Liberdade" do Pessoa. Vai um pão com versos?

Ainda bem que as pessoas bonitas existem

Porque compensam as outras.
Perder o respeito por alguém dói. Demora a que isso aconteça, mas quando efectivamente se dá, temo que seja irreversível. Pelo menos, cria-se um fosso muito difícil de ultrapassar, se é que alguma vez valerá a pena tentar ultrapassá-lo ou se porá sequer essa hipótese.
Ainda bem que as pessoas bonitas existem. Volto à analogia das flores: ainda bem que no meio das ervas daninhas aparecem flores lindas. Limpe-se o terreno das ervas parasitas. E que fiquem as flores, e que valham as flores.

Pessoas e flores



Tal como esta florzinha pequena e banal, cuja beleza o fotógrafo soube fazer brilhar, assim as tais pessoas bonitas se destacam de todas as outras. Haja olhos como a objectiva da máquina fotográfica.

Há pessoas bonitas

Há, sim. Muito, muito bonitas. Claro que não me refiro à beleza física. Estou a falar de pessoas bonitas porque generosas, meigas, doces, sensíveis, atentas aos outros. Diz-se muitas vezes que essas qualidades são mais próprias das mulheres do que dos homens - discordo. São próprias, isso sim, de pessoas especiais. Que se tornam lindas também por fora porque o que vai lá dentro transborda para o exterior. E é um olhar meigo, um sorriso doce na hora certa, a palavra amiga e carinhosa no momento exacto, a capacidade de com um gesto simples suavizar a dor do outro, que as fazem brilhar.
Tenho sorte: na minha vida existem algumas pessoas assim. Mais próximas ou mais distantes, mas presentes. Estou a pensar concretamente numa que está longe, mas consegue sempre fazer-me sorrir e sentir querida com a sua imaginação, com a ternura que ressalta das suas palavras. Ainda há bocadinho o conseguiu, uma vez mais. E de novo senti que tenho sorte, sim.

Note to self

Não deixar acumular música no computador. Em vez de trabalhar, tenho estado a gravar CDs, para poder livrar o "bicho" de muitos e pesadíssimos ficheiros mp3 que o estavam a deixar lento, lento. E queria ter trabalhado.
Levantar cedo para trabalhar com todas as ganas, mais o sentimento de culpa de nada ter feito hoje. Para isso, é obrigatório ir já, já para a cama. Boa noite.

Post scriptum

O serão foi bonito. Um pouco menos do que tinha pensado, devo dizer, porque havia uma certa pobreza de encenação. Mas ao meu lado alguém estava quase em êxtase. A minha filha adora dançar. É a dança que a faz gostar de música clássica. Ainda pequenina, inventava coreografias para as músicas do Quebra-Nozes, do Lago dos Cisnes, do Pássaro de Fogo. Antes de a meter na cama, apesar da hora tardia, não tive coragem de a impedir de dançar ao som da valsa da Coppelia, uma, duas, três vezes, até quase cair para o lado.

Dúvidas (pouco) metódicas

Depois de um dia em que não trabalhei nadinha, divido-me entre:
1) vir escrever no blog;
2) trabalhar na tese;
3) ir dormir.
Qualquer das hipóteses tem prós e contras. Não me apetece escolher. Acho que vou fazer as três coisas. Da primeira já estou a tratar. Agora vou à segunda, e quando a minha consciência já não se sentir pesada passo à terceira.

quinta-feira, maio 06, 2004

E hoje o serão é...

De novo, mãos



(Van Gogh)

Halleluiah & Shrek

Estou a ouvir Jeff Buckley a cantar Halleluiah; creio que é dele a versão desta canção que surge num dos filmes de desenhos animados que mais me divertiu nos últimos anos (e acreditem que vi muitos): Shrek. Se não conhecem, comprem, aluguem, peçam emprestado, mas vejam o filme, tenham ou não garotos. São garantidas gargalhadas e uma cara feliz ao chegar ao final. Tem uma banda sonora óptima. Não é delico-doce e politicamente correcto como os filmes da Disney. É inteligente e bem humorado. Pisca o olho em todas as direcções.
Ando desejosa que o Shrek II chegue (o Windows Mediaplayer anuncia-o há imenso tempo, e o trailer pareceu-me prometer). Nesse dia, não vou ao cinema para fazer a vontade à minha filha: vou tão contente como ela.

(Nota para com os meus botões: as coisas em que penso ao mesmo tempo que espremo os neurónios em torno duns documentos...)

quarta-feira, maio 05, 2004

Hogwarts

Já aqui contei que a minha filha anda encantada com os livros e os filmes do Harry Potter. O pior é que representa o que lê. Ainda agora apanhei um susto ao ouvir gritos - era apenas teatro. A doce menina de olhinhos azuis transforma-se no Sirius Black, no gigante Hagrid, em mais uma série de personagens e grita, brande a varinha de condão (um lápis de madeira), atira-se para o chão, finge estar petrificada. Dá aulas aos bonecos como se fosse professora de feitiçaria. Tenho a sensação de que vivo em Hogwarts.
Que fazer? Lá diz o velho ditado: se não consegues vencer, junta-te a eles: vou tentar aprender magia.

E mais um poema

Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
- eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.

Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço -
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave - qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,

que te procuram.


(Herberto Helder - excerto do poema «Tríptico», publicado em A Colher na Boca, 1961; in Poesia Toda, Lisboa, Assírio & Alvim, 1990)

E mais uma flor



Outra flor. Dada no Dia da Mãe. Para alegrar o dia cinzento e chuvoso.

I'm singing in the rain

Chove a potes. Na minha encantadora cidade sem sarjetas em condições, criam-se lagos onde enfiamos os pés. Dormi de menos, e o dia está cheio de coisinhas pequeninas para fazer, daquelas a que não tenho vontade nenhuma de prestar a menor atenção. Mas não há dúvida que quando se anda bem disposto, nada parece incomodar demasiado. Ainda não passou a fase dos sorrisos rasgados. Por isso, nada melhor para um dia destes do que cantarolar I'm singing in the rain. Há dias assim...

terça-feira, maio 04, 2004

De novo sorrisos

A letra da canção que aqui deixei esta tarde podia ser um dos meus lemas. Sorrir faz bem, a nós e aos outros.
Hoje foi um dia bem disposto a valer. Um dia cheio de sorrisos, sem razão especial senão o apetecer sorrir. Ou com várias pequenas razões, cada qual digna de um sorriso autêntico. Uma delas é que a leoa deixou de estar em contemplação e abocanhou a presa. A gazela-tese está apanhada; vou esfolá-la.

Smile... You'll see the sun come shining through for you... You'll find that life is still worthwhile if you just smile...

Sorrir (tantas vezes, a melhor forma de responder, de falar, sem palavras)

Smile though your heart is aching
Smile even though it's breaking
When there are clouds in the sky, you'll get by
If you smile through your fear and sorrow
Smile and maybe tomorrow
You'll see the sun come shining through for you.

Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear may be ever so near
That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile
If you just smile.

That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile
If you just smile.


(Nat King Cole; ouvido neste momento pela voz quente e doce da filha)

Uma flor

Um amigo distante costumava mandar-me fotografias de flores. Volta e meia, encontrava flores na minha caixa de correio (o que é muito mais agradável do que encontrar mensagens como as que abaixo referi). Flores lindas, sempre; em geral singelas florzinhas tímidas, humildes, cuja beleza escondida ele fazia surgir como que por magia; sempre achei que ele captava a alma das flores que fotografava. Pedi-lhe autorização para aqui apresentar aquelas de que mais gosto. Começo, naturalmente, por uma flor azul.

Esclarecimento

Não sei se é por me identificar como "1poucomais". Não sei se foi o facto de ter aqui falado do "tal" que me falta para completar a minha vida. A verdade é que tenho a caixa de correio invadida por mails tentando oferecer-me a felicidade via Viagra ou outras fantásticas pílulas azuis. Ainda agora, ao abrir o computador, encontrei quatro mensagens destas, assim, de uma assentada. Fica o esclarecimento: o nome que uso é um verso que pede um céu mais azul, não pílulas ou centímetros extra, e o "tal" a que me tenho referido não é uma... uma... Ai, como é que se chama aquela figura de estilo em que se toma a parte pelo todo? Não me lembro e não me apetece ir procurar.

Este post desvia-se ligeiramente do tom habitual neste espaço, eu sei. Mas sabe bem dizer tolices, e assim fazer passar a raiva que me dá não conseguir impedir que essa porcaria de mensagens continue a chegar.

segunda-feira, maio 03, 2004

E de novo mãos



Leonardo da Vinci, Estudo de mãos

Um pedaço de céu



Horas depois
- Que pena... Já vi que não funcionou senão por breves momentos a minha tentativa de mostrar um pedacinho azul do meu céu privativo. Um azul em que me perco todos os dias.
Alguém me indica como é que consigo colocar aqui fotografias que não estejam na net? Ou melhor, como colocar na net fotografias que quero aqui apresentar?

Muitas mais horas depois - Agora vai funcionar. Obrigada a todos quantos me deram sugestões para aqui colocar fotos. Esta é a sobrevivente de um conjunto de fotografias tiradas no Dia da Mãe; mesmo ligeiramente desfocada, gosto tanto dela que não resisto a colocar aqui este pedaço de azul em que, como acima disse, me perco todos os dias. Assim vêem que não exagero quando falo dos olhos bonitos de alguém...

domingo, maio 02, 2004

Mais mãos

As mãos são uma das partes do corpo humano que mais me fascina. Depois de estar com uma pessoa, posso não saber qual a cor dos seus olhos (mas saberei se eram expressivos ou não), posso não conseguir descrever o seu vestuário, mas quase de certeza terei reparado nas mãos. Gosto de mãos nervosas, faladoras, irrequietas. Gosto de conversas de mãos com mãos. Gosto de andar de mão dada. Gosto, porque não dizê-lo, das minhas mãos magras de dedos compridos que não páram sossegadas.

A propósito de mãos, dêem um pulo ao Forum comunitário e leiam Eugénio de Andrade. Vale a pena.

As mãos

Recebi este poema por e-mail, hoje. Vem direitinho para aqui. Não é sobre o Dia da Mãe, mas as mãos de mãe são especiais: são mãos que afagam e fazem a paz.

Com mãos se faz a paz se faz a guerra
Com mãos tudo se faz e se desfaz
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedra estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.


(Manuel Alegre)

Flores em Dezembro

Estou a ouvir esta canção dos Mazzy Star. É o meu ramo de flores do dia de hoje; apropriado, já que faço anos em Dezembro.

Flowers In December

Before I let you down again
I just want to see you in your eyes
I would have taken everything out on you
I only thought you could understand

They say everyman goes blind in his heart
And they say everybody steals somebody's heart away
And I got nothing more to say about it
Nothing more than you would me

Send me your flowers, of your December
Send me your dreams, of your candy wine
I got just one thing I can't give you
Just one more thing of mine

They say everyman goes blind in his heart
They say everybody steals somebody's heart away
And I've been wondering why you let me down
And I been taking it all for granted.

sábado, maio 01, 2004

Coisas que nunca mais aprendo

Já sou crescidinha o suficiente para saber que há pessoas que não se regem pelos mesmos princípios e valores de respeito, generosidade e rectidão pelos quais procuro pautar a minha vida. Mas custa-me sempre aceitar que assim é. Fico invariavelmente triste quando tenho de me render à evidência de que alguém não vale grande coisa. Parece que nunca mais aprendo.
Mas, para ser sincera, prefiro ser ingénua a cínica. Odiaria ser cínica. Detestaria perder a capacidade de acreditar nos outros e de me encantar.

Antecipando o Dia da Mãe

Hoje os posts antecipam o dia de amanhã. Fica aqui uma das mais bonitas representações de Nossa Senhora com o Menino que já alguma vez vi. É conhecida como a Virgem de Autun, cidade onde se encontra num pequeno e soberbo museu. Data do século XV. Acho-a linda, linda, linda (ao vivo muito mais do que nesta imagem, única que encontrei na net). Não tem o aspecto divino de muitas imagens da Virgem; é simplesmente um delicado e encantador retrato, muito humano, de uma mãe com o filho dormindo no colo.

Imagens de mãe

Ao ler as palavras da Cláudia (cujo blog tanto aprecio) sobre a prendinha do Dia da Mãe feita pelo seu filho mais velho, lembrei-me de uma semelhante que a minha filha me ofereceu no seu último ano de infantário.
Os meninos fizeram um caderninho com desenhos e colagens e escolheram nas revistas a fotografia de alguém que achassem parecida com a sua mãe. A minha filha escolheu uma fotografia da Amália Rodrigues, uma das mais bonitas, aliás. Tal como a educadora, fiquei um pouco perturbada. Não somos parecidas nas feições, apenas na cor do cabelo. Mas havia o olhar. Nessa altura, tinha dolorosas semelhanças.


 
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