terça-feira, maio 31, 2005
Post queixinhas
E pronto, já fiz queixinhas. Agora façam o favor de me demonstrar toda a solidariedade do mundo. Preciso de miminhos.
Valete (1)
Grande, com longa pelagem arruivada, o Valete vivia numa pequena moradia com a dona, uma senhora viúva de cabelos prateados e olhos muito azuis, para quem o gato era a melhor das companhias.
A D. Ifigénia vivia sozinha, mas todos os dias recebia a visita dos netos, que ficavam com ela no final das aulas. A Susana e o Pedro gostavam muito das horas passadas em casa da avó. Esta tinha sempre um bolo ou outra surpresa para o lanche e contava-lhes histórias dos tempos em que era nova, que muito os faziam rir, pois descobriam que a avó tinha sido uma criança ainda mais endiabrada do que eles. Acima de tudo, era na casa da avó que os pequenos tinham um jardim e um gato para brincarem.
Nas traseiras da casa, existia, de facto, um jardim, com um lago onde nadavam peixinhos vermelhos e dourados, canteiros cheios de flores, algumas árvores de fruto que gostava de depenicar um grande melro de bico amarelo, o qual, logo de manhãzinha, assinalava a sua presença a cantar. Este jardim era o reino do Valete. Ali ele passeava, corria atrás de lagartixas e outros bicharocos, e tinha o seu canto predilecto para preguiçar nos dias de sol.
Se chovia, o gato passava a deitar-se no largo parapeito da janela da sala, através da qual vigiava os seus domínios e atentamente verificava se nenhum rival ousara invadir o seu jardim. Ficava ali deitado durante horas, nesses dias cinzentos, observando os pingos de chuva a cair no pequeno lago, onde, de quando em quando, brilhavam os reflexos coloridos dos peixinhos que, sentindo a falta do seu amigo felino, se aproximavam da superfície para, de longe, o cumprimentarem.
Ao serão, a D. Ifigénia sentava-se nessa mesma sala, fazendo tricot, lendo, vendo televisão ou ouvindo música. E o Valete tinha então outro poiso: sobre uma almofada aos pés da dona, ou, sempre que lhe via o regaço livre, enroscado no seu colo, pedindo as carícias que a idosa senhora nunca lhe negava.
Aviso à navegação
Outro dia, aproveitando um pedaço de tempo livre em que só me podia ocupar com papel e lápis, comecei a escrever essas histórias. Vou passá-las para aqui. Apenas porque é a única forma de não se perderem, não por terem qualquer valor para além do sentimental. Este blog, além de saco de boxe, é um armário de recordações que desejo preservar.
Seguem-se, pois, as primeiras páginas das aventuras de um gato, que não sei se terei paciência ou vontade de continuar a escrever.
segunda-feira, maio 30, 2005
Azulices
Efemérides
Ter um blog tem bastante que se lhe diga (já devo ter dito isto várias vezes, mas não faz mal - este blog não se rala nada em se repetir, é feito do que me vem à cabeça e muitas vezes repetem-se as mesmas ideias). Pode ser um exercício de vaidade, uma tentativa de projecção, uma forma de intervenção, um local para ensaios literários, uma galeria de fotografias, sei lá eu que mais. Pode ser, também, um cantinho onde nos buscamos a nós próprios, onde damos murros (às vezes a nós próprios), onde fazemos uma catarse que se calhar deveria ser privada, mas para a qual sabe muito bem ter feedback. Este último é, naturalmente, o tipo de blog em que o Um pouco mais de azul se inclui. Blogzito sem pretensões nenhumas, apenas meu, apenas porque sim. E que me tem proporcionado muitas coisas bonitas, que têm ultrapassado a internet e tornado a minha vida mais rica, mais risonha e azul (notazinha à margem que ninguém precisa de ler: a minha capacidade para esquecer, ou pelo menos desvalorizar, o menos bom é fantástica).
É por isso que eu sinto orgulho nas tais 60 000 visitas. Porque a larguíssima maioria delas corresponde não a visitantes ocasionais, mas a pessoas que por aqui passam com grande frequência, muitas todos os dias. Pessoas que nunca me deixaram comentários desagradáveis, pelo contrário: antes me animaram, fizeram sorrir, demonstraram uma simpatia e um carinho que me aquecem o coração de um modo que é difícil expressar. Pessoas que, num número crescente, têm deixado de ser perfeitas desconhecidas e ganham um rosto, um sorriso. E que bom é ver ou, pelo menos, sentir esses sorrisos!
Já devem ter reparado, ao longo das centenas de posts que por aqui tenho deixado, que sorrir é algo muito importante para mim. É uma arma de que uso e abuso, uma forma de estar na vida. Foi a minha maneira de vencer a timidez imensa da minha infância e adolescência. Valorizo imenso um sorriso. E sinto que quem por aqui passa (pelo menos quem deixa vestígios dessa passagem, sejam eles comentários, mails ou outros) sorri. É o melhor feedback que eu podia receber.
domingo, maio 29, 2005
A vida é um milagre
sexta-feira, maio 27, 2005
Olha...
quinta-feira, maio 26, 2005
Um livro, um blog
quarta-feira, maio 25, 2005
Fazendo contas à vida
Dormir ainda não paga impostos. Vou ver se durmo e se sonho com uma maneira de aumentar o meu orçamento familiar. Hoje a minha filha, sei lá a que propósito, achou que seria óptimo fazer sobremesas para fora (lembram-se de cada uma, as crianças!). Começo a pensar que devia mesmo pensar em qualquer coisa assim. Aceitam-se sugestões.
terça-feira, maio 24, 2005
Pensando...
segunda-feira, maio 23, 2005
Picos
Releio o que escrevi no início deste blog, explicando-lhe o título:
"Nem de propósito, tinha eu pensado no nome para este blog quando recebo, por mail, um texto de Luís Fernando Veríssimo intitulado “Quase”. Não vou transcrevê-lo aqui, apenas dele extrair algumas frases que subscrevo totalmente: “Ainda pior que a convicção do não, a incerteza do talvez, é a desilusão de um "quase". É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. (…) Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.”
(E agora bastava assinar para isto se tornar um compromisso feito perante testemunhas - os meus leitores. Mas a minha assinatura, o meu verdadeiro nome, não interessa. Sou aqui quem sou em todo o lado, use o nome que usar. Para o bem e para o mal, não sei ser outra pessoa.)
A um Amigo
Uma das pessoas que melhor me tem mostrado a verdade do que acabo de dizer escreve sob o nome de Cap. É conhecido por dizer muito com poucas, e quantas vezes enigmáticas, palavras; bonitas e bem ilustradas, ainda para mais; sensatas e generosas também.
O Cap tornou-se meu padrinho ao "baptizar-me" com o nick que hoje uso para me identificar. Tornou-se meu Amigo (assim, com maiúscula, não é qualquer engano) por muitas outras razões. Amigo para além dos blogs, dos monitores de computadores ou das distâncias físicas. Amigo a sério, daqueles de quem me orgulho de poder contar entre os que me são caros e queridos.
Este meu Amigo faz anos hoje. E eu estou aqui para lhe dar os parabéns, e desejar um dia de anos muito bom e, sobretudo, uma vida longa e feliz. Porque ele merece. Parabéns, Cap!
Momentos para guardar
Quando lhe disse que eram horas de se ir deitar, chamei-lhe, nem sei porquê, bebé; riu-se: "Já não sou bebé, mãe!". Há bocado, ouvi um "Mãe!" O meu não-bebé precisava de me dizer uma coisa, de me abraçar e sentir ao lado dela. Encostei-a a mim, fiz-lhe festas suaves na cara e no cabelo, cantei-lhe a canção de embalar que há mais de dez anos se tornou minha, depois de ter povoado o adormecer da minha meninice. E senti que, apesar do tamanho e da idade, ela é, de facto, e sempre, mein Kind, tal como no dia em que nasceu.
E de novo, como todos os dias, dou graças a Deus por ser mãe, mãe desta filha. E peço-Lhe que as minhas carícias e a minha voz trauteando velhas melodias sejam capazes de a acalmar e de a fazer sentir aconchegada e querida por muitos e muitos anos. Nunca fui de grandes orações, a minha fé anda pelas ruas da amargura, ou pelo menos a minha adesão à Igreja em que fui educada. Mas esta oração sai-me todos os dias dos lábios ou do pensamento, desde que a minha filha nasceu.
domingo, maio 22, 2005
sábado, maio 21, 2005
Prazeres da vida
Há muitos meses atrás (não me peçam o link, sei lá quando foi), perguntava aqui há quanto tempo não era eu a prioridade de alguém. A questão estava mal formulada: há quanto tempo não era eu a minha própria prioridade seria a pergunta mais correcta. E a resposta é: agora, finalmente, sou. E sabe bem!
Lucidez
sexta-feira, maio 20, 2005
Estou cá com uma vontade... O
Refiro-me, é claro, à polémica que corre sobre supostos manuais de Educação Sexual para as escolas. Fala-se sobretudo, tanto quanto sei, da escola primária e do 2º ciclo, no qual a minha filha ingressa daqui a uns meses. E confesso, não tenho qualquer vontade que ela tenha actividades na escola do tipo "pinta no desenho as partes do corpo em que gostas de tocar" ou "faz um placard com os diversos nomes existentes para os órgãos sexuais", ou que algum professor lhe pergunte se ela se costuma masturbar e onde é que o faz. Sim, estas são algumas das actividades e questões propostas por não sei que mentes iluminadas imbecis para uma disciplina de Educação Sexual. Mas agora já se diz por aí que isso é tudo um exagero, uma mentira, protestos empolados de associações pró-vida.
Ora deixem-me cá raciocinar sobre tudo isto. E antes de mais, se há que pôr rótulos e separar as pessoas entre pretos e brancos, então eu sou pró-vida (não sei é se isso é ser preto ou branco, mas também não interessa). Não me identifico, no entanto, com disparates fundamentalistas, e acho que, para ser coerente com o meu não ao aborto como princípio básico (por respeito para com uma vida que não pertence à mãe, apesar de no seu seio se desenvolver - e não vale a pena entrar em polémicas quanto a isto, não é sobre o aborto que estou a escrever), tenho de fazer o meu melhor por que haja uma sexualidade responsável. O que implica, entre outras coisas, um claro sim à educação sexual nas escolas, para além da que for dada em família.
E isto porque sei que muitos pais continuam a assobiar para o ar e não falam com os filhos sobre assuntos que a eles, antes de mais, caberia esclarecer. Já agora, aproveito para dizer que pertenço àquele vasto grupo de pessoas da minha geração que nunca perguntou nada aos pais, e a quem estes muito pouco disseram sobre o tema; havia um pudor idiota em falar dessas coisas, um verdadeiro tabu. Ainda me lembro do ar embaraçado da minha mãe ao tentar explicar-me melhor o que eu aprendera já nas aulas de ciências sobre a reprodução humana (a única coisa que me explicou direitinho foi acerca da menstruação - pudera, eu tinha de estar preparada para isso! Mas o meu pai nunca, nem ao de leve, aflorou tal assunto). Com o meu pai, acho que o mais próximo de uma conversa séria neste campo se deu quando, já bem crescida, lhe participei que ia passar um fim-de-semana com o meu namorado. Recordo também o ar incomodado de ambos quando perceberam que eu ia de férias sozinha com o meu quase-marido, um mês antes de nos casarmos (um mês depois já não teria qualquer problema, claro).
Por isso, e pela deficiente preparação de muitos pais, não será mau que os garotos aprendam certas coisas fora de casa - mas de uma forma séria e responsável. A minha grande dúvida é se a escola será capaz de dar essa formação de modo sério e responsável. Não quero um cretino apoiado num programa idiota a ensinar (ou pseudo-ensinar) coisas tão importantes como as relacionadas com a sexualidade à minha filha. Graças a Deus, ela conta com uma mãe que lhe explica o melhor possível, e com o bom senso e a sensibilidade que o instinto maternal inspira, as chamadas "verdades da vida". Verdades mesmo, não meias-palavras ditas com vergonha. Ela sabe que me pode perguntar tudo o que quiser, que eu, na medida do que souber e for capaz, respondo com franqueza. Por mais embaraços que me possa provocar a resposta, explico-lhe o que ela quer saber; é minha obrigação, é a forma que tenho de a ajudar a que, um dia, saiba agir com consciência, responsabilidade e naturalidade.
Mas voltemos à escola e às minhas dúvidas de ignorante sobre o que, afinal, se prepara. Vai haver mesmo uma disciplina só de Educação Sexual? Se for uma disciplina específica, ela existirá do 5º ao 12º ano? E será uma disciplina sobre o assunto com carácter idêntico à de todas as outras? Nela reprova-se ou passa-se? Ouso pensar que os garotos vão ficar fartos de sexo antes ainda de o praticarem... Por outro lado, a avaliar pelos temas que têm surgido nos blogs e notícias a este propósito, e que estiveram na base da polémica, imagino testes com perguntas como: "O que entendes por masturbação?" (e sai definição, assim como a de um círculo ou um quadrado). "Achas que a masturbação é uma prática saudável?" (e os coitaditos que ainda não sentirem "apetites auto-exploratórios" vão-se sentir culpados ou anormaizinhos). "Diz cinco nomes usados para designar o órgão sexual masculino" (maravilha, é uma oportunidade única de escrever asneiredo do piorio numa prova de avaliação).
Enfim, escrevi tudo isto e não concluí nada. Formulo apenas um voto: de que, por uma vez (uma vezinha que seja), impere o bom senso no Ministério da Educação. É que esta matéria não é propriamente como a fotossíntese ou o teorema de Pitágoras. Não quero só informação, e eventualmente, ainda por cima, desadequada ou mal ministrada - quero formação, de boa qualidade. Sabendo de antemão que neste campo da sexualidade, mais ainda do que em muitos outros, cabe aos pais estar atentos e abertos às dúvidas e indagações dos filhos. É bem mais importante do que as notas a Matemática.
quinta-feira, maio 19, 2005
Desenhos
umpoucomaisdeazul
O resultado é totalmente diferente se o nome do blog for escrito com as palavras separadas umas das outras. Fica assim:
um pouco mais de azul
Pouco azul. Prefiro o desenho de cima, carregado de azul brilhante!
Segredos
Foi assim que encontrei um blog novo. Não faço ideia quem o escreve (mas escreve bem), não tem sequer espaço para comentários, o que até se compreende, dada a natureza dos textos. Sei apenas que me dá imenso prazer lê-lo e imaginar quem está por detrás dele - acho que vou criar (se não escrever) todo um romance em torno do assunto. Mas este vai ser um prazer egoísta (além de palerma): não conto a ninguém de que blog se trata. Nem o linko. É um segredo meu.
(Que post mais idiota... Que se lixe. Isto é meu, escrevo o que me dá na veneta. A liberdade é uma das coisas que mais gosto no mundo dos blogs.)
Caça-fantasmas
É uma chatice, isto de ter uma casa assombrada. Os fantasmas gostam de se esconder onde não os esperamos, e saltam-nos em cima ao abrir um armário, ao arrumar uma estante, ao entrar numa divisão. Até ao abrir a arca-congeladora. Também gostam muito de aparecer, de repente, debaixo da cama. A cama, aliás, é um dos locais mais apreciados pelos fantasmas. Às vezes até se deitam ao nosso lado, e insistem em passar a noite sussurrando-nos ao ouvido ou tocando-nos com os seus dedos frios.
quarta-feira, maio 18, 2005
Sem título (2)
O que sinto deve ser um pouco semelhante ao que sente um fumador que se farta do tabaco. Continua preso ao vício, mas acaba por deitar fora o cigarro a meio, porque já não lhe dá prazer. Eu continuo agarrada ao blog, aos blogs - mas o prazer que daqui tiro é menor, e a vontade de desabafar / rir / brincar aqui é suplantada pela vontade de fazer tudo isso longe daqui. Até pode ser exactamente com as mesmas pessoas, mas não aqui.
Deixei de ter paciência para procurar imagens para colocar no blog. Ou para andar em busca de um poema, de uma música. Já nem tudo se transforma, na minha cabeça, em post; ou, dito de outra forma, já quase não faço posts mentais. Comento muito menos, mesmo nos blogs que prefiro e onde era assídua comentadora. Por nenhuma razão em especial: apenas porque não me apetece.
Espero que ninguém leve a mal a franqueza do que estou a escrever - de novo escrevo mais para mim do que para quem me lê. E não é por estar virada para o meu umbigo, bem pelo contrário. Talvez seja, isso sim, por estar muito mais aberta ao exterior. Com vontade de VIVER.
terça-feira, maio 17, 2005
Sem título
Não me apetece falar acerca da minha última distracção (saí de casa com sapatos diferentes, felizmente reparei nisso ao olhar para o espelho do elevador). Não me apetece falar de nada, afinal. Vou deixando as palavras alinhar-se umas a seguir às outras. Ao sabor dos dedos e das teclas, sem rumo. Como se olhasse as gaivotas no céu e deixasse o meu pensamento segui-las, despreocupadamente, sem saber para onde.
Apetecia-me ter o mar ao meu lado. Poder ir passear perto dele ao final do dia. Encher os pulmões de cheiro a maresia. E depois voltar para casa, ver um filme, ler um livro, ouvir música... e de seguida adormecer em paz, num sono reparador e tranquilo como o de uma criança.
Há em mim um profundo desejo de equilíbrio e de paz.
segunda-feira, maio 16, 2005
Depois do último post, é de justiça dizer
Merda para a burocracia
Xiça, que vontade de ir viver para uma ilha deserta, onde ainda não tenham inventado esta merda toda. Felizes os homens pré-históricos.
domingo, maio 15, 2005
Mar
Cabelos ensarilhados pelo vento. Pés molhados. Risos. Lá em cima, por entre as nuvens, as gaivotas voam, indiferentes à nossa presença. O meu pensamento voa sempre com elas.
O mar faz-me bem. Reconcilia-me com o mundo. Reconcilia-me comigo mesma. Dá-me paz.
Um delicioso ralhete
Daí a pouco, viu muito mais: eu erguendo na mão uma chávena de chá sem fundo, e o chá todo a escorrer. Depois, uma data de guardanapos de papel encharcados a tentar evitar maiores danos e inundações.
A minha reputação como adulta deve ter ficado de rastos perante aqueles olhos imensos. Se calhar foi isso que me valeu, à despedida, uma corrida para me dar mais um beijo, grande e sonoro como só as crianças sabem dar.
A desoras
Uma música: Pascal Comelade, Your eyes like Juan Gris Cubist Guitars.
Em jeito de balanço
sábado, maio 14, 2005
De comboio
De comboio pelo Ribatejo. Papoilas e mais papoilas, ora formando manchas rubras por entre os campos dourados, ora bordejando a estrada. Noutros locais, campainhas amarelas misturadas com alfazema roxa, em tufos cerrados.
Lembrei-me dos meus tempos de menina e de dançar na escola ao som de "As papoilas encarnadas, encarnadas / a brilhar entre os trigais / são tão lindas, delicadas / como as rosas dos rosais". Sempre que vejo papoilas, lembro-me da cantiga, das vozes infantis, e esta é das poucas recordações vívidas que conservo dos dois primeiros anos da escola primária. Essa, e jogar aos altos e aos baixos e aos polícias e ladrões, e correr para o escorrega nos intervalos, fazer equilibrismo numa tira estreitinha de tijolos que demarcava o jardim, pendurar-me nos ramos baixos da única árvore do recreio. Lembro-me também de me porem água oxigenada num joelho ferido, e de chorar a valer com a dor e a falta que me fazia, nesse momento, o carinho da minha mãe.
Noutra vida
quarta-feira, maio 11, 2005
Citação
"Às vezes as pessoas surpreendem-me. Às vezes não. Existem formas de identificar nos outros as hesitações que contrariam a sua vontade expressa, aquilo em que apenas anseiam acreditar.
Mas não acreditam de facto, pois não arriscam. Os riscos que corremos são uma bitola para avaliar a força das nossas convicções. E das nossas paixões. Se não arriscamos, é porque não acreditamos nas hipóteses de sucesso da nossa empreitada ou não confiamos nas certezas apregoadas na primeira pessoa."
Diálogo ao deitar
- De maneira diferente como? Com os pés na cabeceira da cama?
- Não, de maneira diferente... No saco-cama, por exemplo.
- Queres que ponha o saco-cama em cima da tua cama?
- Não, tem de ser diferente. Com o saco-cama num colchão no chão.
- Mas, filha, não temos nenhum colchão para colocar aqui!
- Podiam ser as almofadas do sofá...
Fui buscar as almofadas do sofá, onde ela estivera antes e tinha, decerto, tido a ideia da noite diferente.
Estão as almofadas no chão, o saco-cama por cima, uma menina dentro dele, prontinha para dormir.
- Mãe!
- O que é, filha?
- Não estou confortável... Acho que preferia ir dormir com o saco-cama para cima da cama.
E foi. Daí a pouco:
- Mãe!
- Ainda não estás a dormir? O que se passa?
- Acho que prefiro dormir dentro dos lençóis como de costume, é muito melhor.
E assim acabou a noite diferente. Não há como aprender à própria custa. E eu sorri, de novo abençoando o dia em que me tornei mãe da minha filha.
terça-feira, maio 10, 2005
Porque mereço ser membro da APADEDICA*
Em quase estado de desespero e histeria, tento olhar para dentro do ralo. Mesmo pensando que a lente já devia ir no Mondego, resolvo desmontar o lavatório. Às duas e tal da manhã, estava eu a esfregar cuidadosamente, com a ponta dos meus dedos e ar enojado, a porcaria toda que se acumulara sob o ralo do cano. Não encontrei lente nenhuma, e aprendi que sei desmontar o cano do lavatório, mas não voltar a montá-lo sem que ficasse a deitar água por fora.
Digam lá se não sou uma digna membra da referida Associação. Até devia receber como prémio o dinheiro que a lente me vai custar! (será que pega?)
*Associação para a defesa dos distraídos do caraças (acho eu, que nunca sei o nome; mas ao menos já não troco as letras da sigla, ainda há esperança para mim).
Pequenas mudanças
Pensando e repensando (parte 2)
Não é bem a mesma Azul (alguma vez confessei que acho que o nick 1poucomais passou a ser bastante idiota, a partir do momento em que comecei a ser lida e me tornei não direi alguém com rosto, mas alguém com um determinado perfil na blogosfera, e que nunca o troquei apenas por fidelidade aos primórdios do blog? cada um tem as suas manias, que se há-de fazer). Mas estou-me a desviar do que dizia. Dizia eu, repito, que não é bem a mesma Azul que vai aqui aparecer. Esta, vá-se lá saber porquê, tem menos tento na língua. Não se admirem, pois, com uma linguagem mais, como direi... vernacular; ou solta; ou descuidada do que o habitual. É que é assim que me apetece.
E já é tarde, já escrevi muito e vou é dormir. Boa noite!
segunda-feira, maio 09, 2005
Pesquisas
- "fazer cópia procurar filme música dvd cd mp3 videoclip" (e perguntam-me a mim...)
- "só um pouco mais de azul+música" (há música com este nome?)
- "Cesário Verde - orientações temáticas" (é mesmo disto que eu costumo falar aqui)
- "resumo+os desastres de Sofia" (desse livro falei aqui, mas nunca o resumi)
- "poemas queima das fitas" (não há por cá)
- "mar é salgado porque", seguido de "o mar é salgado?" e insistindo com "um pequeno texto que diz porque o mar é salgado sobre porque o mar é salgado?" (a pesquisa que prefiro no campo literário)
- "revolução russa" (a pesquisa histórica)
- "frase de mãe" (disso encontram em barda)
- "torta infantil com figura de Snoopy" (não sei fazer)
- "Letizia+Filipe+gravidez" (lá o meu blog é uma revista cor-de-rosa?)
A pesquisa que mais me divertiu foi esta:
- "desenhos animados eróticos com tentáculos" (com tentáculos??????)
E mais esta pérola, verdadeira coroa de glória para um blog com o nome inspirado no poema de Sá-Carneiro:
- "azul merda".
domingo, maio 08, 2005
Era uma vez
sexta-feira, maio 06, 2005
Amora
Amora
Depois da curva da estrada
Tem um pé de araçá
Sinto vir água nos olhos
Toda vez que passo lá
Sinto o coração fechado
Cansado de solidão
Penso que deve ser doce
A fruta do coração
Vou contar para o seu pai
Que você namora
Vou contar pra sua mãe
Que você me ignora
Vou pintar a minha boca
Do vermelho da amora
Que nasce lá no quintal
Da casa onde você mora
(Renato Teixeira)
quarta-feira, maio 04, 2005
O meu olhar
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Alberto Caeiro