De comboio
De comboio pelo Ribatejo. Papoilas e mais papoilas, ora formando manchas rubras por entre os campos dourados, ora bordejando a estrada. Noutros locais, campainhas amarelas misturadas com alfazema roxa, em tufos cerrados.
Lembrei-me dos meus tempos de menina e de dançar na escola ao som de "As papoilas encarnadas, encarnadas / a brilhar entre os trigais / são tão lindas, delicadas / como as rosas dos rosais". Sempre que vejo papoilas, lembro-me da cantiga, das vozes infantis, e esta é das poucas recordações vívidas que conservo dos dois primeiros anos da escola primária. Essa, e jogar aos altos e aos baixos e aos polícias e ladrões, e correr para o escorrega nos intervalos, fazer equilibrismo numa tira estreitinha de tijolos que demarcava o jardim, pendurar-me nos ramos baixos da única árvore do recreio. Lembro-me também de me porem água oxigenada num joelho ferido, e de chorar a valer com a dor e a falta que me fazia, nesse momento, o carinho da minha mãe.