Um pouco mais de azul

sexta-feira, maio 20, 2005

Estou cá com uma vontade... O

(aviso à filha: isto não é para tu leres, meu amor, é conversa de gente adulta)

... de botar faladura sobre um tema acerca do qual me confesso mal informada. No entanto, tendo em conta o que li aqui, aqui e aqui, mais a petição que por aí corre, fico com vontade de escrevinhar umas coisas, que é como quem diz alinhavar ideias a ver se vejo mais claro num assunto delicado e que tanto me importa, como mãe que sou.
Refiro-me, é claro, à polémica que corre sobre supostos manuais de Educação Sexual para as escolas. Fala-se sobretudo, tanto quanto sei, da escola primária e do 2º ciclo, no qual a minha filha ingressa daqui a uns meses. E confesso, não tenho qualquer vontade que ela tenha actividades na escola do tipo "pinta no desenho as partes do corpo em que gostas de tocar" ou "faz um placard com os diversos nomes existentes para os órgãos sexuais", ou que algum professor lhe pergunte se ela se costuma masturbar e onde é que o faz. Sim, estas são algumas das actividades e questões propostas por não sei que mentes iluminadas imbecis para uma disciplina de Educação Sexual. Mas agora já se diz por aí que isso é tudo um exagero, uma mentira, protestos empolados de associações pró-vida.
Ora deixem-me cá raciocinar sobre tudo isto. E antes de mais, se há que pôr rótulos e separar as pessoas entre pretos e brancos, então eu sou pró-vida (não sei é se isso é ser preto ou branco, mas também não interessa). Não me identifico, no entanto, com disparates fundamentalistas, e acho que, para ser coerente com o meu não ao aborto como princípio básico (por respeito para com uma vida que não pertence à mãe, apesar de no seu seio se desenvolver - e não vale a pena entrar em polémicas quanto a isto, não é sobre o aborto que estou a escrever), tenho de fazer o meu melhor por que haja uma sexualidade responsável. O que implica, entre outras coisas, um claro sim à educação sexual nas escolas, para além da que for dada em família.
E isto porque sei que muitos pais continuam a assobiar para o ar e não falam com os filhos sobre assuntos que a eles, antes de mais, caberia esclarecer. Já agora, aproveito para dizer que pertenço àquele vasto grupo de pessoas da minha geração que nunca perguntou nada aos pais, e a quem estes muito pouco disseram sobre o tema; havia um pudor idiota em falar dessas coisas, um verdadeiro tabu. Ainda me lembro do ar embaraçado da minha mãe ao tentar explicar-me melhor o que eu aprendera já nas aulas de ciências sobre a reprodução humana (a única coisa que me explicou direitinho foi acerca da menstruação - pudera, eu tinha de estar preparada para isso! Mas o meu pai nunca, nem ao de leve, aflorou tal assunto). Com o meu pai, acho que o mais próximo de uma conversa séria neste campo se deu quando, já bem crescida, lhe participei que ia passar um fim-de-semana com o meu namorado. Recordo também o ar incomodado de ambos quando perceberam que eu ia de férias sozinha com o meu quase-marido, um mês antes de nos casarmos (um mês depois já não teria qualquer problema, claro).
Por isso, e pela deficiente preparação de muitos pais, não será mau que os garotos aprendam certas coisas fora de casa - mas de uma forma séria e responsável. A minha grande dúvida é se a escola será capaz de dar essa formação de modo sério e responsável. Não quero um cretino apoiado num programa idiota a ensinar (ou pseudo-ensinar) coisas tão importantes como as relacionadas com a sexualidade à minha filha. Graças a Deus, ela conta com uma mãe que lhe explica o melhor possível, e com o bom senso e a sensibilidade que o instinto maternal inspira, as chamadas "verdades da vida". Verdades mesmo, não meias-palavras ditas com vergonha. Ela sabe que me pode perguntar tudo o que quiser, que eu, na medida do que souber e for capaz, respondo com franqueza. Por mais embaraços que me possa provocar a resposta, explico-lhe o que ela quer saber; é minha obrigação, é a forma que tenho de a ajudar a que, um dia, saiba agir com consciência, responsabilidade e naturalidade.
Mas voltemos à escola e às minhas dúvidas de ignorante sobre o que, afinal, se prepara. Vai haver mesmo uma disciplina só de Educação Sexual? Se for uma disciplina específica, ela existirá do 5º ao 12º ano? E será uma disciplina sobre o assunto com carácter idêntico à de todas as outras? Nela reprova-se ou passa-se? Ouso pensar que os garotos vão ficar fartos de sexo antes ainda de o praticarem... Por outro lado, a avaliar pelos temas que têm surgido nos blogs e notícias a este propósito, e que estiveram na base da polémica, imagino testes com perguntas como: "O que entendes por masturbação?" (e sai definição, assim como a de um círculo ou um quadrado). "Achas que a masturbação é uma prática saudável?" (e os coitaditos que ainda não sentirem "apetites auto-exploratórios" vão-se sentir culpados ou anormaizinhos). "Diz cinco nomes usados para designar o órgão sexual masculino" (maravilha, é uma oportunidade única de escrever asneiredo do piorio numa prova de avaliação).
Enfim, escrevi tudo isto e não concluí nada. Formulo apenas um voto: de que, por uma vez (uma vezinha que seja), impere o bom senso no Ministério da Educação. É que esta matéria não é propriamente como a fotossíntese ou o teorema de Pitágoras. Não quero só informação, e eventualmente, ainda por cima, desadequada ou mal ministrada - quero formação, de boa qualidade. Sabendo de antemão que neste campo da sexualidade, mais ainda do que em muitos outros, cabe aos pais estar atentos e abertos às dúvidas e indagações dos filhos. É bem mais importante do que as notas a Matemática.


 
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