Um pouco mais de azul

segunda-feira, maio 23, 2005

Momentos para guardar

Tem menos um palmo de altura do que eu. Calça 35 e eu 36. Quase não me cabe no colo. Torna-se cada vez mais evidente que, em lugar de uma criança, tenho uma filha pré-adolescente. No entanto... razão têm os alemães, que chamam sempre aos filhos Kinder, tenham eles a idade que tiverem.
Quando lhe disse que eram horas de se ir deitar, chamei-lhe, nem sei porquê, bebé; riu-se: "Já não sou bebé, mãe!". Há bocado, ouvi um "Mãe!" O meu não-bebé precisava de me dizer uma coisa, de me abraçar e sentir ao lado dela. Encostei-a a mim, fiz-lhe festas suaves na cara e no cabelo, cantei-lhe a canção de embalar que há mais de dez anos se tornou minha, depois de ter povoado o adormecer da minha meninice. E senti que, apesar do tamanho e da idade, ela é, de facto, e sempre, mein Kind, tal como no dia em que nasceu.
E de novo, como todos os dias, dou graças a Deus por ser mãe, mãe desta filha. E peço-Lhe que as minhas carícias e a minha voz trauteando velhas melodias sejam capazes de a acalmar e de a fazer sentir aconchegada e querida por muitos e muitos anos. Nunca fui de grandes orações, a minha fé anda pelas ruas da amargura, ou pelo menos a minha adesão à Igreja em que fui educada. Mas esta oração sai-me todos os dias dos lábios ou do pensamento, desde que a minha filha nasceu.


 
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