Há bocado espreitei um
blog que gosto muito de ler (eu sei que jurei não olhar para mais nada antes de completar o tal capítulo, mas ele está a andar, e estava farta daquilo…). Está, aliás, a ser muito interessante, para mim, católica em crise de fé, tomar contacto com o sentir e pensar de outros cristãos, quer católicos, quer protestantes.
Cita o Cosme num post de há uns dias (não sei linkar para um post específico, desculpem): "(…) O Católico, extrovertido, precisa do ritual, do gesto, do movimento, da hierarquia, de tudo o que é exterior, incluindo as imagens, as aparições, enfim, o que cativa os olhos. O Protestante, introvertido, precisa da Palavra e nada mais (…)." Bem… se assim for, então eu devo ser mais protestante que católica! Não preciso de imagens de santos, muito menos de promessas, de procissões, de relíquias, de gestos rituais; e sempre preferi dirigir-me directamente a Deus, com as minhas palavras, do que usando as orações já feitas. Abro uma excepção para Nossa Senhora, mas estou pronta para aceitar que boa parte do gostar de me dirigir a Ela tem a ver com o gosto de sentir o amparo de um “colo” de mãe, e com as lindíssimas palavras da “Ave Maria”… Sou muito céptica quanto a milagres, duvido ainda mais de aparições. A maioria das homílias que ouço é um chorrilho de banalidades, quantas vezes, ainda por cima, terrivelmente desligado da realidade. E não gosto, mas não gosto mesmo nada, da hierarquia católica…
Outro post, desta feita do Vincent, faz-me também reflectir. Diz ele: “Este é o ar que eu respiro e agradeço a Deus por tudo, mas mesmo por tudo. Agradeço a esperança plantada em mim pelo divino. Sim, essa é a maior força que posso ter. Tudo irá correr pelo melhor.”
Pensei para comigo: será que subscrevo estas palavras? Será assim a minha fé? Acho que não é. Agradeço a Deus o ar que respiro, ser quem sou, a graça imensa de ser mãe, o facto de ter uma filha saudável e linda, muitas outras coisas. Mas não agradeço o fracasso do meu casamento, não agradeço a doença da minha mãe, não agradeço o facto de o meu pai estar enfiado numa cadeira de rodas e ser uma sombra de quem foi. Também não O acuso por tudo isto ter acontecido, por o ter permitido (bem… às vezes sim…). Tento apenas aceitar que essas coisas acontecem por causa da imperfeição humana (o primeiro exemplo) ou por razões puramente naturais (os dois outros casos que indiquei). Aceitar pensando que Deus nos deu, com a inteligência e o discernimento, asas para voarmos sozinhos, e nos cabe a nós fazê-lo; usando os talentos que Ele distribuiu por cada um de nós, da melhor forma possível. Um desses talentos foi – e aqui já volto a concordar plenamente com o Vincent – “a esperança plantada em mim pelo divino”. Que ele a saiba usar. E eu também.
Mas irá tudo correr pelo melhor? Não, não vai; vai haver muita coisa má; as linhas tortas pelas quais Deus escreve são mesmo insondáveis – mas será que existem caminhos por Ele traçados para cada passo que damos? Um fim para tudo quanto sucede? Não consigo encaixar isso na liberdade que Deus nos concedeu. E estou aqui enredada em reflexões de teor religioso, numa meada confusa à qual não sei encontrar a ponta…
Nestas situações de impasse, lembro-me sempre de uma frase que li há imenso tempo mas nunca esqueci. Acho que vinha num dos imensos livros da Enid Blyton que devorei em miúda (onde vou buscar inspiração teológica…). Não importa, interessa é a frase: “Reza a Deus, marinheiro, mas vai remando para a praia”. Disse-me um padre que Santo Inácio de Loyola tinha escrito algo de parecido, mais ou menos assim: “Confia em Deus como se tudo dependesse d’Ele, age como se tudo dependesse de ti”. Prefiro a primeira imagem, a do marinheiro. E também acho que ao remar estamos, afinal, a rezar… Mesmo que não compreendamos nada de nada, como me parece ao terminar este longo e provavelmente confuso arrazoado.
Também é remar para a praia alimentar o corpo. São mais do que horas de ir jantar.