Dia 31 de Janeiro de 1995, pela hora de jantar, comecei a sentir um mal-estar esquisito. Um certo enjoo, dores de rins... Nada parecido com o que me tinham descrito como indícios de parto. Mas o enjoo não passava, e não fui sequer capaz de comer. E as dores, essas, davam-me vontade de dobrar ao meio - tarefa complicada quando se tem uma enorme barriga de 9 meses de gravidez.
Pelas 2h da manhã, já me tinha convencido de que ias nascer nessa noite. Fomos para a maternidade depois de metidas na mala as últimas coisas, com a lentidão própria de quem se move com dificuldade. Chegámos lá pelas 4 e tal da madrugada. Feito o exame da praxe, a médica mandou-me para a enfermaria, pois o parto iria demorar ainda longas horas; o pai podia ir para casa dormir descansado, dizia ela - não podia nada, clamava eu, que o que mais queria era tê-lo ao meu lado. E eu tinha razão. Pouco tempo estive na tal enfermaria, indo parar rapidamente à sala de partos. O teu pai, felizmente, não tardou em vir ter comigo: tinha ido saber notícias antes de se ir embora, e logo o mandaram subir. Juntos, ficámos à tua espera. A mão do pai na minha, ajudando como podia, não me deixando sentir só. E tu a fazeres força para vir ao mundo.
Dez minutos antes das 8 da manhã, ouvia-se o choro de um bebé. Mas esse choro era diferente de todos os outros: eras tu, filha querida, quem chorava. Devo-te confessar que o momento em que nasceste não foi o mais feliz da minha vida. Estava dorida, cheia de sono, com vontade de finalmente descansar e de que não me mexessem mais. Um parto sem epidural, com dores de rins e forceps cansa e dói. Depois de te ver perfeitinha, a berrar que nem uma perdida, depois de te sentir encostada à minha barriga estranhamente vazia, o que eu queria era um pouco de paz. Foi o pai que te acompanhou nos primeiros momentos, que te viu ser lavada e vestida, foi a ele que tu agarraste o dedo e foi ao som da sua voz que acalmaste, enquanto tratavam de mim.
Depois, finalmente, descansei, e tive-te ao meu lado. E então pude ver-te bem, e apaixonar-me perdidamente. Aprendi-te de cor, a ti que imaginava há tantos meses, e que tanto tinha sentido dentro de mim. Aprendi cada pedacinho da tua pele, cada dedinho comprido, cada refego e dobrinha da orelha. Tudo isso ficou gravado cá dentro, e permanece. Durante as longas horas em que tu mamavas, eu olhava-te, fixava-te. E por isso todas as caras pareciam grandes, porque a tua - o meu mundo - era tão pequenina...
Contigo, filha, aprendi a ser mãe. Aprendi o que é ser absolutamente feliz. E sou-o todos os dias, ao beijar-te, ao rir abraçada a ti, ao aconchegar-te a roupa da cama, ao ser, simplesmente, tua mãe.
Dez anos de ti. São muitos dias. São muitas horas de desespero com as tuas birras, de preocupação com as tuas doenças, de sono atrasado, de cantigas malucas inventadas para tu comeres ou sossegares no banho, de brincadeiras, de filmes vistos vezes sem conta. Muitas horas de recordar coisas que só se sentem em pequenino, de redescobrir o que já tinha esquecido - sabes que ainda agora acho linda a luz filtrada pelos buracos das persianas, que te encantava quando eras muito, muito pequenina? Dez anos são muitas horas de colo, mimo, risos, beijinhos, olhares que se perdem, cumplicidades únicas, felicidade em estado puro. São dez anos em que tu tens sido o meu norte, o meu céu, o meu amor maior que todos.
Parabéns pelo teu décimo aniversário, minha querida filha, e que eu saiba ser, sempre, a mãe que está ao teu lado e te dá a mão para te ajudar a crescer.