Um ano de blog
Há um ano, numa madrugada de trabalho, surgiu o Um pouco mais de Azul. Ironia do destino estar a comemorar um aniversário (nunca imaginado) quando o nosso bichito está doente. Mas a vida é mesmo assim, ele comeu muito bem este serão, o que é um bom sinal, e amanhã saberemos mais alguma coisa. No meio da tristeza e da possibilidade de perder este cachorro, fica também muita coisa boa.
E eu vinha falar, isso sim, do aniversário deste blog. Um blog que conseguiu chegar a esta data porque: a) ainda não terminei a tese; b) vocês, meus leitores, existem. Já aqui falei de laços, empatias, amizades. Não me vou repetir, nem sequer tenho tempo para isso que o trabalho não parou. Quero só agradecer-vos, a todos.
E repito aqui as palavras justificativas do nome do blog e da sua existência. Válidas hoje como há um ano atrás.
"Nem de propósito, tinha eu pensado no nome para este blog quando recebo, por mail, um texto de Luís Fernando Veríssimo intitulado “Quase”. Não vou transcrevê-lo aqui, apenas dele extrair algumas frases que subscrevo totalmente: “Ainda pior que a convicção do não, a incerteza do talvez, é a desilusão de um "quase". É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. (…) Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.”
Vivi anos no “quase”. Deixei-me arrastar pelo morno, pela esperança no que um dia seria mas nunca chegava a ser. Deixei de esperar, desacreditei, pus um ponto final. E, por esse motivo, busco “um pouco mais de azul” - pedaço de verso "roubado" ao poema de Mário de Sá-Carneiro de que tanto gosto, e que não resisto a aqui publicar:
E eu vinha falar, isso sim, do aniversário deste blog. Um blog que conseguiu chegar a esta data porque: a) ainda não terminei a tese; b) vocês, meus leitores, existem. Já aqui falei de laços, empatias, amizades. Não me vou repetir, nem sequer tenho tempo para isso que o trabalho não parou. Quero só agradecer-vos, a todos.
E repito aqui as palavras justificativas do nome do blog e da sua existência. Válidas hoje como há um ano atrás.
"Nem de propósito, tinha eu pensado no nome para este blog quando recebo, por mail, um texto de Luís Fernando Veríssimo intitulado “Quase”. Não vou transcrevê-lo aqui, apenas dele extrair algumas frases que subscrevo totalmente: “Ainda pior que a convicção do não, a incerteza do talvez, é a desilusão de um "quase". É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. (…) Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.”
Vivi anos no “quase”. Deixei-me arrastar pelo morno, pela esperança no que um dia seria mas nunca chegava a ser. Deixei de esperar, desacreditei, pus um ponto final. E, por esse motivo, busco “um pouco mais de azul” - pedaço de verso "roubado" ao poema de Mário de Sá-Carneiro de que tanto gosto, e que não resisto a aqui publicar:
QUASE
Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul – eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho – ó dor! – quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo... e tudo errou...
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Chega de falta de golpes de asa. Chega de receios de ir além. Quero o sol, o azul que me neguei, quero ir além do quase."