quinta-feira, março 31, 2005
Acho que vou abrir uma contazinha de solidariedade para com as mães que compram sozinhas (isto é, sem colaboração de pai ou avós) toda a roupa e calçado de que os filhos necessitam no início de cada nova estação. Ou então ponho a minha filha a dieta rigorosa (só alface, como os grilos, por exemplo), de modo a que ela não cresça que nem erva daninha depois de uma chuvada. Todas as calças lhe estão curtas, as saias idem aspas, só o que a previdente mãe compra dois tamanhos acima é que lhe serve. E vale-me ela ser magrinha e crescer pouco para os lados...
Arrumações
Aos poucos, arrumo também esta casa. Na coluna do lado, os links crescem, outros passam para a categoria dos que repousam em paz - mas não sou capaz de os tirar dali, uns porque continuam activos e por isso podem ser lidos, outros porque espero que regressem.
De certeza que me esqueci de vários - acabo de me recordar de um, por exemplo, que acho que lá não está, e esse deve ser apenas o primeiro de vários. Peço-vos que não levem a mal, os links só servem para ser mais fácil aceder aos blogs em causa, e a verdade é que pelo endereço que o meu computador já sabe de cor (é muito espertinho, o meu computador) lá chego também, sem usar a lista de links. Ou seja, isto andava totalmente desactualizado, mas nem por isso eu deixava de visitar os blogs não linkados de que tanto gosto. Agora está um pouco mais actualizado, mas mesmo assim de certeza que faltam lá blogs de que os meus neurónios em férias não se recordam. Mas vão avisando à vontade das falhas, até agradeço.
E agora vou à vidinha, que felizmente já não tem de ser passada quase em exclusivo atrás de um écran* de computador.
*Assim, sem aspas nem nada, porque é assim que eu gosto de escrever, como champagne com "gn" e outras coisas do género, sem ligar ao prontuário ortográfico - reacção a centenas de páginas escritas com todo o cuidado do ponto de vista do português e a colocar em itálico todas as palavrinhas estrangeiras, e a fugir aos estrangeirismos, e a ver se não repeti três vezes a mesma palavra na mesma página. Agora apetece-me ajavardar, criar neologismos, escrever como se fala, brincar com as palavras, repeti-las se me apetecer, ou simplesmente não escrever nada e ir para as compras com a filhota. Inté!
De certeza que me esqueci de vários - acabo de me recordar de um, por exemplo, que acho que lá não está, e esse deve ser apenas o primeiro de vários. Peço-vos que não levem a mal, os links só servem para ser mais fácil aceder aos blogs em causa, e a verdade é que pelo endereço que o meu computador já sabe de cor (é muito espertinho, o meu computador) lá chego também, sem usar a lista de links. Ou seja, isto andava totalmente desactualizado, mas nem por isso eu deixava de visitar os blogs não linkados de que tanto gosto. Agora está um pouco mais actualizado, mas mesmo assim de certeza que faltam lá blogs de que os meus neurónios em férias não se recordam. Mas vão avisando à vontade das falhas, até agradeço.
E agora vou à vidinha, que felizmente já não tem de ser passada quase em exclusivo atrás de um écran* de computador.
*Assim, sem aspas nem nada, porque é assim que eu gosto de escrever, como champagne com "gn" e outras coisas do género, sem ligar ao prontuário ortográfico - reacção a centenas de páginas escritas com todo o cuidado do ponto de vista do português e a colocar em itálico todas as palavrinhas estrangeiras, e a fugir aos estrangeirismos, e a ver se não repeti três vezes a mesma palavra na mesma página. Agora apetece-me ajavardar, criar neologismos, escrever como se fala, brincar com as palavras, repeti-las se me apetecer, ou simplesmente não escrever nada e ir para as compras com a filhota. Inté!
Ao serão
Na casa reina o silêncio. E sabe bem não estar aqui a trabalhar, mas a preguiçosamente ler blogs e limpar todas as versões não definitivas da tese. No final, ficam 9 ficheiros .pdf e uns mais de word. E muitas tabelas excel, muitas imagens digitalizadas, uma base de dados. Parece tão pouco, depois de tanto trabalho...
Não sei se consigo fazer algum balanço para já, é demasiado recente. Se valeu a pena? Por motivos pessoais, sim. Por motivos pessoais, não. Faz bem ao ego, sobretudo agora que chego ao fim e vejo a obra concluída. Faz, porém, mal à saúde - dizia-me um médico há tempos (não sei se já aqui o citei) que isto tem mais de prova de resistência do que de demonstração de capacidade de investigar um tema inédito.
Pelo que, se alguém se lembrar de me perguntar o que eu acho de fazerem um doutoramento, a minha resposta é a seguinte: se é necessário para o trabalho, claro que sim (mas fixem em limites razoáveis o tema a investigar, sejam realistas); se é depois de filhos criados e em idade de ter tempo livre, porque não? Se é pelo simples prazer de fazer uma investigação, ou em busca de futuro emprego no mundo da investigação em Portugal, os meus sentidos pêsames, nem sabem no que se metem...
Cá entre nós, não liguem demasiado ao que estou a dizer. Se gostam, se investigar vos dá um gozo dos diabos, lancem mãos ao trabalho. Se, sabendo de todos os riscos inerentes a abraçar um projecto que exige grande dedicação, querem mesmo fazê-lo, façam-no, mas sem deixar o entusiasmo esmorecer. Porque sem um grande gosto, sem vontade, sem pica (apetecia-me usar outra expressão, mas uma certa eventual leitora impede-mo), deve ser um suplício maior que o de Tântalo (já não me lembro o que acontecia a este desgraçado, mas não era coisa boa - se calhar tinha de fazer teses sem vontade!).
Prometo que não vou escrever sobre teses durante muito tempo, ou todos vocês, caríssimos leitores, fogem a sete pés, e eu não quero. Dêem-me, porém, um pequeno desconto: estou no rescaldo, o tema ainda está demasiado na ordem do dia para que não fale dele. Depois, vou-vos contar sobre um botão de rosa que, maltratada embora, viveu quase um mês dentro de uma jarra com água e tem o tronco cheio de rebentos. Tema bem mais primaveril - e que bom é ter tempo para assistir ao crescimento de uma nova roseira!
Não sei se consigo fazer algum balanço para já, é demasiado recente. Se valeu a pena? Por motivos pessoais, sim. Por motivos pessoais, não. Faz bem ao ego, sobretudo agora que chego ao fim e vejo a obra concluída. Faz, porém, mal à saúde - dizia-me um médico há tempos (não sei se já aqui o citei) que isto tem mais de prova de resistência do que de demonstração de capacidade de investigar um tema inédito.
Pelo que, se alguém se lembrar de me perguntar o que eu acho de fazerem um doutoramento, a minha resposta é a seguinte: se é necessário para o trabalho, claro que sim (mas fixem em limites razoáveis o tema a investigar, sejam realistas); se é depois de filhos criados e em idade de ter tempo livre, porque não? Se é pelo simples prazer de fazer uma investigação, ou em busca de futuro emprego no mundo da investigação em Portugal, os meus sentidos pêsames, nem sabem no que se metem...
Cá entre nós, não liguem demasiado ao que estou a dizer. Se gostam, se investigar vos dá um gozo dos diabos, lancem mãos ao trabalho. Se, sabendo de todos os riscos inerentes a abraçar um projecto que exige grande dedicação, querem mesmo fazê-lo, façam-no, mas sem deixar o entusiasmo esmorecer. Porque sem um grande gosto, sem vontade, sem pica (apetecia-me usar outra expressão, mas uma certa eventual leitora impede-mo), deve ser um suplício maior que o de Tântalo (já não me lembro o que acontecia a este desgraçado, mas não era coisa boa - se calhar tinha de fazer teses sem vontade!).
Prometo que não vou escrever sobre teses durante muito tempo, ou todos vocês, caríssimos leitores, fogem a sete pés, e eu não quero. Dêem-me, porém, um pequeno desconto: estou no rescaldo, o tema ainda está demasiado na ordem do dia para que não fale dele. Depois, vou-vos contar sobre um botão de rosa que, maltratada embora, viveu quase um mês dentro de uma jarra com água e tem o tronco cheio de rebentos. Tema bem mais primaveril - e que bom é ter tempo para assistir ao crescimento de uma nova roseira!
quarta-feira, março 30, 2005
Blogger
Em baixo desde ontem, e eu com vontade de escrever. Agora funciona, e eu a sair de casa. Desencontros.
(Este post só serve para que ninguém pense que depois da tese pronta fugi. Não, ainda não pertenço àquela associação de nome esquisito dos que dizem "até breve, estou farta de blogar".)
(Este post só serve para que ninguém pense que depois da tese pronta fugi. Não, ainda não pertenço àquela associação de nome esquisito dos que dizem "até breve, estou farta de blogar".)
segunda-feira, março 28, 2005
Sabe bem
Perguntavam-me ontem nos comentários qual a sensação de ter terminado a tese. Ontem, ainda não sabia dizê-lo, faltava tanta coisa: ver tudo impresso na minha frente, corrigir algumas falhas nas impressões, pôr as folhinhas umas sobre a outras e, sobretudo, entregar na gráfica todo o material. Foi um stress tremendo até meio da tarde de hoje.
Mas desde que me vi tudo pronto nas mãos de quem dessas folhas soltas fará um livro, apoderaram-se de mim duas sensações fortes. A primeira: orgulho por ter terminado, uma enorme alegria por ter conseguido e me ver livre do monstro. A segunda: um cansaço tão grande como a tese, do tamanho de todas as noitadas, todas as horas roubadas ao sono, todos os fins-de-semana e dias de férias dedicados a trabalhar, todas as vezes que vim para aqui em lugar de descansar, ler um livro ou ver um filme, ou simplesmente brincar com a minha filha.
Há ainda uma terceira sensação: vontade de apagar os vestígios da tese. Eu, que já me confessei desarrumadíssima, quero arrumar o meu escritório, limpar do computador as várias versões da dita que por aqui pululam. Era já assim quando estudava na Universidade: tudo desarrumado até ao exame, tudo em ordem nos dias seguintes, preparando o caminho para o que viesse depois.
Agora, não é para um exame que preparo o caminho. É para outros rumos, outros trabalhos, outra vida. Sabe bem!
Mas desde que me vi tudo pronto nas mãos de quem dessas folhas soltas fará um livro, apoderaram-se de mim duas sensações fortes. A primeira: orgulho por ter terminado, uma enorme alegria por ter conseguido e me ver livre do monstro. A segunda: um cansaço tão grande como a tese, do tamanho de todas as noitadas, todas as horas roubadas ao sono, todos os fins-de-semana e dias de férias dedicados a trabalhar, todas as vezes que vim para aqui em lugar de descansar, ler um livro ou ver um filme, ou simplesmente brincar com a minha filha.
Há ainda uma terceira sensação: vontade de apagar os vestígios da tese. Eu, que já me confessei desarrumadíssima, quero arrumar o meu escritório, limpar do computador as várias versões da dita que por aqui pululam. Era já assim quando estudava na Universidade: tudo desarrumado até ao exame, tudo em ordem nos dias seguintes, preparando o caminho para o que viesse depois.
Agora, não é para um exame que preparo o caminho. É para outros rumos, outros trabalhos, outra vida. Sabe bem!
domingo, março 27, 2005
Páscoa Feliz
Escreve-se com uma simples palavrinha de três letras: FIM.
Isso mesmo. Acabei.
Isso mesmo. Acabei.
Ainda não acredito, claro. Só daqui por uns dias, quando vir o "tijolo" com forma de livro. Até lá, arrumar a casa e a cabeça, e sobretudo dormir. Mereço, sem a menor dúvida.
sábado, março 26, 2005
Amêndoas da Páscoa
Recebi uma prenda do meu padrinho. Digam lá se não vale a pena ter um padrinho assim. E como ele é pessoa dada a pequenas frases, nada mais escrevo. Fica só o meu muito obrigada, e calo bem caladinho o que poderia escrever sobre empatias e amizades on-line.
sexta-feira, março 25, 2005
Pensamentos vários
1. Detesto fritar peixe.
2. Adoro ver a minha filha a delirar com o que faz parte do meu imaginário de infância. Dos livros dos Cinco aos "Pequenos Vagabundos", generosa oferta (muito obrigada!) que hoje não saiu do DVD.
3. Há encantos que regressam ao ver um filme, no caso uma série, que marcou a nossa infância. Outros não. Com os "Pequenos Vagabundos", há uma mescla dos dois sentimentos. Descubro que ainda reconheço as músicas. Que ainda me encanto com a cara do Cowboy e os olhos do Jean-Loup. Que a Marion é tão bonita como me lembrava dela. Mas é a Azul criança que se revê nas memórias tornadas vivas. A Azul crescida repara nas incongruências da história, na forma rápida como se passa de umas para outras situações, etc, etc. E a Miosótis derrete-se, como eu me derretia, diante dos tímidos diálogos entre a Marion e o Jean-Loup.
2. Adoro ver a minha filha a delirar com o que faz parte do meu imaginário de infância. Dos livros dos Cinco aos "Pequenos Vagabundos", generosa oferta (muito obrigada!) que hoje não saiu do DVD.
3. Há encantos que regressam ao ver um filme, no caso uma série, que marcou a nossa infância. Outros não. Com os "Pequenos Vagabundos", há uma mescla dos dois sentimentos. Descubro que ainda reconheço as músicas. Que ainda me encanto com a cara do Cowboy e os olhos do Jean-Loup. Que a Marion é tão bonita como me lembrava dela. Mas é a Azul criança que se revê nas memórias tornadas vivas. A Azul crescida repara nas incongruências da história, na forma rápida como se passa de umas para outras situações, etc, etc. E a Miosótis derrete-se, como eu me derretia, diante dos tímidos diálogos entre a Marion e o Jean-Loup.
O meu quintal
Hoje, respondendo ao convite muito simpático do Jorge Morais, a quem agradeço, há um texto meu no 6 em 1 & algo +. Apesar da falta de tempo com que tenho andado, não podia recusar um tal convite, pelo que procurei escrever algo que tivesse a ver com o espírito do blog do Jorge. Acabei por falar do meu quintal de criança. Se quiserem ler, é só passarem por lá.
quinta-feira, março 24, 2005
Idem aspas
Sem tempo para nada, nem para escrever alguma coisa de jeito. A tentar ouvir o meu próprio pensamento, que só vê folhas a sair de impressoras e eu a pô-las em ordem, ou ficheiros PDF (os tais) a desformatar-me tudo. Provavelmente a burrice era minha, claro - o computador apenas responde aos nossos comandos, não pensa por nós. A não ser que seja o corrector ortográfico, que volta e meia sugere cada calinada que até dá dó.
E volto aos PDFs, aos ficheiros, ao organizar de tudo para poder chegar ao FIM. Que bela palavra esta (neste caso ;-)))!
E volto aos PDFs, aos ficheiros, ao organizar de tudo para poder chegar ao FIM. Que bela palavra esta (neste caso ;-)))!
quarta-feira, março 23, 2005
terça-feira, março 22, 2005
Será cansaço, indício de ter pirado ou algo que merecia uma abordagem psicanalítica?
Estou a trabalhar na tese, farta, sem vontade, mas a ter de o fazer. Contrariada embora, alinho ideias, corrijo frases, procuro explicar o caminho percorrido nas longas páginas que a constituem. A certa altura, escrevo: "abordagem pormenorizada". Ou melhor, julguei que tinha escrito isso. Na verdade, quando releio, descubro que o que lá está é: "abordagem pornográfica". Acho que vou sair e arejar as ideias...
segunda-feira, março 21, 2005
Definição
Continuo a apropriar-me descaradamente das palavras dos outros. Mas, ao regressar a um blog onde há muito não ia, dei com uma das mais singelas e bonitas definições do amor que já li. Não resisto a passá-la para aqui, sem pedir licença, mas agradecendo ao autor.
Sobre um fim-de-semana especial
Com a maior desvergonha, pego nas palavras da Hipatia de que tanto gostei para o descrever:
Não vi papoilas, não.
Mas vi sorrisos. Sorrisos abertos em lábios rubros, vi alegrias bailadas em olhos claros. Vi da gente, com palavras e mais com gestos. Corpórea mensagem agora identificável.
Não vi papoilas, não.
Mas vi das mãos e vi dos corpos. Vi de como a presença ganha espaço, cria espaço, cria laço. Vi da labareda acesa e vi do calor. Vi das gargalhadas tintas de tinto.
Foi, sem dúvida, um fim-de-semana especial e muito bom. Com risos e sorrisos, com sons, com olhares. É bom quando a empatia permanece para além do écran do computador e os laços criados se fortalecem. E foi isso o que aconteceu.
Não vi papoilas, não.
Mas vi sorrisos. Sorrisos abertos em lábios rubros, vi alegrias bailadas em olhos claros. Vi da gente, com palavras e mais com gestos. Corpórea mensagem agora identificável.
Não vi papoilas, não.
Mas vi das mãos e vi dos corpos. Vi de como a presença ganha espaço, cria espaço, cria laço. Vi da labareda acesa e vi do calor. Vi das gargalhadas tintas de tinto.
Foi, sem dúvida, um fim-de-semana especial e muito bom. Com risos e sorrisos, com sons, com olhares. É bom quando a empatia permanece para além do écran do computador e os laços criados se fortalecem. E foi isso o que aconteceu.
domingo, março 20, 2005
Dia do Pai
Foi ontem o dia do pai. De novo, não o passei junto do meu. Já outro dia disse que não gosto de "dias de". O do pai, em especial, é um dia doloroso para mim. Por causa do estado de saúde do meu pai; mais ainda por causa do pai da minha filha.
Mas a verdade é que, gostemos ou não desses dias, é inevitável que neles se fale mais dos nossos pais. Há um ano, escrevi este post; diz quase tudo o que eu poderia dizer sobre o meu pai. Com quem, como então disse, sou muito parecida em vários aspectos, totalmente diferente noutros,mas me serve de modelo em muitos outros ainda. Obrigada, pai, por tudo. Sobretudo, por me teres dado a vida.
Mas a verdade é que, gostemos ou não desses dias, é inevitável que neles se fale mais dos nossos pais. Há um ano, escrevi este post; diz quase tudo o que eu poderia dizer sobre o meu pai. Com quem, como então disse, sou muito parecida em vários aspectos, totalmente diferente noutros,mas me serve de modelo em muitos outros ainda. Obrigada, pai, por tudo. Sobretudo, por me teres dado a vida.
sábado, março 19, 2005
E agora,
com licença, mas também mereço um fim-de-semana longe daqui. Longe de tudo. Bom fim-de-semana para todos!
sexta-feira, março 18, 2005
E quando
lhe apetece escrever, mas em lugar disso tem uma longa lista de bibliografia para verificar se está bem citada e ordenada, isso é... tese em fase de acabamento (mas os acabamentos são sempre aquilo que nos impede de viver nas casas quase, quase prontas, não são?).
Pequeno poema
Sê paciente; esperaEugénio de Andrade
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.
(Dedicado a quem, como eu, pena em torno de palavras que terminem teses; ao som de Bach.)
quinta-feira, março 17, 2005
Há um ano, neste mesmo lugar
Escrevi isto: "Sabe bem chegar ao fim de uma tarefa difícil e vê-la ficar para trás. O alívio compensa o sacrifício dos últimos dias."
Engraçado, hoje podia escrever precisamente o mesmo. Como a nossa vida é, afinal, parecida, ano após ano.
Engraçado, hoje podia escrever precisamente o mesmo. Como a nossa vida é, afinal, parecida, ano após ano.
quarta-feira, março 16, 2005
Coisas várias
No Afixe, outro dia, revelou-se um caso triste de assassínio, relacionado com violência doméstica e reacção tardia por parte das autoridades encarregadas de proteger a vítima, que estava a ser auxiliada pela APAV. No Charquinho, fala-se hoje das mulheres agredidas, que chegam de olhos negros ao trabalho, e apesar de tudo querem continuar com os maridos, a quem amam, ou julgam amar. A propósito deste último post, muito se comentou, referindo o que creio serem aspectos muito importantes: por um lado, a fraca auto-estima das vítimas que se mantêm à mercê de quem as maltrata; por outro, as patologias que tantas vezes não são valorizadas, nem tratadas, nos agressores; por último, de um outro tipo de agressão, a psicológica.
É desta que eu queria falar. É insidiosa, sobretudo se a vítima for uma pessoa frágil ou dada a complexos de culpa. É eficaz, porque paralisa a própria capacidade de lucidez da outra parte. Se alguém a quem amamos nos disser, por exemplo, todos os dias, que somos burros, acabamos por perguntar a nós próprios se não o seremos. Se esgrimir argumentos que não serão mais do que moinhos de vento em que o agressor vê gigantes, a certa altura damos connosco a colocar-nos em causa. Mesmo que saibamos da falta de razão dos argumentos, as feridas ficam, moem, deixam marcas.
Sobre os agressores, uma palavra também. Para falar dos que não reconhecem precisar de ajuda médica. Dos que se recusam a considerar-se doentes. Dos que não percebem que se o mundo inteiro diz "preto" e só eles dizem "branco", as probabilidades de estarem errados são muito elevadas. E que se lhes faz? Sobretudo, claro, quando a violência é psicológica e não física (esta é mais evidente e fácil de provar).
É desta que eu queria falar. É insidiosa, sobretudo se a vítima for uma pessoa frágil ou dada a complexos de culpa. É eficaz, porque paralisa a própria capacidade de lucidez da outra parte. Se alguém a quem amamos nos disser, por exemplo, todos os dias, que somos burros, acabamos por perguntar a nós próprios se não o seremos. Se esgrimir argumentos que não serão mais do que moinhos de vento em que o agressor vê gigantes, a certa altura damos connosco a colocar-nos em causa. Mesmo que saibamos da falta de razão dos argumentos, as feridas ficam, moem, deixam marcas.
Sobre os agressores, uma palavra também. Para falar dos que não reconhecem precisar de ajuda médica. Dos que se recusam a considerar-se doentes. Dos que não percebem que se o mundo inteiro diz "preto" e só eles dizem "branco", as probabilidades de estarem errados são muito elevadas. E que se lhes faz? Sobretudo, claro, quando a violência é psicológica e não física (esta é mais evidente e fácil de provar).
Primeira vez
Há sempre uma primeira vez para tudo. E pela primeira vez desde que este blog começou, abri o blogger e não faço ideia do que venho escrever. Olha, não escrevo, pronto. Marco apenas o ponto. Talvez logo surja a inspiração.
segunda-feira, março 14, 2005
Beijos
É o tema sobre o qual me apetecia escrever, influenciada decerto pelo post de hoje do Charquinho. Como não tenho tempo, fico-me pela intenção - intenção de beijo... soa bem!
Mas vou adiantando: sou uma beijoqueira sem remissão. Gosto dos beijos sonoros, "gordos", como lhes chamo, que se dão às crianças e elas a nós, ou se dão só aos amigos a sério, aos que nos são queridos. Beijos em que os lábios se apoiam verdadeiramente na face ou na testa de quem os recebe (completamente diferentes do encostar a cara e mandar beijinhos no ar como no cumprimento à moda portuguesa). É desses que dou às mãos-cheias à minha filha todos os dias, recebendo outros tantos em troca, que nunca cansam, nunca deixam de saber bem. E gosto dos outros, dos beijos apaixonados, daqueles que fazem o tempo parar, o mundo deixar de rodar, tudo se apagar à nossa volta e não haver mais do que o beijo e quem se beija.
Ai, isto está a ficar muito "melado". Vou é trabalhar. Beijos para quem me lê. Dos que primeiro descrevi, claro; os outros não se podem gastar à toa ;)
Mas vou adiantando: sou uma beijoqueira sem remissão. Gosto dos beijos sonoros, "gordos", como lhes chamo, que se dão às crianças e elas a nós, ou se dão só aos amigos a sério, aos que nos são queridos. Beijos em que os lábios se apoiam verdadeiramente na face ou na testa de quem os recebe (completamente diferentes do encostar a cara e mandar beijinhos no ar como no cumprimento à moda portuguesa). É desses que dou às mãos-cheias à minha filha todos os dias, recebendo outros tantos em troca, que nunca cansam, nunca deixam de saber bem. E gosto dos outros, dos beijos apaixonados, daqueles que fazem o tempo parar, o mundo deixar de rodar, tudo se apagar à nossa volta e não haver mais do que o beijo e quem se beija.
Ai, isto está a ficar muito "melado". Vou é trabalhar. Beijos para quem me lê. Dos que primeiro descrevi, claro; os outros não se podem gastar à toa ;)
domingo, março 13, 2005
Se eu pudesse...
Quantas vezes impediria que certas conversas tivessem lugar, porque cada palavra dói como uma punhalada dirigida ao coração. Que certas feridas doessem, mas têm mesmo de doer, porque só assim se curam - o álcool tem de arder para curar, como me diziam quando, pequena, me desinfectavam as feriditas que invariavelmente povoavam os meus joelhos e cotovelos. Que certos medos tivessem de ser enfrentados, não bastando um beijo para os fazer desaparecer, como os medos dos meninos à noite, entre as sombras dos seus quartos.
Se eu pudesse... mas não posso. Ninguém pode. Para ajudar, só posso oferecer a minha mão, os meus braços abertos.
Se eu pudesse... mas não posso. Ninguém pode. Para ajudar, só posso oferecer a minha mão, os meus braços abertos.
Ópera do Malandro
Era lá que devia estar, neste momento - mas o trabalho impede-me. Tinha bilhete comprado há meses - outra pessoa está no meu lugar. Gaita. Paciência, há prioridades, e prioritário é o que tenho entre mãos.
Já aqui deixei há longos meses uma das músicas de que mais gosto desta ópera do Chico Buarque. Repito-a agora, enquanto a ouço... num CD.
Já aqui deixei há longos meses uma das músicas de que mais gosto desta ópera do Chico Buarque. Repito-a agora, enquanto a ouço... num CD.
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele inteira fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz.
sábado, março 12, 2005
Para recordar
Este foi o dia em que a Miosótis fez sozinha, pela primeira vez, uma omolete, que a seguir comeu com redobrado apetite e muito orgulho. Já combinámos: quando a mãe vier cansada para casa, vai ser ela a fazer o jantar.
sexta-feira, março 11, 2005
11 de Março
Desde sempre, esta data era de alegria em minha casa. Nesse dia, há 49 anos, os meus pais casaram. Havia sempre flores, carinho, sorrisos no 11 de Março - acrescentados pela invariável dificuldade do meu pai em lembrar-se de datas, e serem as filhas quem, a partir de certa altura, não esqueceram as flores para a minha mãe.
No ano passado, esta data passou a significar para o mundo inteiro o horror do atentado terrorista em Madrid. Passem pelo Espelho Mágico e está lá o que há a dizer, carreguem no link e recordem quantos inocentes - gente como todos nós, com sonhos e amores, com filhos e carreiras, com vidas pela frente - morreram estupidamente, vítimas do ódio cego e fundamentalista.
Hoje, por entre o que comemoro no meu coração, não me esqueço do que sucedeu aqui bem ao nosso lado.
No ano passado, esta data passou a significar para o mundo inteiro o horror do atentado terrorista em Madrid. Passem pelo Espelho Mágico e está lá o que há a dizer, carreguem no link e recordem quantos inocentes - gente como todos nós, com sonhos e amores, com filhos e carreiras, com vidas pela frente - morreram estupidamente, vítimas do ódio cego e fundamentalista.
Hoje, por entre o que comemoro no meu coração, não me esqueço do que sucedeu aqui bem ao nosso lado.
quinta-feira, março 10, 2005
Outro dia
Daqueles. Somam-se uns aos outros. Ao menos que corram bem, já não é mau. E que eu não me deite às 6 da matina. Mas tenho tanto, tanto para fazer, que não se admirem se eu não der grande atenção a este canto. Não, não é nenhum "até já", como parece andar a ser moda por esta blogosfera fora (pois, recado certeiro para umas certas pessoas que resolveram ir comprar tabaco e ainda não regressaram). É mais um "já venho, logo que consiga respirar". E tenho tentado poupar-vos aos meus desabafos laborais. Mas no dia em que aquela-coisa-que-todos-sabemos e é prima da hidra das 7 cabeças (ou seriam 12?) estiver absolutamente pronta, e de preferência entregue, para eu não a ver na frente durante uns meses, vai-se dar por ela. Vai, vai!
quarta-feira, março 09, 2005
Dá-me música
Ufff... Mais um dia daqueles. Relaxando ao som de Jorge Palma - ao tempo que não o ouvia! Aqui fica uma das letras de uma das (muitas) canções dele de que tanto gosto: O meu amor existe.
O meu amor tem lábios de silêncio
E mãos de bailarina
E voa como o vento
E abraça-me onde a solidão termina
O meu amor tem trinta mil cavalos
A galopar no peito
E um sorriso só dela
Que nasce quando a seu lado eu me deitoO meu amor ensinou-me a chegar
Sedento de ternura
Sarou as minhas feridas
E pôs-me a salvo para além da loucura.O meu amor ensinou-me a partir
Nalguma noite triste
Mas antes, ensinou-me
A não esquecer que o meu amor existe.
terça-feira, março 08, 2005
Dia da Mulher
Devo dizer que embirro com os "dias de". Todos, mesmo o da mãe e o do pai e o da criança e o da mulher.
No entanto, alguns deles não deixam de me tocar fortemente. O Dia da Mulher diz-me, de facto, alguma coisa. Fala da coragem das mulheres trabalhadoras que ousaram lutar pelos seus direitos e pela igualdade face aos homens. E enquanto houver mulheres que não recebem o mesmo por trabalhos idênticos, que são discriminadas ou maltratadas por causa do seu sexo, sem direitos cívicos iguais aos dos homens, vale a pena haver este dia. Enquanto houver mulheres condenadas à lapidação por terem tido filhos fora do casamento (mais um exemplo) vale a pena haver este dia.
Li outro dia uma notícia sobre uma manifestação das mulheres num dos países árabes (não me lembro qual) pedindo o direito ao voto e à participação na vida política. É para mim inconcebível que eu não tivesse esses direitos à partida. Como, também, o de casar livremente com quem eu quisesse. Mas para muitas, muitíssimas mulheres, esses direitos não existem.
Por isso, vale a pena pensar no significado deste dia (e não aproveitá-lo para paternalismos ou condescendenciazinhas idiotas sobre a doçura feminina, ou coisa parecida). Vale a pena ler o texto da Emiéle sobre o assunto - link acrescentado agora, porque não dispunha de links automáticos no Mac que estava a usar).
Também vale a pena, já agora, passar ali pelo 6em1 & algo mais (agora já tem link também) e dar os parabéns a um pai, que fala da sua filha com um carinho tão grande que enche o coração de quem o lê. Muitas felicidades para a tua pequenina, Jorge!
(post actualizado e nalgumas coisitas corrigido ao chegar ao meu computador habitual)
No entanto, alguns deles não deixam de me tocar fortemente. O Dia da Mulher diz-me, de facto, alguma coisa. Fala da coragem das mulheres trabalhadoras que ousaram lutar pelos seus direitos e pela igualdade face aos homens. E enquanto houver mulheres que não recebem o mesmo por trabalhos idênticos, que são discriminadas ou maltratadas por causa do seu sexo, sem direitos cívicos iguais aos dos homens, vale a pena haver este dia. Enquanto houver mulheres condenadas à lapidação por terem tido filhos fora do casamento (mais um exemplo) vale a pena haver este dia.
Li outro dia uma notícia sobre uma manifestação das mulheres num dos países árabes (não me lembro qual) pedindo o direito ao voto e à participação na vida política. É para mim inconcebível que eu não tivesse esses direitos à partida. Como, também, o de casar livremente com quem eu quisesse. Mas para muitas, muitíssimas mulheres, esses direitos não existem.
Por isso, vale a pena pensar no significado deste dia (e não aproveitá-lo para paternalismos ou condescendenciazinhas idiotas sobre a doçura feminina, ou coisa parecida). Vale a pena ler o texto da Emiéle sobre o assunto - link acrescentado agora, porque não dispunha de links automáticos no Mac que estava a usar).
Também vale a pena, já agora, passar ali pelo 6em1 & algo mais (agora já tem link também) e dar os parabéns a um pai, que fala da sua filha com um carinho tão grande que enche o coração de quem o lê. Muitas felicidades para a tua pequenina, Jorge!
(post actualizado e nalgumas coisitas corrigido ao chegar ao meu computador habitual)
segunda-feira, março 07, 2005
E a água das fontes gelou
Em Roma. Na Fonte das Tartarugas da Piazza Mattei, uma das mais bonitas de Roma. Mais uma foto do Corriere della Sera (link na foto da árvore, s.f.f.).
(E não se preocupem, acabaram as fotos italianas. Para já.)
(Post corrigido graças a um ragazzo quase italiano)
(Post corrigido graças a um ragazzo quase italiano)
Ao serão
Sabe tão bem, no final de um dia de loucos, ter a consciência de ter cumprido mais um objectivo e ficar assim, gozando a paz instalada, ouvindo música suave para piano acabadinha de chegar via mail, como se fosse uma dádiva caída do céu porque era mesmo disto que eu precisava agora...
E não estar, por um serão ao menos, a trabalhar sob pressão, mas antes assim tranquila. E depois tomar um belo banho e enfiar-me entre lençóis quentinhos... Boa noite!
E não estar, por um serão ao menos, a trabalhar sob pressão, mas antes assim tranquila. E depois tomar um belo banho e enfiar-me entre lençóis quentinhos... Boa noite!
domingo, março 06, 2005
Poema fora do habitual neste espaço O
Mas apetece-me. Gosto dos poemas de Drummond de Andrade, os eróticos especialmente (a bolinha é para alguém que há-de vir a ler isto, mas quando for mais crescidinha).
"Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,C. Drummond de Andrade
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo - é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fontes?"
sábado, março 05, 2005
Alguém me explica
o que é isto? Tipo jogo de acções com blogs? Como tiro o meu disso, que é meu e mais nada?
A neve e as violetas
Tirada do mesmo sítio da anterior (estou com preguiça e falta de paciência para ir buscar links).
sexta-feira, março 04, 2005
quinta-feira, março 03, 2005
Onde se fala de coisas complicadas
Ontem, dei ao veterinário a ordem de dar uma injecção letal ao meu cão e assim acabar com o seu sofrimento, que iria apenas arrastar-se até à morte natural. Fi-lo para que ele não sofresse.
Hoje, visitei de fugida o meu pai, inválido há cinco anos, cujo estado de saúde é uma das feridas que trago comigo todos os dias, e que nem sequer consigo sempre enfrentar, por ser tão forte a dor quando o comparo com o homem que ele era e o vejo agora, débil, totalmente dependente dos outros. Sinto-o tão mais dolorosamente quanto, durante mais de uma década, assisti à lenta e inexorável deterioração da minha mãe, vítima de uma das mais penosas formas de doença de Parkinson. Nada envelhece, endurece e ensina mais uma pessoa do que ver invertida a ordem natural das coisas, e passarmos nós a ser quem cuida, lava, muda fraldas a quem um dia fez isso por nós. Só que nós estávamos a crescer, eles a morrer, aos bocadinhos. A inversão dos papéis é, repito, das mais complicadas e dolorosas experiências que a vida nos dá. Daquelas que deixa sombras nos olhos mais transparentes.
Hoje em dia, cada vez mais se atira a morte, a velhice, o que é feio de ver (e tememos um dia ter de passar) para o canto das coisas para onde não se deve olhar. Basta ver como alguém escreveu outro dia, num certo blog que toda a gente sabe qual é, e que não linko porque não estou a lançar lenha na fogueira, mas a reflectir sobre a questão que ele, decerto sem sequer dar por ela , colocou, ao achar indigno que o papa mostre a sua decrepitude em público.
Não vou aqui falar da máquina burocrática em torno do papado, nem de se João Paulo II deveria ou não abdicar, ou se a doença dele está a ser instrumentalizada por uns ou por outros (isso poderá ficar para outro dia em que me apeteça escrever sobre temas sérios). Falo, apenas, dessa ideia da indignidade de mostrar a doença em público, de exibir perante os outros a decrepitude, a velhice, a invalidez. Ideia válida para o papa como para qualquer outra pessoa. Válida, por exemplo, para a minha mãe e para o meu pai (eu funciono um bocadinho à maneira da Miss Marple, através do que vejo e sinto no meu mundinho e no meu coração).
Afirmações como essa lembram por demais ghettos, lares que são depósitos de velhos doentes, que assim não dão trabalho, não têm visibilidade, não nos incomodam e não lembram que esse pode ser o destino de qualquer de nós. A própria morte foi remetida para o mundo asséptico dos hospitais, e transformou-se num tabu, apesar de ser tão natural como a vida. Glorifica-se a juventude, a beleza, a sensualidade, as formas perfeitas de corpos sem mácula.
Ao mesmo tempo, fala-se cada vez mais da eutanásia. E eu tenho medo do que abrir essa porta, por compaixão para quem sofre, possa acarretar consigo - a tentação de eliminar, precisamente, o que não cabe nesse mundo que descrevi, em que tudo se pretende perfeito; de eliminar o que parece não servir para nada e apenas dar trabalho.
Ontem, autorizei que adormecessem para sempre o Pluto. Fiz bem, sei-o
Nem hoje, nem nunca autorizaria a eutanásia na minha mãe ou no meu pai. Em nenhum ser humano.
No entanto... Não sendo, repito, de modo algum, a favor da eutanásia, também não sou a favor de lutar com todos os meios contra o inevitável. Acho que deve haver limites para a intervenção médica. Quando a minha avó teve uma insuficiência renal grave nos seus 91 anos, sendo muito ténue a esperança de que a situação se pudesse reverter, os meus pais moveram céus e terra para que ela pudesse receber em casa os mesmos cuidados que receberia num hospital, e ela morreu ao lado de quem amava, rodeada de carinho.
Exemplo contrário é a de uma tia-avó, velhinha, gravemente doente, que só pedia para não a voltarem a levar para o hospital (para onde estava a ir de urgência todas as semanas, tendo alta quando melhorava, voltando quando piorava). A família não a ouviu, e ela morreu durante a noite, entre estranhos, no meio de mais injecções e exames que a nada levavam, nem podiam levar, porque a sentença estava dada. A maior dor dos familiares mais próximos foi não terem acedido ao seu pedido e, desse modo, permitido que ela morresse na sua companhia.
Há um blog que acho que nunca citei, mas gosto muito de ler (irá para a coluna do lado no dia em que tiver tempo e pachorra para a actualizar - já não há-de faltar muito). Chama-se Desabafos de um médico, é escrito por um médico em início de carreira a quem desejo, mais do que tudo, que nunca perca a sensibilidade de que dá mostras no que escreve. Outro dia, ele copiou para o blog um artigo de jornal que me fez pensar, e com o qual concordo. Este, sobre um parecer aprovado pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, que admite a suspensão dos tratamentos de suporte básico de vida a doentes em estado vegetativo persistente.
Isto, note-se (e é frisado no texto), não é eutanásia. Acho que se lhe deve chamar, antes, humanidade. Realismo. Sentido das proporções.
Todas as vezes que preparo os comprimidos do meu pai para a semana e coloco no devido lugar o medicamento que lhe mantém o coração forte, penso se não há nisso uma enorme contradição, ditada por todos os avanços da medicina. Mantém-se forte o coração de um corpo débil de 81 anos. Prolonga-se através da medicação um estado doloroso. No entanto, todas as semanas o medicamento é dado. E apesar da dor que me causa ver o meu pai assim, e de, como disse acima, nem sequer ser capaz de estar com ele todos os dias, poder dar-lhe um beijo e receber outro de volta, senti-lo agarrar a minha mão com força, vê-lo rir-se com as coisas que lhe conto da minha filha, ver o seu ar feliz com os netos ao redor, compensa. Um dia, vou sentir muita falta destes pequenos gestos em que tudo que é preciso é dito, e da sua presença, mesmo neste estado.
Hoje, visitei de fugida o meu pai, inválido há cinco anos, cujo estado de saúde é uma das feridas que trago comigo todos os dias, e que nem sequer consigo sempre enfrentar, por ser tão forte a dor quando o comparo com o homem que ele era e o vejo agora, débil, totalmente dependente dos outros. Sinto-o tão mais dolorosamente quanto, durante mais de uma década, assisti à lenta e inexorável deterioração da minha mãe, vítima de uma das mais penosas formas de doença de Parkinson. Nada envelhece, endurece e ensina mais uma pessoa do que ver invertida a ordem natural das coisas, e passarmos nós a ser quem cuida, lava, muda fraldas a quem um dia fez isso por nós. Só que nós estávamos a crescer, eles a morrer, aos bocadinhos. A inversão dos papéis é, repito, das mais complicadas e dolorosas experiências que a vida nos dá. Daquelas que deixa sombras nos olhos mais transparentes.
Hoje em dia, cada vez mais se atira a morte, a velhice, o que é feio de ver (e tememos um dia ter de passar) para o canto das coisas para onde não se deve olhar. Basta ver como alguém escreveu outro dia, num certo blog que toda a gente sabe qual é, e que não linko porque não estou a lançar lenha na fogueira, mas a reflectir sobre a questão que ele, decerto sem sequer dar por ela , colocou, ao achar indigno que o papa mostre a sua decrepitude em público.
Não vou aqui falar da máquina burocrática em torno do papado, nem de se João Paulo II deveria ou não abdicar, ou se a doença dele está a ser instrumentalizada por uns ou por outros (isso poderá ficar para outro dia em que me apeteça escrever sobre temas sérios). Falo, apenas, dessa ideia da indignidade de mostrar a doença em público, de exibir perante os outros a decrepitude, a velhice, a invalidez. Ideia válida para o papa como para qualquer outra pessoa. Válida, por exemplo, para a minha mãe e para o meu pai (eu funciono um bocadinho à maneira da Miss Marple, através do que vejo e sinto no meu mundinho e no meu coração).
Afirmações como essa lembram por demais ghettos, lares que são depósitos de velhos doentes, que assim não dão trabalho, não têm visibilidade, não nos incomodam e não lembram que esse pode ser o destino de qualquer de nós. A própria morte foi remetida para o mundo asséptico dos hospitais, e transformou-se num tabu, apesar de ser tão natural como a vida. Glorifica-se a juventude, a beleza, a sensualidade, as formas perfeitas de corpos sem mácula.
Ao mesmo tempo, fala-se cada vez mais da eutanásia. E eu tenho medo do que abrir essa porta, por compaixão para quem sofre, possa acarretar consigo - a tentação de eliminar, precisamente, o que não cabe nesse mundo que descrevi, em que tudo se pretende perfeito; de eliminar o que parece não servir para nada e apenas dar trabalho.
Ontem, autorizei que adormecessem para sempre o Pluto. Fiz bem, sei-o
Nem hoje, nem nunca autorizaria a eutanásia na minha mãe ou no meu pai. Em nenhum ser humano.
No entanto... Não sendo, repito, de modo algum, a favor da eutanásia, também não sou a favor de lutar com todos os meios contra o inevitável. Acho que deve haver limites para a intervenção médica. Quando a minha avó teve uma insuficiência renal grave nos seus 91 anos, sendo muito ténue a esperança de que a situação se pudesse reverter, os meus pais moveram céus e terra para que ela pudesse receber em casa os mesmos cuidados que receberia num hospital, e ela morreu ao lado de quem amava, rodeada de carinho.
Exemplo contrário é a de uma tia-avó, velhinha, gravemente doente, que só pedia para não a voltarem a levar para o hospital (para onde estava a ir de urgência todas as semanas, tendo alta quando melhorava, voltando quando piorava). A família não a ouviu, e ela morreu durante a noite, entre estranhos, no meio de mais injecções e exames que a nada levavam, nem podiam levar, porque a sentença estava dada. A maior dor dos familiares mais próximos foi não terem acedido ao seu pedido e, desse modo, permitido que ela morresse na sua companhia.
Há um blog que acho que nunca citei, mas gosto muito de ler (irá para a coluna do lado no dia em que tiver tempo e pachorra para a actualizar - já não há-de faltar muito). Chama-se Desabafos de um médico, é escrito por um médico em início de carreira a quem desejo, mais do que tudo, que nunca perca a sensibilidade de que dá mostras no que escreve. Outro dia, ele copiou para o blog um artigo de jornal que me fez pensar, e com o qual concordo. Este, sobre um parecer aprovado pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, que admite a suspensão dos tratamentos de suporte básico de vida a doentes em estado vegetativo persistente.
Isto, note-se (e é frisado no texto), não é eutanásia. Acho que se lhe deve chamar, antes, humanidade. Realismo. Sentido das proporções.
Todas as vezes que preparo os comprimidos do meu pai para a semana e coloco no devido lugar o medicamento que lhe mantém o coração forte, penso se não há nisso uma enorme contradição, ditada por todos os avanços da medicina. Mantém-se forte o coração de um corpo débil de 81 anos. Prolonga-se através da medicação um estado doloroso. No entanto, todas as semanas o medicamento é dado. E apesar da dor que me causa ver o meu pai assim, e de, como disse acima, nem sequer ser capaz de estar com ele todos os dias, poder dar-lhe um beijo e receber outro de volta, senti-lo agarrar a minha mão com força, vê-lo rir-se com as coisas que lhe conto da minha filha, ver o seu ar feliz com os netos ao redor, compensa. Um dia, vou sentir muita falta destes pequenos gestos em que tudo que é preciso é dito, e da sua presença, mesmo neste estado.
Ia escrever
um longo post complicado. Sobre temas complicados. Tão complicados que ficam para depois. O mote já foi dado no post anterior, tem a ver com a velhice, a doença, a humanidade e a eutanásia. Demasiado complicado para poder ser escrito sem o deixar amadurecer. E estando eu tão cansada como estou...
Silêncio
Finalmente. E uma cabeça quase vazia depois de um dia demasiado cheio. De emoções, de trabalho, de coração carregado de simpatia demonstrada.
E de vontade de escrever sobre temas que têm provocado acesa discussão na blogosfera, como um certo post barnabeico sobre o papa e a sua doença. E o que ali se escreveu que indicia como a velhice e a doença podem ser olhados com desdém. Como se não pudesse acontecer a qualquer de nós ou das pessoas que mais amamos. Como se o mundo fosse só dos jovens, belos e fortes. Como se o humor não tivesse como limites o bom gosto e o respeito pelo sofrimento alheio.
Mas tudo isto são temas demasiado complicados para esta hora e o estado desta cabeça cansada. Boa noite!
E de vontade de escrever sobre temas que têm provocado acesa discussão na blogosfera, como um certo post barnabeico sobre o papa e a sua doença. E o que ali se escreveu que indicia como a velhice e a doença podem ser olhados com desdém. Como se não pudesse acontecer a qualquer de nós ou das pessoas que mais amamos. Como se o mundo fosse só dos jovens, belos e fortes. Como se o humor não tivesse como limites o bom gosto e o respeito pelo sofrimento alheio.
Mas tudo isto são temas demasiado complicados para esta hora e o estado desta cabeça cansada. Boa noite!
quarta-feira, março 02, 2005
...
"Era uma vez um cão. Um cão abandonado, fraquinho, faminto. Foi achado na rua pela Fada dos Cães, que o levou para um sítio quentinho onde havia muitos cães como ele, cães sem dono. Um dia esse cão sem sorte teve o momento mais sortudo da sua vida, quando uma doce Mãe decidiu oferecê-lo como prenda de anos à sua querida filha. Com elas brincou, aprendeu, delas recebeu carinhos e beijos, como nunca tinha tido. Era a melhor família que o cão podia ter encontrado para passar o resto da sua vida.
Um dia o cão ficou doente, mas sempre feliz. Feliz porque apesar de curta, a sua vida tinha sido cheia, graças àquela família. E lá para onde foi, nunca mais se esqueceu desses dias quentes do carinho que recebeu."
Este texto, que tanto me comoveu, foi escrito pela Noite, como comentário aqui deixado que muito agradeço. É a ideia que quero guardar do Pluto, que de facto já partiu. Apesar do desenlace, tê-lo connosco foi, repito, um grande prazer, uma lição enorme para a Miosótis e para mim.
Só para dizer
que, se pudesse, juntava todos vocês que me lêem, escrevem, aqui ou por mail, ou telefonam até, e vos dava, em troca de toda a vossa simpatia e da força que me (nos) passam, um abraço tão grande como essa força e simpatia. Se alguma vez eu tivesse pensado que ter este blog, e nele permitir comentários, era uma estupidez, teria ficado sem qualquer dúvida de que é, pelo contrário, muito bom e gratificante. E por isso, para cada um de vocês, vai um abraço apertado, verdadeiramente sentido.
terça-feira, março 01, 2005
O que me apetece dizer e escrever
Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda
Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda
Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda
Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda
Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda
Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda
Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda
(com as minhas desculpas por fugir à linha editorial bem-educadinha habitua; garanto que está em versão soft; como outro dia disse, num comentário, o meu blog é o meu "saco de boxe", apanha com tudo o que me apetecer atirar-lhe; hoje é mesmo merda)
...
Daqui por alguns minutos, vou por certo ter de tomar uma decisão complicada. Uma decisão sobre uma vida. Se mato uma barata sem contemplações, despejo insecticida sobre formigas, esmago com um prazer vingativo melgas e mosquitos, não sou capaz de mandar adormecer o Pluto para sempre sem que me custe imenso.
Um cão é muito mais do que um bicho. Neste mês e meio em que esteve connosco, o Pluto não só virou a casa do avesso e nos obrigou a novos hábitos de arrumação, como nos deu toda a confiança do seu coraçãozito de cachorro. Deu pinotes de alegria, distribuiu lambidelas e abanou a cauda que nem um doido a cada vez que nos via. Só um cão, acho eu, dá tanto sem pedir nada em troca.
A noite passada, ele piorou muito. Tem dores. Está fraquíssimo, pois mal se alimenta, a não ser via soro. Não o quero a sofrer. Passei várias horas esta madrugada a ouvi-lo gemer, pu-lo no meu colo enquanto trabalhava, a enchê-lo de festinhas, a tentar minorar sem sucesso as suas dores. E ele sempre a aceitar-me, a confiar em mim, como sempre.
Daqui a pouco, ao falar com o veterinário, vou-lhe repetir o que já antes lhe dissera: no momento em que se perder a esperança de que ele supere a doença, não o quero mais a sofrer. Até agora, houve sempre razão para ainda acreditar. Hoje, parece ter deixado de haver.
E vou ser eu, a dona em quem ele confia, quem vai dar a autorização para o matar. Nunca pensei que custasse tanto.
.................
Está dada a autorização. Se até amanhã não houver qualquer alteração no estado de saúde, o Pluto vai adormecer para sempre.
Um cão é muito mais do que um bicho. Neste mês e meio em que esteve connosco, o Pluto não só virou a casa do avesso e nos obrigou a novos hábitos de arrumação, como nos deu toda a confiança do seu coraçãozito de cachorro. Deu pinotes de alegria, distribuiu lambidelas e abanou a cauda que nem um doido a cada vez que nos via. Só um cão, acho eu, dá tanto sem pedir nada em troca.
A noite passada, ele piorou muito. Tem dores. Está fraquíssimo, pois mal se alimenta, a não ser via soro. Não o quero a sofrer. Passei várias horas esta madrugada a ouvi-lo gemer, pu-lo no meu colo enquanto trabalhava, a enchê-lo de festinhas, a tentar minorar sem sucesso as suas dores. E ele sempre a aceitar-me, a confiar em mim, como sempre.
Daqui a pouco, ao falar com o veterinário, vou-lhe repetir o que já antes lhe dissera: no momento em que se perder a esperança de que ele supere a doença, não o quero mais a sofrer. Até agora, houve sempre razão para ainda acreditar. Hoje, parece ter deixado de haver.
E vou ser eu, a dona em quem ele confia, quem vai dar a autorização para o matar. Nunca pensei que custasse tanto.
.................
Está dada a autorização. Se até amanhã não houver qualquer alteração no estado de saúde, o Pluto vai adormecer para sempre.
Um regresso especial
Voltou o meu blog entre todos favorito. Pela qualidade, pela originalidade, pela genialidade, pelo espírito de convívio e amizade que sempre promoveu. Pelas raves em torno de jacarandás e os coelhos suicidas. Acima de tudo, pelo seu autor. Falo, obviamente, d'As Ruínas Circulares. Bem regressado sejas, João Pedro!
Más notícias
O Pluto está pior...
(A qualidade da foto é mazinha, culpa da máquina; ninguém me quer mesmo oferecer uma máquina digital como prenda de fim de tese?)