Um pouco mais de azul

terça-feira, março 01, 2005

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Daqui por alguns minutos, vou por certo ter de tomar uma decisão complicada. Uma decisão sobre uma vida. Se mato uma barata sem contemplações, despejo insecticida sobre formigas, esmago com um prazer vingativo melgas e mosquitos, não sou capaz de mandar adormecer o Pluto para sempre sem que me custe imenso.
Um cão é muito mais do que um bicho. Neste mês e meio em que esteve connosco, o Pluto não só virou a casa do avesso e nos obrigou a novos hábitos de arrumação, como nos deu toda a confiança do seu coraçãozito de cachorro. Deu pinotes de alegria, distribuiu lambidelas e abanou a cauda que nem um doido a cada vez que nos via. Só um cão, acho eu, dá tanto sem pedir nada em troca.
A noite passada, ele piorou muito. Tem dores. Está fraquíssimo, pois mal se alimenta, a não ser via soro. Não o quero a sofrer. Passei várias horas esta madrugada a ouvi-lo gemer, pu-lo no meu colo enquanto trabalhava, a enchê-lo de festinhas, a tentar minorar sem sucesso as suas dores. E ele sempre a aceitar-me, a confiar em mim, como sempre.
Daqui a pouco, ao falar com o veterinário, vou-lhe repetir o que já antes lhe dissera: no momento em que se perder a esperança de que ele supere a doença, não o quero mais a sofrer. Até agora, houve sempre razão para ainda acreditar. Hoje, parece ter deixado de haver.
E vou ser eu, a dona em quem ele confia, quem vai dar a autorização para o matar. Nunca pensei que custasse tanto.
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Está dada a autorização. Se até amanhã não houver qualquer alteração no estado de saúde, o Pluto vai adormecer para sempre.


 
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