Um pouco mais de azul

quinta-feira, abril 28, 2005

Hoje

A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebem-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida:
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida:
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida:
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida:
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida:
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida:
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.
Sérgio Godinho

Gosto tanto desta canção. E hoje ela é tão, mas tão verdadeira...
Não, não reabri o blog. Não, não encerrei o blog. Ele está cá. Reservo-me, como sua proprietária, o direito de cá vir quando me apetecer, como agora, arejar a casa. Vocês, que me lêem, que continuam a vir cá, que me tocaram tão fundo com as palavras que me deixaram nos comentários ao post abaixo, merecem que vos visite e deixe umas palavras de vez em quando, já que - sabe-se lá porquê! - o que escrevo vos diz mesmo alguma coisa. Mantém-se a vontade de me desligar bastante do computador, de encerrar um ciclo da minha vida. É um propósito a cumprir, que já começou a ser cumprido.
Contudo, um pedacinho da minha vida é, também, o Um pouco mais de azul. Tornou-se parte de mim. Um vício? Em parte - mas quem não tem vícios? Eu não fumo, não bebo, nem sequer tomo café (de outros vícios não falo, claro). Acho que vir aqui de vez em quando não me fará mal. Não me provoca taquicardia, pelo menos, como o café. Ainda por cima, rende-me as vossas palavras, os vossos mimos, a vossa amizade. Por isso, de vez em quando, se me apetecer (esse foi sempre o lema deste blog), aparecerei por cá. De preferência, com palavras bem azuis. Das brincadeiras em torno do azul é que eu nunca me livrarei :-))))))

quinta-feira, abril 21, 2005

Pensando e repensando

Há um ano e dois meses existe este blog. Surgiu porque me apeteceu, como saco de boxe para onde eu atirava com tudo o que me dava na real gana. Coisas sérias e brincadeiras, pequenos apontamentos do dia-a-dia, momentos para mais tarde recordar relativos à minha filha, desabafos em barda na fase final de uma tese que parecia interminável, estados de espírito relativos a variados assuntos que me tocavam especialmente.
Aqui, chorei, ri, brinquei, aliviei a tensão de um trabalho intenso e de uma vida que não andava fácil. Mostrei-me. Mostrei-me demasiado, até. Mostrei o interior de mim mesma, de alguma forma desnudei a alma. Hoje, já o afirmei noutras ocasiões, não seria capaz de escrever muito do que em tempos aqui escrevi. Não sou capaz de usar este blog como saco de boxe, como local onde despejo o que me vai na alma tal como fazia. Não quero poder ser lida, poder ser espreitada cá para dentro. Hoje quero uma cortina sobre mim, o que sinto, o que penso. Antes eu não me importava de partilhar tudo isso aqui, em parte porque não me lembrava sequer que era lida, em parte porque precisava de o fazer. Mas agora não preciso, ou mesmo que precise não quero, porque não quero falar aqui do que faria sentido, para mim, falar. Nem por palavras que ninguém entenda, nem por nenhum outro meio. Nem quero sequer falar das razões - estritamente pessoais, e que nada têm a ver com algo que se tivesse passado na blogosfera - que me levam a deixar, pelo menos por uns tempos, de escrever.
Preciso de uma desintoxicação bloguística, de me afastar deste meio. Isto não é um ataque do síndroma do "até já", muito menos um "até já" que dure dois ou três dias. Até pode durar apenas até amanhã, se me der na veneta virar tudo ao contrário e fazer um blog diferente do que tem sido - mas esse não seria o Um pouco mais de azul, e eu só sei escrever aqui e da forma que tenho feito. Vai ser um período de reflexão virada sobre mim mesma, fora da internet, que não sei quanto durará nem se terminará.
Aliás, desde que a tese terminou passo muito menos horas sentada diante do computador. Quero passar ainda menos, quero viver longe de écrans de computadores - diante dos de cinema já é outra coisa, e com 10 salas novinhas em folha a estrear na cidade espero tirar a barriga de misérias.
Por ora, limito-me a deixar este espaço sine die (reservando-me o direito de aparecer quando me apetecer de novo). O que não significa - de modo algum! - deixar os laços criados. Por mail, por telefone, estou aqui, e quero preservar as amizades que criei, faço questão disso, mesmo que não apareça a comentar blogs (aliás, tenho comentado muito menos, já devem ter reparado). Podem crer: algumas dessas amizades, ainda que só "virtuais" (outras já passadas a reais), são mesmo preciosas para mim. É o que me custa neste abandono. Mas sinto necessidade dele.
Se me quiserem afagar o ego, podem encher a caixa de comentários de motivos para que eu não deixe este cantinho (sim, em parte isto é um pedido). Talvez sirvam para eu reconsiderar e voltar, talvez me façam perceber que isto ainda faz sentido, num momento em que não vejo sentido nenhum em continuar. Não sei, nada prometo. Sei apenas que preciso de procurar o meu azul longe daqui.

quarta-feira, abril 20, 2005

Novo papa

Sem tempo para blogar, um apontamentozito apenas: escolheram precisamente quem eu não queria. O chefe da Doutrina para a Congregação e a Fé, aquele organismo da Igreja que aqui há tempos lançou umas normas sobre a participação das mulheres na missa como acólitas ou leitoras, sobre cânticos, etc, etc, que deixou todo o mundo (incluindo muitos padres) atónitos com o reaccionarismo desse documento.
Bento XVI. Que Deus o abençoe e inspire...

terça-feira, abril 19, 2005

Fantasmas

À medida que a vida avança, verifico que vivemos rodeados de fantasmas. Muitos. Os do passado. Os do futuro. Os que causam ansiedade aqui e agora e nos deixam expectantes, tensos...
Aparecem sem darmos por eles. Ao voltarmos a certos lugares. Ao pegarmos em certas roupas. Ao ouvirmos certas palavras ou músicas. Ao sentirmos certos cheiros. Ao (re)vivermos certas situações.
Alguns fantasmas são doces e meigos. Como que vêm do fundo da nossa memória encher-nos o peito de cheiros e vozes que já não se sentem nem ouvem, fazendo-nos bem ao coração.
Outros, porém, são negros. Têm cheiros, também - cheiros a doenças, a hospital, cheiros que nos fazem querer fugir, fugir para bem longe, para onde eles não cheguem nem tragam recordações dolorosas.
Também há fantasmas de passados felizes nos quais custa pensar. Há lugares onde não se devia voltar, porque neles se foi feliz. Deviam ficar selados como eram então, não se modificando nunca na nossa memória a aura especial que para nós têm.
Há ainda fantasmas que não correspondem a nada de material, mas a medos, a dores, a cicatrizes, que, tal como o reumatismo em tempo húmido, se fazem sentir de repente, mostrando-nos que estão lá, que as marcas permanecem. Condicionando a nossa forma de sentir, de agir. Tolhendo-nos, quantas vezes, os movimentos. Deixando-nos expectantes, ansiosos. Com frio por dentro. Frágeis, vulneráveis.
Hoje foi dia de fantasmas. Queria esconjurá-los junto ao mar. Respirando a maresia. Deixando o vento despentear-me o cabelo. Deixando os teus dedos prender-me o cabelo. Aconchegando-me a ti. E no calor de ambos, dissolver todos os fantasmas negros ou dolorosos, teus e meus. Ficando só nós. Nós e o som e o cheiro das ondas do mar a quebrar-se aos nossos pés.

segunda-feira, abril 18, 2005

Haja o que houver

Hoje foi esta a música que resolveu instalar-se na minha cabeça. Repete-se constantemente, colada ao meu pensamento. Aqui a deixo.
Haja o que houver,
eu estou aqui.
Haja o que houver,
espero por ti
Volta no vento,
Ó meu amor,
volta depressa,
por favor.
Há quanto tempo
já esqueci
Porque fiquei
Longe de ti.
Cada momento
é pior,
Volta no vento,
Por favor.
Eu sei, eu sei,
Quem és para mim.
Haja o que houver,
espero por ti.
Madredeus

Um inquérito sobre livros

Anda por aí a circular entre os blogs um inquérito sobre livros. Confesso que embirro com inquéritos, assim como com testes do tipo "que canção/personagem/raio te parta/ és tu?". Mas, tendo em conta que quem me passou a bola foi o meu caríssimo Padrinho blogosférico - mais conhecido por Cap -, aqui vai uma tentativa de resposta.

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Não faço ideia do que é o Fahrenheit 451... Ou melhor, já me disseram que era um livro de ficção científica, mas ignoro totalmente o seu conteúdo. Quanto a ser livro, que raio de ideia é essa? Eu cá não gostava de ser livro. A sê-lo, seria um livro em branco - a escrever por alguém muito especial...

Já alguma vez ficaste apanhadinho por um personagem de ficção?
Apanhadinha, apanhadinha, não. Mas há personagens que se nos entranham na pele. Uma delas é a Clarisse, a protagonista de grande parte da obra de Erico Veríssimo. Para não falar dos tempos já longínquos em que sonhava com as personagens dos livros da Enid Blyton, ou suspirava com as proezas dos heróis de tantos livros de aventuras.

Qual foi o último livro que compraste?
Boa pergunta... Quase de certeza que foi o último volume dos Babyblues (100% papá). Não me perguntem nada sobre ele, que mal lhe pus a vista em cima - quem o tem lido tem sido a minha filha.

Qual foi o último livro que leste?
A minha tese, claro! Várias vezes...

Que livros estás a ler?
À noite, leio os livros dos Cinco com a minha filha e delicio-me ao vê-la entusiasmada com as aventuras que eu adorava. Ando a tentar acabar de ler Amos Oz, O meu Michael, e Paul Auster, não me recordo do título e tenho preguiça de me levantar para ir ver (Inventar a solidão, será assim?). Ainda anda pendurado há meses A Mancha Humana, de Philip Roth. E mais uma série de outros, que peguei e larguei por falta de tempo ao longo dos últimos meses.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
A resposta óbvia e prática seria: cinco livros sobre como sobreviver numa ilha deserta, como caçar e pescar, etc, etc. Quanto a outros tipos de livros, não faço ideia, os meus neurónios estão cheios de preguiça para pensar em literatura. Só sei de um que não levaria de certeza: a dita cuja tese!

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
Ora bem, deixa cá pensar...
Vague.
Jorge Morais.
Abóbora.
Porque sim, ora essa! Que curiosos...

E os vencedores são?
Vencedores de quê? Isto tem prémio?

Palavras

Há palavras que não querem ser palavras, mas abraços. Assim são estas.

domingo, abril 17, 2005

Porque ainda estamos no rescaldo da Páscoa

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Para animar um dia feio...

sábado, abril 16, 2005

Intimismos ao final do dia

O frio regressou. Estou de novo vestida como em casa ando no Inverno, depois de ter enregelado ao ar livre durante toda a tarde. Meias grossas, camisola quente, manta sobre as pernas enquanto escrevo no computador, sensação de que o vento varreu os meus pensamentos horas a fio.
Talvez por isso eles sejam estranhos. Por isso, e por ter aproveitado as brincadeiras infantis a que deitava um olho para ler. Por vezes, quando leio um livro que de facto me interessa, enfio-me nele e de lá não saio - parece que parte de mim fica presa no meio das páginas. Estou assim hoje, meia ausente.
E distante. Olho o que me rodeia como se o visse de cima, de um outro lado qualquer. Meto-me em arrumações, necessárias mas que invocam inevitáveis recordações. Quando comprei certas peças de roupa. Quem mas ofereceu. Quem mas ajudou a escolher e gostava de me ver com elas. Essas vão, quase todas, direitinhas para o saco da roupa para dar. E uma porta mais se fecha cá dentro.
Acho que nos podemos imaginar como um edifício cheio de portas e corredores. Umas portas abrem-se porque outras se fecham. Umas portas fecham-se porque outras se abrem. E o edifício muda com as mudanças que sofre. Torno-me diferente de mim mesma. E no entanto, sou sempre eu. Mais o que a vida me dá.
Peças de roupa. Muitas delas, se eu fosse como hoje, nunca teriam sido minhas. Como muitas atitudes não teriam sido tomadas (ou deixadas de tomar). Se eu fosse então como sou agora, teria decerto poupado boa parte das lambadas que levei. Mas eu não podia ser assim nessa altura. Foi a vida que me modificou, moldou, transformou. Em certa medida, fez-me crescer e desabrochar.

sexta-feira, abril 15, 2005

Cansaço

Hoje sinto-me tão cansada como quando estava a fazer a tese. No entanto, sem stress, o que é uma diferença substancial.
Já outro dia aqui escrevi que ainda não dei pelo vazio pós-tese. Tenho tido tanto, mas tanto que fazer, a par da tentativa de dormir mais, que ainda não dei por "buraco" algum. E ainda não me desabituei de fazer tudo com o mesmo espírito de prioridade com que me atirava ao trabalho mal chegava a casa, etc. A perspectiva de passar uma tarde sem fazer nada, por exemplo, soa-me ainda estranha, ainda sinto que devo levar trabalho atrás de mim. Vou aproveitando a embalagem... e não páro. A tensão é que não é a mesma. Já não procuro ver a luz no fundo do túnel, saí finalmente dele; e a paz que isso me dá é uma sensação belíssima. Como o é a percepção clara e inequívoca de que até as hidras de sete cabeças podem ser vencidas, e de que os trabalhos que parecem intermináveis conseguem, com esforço, perseverança e uma imensa dose de teimosia, chegar ao fim.

(Reflexões dedicadas a uma série de leitores que ainda anda a caçar e esfolar gazelas, crocodilos ou outros nomes carinhosos que queiram chamar às suas teses).

quinta-feira, abril 14, 2005

Mas antes de trabalhar...

... e porque a música é boa companheira, aqui fica a letra de uma música que o Shark me fez lembrar.
So, so you think you can tell Heaven from Hell,
blue skies from pain.
Can you tell a green field from a cold steel rail? A smile from a veil?
Do you think you can tell?

And did they get you trade your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees? Hot air for a cool breeze?
Cold comfort for change? And did you exchange
a walk on part in the war for a lead role in a cage?

How I wish, how I wish you were here.
We're just two lost souls swimming in a fish bowl,
year after year,
running over the same old ground. What have we found?
The same old fears,
wish you were here.
Gosto sobretudo da ideia das almas perdidas a nadar num aquário. Recorda-me inevitavelmente os peixes dourados que tentámos ter. Ao terceiro a morrer (um porque lhe demos comida a mais, outro decerto esganado de fome, o último ninguém entendeu porquê), desistimos. A taça redonda ainda por aqui anda; se calhar à espera que as almas parem de nadar de costas viradas e se virem uma para a outra.

Mentira. O último verso é o que eu prefiro: wish you were here.

Tempo?

Era de supor que depois da tese eu tivesse tempo para muita coisa, não era? Grande erro: tudo o que fui adiando para depois da tese está à espera de ser feito. Ao trabalho, pois.

(Confessem: já tinham saudades de me ouvir resmungar com o trabalho, não tinham? ;))

quarta-feira, abril 13, 2005

O banho

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Fotografia de autor desconhecido, chegada por mail. Obrigada, Cris !
Será que já alguma vez aqui falei do meu gosto por pássaros, e especialmente pelos espertos e desenrascados pardalitos?

Despertar

É um pássaro, é uma rosa,
é mar que me acorda?
Pássaro ou rosa ou mar,
tudo é ardor, tudo é amor.
Acordar é ser rosa na rosa,
canto na ave, água no mar.
Eugénio de Andrade

Segredos

Um dia, vou desvendar mistérios do passado para ti.
Tu mostrar-me-ás segredos do futuro.
Um dia, num tempo azul.

Coisas várias

Parece que a esta hora os meus neurónios entram em fase de funcionamento. E ocorrem-me pensamentos profundos, como estes:

1) É impressão minha, ou os métodos de publicidade da Deco andam cada vez mais próximos dos das Selecções do Reader's Digest?

2) Porque será que tenho de declarar o meu estado civil para concorrer a uma bolsa para participação num congresso científico? Será que há preferência por algum estado civil em particular? Terei mais ou menos hipóteses de ser contemplada com a bolsa por ser divorciada?

terça-feira, abril 12, 2005

Há dias assim

em que o cansaço, ao final de uma longa jornada de trabalho, parece atacar-me desde os dedos dos pés até à ponta dos cabelos. Encadear ideias custa-me, e apetece-me o silêncio, quebrado apenas por música em surdina, calma, relaxante. Sabe especialmente bem não precisar de vencer a fadiga, mas antes deixar-me levar por ela. Sem pressa, sem a pressão do trabalho urgente e ingente que só a desoras podia ser executado. Há cansaços que sabem bem!

Reflexões a desoras

É tão bom ser uma pessoa normalzinha, parte daquilo a que os ingleses chamariam "ordinary people". Isto é, sem manias, sem sentimentos de superioridade, aceitando os outros tal como eles são, encantando-me com coisas pequeninas (que podem ir de um sorriso bonito à beleza de uma teia de aranha) como com grandes, dando-me bem com sábios e ignorantes, estes tantas vezes mais sensíveis, amáveis e amigos do que aqueles... É tão bom não ter de andar aqui a provar nada, a ser, simplesmente, eu, sem peneiras nem intelectualismos bacocos, apenas com o coração aberto.
Uma boa noite a todos. Dormindo em paz, com um sorriso nos lábios, de preferência. Lamechice? Pois é. Que bom é ser lamechas - e que bom é dormir a sorrir. Não posso desejar muito melhor do que isso.

segunda-feira, abril 11, 2005

Momentos azuis

Ir pela rua fora, num fim de tarde cheio de luz clara, e dar comigo a sorrir.

domingo, abril 10, 2005

Uma tarde de domingo

Saltar à corda, jogar à bola e ao "macaquinho chinês", correr pelo jardim, deitar na relva às gargalhadas e cócegas, sentir o vento, o sol e o rio à nossa volta. Há quanto tempo não tinhamos uma tarde assim - e como soube deliciosamente!

Em tons de azul

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(Esta foto, cujo autor desconheço, devia ter sido publicada a uma outra hora que não o meio do dia. Mas para isso teria precisado de me levantar ao nascer do sol...)

sexta-feira, abril 08, 2005

Bom fim-de-semana!

Divirtam-se!

quinta-feira, abril 07, 2005

Que preguiça!

Sabe bem dar-me ao luxo de ser preguiçosa. No final de um dia intenso de trabalho, não correr para a tese, não a ter na cabeça.
Vazio da tese? Ainda não senti, só alívio. A dita cuja não me faz é falta nenhuma!

quarta-feira, abril 06, 2005

Coisas boas

Como pesar-me e descobrir que as calças a fugir pela cintura abaixo não enganam :-)))))))))))

Coisas desagradáveis

Dessas não me apetece mesmo falar. Mas há-as (na vida como nos blogs), e deixam-me uma sensação amarga, desconfortável. Felizmente, também há coisas boas.

Não me apetece escrever

Nem sobre esta Primavera que oscila entre o sol e a chuva, nem sobre as flores que progressivamente enchem as árvores e arbustos da cidade. Nem sobre o cheiro a glicínias que ainda há pouco senti, e me fez lembrar o meu colégio de menina, cujas grades estavam cobertas dessas florinhas lilases. Não, não me apetece escrever.
Se o fizesse, talvez fosse para reflectir sobre blogs. Sobre um blog que constava da lista ao lado e deixou de estar, por pedido expresso de quem o escreve, que quer escondê-lo dos olhos do mundo. Talvez pensasse no que já aqui escrevi e é revelador de mim, nesta espécie de catarse por escrito que este cantinho azul, em boa medida, tem sido. Talvez dissesse como me perturbam as estatísticas que me mostram que há quem percorra todos os arquivos deste blog, do princípio até ao fim - o que é uma parvoíce, pois também eu leio arquivos de blogs - a diferença é que eu sei quem sou, e desconheço quase sempre a identidade de quem me lê de fio a pavio (nota para eventuais leitores dos meus arquivos: estejam à vontade, se eles estão aí, podem ser lidos; mas já agora, se quiserem e puderem, deixem uma palavrinha nos comentários, para não me sentir lida por sombras).
A um tempo de vontade de comunicar sucede-se, muitas vezes, um outro de introspecção e até de silêncio. Ou, pelo menos, um tempo em que apetece falar essencialmente daquilo que não se quer dizer em público. Por isso, não me apetece escrever (e lá foram mais de 15 linhas para dizer isto...).

terça-feira, abril 05, 2005

Comemorando

Façam favor de se servir. É por conta da casa. Quando acabar, há mais no Padrinho.

Feliz

Hoje, estou feliz. Orgulhosa, vaidosa, contente - aliviada, esvaziada de um peso. A olhar para um livro com cara de parva.

segunda-feira, abril 04, 2005

Trocas & Baldrocas

Há já bastante tempo, recebi um convite que muito me honrou para participar no Trocas & Baldrocas. Só agora tive disponibilidade para lá deixar umas linhas, as primeiras de muitas que ali espero escrever. Falando sobre a especial aventura de ser mãe.
Vale a pena espreitar este blog - não porque eu comecei a escrever lá, mas pelos outros colaboradores. Sobretudo (seja-me permitido o destaque, sem desconsideração por ninguém), porque também ali escreve o pai do Um pouco mais de ti, que sucedeu ao Um ano de ti. Os textos deste pai são sempre, para mim, imperdíveis.

Parabéns, querida avó!

Seriam 107 anos.
Hoje, em especial, vou-me lembrar de ti. É bom olhar para trás e ter imensas coisas boas para recordar de ti. Como os doces que fazias, ou os lanches que nos arranjavas - comidos na cadeira pequenina, ao pé do fogão. Os fatos das bonecas, que pacientemente cosias, com a perfeição de quem fazia roupa de gente (é a tua bisneta que brinca agora com eles, sabes?).
Tu eras a alma da nossa casa. A minha madrinha e avó querida, com olhos grandes, claros, transparentes, de quem o meu avô dizia: "Casei com a mais bonita de todas as irmãs" - a fotografia que tenho na sala diz-me que ele estava coberto de razão.
Ainda uso o xaile branco que fizeste, quando me deito ou levanto e o frio me leva a colocar algum agasalho pelas costas. E conto à tua bisneta (em tantas coisas parecida contigo) as histórias de que me lembro dos tempos em que eras pequenita. Ela gosta sobretudo daquela em que o rei D. Carlos te deu um beijo e um fogãozinho, em troca do ramo de flores que lhe ofereceste. Gostava que fosses tu a contar-lhe tudo isso.

domingo, abril 03, 2005

Leituras

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"Tiraste da estante mais escondida, o livro que a todos passou despercebido. Que cegos, dizes tu...que, com esse olhar certeiro de ave ou animal selvagem, ultrapassaste muros e obstáculos para o resgatares do meio do pó e da escuridão em que se escondia. Deste um retoque aqui, completaste uma palavra ali, mudaste noutro lado uma frase que não fazia sentido. E deste sentido a um capítulo inteiro. Com voz mansa e olhos de fogo. Escreves em mim a história dos dias que estão por chegar. De tardes sem fim em frente ao mar, de flores silvestres arrancadas da berma da estrada, de risos e abraços e olhares de desejo.
(...)
Contas em mim uma história com letras coladas a letras, formando palavras. Sussurradas, pintadas de cores fortes, não são pretas as tuas letras, são azuis e vermelhas. E verdes e violeta e amarelo e lilás. São da cor da paixão, do desejo, das flores do campo."
Lindo, não é? Foi escrito pela Mar. O resto do texto pode-se ler no Espelho Mágico. A fotografia chegou-me por mail, desconheço o seu autor. Acho que combina com as palavras escritas.

sábado, abril 02, 2005

João Paulo II (1920-2005)

Concorde-se ou não com muitas das posições da Igreja assumidas durante o seu longo pontificado. Seja-se ou não crítico do catolicismo. O respeito por João Paulo II e a sua verticalidade, pelo chefe da minha Igreja, da qual ando tão afastada mas à qual continuo a sentir-me pertencer, levam-me a não poder deixar de, hoje, publicar aqui este post.
Morreu um homem convicto da sua Fé, incansável ao longo do seu pontificado, um homem portador de uma doença que conheço demasiado de perto, e cuja coragem sempre admirei.
A imagem dele que quero guardar não é a do velhinho alquebrado e débil dos últimos anos. Prefiro recordar o Papa como era antes, forte, pleno de vigor, tal como nesta foto. Ou nesta outra, num gesto tão seu.


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E desejo que a Igreja encontre o seu rumo num novo Pastor, conhecedor das realidades deste século XXI. Na qual, por exemplo, eu, e tantos outros como eu, não se sintam marginalizados por se terem divorciado. Na qual se veja a sexualidade, de um modo geral, de uma outra forma.

Mas este não é, para mim, um momento de crítica. É-o, antes, de oração - de sufrágio pela alma de um homem bom que partiu, de acção de graças por ele já não estar a sofrer. Que descanse, finalmente, em paz.

sexta-feira, abril 01, 2005

Foto de família

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Chegou-me por e-mail, desconheço o autor. Mas, depois de um post ternurento, uma foto destas vem a calhar.

O meu amor pequenino

O meu amor pequenino - cada vez maior, mas sempre pequenino para mim - dorme tranquilamente. Quando a fui meter na cama, uma vez mais encheu-me de beijinhos. Nada que não faça qualquer criança à sua mãe, nada de especial. Mas é tudo de especial, porque esta é a minha filha e o mundo fica da cor do arco-íris só porque ela me abraça com força e diz, com a voz mais carinhosa e mimalha: "Mãe, eu gosto tanto, tanto de ti!".
É nestas ocasiões, em especial, que eu me sinto protagonista de uma bênção. O amor de um filho é redentor, modifica-nos, torna-nos melhores por nos obrigar a ser menos egoístas, a estender os braços para acolher e não para ser acolhido. O amor da minha filha dá-me forças para o quase impensável. Até das maneiras mais estranhas, como eu ter estado muito triste uma noite destas e ela ter "escolhido" precisamente essa noite para se sentir maldisposta; entre vómitos, corridas para a casa de banho e dores na barriguita, eu nem me lembrei mais da tristeza, só dela (e do meu imenso sono - nota necessária para dar o devido realismo à cena que, sem este à-parte, parecia quase cor-de-rosa).
A minha filha é a minha Estrela do Norte. É ela quem dá rumo à minha vida. É o meu amor pequenino, e simultaneamente imenso, maior que todos, maior que eu ou a minha própria vida. Estou a repetir-me, já disse isto noutras ocasiões? Provavelmente. Mas foi o que me apeteceu escrever aqui, agora, interrompendo arrumações que me fazem encontrar uma série de desenhos dela dedicados a mim, enchendo-me o coração de uma ternura que teve de se extravasar para aqui.
Boa noite!


 
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