Um pouco mais de azul

quinta-feira, abril 21, 2005

Pensando e repensando

Há um ano e dois meses existe este blog. Surgiu porque me apeteceu, como saco de boxe para onde eu atirava com tudo o que me dava na real gana. Coisas sérias e brincadeiras, pequenos apontamentos do dia-a-dia, momentos para mais tarde recordar relativos à minha filha, desabafos em barda na fase final de uma tese que parecia interminável, estados de espírito relativos a variados assuntos que me tocavam especialmente.
Aqui, chorei, ri, brinquei, aliviei a tensão de um trabalho intenso e de uma vida que não andava fácil. Mostrei-me. Mostrei-me demasiado, até. Mostrei o interior de mim mesma, de alguma forma desnudei a alma. Hoje, já o afirmei noutras ocasiões, não seria capaz de escrever muito do que em tempos aqui escrevi. Não sou capaz de usar este blog como saco de boxe, como local onde despejo o que me vai na alma tal como fazia. Não quero poder ser lida, poder ser espreitada cá para dentro. Hoje quero uma cortina sobre mim, o que sinto, o que penso. Antes eu não me importava de partilhar tudo isso aqui, em parte porque não me lembrava sequer que era lida, em parte porque precisava de o fazer. Mas agora não preciso, ou mesmo que precise não quero, porque não quero falar aqui do que faria sentido, para mim, falar. Nem por palavras que ninguém entenda, nem por nenhum outro meio. Nem quero sequer falar das razões - estritamente pessoais, e que nada têm a ver com algo que se tivesse passado na blogosfera - que me levam a deixar, pelo menos por uns tempos, de escrever.
Preciso de uma desintoxicação bloguística, de me afastar deste meio. Isto não é um ataque do síndroma do "até já", muito menos um "até já" que dure dois ou três dias. Até pode durar apenas até amanhã, se me der na veneta virar tudo ao contrário e fazer um blog diferente do que tem sido - mas esse não seria o Um pouco mais de azul, e eu só sei escrever aqui e da forma que tenho feito. Vai ser um período de reflexão virada sobre mim mesma, fora da internet, que não sei quanto durará nem se terminará.
Aliás, desde que a tese terminou passo muito menos horas sentada diante do computador. Quero passar ainda menos, quero viver longe de écrans de computadores - diante dos de cinema já é outra coisa, e com 10 salas novinhas em folha a estrear na cidade espero tirar a barriga de misérias.
Por ora, limito-me a deixar este espaço sine die (reservando-me o direito de aparecer quando me apetecer de novo). O que não significa - de modo algum! - deixar os laços criados. Por mail, por telefone, estou aqui, e quero preservar as amizades que criei, faço questão disso, mesmo que não apareça a comentar blogs (aliás, tenho comentado muito menos, já devem ter reparado). Podem crer: algumas dessas amizades, ainda que só "virtuais" (outras já passadas a reais), são mesmo preciosas para mim. É o que me custa neste abandono. Mas sinto necessidade dele.
Se me quiserem afagar o ego, podem encher a caixa de comentários de motivos para que eu não deixe este cantinho (sim, em parte isto é um pedido). Talvez sirvam para eu reconsiderar e voltar, talvez me façam perceber que isto ainda faz sentido, num momento em que não vejo sentido nenhum em continuar. Não sei, nada prometo. Sei apenas que preciso de procurar o meu azul longe daqui.


 
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