Uma série de temas baila na minha mente, sugerindo-me posts. E depois nada sai. A culpa não é apenas do eco que, hoje, qualquer pensamento ligeiramente elaborado provoca na minha caixa craniana - fruto da estúpida constipação que resolveu atacar-me. A culpa também não é toda do imenso trabalho que, naturalmente, me esperava ao regressar. Acho que, em parte pelo menos, o que sucede é que todos os temas que me ocorrem irritam-me, incomodam-me - e o silêncio é uma forma de o evitar.
De política, por exemplo, mais vale não falar. Se até alguém como o Venerável Grão Mestre Queijeiro desabafa
assim a altas horas da noite, nem quero pensar como ficaria eu, simples mortal, caso dedicasse grande atenção às desventuras desgovernativas deste nosso Portugal.
Acerca dos repelentes espectáculos que a nossa televisão serve, qual versão hodierna de outros ópios para outros povos, não me apetece, mesmo, escrever. Hoje, enquanto esperava a minha vez no dentista, folheei uma daquelas revistas meio cor-de-rosa, meio informadora de programas da TV, que dedicava páginas e páginas ao novo programa da TVI. Fico parva como se torna normal, ou mesmo digno de louvor, um programa imbecil como a tal Quinta onde se juntam umas celebridadezecas à medida de um Portugal medíocre, pequenino, parolo, mesquinho. Abjecto deve ser o adjectivo melhor para caracterizar tais programas. Um dia, sem dor de cabeça e com tempo, explicarei melhor porque é que me recuso a ver, nem mesmo por piada, semelhantes "reality-shows". E depois falam do ópio do povo... A este propósito, e de outros acontecimentos, escreveu Augusto Santos Silva um lúcido artigo no
Público.
Vem a talhe de foice outro tema que me faz pensar, e sobre o qual me apeteceu já escrever também: todos os dias, ouço na rádio publicidade a revistas com conteúdos incríveis. Ele é poções de felicidade, ele é orações mágicas, ele é predições de futuro, ele é um mar de parvoeiras que exploram a infelicidade, a falta de perspectivas de um povo que assim se aliena, embarcando em crendices e projectando-se nas vivências de outros, ora invejando os "famosos", ora sentindo aquela malvadazita alegria de os ver sofrer como ele próprio. Só assim se explica o sucesso de tanto, mas tanto lixo em forma de revista... Só assim se explica o ávido consumo das notícias bombásticas, dos escândalos.
Com estas reflexões acerca daquilo sobre que não me apetece falar acabei por escrever imenso. Nem fica espaço para um bem merecido puxão de orelhas ao jornalista da Sábado que escreveu um textozinho sobre a História de Portugal que a revista está a reeditar, nas páginas 34-35 do seu último número. Ele não a leu, obviamente, e por isso diz asneira da grossa quando tenta explicar quem eram os moçárabes (no canto inferior direito, numa espécie de dicionário da conquista islâmica): nunca eles deixaram de ser cristãos, mesmo sob o domínio muçulmano! Outras calinadazitas, menos graves, surgem pelo meio do texto, mas o melhor mesmo é o primeiro parágrafo. "Portugal nasceu a seguir a uma escaramuça, com Afonso Henriques de um lado e a mãe, D. Teresa, do outro". Brilhante resumo, não haja dúvida. Se é isto o que se aprende de História de Portugal nas nossas escolas, estamos mesmo mal.