Um pouco mais de azul

domingo, outubro 10, 2004

Esclarecendo umas coisitas

Claro que sentir-me muito bem é em boa parte fruto do facto de, durante estes dias, terem sido raras as notícias deste rectângulozito de terra em que nasci, para lá das de carácter meramente pessoal. Porque começo a ler jornais, os blogs do costume, a ouvir o que me contam e fico inquieta. A primeira reacção é agarrar na minha filha, comprar um bilhete de avião só de ida e desaparecer daqui para fora (até tenho uma ideiazita sobre um negócio chorudo, chorudíssimo, lá na bela terra onde andei e onde ficou um pedacito do meu coração, como nunca aconteceu com qualquer outra cidade onde tenha estado até hoje - mas isso é outra história). Outra reacção instintiva é rir, rir, rir e achar que isto é apenas um sonho tão parvo como os que resolveram povoar algumas destas noites passadas longe. Outra ainda é parafrasear o Obélix e dizer, com convicção, que os portugueses são loucos. Tendo também a acreditar que Portugal, simplesmente, não existe; não pode ser real um país assim.
Mas é. Ainda li e ouvi muito pouco para perceber bem que dose de loucura colectiva anda a dar pelo país. Mas que anda, anda. Pelo meio de toda essa loucura, parece que mais um anestésico colectivo teve início numa inenarrável estação televisiva cá da terra. Pão e circo à moda de 2004, pois claro. Avidamente engolidos e digeridos.
Fica aqui desde já um outro esclarecimento: neste blog nunca se falará do que sucede em tal programa idiota. Pode haver quem ache que é um óptimo anti-depressivo, que há uns pobres diabos que não valem a ponta de um corno mas fazem rir um país deprimido e acinzentado, o que quiserem, até que sociologicamente vale a pena ver tal coisa (lembro-me deste argumento usado por quem se pelava por telenovelas mas não o queria admitir). Eu não acho nada disso. Sou assumidamente fundamentalista nesta matéria. Quando forem horas mais decentes e a minha cabeça conseguir produzir pensamentos mais elaborados, explico-vos porque é que me repugnam e dão vómitos programas como o Big Brother, Quinta das Celebridades e quejandos. Agora, antes de ir dormir, quero continuar a sentir-me bem.
E para tal, penso várias coisas - e porque são coisas boas, fico aqui a pensar nelas, em lugar de ir dormir; mas é bom saborear lentamente o que nos diz muito. O que penso? Que em nenhum momento me sinto feliz como quando abraço a minha filha; que a amizade sincera, desinteressada é um dos sentimentos mais bonitos e gratificantes à face da terra; que trabalhar com rigor e dedicação e ver o nosso esforço reconhecido nos faz sentir belamente realizados; que me apaixonei por Roma.
E agora vou mesmo dormir. Ao lado da minha menina, que hoje pediu para dormir comigo. Vou fazer-lhe uma festa, dar-lhe um beijo sem a acordar, e agradecer a Deus - porque também em mim Ele fez muitas maravilhas.


 
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