Um pouco mais de azul

domingo, outubro 10, 2004

Razões pelas quais me apetece apanhar o primeiro avião para longe daqui (1)

É claro que o sentimento de bem-estar a que ontem aludia não podia durar muito. Bastou acordar em sobressalto um pouco antes das 7 da matina, com a música em altos berros dos estudantes que moram no apartamento do lado. Abri a porta da rua, verifiquei que o barulho vinha efectivamente dali, toquei à campainha. Imediatamente a música parou. Seguiu-se um diálogo que me enfureceu: o menino que me abriu a porta disse-me para estar calma e que respeitava a minha reclamação, por isso parava a música, apesar de ter o direito de fazer o barulho que lhe apetecesse. Ou seja, a excelência fazia-me o favor de não me fazer barulho. Não é assim. Falta-me a legislação exacta sobre o assunto, que vou encontrar e entregar ao meu vizinho, juntamente com uma cartinha bem clara acerca do que sucederá se este tipo de comportamento se repetir (já não é a primeira vez que me levanto a meio da noite para ir mandar calar os rapazinhos). Mas na verdade, muito mais importante do que o que diz a lei, e o facto de que a simples boa-educação, cordialidade, respeito pelo próximo deviam levar à preocupação de não incomodar os vizinhos a qualquer hora que seja, ainda para mais cedíssimo e ao fim-de-semana. Não devia ser preciso que alguém batesse à porta de um jovem adulto para lhe chamar a atenção para o facto de não dever ter música em altos berros às 7 da manhã, nem de não dever falar aos berros a essas horas. Isto aprende-se, ou devia aprender-se, em casa, com a educação dada pelos papás. São regras de convivência básicas.

Encontrei ao chegar alguns escritos sobre um certo "código" a seguir numa escola de Colares, creio. Se calhar sou bota de elástico, mas não acho que a criação de tais códigos seja um simples disparate, num tempo em que tanta da nossa juventude parece desconhecer não apenas as básicas regras de gramática como as da vivência em sociedade - como de manhã bem cedo tive a oportunidade de, uma vez mais, comprovar. Chamem-me, repito, bota de elástico, mas eu não vou trabalhar vestida com a roupa que levo para a praia, nem falo com os meus colegas da mesma forma que falo com os meus superiores hierárquicos, etc, etc, etc. Há as tais regras de convivência, de respeito, etc, etc, que dantes se aprendiam em casa, e agora pelos vistos não se aprendem. E se tais matérias não se aprendem em casa, se calhar deviam aprender-se na escola, não é?
Não, não tenho nada contra o uso de mini-saias, nem de t-shirts que deixam o umbigo à mostra, nem de chinelos, nem de calções usados por homens (as minhas reticências em relação a tudo isso são, essencialmente, de ordem estética). Mas, caramba, entre ir-se para uma prova oral de fato e gravata ou de calções, t-shirt velha e chinelos de praia, ou entre a forma de vestir das seguidoras de monsenhor Escrivà e roupinha que deixa as meninas quase despidas vai uma grande, imensa distância. Um pouco de bom senso não faz mal a ninguém, muito pelo contrário.


 
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