sábado, julho 31, 2004
num belo sábado, dia 31 de Julho, você não for à piscina com a sua filha, como estava combinado, porque tem a cabeça cheia de tese e não consegue deixar de pensar no trabalho em que está embrenhada, isso é ... uma grande gaita - e ao mesmo tempo uma bênção, porque sinal de que finalmente isto rende. Aleluia. E raios partam isto.
sexta-feira, julho 30, 2004
Para ti
A minha memória distraída não consegue recordar se é hoje, se amanhã que fazes anos. Não me esqueci, porém. Queria deixar-te aqui algo especial, já que tu me lês e gostas de me ler, e porque talvez seja difícil contactar-te de outra forma no teu aniversário. Nada melhor me ocorre do que esta fotografia de um leão (fim de Julho oblige...) a caminhar, determinado, não se deixando abater pela fúria da ventania, e o poema que serve de mote a este blog. Já um dia to ofereci, lembras-te? Mas continua a fazer todo o sentido, continua a ser necessário varrer o quase, o morno, o aquém, dar um murro na mesa e dizer "basta!" - e assim abrir a janela ao sol e à lua e às estrelas, e como que renascer.
Por isso, com os meus parabéns, os votos de um novo ano de vida verdadeiramente feliz e um abraço forte (dos que tu gostas), aqui fica o "Quase", de novo, para ti.
Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul – eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho – ó dor! – quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo... e tudo errou...
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Um pouco mais de azul – eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho – ó dor! – quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo... e tudo errou...
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
(Mário de Sá-Carneiro)
quinta-feira, julho 29, 2004
Esclarecendo resmunguices
Eu falo e resmungo acerca do que ando a fazer, mas nunca explico grande coisa. Ando para aqui a penar em cima de um capítulo de que já ouvem falar há séculos, e que nunca mais me vêem terminar. Apeteceu-me dar um pequeno esclarecimento: este capítulo (que eventualmente acabará por se dividir em dois, pois está a ficar enorme) seria o suficiente para uma tese de mestrado. Sem exagero. Creio que assim percebem melhor o porquê de demorar tanto e me dar tanta dor de cabeça e enjoo.
Haja o que houver
Tem passado de novo muito na rádio, na versão do dueto da Teresa Salgueiro com José Carreras. Apesar de andar bastante enjoada dos Madredeus, acho esta canção lindíssima. A letra também o é, por isso aqui fica.
Haja o que houver
eu estou aqui
haja o que houver
espero por ti
volta no vento
ó meu amor
volta depressa
por favor
há quanto tempo
já esqueci
porque fiquei
longe de ti
cada momento
é pior
volta no vento
por favor
eu sei, eu sei
quem és para mim
haja o que houver
espero por ti.
(Pedro Ayres Magalhães)
quarta-feira, julho 28, 2004
Um almoço diferente
Uma mamã que gosta de nos mimar teve a ideia de juntar num encontro os pais e filhos dos blogs. Chamou-lhe almoço de babyblogs, será realizado em Setembro, em Coimbra, onde a pequenada se juntará no Portugal dos Pequenitos. Os interessados podem encontrar todas as informações aqui. Não é preciso ser pai ou mãe para ir: aceitam-se de bom grado candidatos a babysitters.
Ruminando flocos e ideias
... ao som dos REM. Everybody hurts. Tem razão. Sometimes, everybody hurts, e you think you had enough. De tese, por exemplo - continuemos a esfolá-la com empenho, que parece que este finalmente surgiu. Aleluia. Já cá devia estar há muito.
Continuando a falar com os meus botões
Apetecia-me... Pois, apetecia-me. Não é fácil ser eu, sempre eu. Mas como ninguém faz por mim...
terça-feira, julho 27, 2004
Darfur
De vez em quando, no meio do rol de desgraças diariamente noticiadas, aparecem umas raras menções ao Sudão, ao que se passa em Darfur. As nossas consciências, atulhadas de problemas pessoais, do país, do mundo, inundadas pelo excesso de informação, nem ouvem. Mas não podem ficar indiferentes perante o que se passa naquele canto de África. Em boa hora no-lo vem lembrar o Nuno, pedindo a atenção da blogosfera para Darfur. Segui os links que sugere. E vi, por exemplo, o que sobrou de uma aldeia após os ataques ordenados pelo governo sudanês.
Vi fotos de sepulturas colectivas, como estas. Já morreram mais de 150 mil pessoas.
Vi imagens e imagens de refugiados, como estas mulheres que procuram reanimar um burro que sucumbiu à viagem. São aos milhares, e demoram mais de um mês, a pé, para chegarem ao Tchade.
Vi carinhas de crianças, bonitas como todas as crianças, mas tristes, espantadas, sem entenderem a estupidez dos adultos de que são, sempre, as primeiras vítimas.
Sinto-me mesquinha por andar de mau humor à custa de uma tese de doutoramento, que não vale a ponta de um corno face à luta pela vida. Não passo fome, não tenho de abandonar a minha casa, ninguém me quer matar. Se tivesse nascido em Darfur, podia ser eu a estar a fugir de casa, a lutar pela vida, podia ser a minha filha uma daquelas crianças. Ou podiamos estar mortas. Só por sermos da etnia errada.
Publicar aqui estas fotos, deixar estas palavras não serve sequer para aliviar a minha consciência. Mas, pelo menos, é dar visibilidade a uma tragédia que não pode ser silenciada. Alguma coisa tem de ser feita para que isto não continue. Falar de Darfur é fundamental. O silêncio do mundo é sempre o grande aliado dos genocídios.
segunda-feira, julho 26, 2004
Lua
Sentada à secretária, com a varanda toda aberta, o meu olhar é desviado por uma luz branca vinda do exterior. Parece um candeeiro aceso lá fora. É a lua. Uma metade de lua brilhante e bonita, que parece estar ali para me fazer companhia, para me dar o ânimo de que preciso. Olho para ela, cumprimento-a, e retorno ao trabalho. Boa noite!
domingo, julho 25, 2004
A ponte
Passei hoje pela primeira vez na nova ponte sobre o Mondego. A tal que esteve parada durante uns anos, que custou não sei quantas vezes mais do que devia, não havendo ninguém a responsabilizar por tanta asneira, naturalmente.
Vista de longe, da Alta ou do novo Parque Verde à beira-rio, tinha-me parecido bonita, elegante. Passando por ela, achei-a estranha a valer. A certa altura, parece haver uma série de tabuleiros que se juntam a vários níveis (lembrou-me as escadas de Hogwarts nos filmes do Harry Potter), sobretudo quando se vem do sul para Coimbra. Quem sai da cidade tem de ter atenção: é a faixa da esquerda que nos leva para o que fica, na verdade, à direita, a norte (Santa Clara, Taveiro), e a faixa da direita é que conduz para sul, para a esquerda (IC2, acesso à A1). Que lógica tem isto? Desconfio que muito boa gente se vai enganar ali e mudar de faixa no último minuto, ou passar traços contínuos... Só não aconteceu comigo porque estava avisada. Valha-nos a Rainha Santa.
sexta-feira, julho 23, 2004
Carlos Paredes
Nenhuma guitarra tocava como a sua. Nenhuma música me faz recuar no tempo e pensar na alegria despreocupada, na inocência da juventude como os Verdes Anos. Que descanse em paz.
Para desenjoar do trabalho, um pouco de pedagogia chegada por mail
Jacinto vai muito mal a matemática. Os pais já tentaram de tudo: aulas particulares, brinquedos educativos, centros especializados, terapia, nada adiantou. Então, ouvem dizer que há uma escola de freiras no bairro que é muito boa e resolvem fazer mais esta tentativa. No primeiro dia, Jacinto volta para casa com cara séria e vai directo para o quarto, sem cumprimentar a mãe. Senta-se na escrivaninha e estuda. Estuda sem parar. A mãe chama-o para jantar. Janta rápido e volta imediatamente aos estudos. A mãe nem acredita. Isto dura algumas semanas. Um dia, Jacinto volta para casa com as notas, que entrega à mãe: Matemática - 20!
A mãe não se contém e pergunta:
- Filho, conta à mãe o que te fez mudar? Foram as freiras?
Jacinto balança a cabeça negativamente.
- O que foi, então? - insiste a mãe - Foram os livros, a disciplina, a estrutura de ensino, o uniforme, os colegas, o que foi?
Jacinto olha para a mãe e diz:
- No primeiro dia quando vi aquele sujeito pregado no sinal mais, percebi que elas não estavam para brincadeiras...
A mãe não se contém e pergunta:
- Filho, conta à mãe o que te fez mudar? Foram as freiras?
Jacinto balança a cabeça negativamente.
- O que foi, então? - insiste a mãe - Foram os livros, a disciplina, a estrutura de ensino, o uniforme, os colegas, o que foi?
Jacinto olha para a mãe e diz:
- No primeiro dia quando vi aquele sujeito pregado no sinal mais, percebi que elas não estavam para brincadeiras...
quinta-feira, julho 22, 2004
Mais um poema
O meu mundo tem estado à tua espera; mas
não há flores nas jarras, nem velas sobre a mesa,
nem retratos escondidos no fundo das gavetas. Sei
que um poema se escreveria entre nós dois; mas
não comprei o vinho, não mudei os lençóis,
não perfumei o decote do vestido.
Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome
(mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido);
se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira –
estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respiro
com a violência de um incêndio; mas parto
antes de saber como seria. Não me perguntes
porque se mata o sol na lâmina dos dias
e o meu mundo continua à tua espera:
houve sempre coisas de esguelha nas paisagens
e amores imperfeitos – Deus tem as mãos grandes.
Maria do Rosário Pedreira
não há flores nas jarras, nem velas sobre a mesa,
nem retratos escondidos no fundo das gavetas. Sei
que um poema se escreveria entre nós dois; mas
não comprei o vinho, não mudei os lençóis,
não perfumei o decote do vestido.
Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome
(mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido);
se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira –
estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respiro
com a violência de um incêndio; mas parto
antes de saber como seria. Não me perguntes
porque se mata o sol na lâmina dos dias
e o meu mundo continua à tua espera:
houve sempre coisas de esguelha nas paisagens
e amores imperfeitos – Deus tem as mãos grandes.
Maria do Rosário Pedreira
Uma causa em que acredito
A dos mais velhos. Leiam o Francisco José Viegas. Um dia, com tempo, falarei acerca do assunto. Do que penso, do que sinto, do que gostaria de fazer.
quarta-feira, julho 21, 2004
Só para mulheres
Só para nós, porque só nós é que sabemos como é, todos os meses. Um texto espantoso, digno de um grande aplauso (e de bolinha vermelha no canto) escrito com toda a raiva por uma mulher sem papas na língua, descoberto através do blog da Desassossegada. Leiam e sintam-se vingadas, consoladas. Juro que me senti assim.
Famous Blue Raincoat
It's four in the morning, the end of December
I'm writing you now just to see if you're better
New York is cold, but I like where I'm living
There's music on Clinton Street all through the evening.
I hear that you're building your little house deep in the desert
You're living for nothing now, I hope you're keeping some kind of record.
Yes, and Jane came by with a lock of your hair
She said that you gave it to her
That night that you planned to go clear
Did you ever go clear?
Ah, the last time we saw you you looked so much older
Your famous blue raincoat was torn at the shoulder
You'd been to the station to meet every train
And you came home without Lili Marlene
And you treated my woman to a flake of your life
And when she came back she was nobody's wife.
Well I see you there with the rose in your teeth
One more thin gypsy thief
Well I see Jane's awake --
She sends her regards.
And what can I tell you my brother, my killer
What can I possibly say?
I guess that I miss you, I guess I forgive you
I'm glad you stood in my way.
If you ever come by here, for Jane or for me
Your enemy is sleeping, and his woman is free.
Yes, and thanks, for the trouble you took from her eyes
I thought it was there for good so I never tried.
And Jane came by with a lock of your hair
She said that you gave it to her
That night that you planned to go clear
Sincerely
L. Cohen
PS - Eu sei que não é tempo de pensar em impermeáveis, mas estou a ouvir esta canção, outra das que muito gosto de Cohen.
I'm writing you now just to see if you're better
New York is cold, but I like where I'm living
There's music on Clinton Street all through the evening.
I hear that you're building your little house deep in the desert
You're living for nothing now, I hope you're keeping some kind of record.
Yes, and Jane came by with a lock of your hair
She said that you gave it to her
That night that you planned to go clear
Did you ever go clear?
Ah, the last time we saw you you looked so much older
Your famous blue raincoat was torn at the shoulder
You'd been to the station to meet every train
And you came home without Lili Marlene
And you treated my woman to a flake of your life
And when she came back she was nobody's wife.
Well I see you there with the rose in your teeth
One more thin gypsy thief
Well I see Jane's awake --
She sends her regards.
And what can I tell you my brother, my killer
What can I possibly say?
I guess that I miss you, I guess I forgive you
I'm glad you stood in my way.
If you ever come by here, for Jane or for me
Your enemy is sleeping, and his woman is free.
Yes, and thanks, for the trouble you took from her eyes
I thought it was there for good so I never tried.
And Jane came by with a lock of your hair
She said that you gave it to her
That night that you planned to go clear
Sincerely
L. Cohen
PS - Eu sei que não é tempo de pensar em impermeáveis, mas estou a ouvir esta canção, outra das que muito gosto de Cohen.
terça-feira, julho 20, 2004
Coisa mais linda
Coisa mais bonita é você
Assim, justinho você
Eu juro
Eu não sei porque
Você
Você é mais bonita que a flor
Quem dera
A primavera da flor
Tivesse todo esse aroma de beleza
Que é o amor
Perfumando a natureza
Numa forma de mulher
Por que tão linda assim não existe
A flor
Nem mesmo a cor não existe
E o amor
Nem mesmo o amor existe
E eu fico um pouco triste
Um pouco sem saber
Se é tão lindo o amor
Que eu tenho por você
(Carlos Lyra e Vinicius)
Na voz de João Gilberto, neste preciso momento em que escrevo. Que coisa mais linda...
Assim, justinho você
Eu juro
Eu não sei porque
Você
Você é mais bonita que a flor
Quem dera
A primavera da flor
Tivesse todo esse aroma de beleza
Que é o amor
Perfumando a natureza
Numa forma de mulher
Por que tão linda assim não existe
A flor
Nem mesmo a cor não existe
E o amor
Nem mesmo o amor existe
E eu fico um pouco triste
Um pouco sem saber
Se é tão lindo o amor
Que eu tenho por você
(Carlos Lyra e Vinicius)
Na voz de João Gilberto, neste preciso momento em que escrevo. Que coisa mais linda...
segunda-feira, julho 19, 2004
Sono
Uma mãe com horários de coruja. Uma menina mal disposta a meio da noite, a precisar de festas na barriguita, de chá, de atenção. Uma noite quase em claro. Despertador a tocar bem cedo. E um dia de trabalho com os olhos a meia haste e metade dos neurónios a recusarem-se a acordar.
domingo, julho 18, 2004
Agradecimentos a fazer
Ando preguiçosa há tanto tempo! Já há muito devia ter agradecido vários links e actualizado a lista ali do lado, mas nada disso. Para já, agradeçamos (sem ordem nenhuma em especial, apenas seguindo o que me diz o Technorati) aos seguintes blogs: Sebenta, Esperando o tal Godot, ou isso, Uma ilha deserta, Terna é a noite (que por acaso chama a este o nome de outro blog, mas faz o link para aqui), Junta-te ao clube, Timshel (que há tanto tempo leio), Aragem, Um dia na vida de, Púrpura secreta, Palavras de algodão. Merecem também referência os blogs da Partilhas e o do mais recente "comentador residente" deste espaço, o Armando, que escreve histórias cibernéticas (e não só) no Cyberiade. A todos, muito obrigada pelos links e pela vossa presença aqui.
Devo estar a falhar alguém, porque o Technorati resolveu hoje funcionar ainda pior do que de costume. Emendar-me-ei à medida que for dando conta das lacunas, e a lista ao lado será actualizada quando puder. Quando tal acontecer, vai passar a constar da lista o Incursões, onde um querido amigo escreve.
Devo estar a falhar alguém, porque o Technorati resolveu hoje funcionar ainda pior do que de costume. Emendar-me-ei à medida que for dando conta das lacunas, e a lista ao lado será actualizada quando puder. Quando tal acontecer, vai passar a constar da lista o Incursões, onde um querido amigo escreve.
Maria do Rosário Pedreira
Onde quer que o encontres
escrito, rasgado ou desenhado:
na areia, no papel, na casca de
uma árvore, na pele de um muro,
no ar que atravessar de repente
a tua voz, na terra apodrecida
sobre o meu corpo – é teu,
para sempre, o meu nome.
Descobri os poemas de uma das autoras de livros juvenis que mais vezes compro para a minha filha e para oferecer - O Clube das Chaves - outro dia. Encantei-me.
escrito, rasgado ou desenhado:
na areia, no papel, na casca de
uma árvore, na pele de um muro,
no ar que atravessar de repente
a tua voz, na terra apodrecida
sobre o meu corpo – é teu,
para sempre, o meu nome.
Descobri os poemas de uma das autoras de livros juvenis que mais vezes compro para a minha filha e para oferecer - O Clube das Chaves - outro dia. Encantei-me.
sábado, julho 17, 2004
Cântico dos Cânticos
"...Que sejas parecido, meu bem amado, com uma gazela, com um jovem falcão sobre as montanhas da aliança." (Cântico dos Cânticos, II, 17)
Marc Chagall
Marc Chagall
sexta-feira, julho 16, 2004
Perguntas ao vento
O que foi que mudou?
A quebra da inocência, da ingenuidade quebra quantas coisas mais?
Será que um dia passará? Será que um dia bailarão de novo lágrimas nos meus olhos, ao ler versos como àqueles? Será que um dia os sentirei? Será que um dia volto a acreditar na lua?
Não é ela o meu azul - este é meu, só meu, nada tem a ver com a lua, apenas comigo. É o desafio jurado com lágrimas e raiva. É o meu ajuste de contas.
Na lua eu não penso. Nem acredito. Seria melhor acreditar? Não. É melhor construi-la.
A quebra da inocência, da ingenuidade quebra quantas coisas mais?
Será que um dia passará? Será que um dia bailarão de novo lágrimas nos meus olhos, ao ler versos como àqueles? Será que um dia os sentirei? Será que um dia volto a acreditar na lua?
Não é ela o meu azul - este é meu, só meu, nada tem a ver com a lua, apenas comigo. É o desafio jurado com lágrimas e raiva. É o meu ajuste de contas.
Na lua eu não penso. Nem acredito. Seria melhor acreditar? Não. É melhor construi-la.
quinta-feira, julho 15, 2004
Há metafísica bastante em não pensar em nada.
Falou-se no Holocénico de determinismos e de liberdade, pensou-se no que é o homem e o livre arbítrio, perguntaram-me onde mora Deus. Lembrei-me deste poema de Alberto Caeiro. Lindo, calmo, conciliador. Gosto imenso deste heterónimo de Pessoa - que seria por certo um caso bem curioso de estudar à luz dessas teorias do determinismo físico.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
Raios partam
Raios partam o calor estúpido, o dia idiota em que me fartei de andar de um lado para o outro e não consegui fazer nada, a constipação chata que me deixa com a cabeça pesada e de raciocínio lento, e mais a porcaria do trabalho que está mesmo aqui ao lado a olhar para mim com ar de troça. E raios partam o meu mau humor, as hormonas e os narizes entupidos em pleno Verão.
Amor como em casa
Regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa.
Faço de conta que não é nada comigo.
Distraído percorro o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro.
Devagar te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no amor como em casa.
Manuel António Pina
Faço de conta que não é nada comigo.
Distraído percorro o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro.
Devagar te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no amor como em casa.
Manuel António Pina
quarta-feira, julho 14, 2004
E já que falámos de campo e de animais
Esta imagem foi retirada deste belíssimo blog sobre a Pintura Portuguesa, que merece os parabéns pelo magnífico trabalho que está a realizar.
Estou com vontade
... de fazer tricot. Vi numa revista uma camisola de risquinhas muito gira para a minha filha, e fiquei cheia vontade de lha fazer. Tenho saudades do tempo em que tricotava - tantas coisas fiz para mim em solteira, e tantos casaquinhos, botinhas e camisolas tricotei quando a Miosótis estava para nascer e era pequenina... Depois nunca mais tive tempo para isso; nem mesmo para fazer botinhas e oferecer às amigas grávidas (ainda andam numa gaveta umas coisas começadas que nunca mais acabei). No próximo Inverno espero conseguir recuperar esse velho hábito; tricotar relaxa, descansa e é óptimo para fazer ao serão, enquanto vejo tv ou ouço música, frente à lareira acesa. Quero passar assim muitos serões, com a minha filhota ao pé, a aprender comigo tal como outrora aprendi com a minha avó e a minha mãe.
terça-feira, julho 13, 2004
E de novo...
... as Grenadines, claro. Acho que é desta que vou pensar seriamente em ir para lá. Entretanto, vou sonhando a ver as fotografias deste mar, destas praias, deste azul. Ai!
Com vossa licença
... deixem-me dizer as exactas palavras que me sairam quando soube que António Vitorino não se candidata à liderança do PS: que grande porra!!!
Em quem vou eu votar daqui por dois anos, dir-me-ão? No Santana Lopes, também conhecido por Zandinga Gabriel Alves? No Sócrates, cujo comportamento na questão da co-incineração me fez ganhar urticária só de o ver, e que se perfila como candidato à sucessão de Ferro Rodrigues? Virando-me para os partidos pequenos, temos Paulo Portas e Francisco Louçã - vade retro para ambos. Que farei? Que faremos?
Em quem vou eu votar daqui por dois anos, dir-me-ão? No Santana Lopes, também conhecido por Zandinga Gabriel Alves? No Sócrates, cujo comportamento na questão da co-incineração me fez ganhar urticária só de o ver, e que se perfila como candidato à sucessão de Ferro Rodrigues? Virando-me para os partidos pequenos, temos Paulo Portas e Francisco Louçã - vade retro para ambos. Que farei? Que faremos?
segunda-feira, julho 12, 2004
Cenas da vida quotidiana
Dia inteiro fora de casa. Uma data de coisas para tratar, um almoço em óptima companhia e num dos mais castiços restaurantes cá da terra, algum trabalho e saldos. Deu-me um ataque de consumismo agudo (mas também, em que outra altura arranjo roupa gira para a minha filha a 7,90 euros, ou para mim com descontos de 30% ou 50%?). É bom lembrar-me que o mundo existe para além do meu mundinho caseiro. Fiquei cheia de vontade de ir experimentar o novo parque verde que nasceu junto ao rio e por onde passei. As esplanadas mesmo à beira da água pareciam chamar por mim, e já imaginei alguém a correr pelos amplos relvados, ou a andar de bicicleta.
Ao jantar, a televisão anunciava, de 5 em 5 minutos, uma reportagem sobre a vida sexual dos portugueses. "Ó mãe, mas afinal o que é vida sexual?" Resultado: acabo de dar uma aula de educação sexual. Até há pouco tempo, a história da sementinha que o papá põe na barriga da mamã satisfazia a curiosidade. Na escola, fazia parte do programa deste ano uma abordagem, muito ligeira, da reprodução das plantas e dos animais; ficou assim a saber o que são espermatozóides e óvulos. Aliás, destes já tinha ouvido falar, nas explicações que lhe dei sobre o funcionamento do corpo feminino. Agora, começam as conversas a sério - que desejo francas, sem complexos nem tabus, apenas com a preocupação de lhe dar as informações que pede de forma adequada à idade e à sua capacidade de compreensão. Por hoje, acho que não me saí nada mal.
Ao jantar, a televisão anunciava, de 5 em 5 minutos, uma reportagem sobre a vida sexual dos portugueses. "Ó mãe, mas afinal o que é vida sexual?" Resultado: acabo de dar uma aula de educação sexual. Até há pouco tempo, a história da sementinha que o papá põe na barriga da mamã satisfazia a curiosidade. Na escola, fazia parte do programa deste ano uma abordagem, muito ligeira, da reprodução das plantas e dos animais; ficou assim a saber o que são espermatozóides e óvulos. Aliás, destes já tinha ouvido falar, nas explicações que lhe dei sobre o funcionamento do corpo feminino. Agora, começam as conversas a sério - que desejo francas, sem complexos nem tabus, apenas com a preocupação de lhe dar as informações que pede de forma adequada à idade e à sua capacidade de compreensão. Por hoje, acho que não me saí nada mal.
domingo, julho 11, 2004
Apetecia-me estar assim
... aos pulos de contente por ter acabado aquela "coisa". Mas ainda não estou...
(Dedicado ao meu caro amigo MJMatos, que gosta muito deste estranho animal)
sábado, julho 10, 2004
Pensamentos desgarrados
Hoje, um dos raros dias em que dormi quanto me apeteceu, sinto-me ensonada, mole. A capacidade de trabalho está afectada, e dou comigo a pensar coisas várias que me apetece registar aqui.
A minha ausência total de espírito missionário. Outro dia zanguei-me com uns ateus cibernáuticos. No entanto, nem por um momento me passou pela cabeça convertê-los. Nem sou capaz de o fazer a ninguém. Tentar convencer outrem que Deus existe? Só sou capaz de explicar porque é que eu acredito n'Ele, mais nada. Tentar convencer outra pessoa que a Igreja católica é a verdadeira? Como, se não creio que nenhuma religião seja propriamente falsa, mas que há, isso sim, várias maneiras de abordar o divino?
A minha melancolia face ao país em que vivo. Mantenho a vontade de tirar a bandeira da janela. Por outro lado, fazê-lo agora significaria, de alguma forma, desistir de acreditar. E, bolas, não sou capaz de o fazer - ou vou começar à procura de emprego noutro lado (dúvida existencial: o meu quase-doutoramento poderá ser uma mais-valia nas Grenadines?).
Momento fútil: andei nas compras - nos saldos, sim, que a vida está cara e o meu ordenado não aumenta há dois anos nem um mísero centimozito. Soube bem escolher roupa gira, comprar sapatos elegantes, e sair para o bailado da minha filha de toilette nova, a sentir-me bonita. Faz um bem desgraçado ao ego.
Olha, será que é disso que Portugal precisa? A roupa para o país seriam políticos novos - mas esses nem no início da estação se encontram, quanto mais nos saldos... Vou imaginar o Santana Lopes como artigo de saldo. A política tem andado a livrar-se dos restos das colecções de anos anteriores, e está a chegar àquele momento em que já não há nada de jeito à venda. Esperemos que não tarde muito a chegar a nova colecção - nova mesmo, e diferente; não me refiro a uma colecção nova só por fora, mas por dentro, refiro-me a uma alma renovada. Dois anos, será suficiente para a mudança? Por outro lado, será preciso tanto tempo? Mais ainda, será possível?
Antes que fique neura a pensar nestas coisas, vou é deixar-me de metáforas e ouvir Chet Baker. E lançar-me à tese.
A minha ausência total de espírito missionário. Outro dia zanguei-me com uns ateus cibernáuticos. No entanto, nem por um momento me passou pela cabeça convertê-los. Nem sou capaz de o fazer a ninguém. Tentar convencer outrem que Deus existe? Só sou capaz de explicar porque é que eu acredito n'Ele, mais nada. Tentar convencer outra pessoa que a Igreja católica é a verdadeira? Como, se não creio que nenhuma religião seja propriamente falsa, mas que há, isso sim, várias maneiras de abordar o divino?
A minha melancolia face ao país em que vivo. Mantenho a vontade de tirar a bandeira da janela. Por outro lado, fazê-lo agora significaria, de alguma forma, desistir de acreditar. E, bolas, não sou capaz de o fazer - ou vou começar à procura de emprego noutro lado (dúvida existencial: o meu quase-doutoramento poderá ser uma mais-valia nas Grenadines?).
Momento fútil: andei nas compras - nos saldos, sim, que a vida está cara e o meu ordenado não aumenta há dois anos nem um mísero centimozito. Soube bem escolher roupa gira, comprar sapatos elegantes, e sair para o bailado da minha filha de toilette nova, a sentir-me bonita. Faz um bem desgraçado ao ego.
Olha, será que é disso que Portugal precisa? A roupa para o país seriam políticos novos - mas esses nem no início da estação se encontram, quanto mais nos saldos... Vou imaginar o Santana Lopes como artigo de saldo. A política tem andado a livrar-se dos restos das colecções de anos anteriores, e está a chegar àquele momento em que já não há nada de jeito à venda. Esperemos que não tarde muito a chegar a nova colecção - nova mesmo, e diferente; não me refiro a uma colecção nova só por fora, mas por dentro, refiro-me a uma alma renovada. Dois anos, será suficiente para a mudança? Por outro lado, será preciso tanto tempo? Mais ainda, será possível?
Antes que fique neura a pensar nestas coisas, vou é deixar-me de metáforas e ouvir Chet Baker. E lançar-me à tese.
E como a realidade é sempre mais estranha do que a ficção...
eis o vizir que queria ser califa em lugar do califa mandatado para ocupar o califado. Pela primeira vez depois do fim do Euro, estou com vontade de tirar a bandeira da minha janela. Afinal, para quê mantê-la a adejar?
Fica-me a esperança de que o PS se reorganize. Não tenho opinião formada sobre a atitude de Ferro Rodrigues. Se, por um lado, a decisão me parece uma atitude pessoalmente digna, por outro fico com a sensação de um amuo porque as coisas não foram decididas como ele gostava. Gosto, no entanto, da ideia de um PS que se renove. Resta saber: renovar-se-á?
Este serão
Este serão o presidente da república anunciou que não vai haver eleições antecipadas. Ferro Rodrigues demitiu-se. Não assisti a nada. Este serão, o mundo reduziu-se, para mim, a um palco iluminado e a uma menina a dançar, e eu fui só mãe, mãe orgulhosa, vaidosa, feliz, a aplaudir a filha querida.
sexta-feira, julho 09, 2004
quinta-feira, julho 08, 2004
O livro que estou a ler
"A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conhecida na vizinhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete, ou simplesmente o Ramalhete."
Assim começam Os Maias. Há anos que ando com vontade de reler este romance, que o meu pai apreciava mais que qualquer outro livro. Tenho a edição que era dele - a velha edição dos Livros do Brasil, já meio desconjuntada, com a capa suja de tão manuseada ser. Passou pelas mãos do meu pai, foi levada para o liceu durante anos pela minha irmã, primeiro, depois por mim. Era companhia de praia e de sesta do meu pai. É agora o livro que tenho na mesa de cabeceira e que me apeteceu começar a reler ontem à noite. Ando necessitada de ler bom, óptimo português - consolo para certos horrores de carácter obrigatório, fonte de inspiração, espero, para a escrita que me aguarda.
Tempos houve em que sabia localizar todos os episódios do enredo d'Os Maias e em que o meu gosto por este romance me rendeu belíssimas notas a Português, as melhores que alguma vez tive. Apetece-me reler Eça com tempo, sem pressa, saboreando-o. Boa razão para me despachar com a escrita deste capítulo...
Assim começam Os Maias. Há anos que ando com vontade de reler este romance, que o meu pai apreciava mais que qualquer outro livro. Tenho a edição que era dele - a velha edição dos Livros do Brasil, já meio desconjuntada, com a capa suja de tão manuseada ser. Passou pelas mãos do meu pai, foi levada para o liceu durante anos pela minha irmã, primeiro, depois por mim. Era companhia de praia e de sesta do meu pai. É agora o livro que tenho na mesa de cabeceira e que me apeteceu começar a reler ontem à noite. Ando necessitada de ler bom, óptimo português - consolo para certos horrores de carácter obrigatório, fonte de inspiração, espero, para a escrita que me aguarda.
Tempos houve em que sabia localizar todos os episódios do enredo d'Os Maias e em que o meu gosto por este romance me rendeu belíssimas notas a Português, as melhores que alguma vez tive. Apetece-me reler Eça com tempo, sem pressa, saboreando-o. Boa razão para me despachar com a escrita deste capítulo...
quarta-feira, julho 07, 2004
Orgulho
Hoje enchi-me de orgulho por uma pessoa de quem gosto muito, muito. Aquele que considero, há já uns tempos, como o meu melhor amigo. Senti-me vaidosa, porque de algum modo sei que contribuí um bocadinho para ele ali estar, hoje. Fiquei orgulhosa por o ver a fechar, com chave de ouro, uma etapa importante na sua vida. É tão bom ver os nossos amigos mais queridos a fazerem boa figura, a mostrarem o que valem, cientifica e humanamente...
Acorda, menina linda
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Anda ver que lindo presente
A aurora trouxe para te prendar
Uma coroa de brilhantes para iluminar
O teu cabelo revolto como o mar
Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o Sol está lá fora à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Por que terras de sonho andaste
Que Mundo te recebeu
Que monstro te meteu medo
Que anjo te protegeu
Quem foi o menino que o teu coração prendeu?
Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o Sol está lá fora à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Anda a ver o gato vadio
À caça do pássaro cantor
Vem respirar o perfume
Das amendoeiras em flor
Salta da cama
Anda viver, meu amor
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Jorge Palma, claro.
Acho que esta canção combina com o sorriso aí de baixo. O sorriso que me dá a certeza de que a vida é bela.
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Anda ver que lindo presente
A aurora trouxe para te prendar
Uma coroa de brilhantes para iluminar
O teu cabelo revolto como o mar
Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o Sol está lá fora à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Por que terras de sonho andaste
Que Mundo te recebeu
Que monstro te meteu medo
Que anjo te protegeu
Quem foi o menino que o teu coração prendeu?
Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o Sol está lá fora à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Anda a ver o gato vadio
À caça do pássaro cantor
Vem respirar o perfume
Das amendoeiras em flor
Salta da cama
Anda viver, meu amor
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Jorge Palma, claro.
Acho que esta canção combina com o sorriso aí de baixo. O sorriso que me dá a certeza de que a vida é bela.
terça-feira, julho 06, 2004
Isto está a ficar demasiado sério e chato
E para seriedade e chatices basto eu, hoje. Estou a fazer o que mais detesto na minha profissão. Os sites blogspot demoram um século a abrir e esgotam a paciência de quem quer dar uma espreitadela aos blogs, para desenjoar do trabalho. Já andei a dar puxões de orelhas a ateus armados em oficiais do Santo Ofício, que conseguiram a real proeza de me conseguir aborrecer a sério (não os linko, estou zangada e não quero fazer publicidade a fanáticos). A indefinição política continua, e só me apetece enfiar toda a nossa classe de governantes, desde o PR ao presidente da junta da minha freguesia, numa máquina de lavar roupa, para uma barrela intensiva.
Estou farta de tudo isso, pronto. Preciso de sorrir e desanuviar, de alimentar a alma com esperança e alegria. Como num passe de magia, esta foto funciona - plim!
Estou farta de tudo isso, pronto. Preciso de sorrir e desanuviar, de alimentar a alma com esperança e alegria. Como num passe de magia, esta foto funciona - plim!
segunda-feira, julho 05, 2004
Prece
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistaremos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
Assim termina o Mar Português, a segunda parte da Mensagem de Pessoa. Acho esta prece apropriada ao momento que vivemos. Para ficar ao lado da nossa bandeira, que sempre achei parola com aquela mistura de verde e vermelho, mas que me toca cá dentro, porque é a bandeira do meu País, e, tal como disse num comentário aqui em baixo, gosto muito de Portugal e é aqui que quero viver e ver crescer a minha filha.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistaremos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
Assim termina o Mar Português, a segunda parte da Mensagem de Pessoa. Acho esta prece apropriada ao momento que vivemos. Para ficar ao lado da nossa bandeira, que sempre achei parola com aquela mistura de verde e vermelho, mas que me toca cá dentro, porque é a bandeira do meu País, e, tal como disse num comentário aqui em baixo, gosto muito de Portugal e é aqui que quero viver e ver crescer a minha filha.
Iznogoud, o que queria ser califa em lugar do califa
Com a devida vénia ao Holocénico, que foi quem se lembrou do paralelismo entre esta personagem da BD e o nosso putativo futuro primeiro-ministro, o tal que nunca ganhou um congresso do PSD mas que, graças à fuga do José Manuel Barroso (que na pressa de partir deixou para trás o Durão), se vê alcandorado a candidato a residente em S. Bento.
Bandeiras
Não me apetece tirar a bandeira da minha janela. Serviu para apoiar a selecção. Agora olho para ela e não a quero tirar de lá. Quero que sirva para apoiar um país que precisa de encontrar o seu rumo. Para mostrar que não sou indiferente.
Ainda por cima, recebi uma sms a dizer que quem não quer o Santana Lopes como primeiro-ministro deve pôr uma bandeira na janela. Mais uma razão para a minha permanecer onde está.
Ainda por cima, recebi uma sms a dizer que quem não quer o Santana Lopes como primeiro-ministro deve pôr uma bandeira na janela. Mais uma razão para a minha permanecer onde está.
No final do Euro
Portugal não venceu, mas penso que estamos todos de parabéns. Pela forma como a selecção nos levou até à final. Pela forma como o campeonato decorreu. Pela imagem tão bonita, de união de um país em torno de uma causa comum. Causa futeboleira, eu sei... Mas mesmo assim uma causa, um povo de queixo erguido, sabendo mostrar o que vale. A imagem que aqui deixo fala por si. É bonita.
E agora que a festa acabou, vem a realidade. Amanhã ficamos sem primeiro-ministro. Dentro de dias saberemos o que vai acontecer ao país. "E la nave va".
E agora que a festa acabou, vem a realidade. Amanhã ficamos sem primeiro-ministro. Dentro de dias saberemos o que vai acontecer ao país. "E la nave va".
domingo, julho 04, 2004
Querem divertir-se?
Vão ver o Shrek 2. Eu fui. Se lhe falta um pouco da magia do primeiro filme (mas nesse tudo era novidade e espanto, por isso qualquer continuação teria a perder ao ser comparado com ele), é, no entanto, muitíssimo divertido, sem perdas de ritmo e com sentido de humor delirante em grandes doses. Eu gostei. A Miosótis também. Os amigos que foram connosco igualmente.
Porque ter um blog também é isto
Pede-me a Partilhas que ajude a divulgar o número de telefone do Instituto de Apoio à Criança, para onde se pode ligar quando encontramos crianças a pedir esmola ou a acompanhar adultos que o fazem. É o 21 7931617. A este propósito, recordo-me sempre de uma história que a minha avó contava. Morava na baixa portuense, em plena Rua de Santa Catarina; na soleira do prédio vinha habitualmente pedir esmola uma mulher com uma criança de colo. Andava a fazer espécie à minha avó que o bebé só chorasse quando alguém se aproximava; acabou por descobrir que a mulher a picava com um alfinete sempre que via pessoas perto, para provocar o choro que faria cair umas moedas no seu regaço. Telefonando para aquele número, talvez se consiga impedir que uma criança mais seja explorada. As explicações mais completas do que se pretende com esta chamada estão no link acima indicado.
sábado, julho 03, 2004
Frutas
Gosto imenso da fruta de Verão. Quanto tinha tempo para isso, ia ao mercado comprá-la, e deleitava-me com as cores e os cheiros das bancas. Agora vou ao mini-mercado mais próximo, felizmente bem fornecido e até com produtos caseiros. Comprei melão, pêssegos, cerejas, nêsperas, ameixas. Sinto saudades das framboesas do quintal de casa dos meus pais, e sobretudo das deliciosas nêsperas que ali havia. E dos damascos de outrora (agora parecem artificiais), dos morangos, que deixaram de ter sabor, e das diversas qualidades de abrunhos, desaparecidos em favor das quase sempre insípidas ameixas vermelhas ou brancas. Mas mesmo sem o paladar genuíno de outros tempos, gosto de todas estas frutas. E hoje as cerejas eram das melhores, vindas da Cova da Beira: negras, carnudas, doces e sumarentas.
sexta-feira, julho 02, 2004
Sophia (1919-2004)
Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.
Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem.
No interior das coisas canto nua.
Aqui livre sou eu — eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos
Aqui sou eu em tudo quanto amei.
Não pelo meu ser que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos actos que vivi,
Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.
E o amor, o que é? É simplesmente isto
Via Adufe, tomei conhecimento de um texto do Evasões de um Sonhador que de seguida tomo a liberdade de copiar, agradecendo ao seu autor. Falava ontem à noite do amor. É isto que é o amor. É este o amor que eu quero.
Um homem de idade já bem avançada veio ao centro de saúde, para fazer um curativo na mão ferida.
Estava apressado, dizendo-se atrasado para um compromisso, e enquanto era tratado, perguntei-lhe sobre o motivo da pressa.
Ele disse-me que precisava de ir a um asilo de anciãos para, como sempre, tomar o café da manhã com a sua mulher que estava lá internada.
Disse-me que ela já estava há algum tempo nesse lugar porque tinha Alzeimer num estadio bastante avançado.
Enquanto o curativo terminava, perguntei-lhe se ela não se alarmaria pelo facto dele chegar mais tarde.
- Não, disse ele. Ela já não sabe quem sou eu. Faz quase cinco anos que não me reconhece.
Estranhando, perguntei-lhe:
- Mas se ela já não sabe quem é o senhor, porquê essa necessidade de estar com ela todas as manhãs?
Ele sorriu e dando-me uma palmadinha na mão, disse:
- Ela não sabe quem eu sou, mas eu, contudo, sei muito bem quem é ela.
Um homem de idade já bem avançada veio ao centro de saúde, para fazer um curativo na mão ferida.
Estava apressado, dizendo-se atrasado para um compromisso, e enquanto era tratado, perguntei-lhe sobre o motivo da pressa.
Ele disse-me que precisava de ir a um asilo de anciãos para, como sempre, tomar o café da manhã com a sua mulher que estava lá internada.
Disse-me que ela já estava há algum tempo nesse lugar porque tinha Alzeimer num estadio bastante avançado.
Enquanto o curativo terminava, perguntei-lhe se ela não se alarmaria pelo facto dele chegar mais tarde.
- Não, disse ele. Ela já não sabe quem sou eu. Faz quase cinco anos que não me reconhece.
Estranhando, perguntei-lhe:
- Mas se ela já não sabe quem é o senhor, porquê essa necessidade de estar com ela todas as manhãs?
Ele sorriu e dando-me uma palmadinha na mão, disse:
- Ela não sabe quem eu sou, mas eu, contudo, sei muito bem quem é ela.
Lua
Uma lua redonda, dourada, brilhante ergue-se no céu negro. Apetece ficar a contemplá-la. Tem um ar misterioso, de deusa ou de poderosa feiticeira.
(E eu vou estar com ar de zombie quando daqui a 5 horas já andar a pé...)
(E eu vou estar com ar de zombie quando daqui a 5 horas já andar a pé...)
quinta-feira, julho 01, 2004
E para desenjoar, porque não falar de amor?
O amor. Esse sentimento que ninguém sabe o que é, e que nas melhores definições poéticas carrega o peso de antíteses e contradições que se consideram inerentes à sua própria natureza. Essa coisa estranha que nos faz sorrir feitos parvos quando Cupido nos acerta, e entrar em total desespero porque nos parece impossível a sua concretização. Apetece-me falar do amor.
Ou melhor, colocar questões sobre o amor. Amor à primeira vista existe? É possível uma pessoa olhar outra e ficar apaixonada? É possível que isso seja mais que um fogo-fátuo, que uma mera atracção física? Resiste de facto o amor à distância dos amantes e ao tempo? Existem amores como o de Cirano por Roxanne?
Neste momento perguntar-se-ão decerto os meus caríssimos leitores a que propósito virão tais indagações, o que é que o Cupido andará por aqui a fazer ou se a minha tão falada mas nunca explicada tese é sobre o amor. Não é esta sobre tal tema, e as perguntas que faço não vêm propriamente a propósito de coisa nenhuma. Ou vêm: a propósito de algumas conversas, de certas leituras, e mais ainda, talvez, do descrédito a que votei Cupido. Acredito num amor que se constrói a partir de uma forte empatia, de uma atracção mútua a diversos níveis. Não acredito em paixões fulminantes e avassaladoras, e confesso que fugiria a sete pés caso sentisse semelhante coisa aproximar-se. Será que teria êxito tal tentativa de fuga? Será que uma pessoa se consegue imunizar de tais sentimentos?
Espero pelas vossas opiniões.
(Para o que me havia de dar! Bem digo que fazer teses não é bom para a sanidade mental de ninguém...)
Ou melhor, colocar questões sobre o amor. Amor à primeira vista existe? É possível uma pessoa olhar outra e ficar apaixonada? É possível que isso seja mais que um fogo-fátuo, que uma mera atracção física? Resiste de facto o amor à distância dos amantes e ao tempo? Existem amores como o de Cirano por Roxanne?
Neste momento perguntar-se-ão decerto os meus caríssimos leitores a que propósito virão tais indagações, o que é que o Cupido andará por aqui a fazer ou se a minha tão falada mas nunca explicada tese é sobre o amor. Não é esta sobre tal tema, e as perguntas que faço não vêm propriamente a propósito de coisa nenhuma. Ou vêm: a propósito de algumas conversas, de certas leituras, e mais ainda, talvez, do descrédito a que votei Cupido. Acredito num amor que se constrói a partir de uma forte empatia, de uma atracção mútua a diversos níveis. Não acredito em paixões fulminantes e avassaladoras, e confesso que fugiria a sete pés caso sentisse semelhante coisa aproximar-se. Será que teria êxito tal tentativa de fuga? Será que uma pessoa se consegue imunizar de tais sentimentos?
Espero pelas vossas opiniões.
(Para o que me havia de dar! Bem digo que fazer teses não é bom para a sanidade mental de ninguém...)
Mutatis mutandis...
Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Estes versos de Drummond de Andrade podem aplicar-se, mutatis mutandis*, ao que sinto diante dos papéis com que trabalho. Mas só com muita imaginação, ou melhor, muita mutação de sentido e um humor bastante negro consigo achar que os dois últimos versos do poema se adaptam igualmente bem:
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
* Pois, latim, que querem? Estou a escrever uma tese, que é coisa séria e erudita; isto são efeitos secundários.
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Estes versos de Drummond de Andrade podem aplicar-se, mutatis mutandis*, ao que sinto diante dos papéis com que trabalho. Mas só com muita imaginação, ou melhor, muita mutação de sentido e um humor bastante negro consigo achar que os dois últimos versos do poema se adaptam igualmente bem:
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
* Pois, latim, que querem? Estou a escrever uma tese, que é coisa séria e erudita; isto são efeitos secundários.