Darfur
De vez em quando, no meio do rol de desgraças diariamente noticiadas, aparecem umas raras menções ao Sudão, ao que se passa em Darfur. As nossas consciências, atulhadas de problemas pessoais, do país, do mundo, inundadas pelo excesso de informação, nem ouvem. Mas não podem ficar indiferentes perante o que se passa naquele canto de África. Em boa hora no-lo vem lembrar o Nuno, pedindo a atenção da blogosfera para Darfur. Segui os links que sugere. E vi, por exemplo, o que sobrou de uma aldeia após os ataques ordenados pelo governo sudanês.
Vi fotos de sepulturas colectivas, como estas. Já morreram mais de 150 mil pessoas.
Vi imagens e imagens de refugiados, como estas mulheres que procuram reanimar um burro que sucumbiu à viagem. São aos milhares, e demoram mais de um mês, a pé, para chegarem ao Tchade.
Vi carinhas de crianças, bonitas como todas as crianças, mas tristes, espantadas, sem entenderem a estupidez dos adultos de que são, sempre, as primeiras vítimas.
Sinto-me mesquinha por andar de mau humor à custa de uma tese de doutoramento, que não vale a ponta de um corno face à luta pela vida. Não passo fome, não tenho de abandonar a minha casa, ninguém me quer matar. Se tivesse nascido em Darfur, podia ser eu a estar a fugir de casa, a lutar pela vida, podia ser a minha filha uma daquelas crianças. Ou podiamos estar mortas. Só por sermos da etnia errada.
Publicar aqui estas fotos, deixar estas palavras não serve sequer para aliviar a minha consciência. Mas, pelo menos, é dar visibilidade a uma tragédia que não pode ser silenciada. Alguma coisa tem de ser feita para que isto não continue. Falar de Darfur é fundamental. O silêncio do mundo é sempre o grande aliado dos genocídios.