Um pouco mais de azul

sexta-feira, março 26, 2004

Filhos & adopções

Já agora, continuando de alguma forma o tema iniciado no post anterior .
Nos últimos tempos, muito se escreveu em torno da adopção de crianças por homossexuais. As palavras do Boss a esse respeito tocaram cá dentro. Há quem diga que a escolha pela homossexualidade é a escolha de uma relação forçosamente estéril; de facto, dois homens não podem dar vida a um filho, como duas mulheres também não. Mas o desejo de ser pai ou mãe existe para além da possibilidade prática de o concretizar - que o digam todos os heterossexuais que não o são, todos os casais estéreis, todos os que optaram pelo celibato, por exemplo... Não venham com o disparate de pensar que um casal de homossexuais não seria capaz de dar a uma criança o amor e a atenção necessários para que ela cresça feliz. Ou que pai e mãe são absolutamente indispensáveis para o crescimento harmonioso de uma criança - ou mal estariam todos aqueles que perderam um dos progenitores, bem como os filhos de casais divorciados. E não digam também a palermice de que ser criado por homossexuais leva alguém a sê-lo também - os gays neste momento existentes no nosso país que não provêm de famílias "tradicionais" devem ser uma escassíssima minoria.
Achei de uma grande ponderação as palavras que o Filipe Nunes Vicente escreveu a este respeito no post com o título "O sexo do filho", no Mar Salgado. O tema já passou da ordem do dia da blogosfera, bem sei, mas vale a pena ler.

Ainda outra coisa.
Há tempos, afirmei aqui que gostaria de um dia vir a adoptar um filho. É verdade, gostaria imenso de o fazer. Não sei se terei coragem, não sei se me deixarão fazê-lo. Sou divorciada. Não faço parte do grupo dos melhores candidatos a pais. Não duvido nem por um minuto da minha capacidade para, mesmo sozinha, criar um filho - a melhor prova disso tem 9 anos, está neste momento na escola e dá mil beijinhos por dia, pelo menos, à sua mamã. Mas serei sempre uma 2ª, 3ª, 4ª escolha. Concordo que se procure dar a uma criança que já teve a infelicidade de não poder viver com quem a pôs no mundo as melhores condições possíveis, e que por isso se privilegiem casais, etc, etc, etc. Mas fica um certo gosto amargo na boca, quando penso nisso. Por este pequeno amargo de boca penso conseguir avaliar (ainda que imperfeitamente, claro) o que sentirá um homossexual que ouve alguém dizer que uma criança órfã estaria melhor enfiada numa instituição (já agora como a Casa Pia...) do que entregue a si, apenas por causa da sua opção sexual.


 
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