Um pouco mais de azul

terça-feira, abril 27, 2004

Recordações de infância

A minha filha foi sempre muito faladora. Notou-se logo à nascença: ainda com parte do corpo dentro de mim, já se fazia ouvir, berrando a plenos pulmões.
Muito pequenita, por volta dos 5 ou 6 meses, passava horas a balbuciar: "guinguin, guingun"; já ninguém cá em casa aguentava estes sons que a encantavam! A sua primeira palavra foi "mamama", o que muito me envaideceu, apesar da sílaba a mais; num instante aprendeu a dizer "papapa" (três sílabas também, naturalmente), para bem da harmonia doméstica, porque o pai andava a ficar ciumento do privilégio materno!
Por volta do ano e meio, falava pelos cotovelos. Ninguém a percebia, mas também ninguém a calava. Do meio da sua algaraviada, lá nos chegavam umas "palavras" cujo significado entendíamos: "mumu" era o leite (ninguém mandou a mãe ensinar-lhe as vozes dos animais demasiado cedo), "gô" o arroz (não me perguntem porquê). A minha predilecção era, no entanto, a sua forma de dizer florzinha: "folhulha", como já tinha dito no post anterior. Ficou também para sempre gravado nos ouvidos de toda a família o seu lamento indignado quando não conseguia desenhar com perfeição aquilo que queria: "Não consego!!!". Sempre lhe expliquei que a palavra certa era "consigo". Não imaginam o desgosto que tive no dia em que não foi preciso corrigi-la...


 
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