Um pouco mais de azul

quinta-feira, abril 08, 2004

A Rapariga do Brinco de Pérola



Há uns dois anos, ao entrar numa livraria, a minha atenção foi captada pela capa de um livro de uma autora para mim desconhecida, Tracy Chevalier. Era o quadro acima que aparecia na capa. Não resisti: comprei o livro e li-o com imenso gosto, mergulhando por seu intermédio na vida (em grande medida ficcionada) e na obra (real) de um dos meus pintores predilectos, Vermeer.
Quando era miúda, ficava horas a folhear os vários volumes de uma História da Arte que havia lá em casa. Apaixonei-me então, irremediavelmente, pela pintura flamenga seiscentista, especialmente pelas paisagens, os moinhos de vento que se destacam de céus cor de chumbo, as desoladas cenas campestres e urbanas. Não sei bem porquê: se há século com que embirro é precisamente o XVII, um século triste, de gente austera vestida de preto, cheio de fanatismos, de intolerância da Reforma e da Contra-Reforma, de um Luís XIV que usava tacões altos pintados de cor-de-rosa e rendinhas pelas roupas fora. Mas é o século do genial Molière e dos tais pintores holandeses; entre eles, destaca-se, para mim, Vermeer e as suas cores, a sua luz.
O livro agradou-me, o filme, que lhe é bastante fiel, também. Por uma vez, achei que livro e filme se completavam lindamente. Passei cerca de 90 minutos deliciada, não só com os intérpretes e a história, mas ainda mais com a música, a reconstituição dos ambientes da época, e a luz, aquela magnífica luz filmada por um artista que merecia todos os óscares do mundo. Cada imagem parece recriar um desses quadros de que tanto gosto. Saí do cinema em estado de graça. E agora, apesar de ser tardíssimo, vou ler a Rapariga do Brinco de Pérola.


 
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