Um pouco mais de azul

domingo, abril 11, 2004

Balanço pascal

Pronto, o domingo de Páscoa está a chegar ao fim. E correu muito bem. Façamos o balanço:
- Queimei a ponta de um dedo na grelha do forno, o que deu muito jeito para de seguida descascar batatas, lavar louça, etc, etc (mas já está quase bom, graças ao Halibut; eu sei que há coisas melhores, mas esta pomada malcheirosa que tenho sempre à mão faz muito bem).
- Houve uma inundação na casa de banho, provocada por uma menina que tomava banho cantando em altos berros, sem se aperceber que a cortina estava mal posta e que metade da água escorria pelo chão fora; à custa disso, foi por um triz que o refogado do arroz não estorricou, porque me esqueci dele ao lume enquanto agarrava em toalhas e tentava conter a água antes que chegasse ao soalho de madeira (mas a água secou e o arroz ficou óptimo).
- O almoço teve cerca de uma horita de atraso, principalmente porque não me apeteceu interromper uma sessão de cócegas e risos na cama entre mãe e filha e correr para tachos e panelas logo que acordei e, é claro, o cabrito não percebeu nada dessas brincadeiras e não ficou pronto mais depressa só porque a cozinheira queria. Mas o sorriso com que o meu pai me brindou quando finalmente aparecemos em casa dele mostrou bem que esperar um bocadinho só tinha aumentado o apetite e a vontade de estarmos juntos.
- O padre que rezou a missa, ao fim da tarde, estava ainda mais chatinho do que de costume, desinspirado de tal forma na sua homilia que olhei para a minha filha, ela olhou para mim, e sorrimos, dando conta que estávamos ambas a pensar o mesmo: "Que grande seca!". E os cânticos que entoava levaram a que a verdade saísse, como sempre, de uma boquita infantil, talvez num tom um pouco alto demais: "Mãe, o padre canta tão mal!" Mas a falta de dotes de oratória e vocais era compensada, sem dúvida, pelo ar feliz daquele franciscano tão simpático, que no final da missa, apesar da idade já avançada, vem para a entrada da igreja cumprimentar quem sai e desejar a todos uma boa semana.
Um dia calmo, pois, de bom humor, dedicado aos que mais amo. A catarse escrita de ontem surtiu os seus efeitos, a tristeza foi-se embora. A cara feliz do meu pai mostrou que vale a pena; e quando ele insistiu em que fosse eu, e não a senhora que toma conta dele, a dar-lhe a comida que eu fizera, senti isso como um gesto de carinho tão grande...
É claro que paira no ar a saudade de quem já partiu, a tristeza pela doença. É tudo isso próprio da vida, afinal... É de algum modo o preço que se paga por se amar, por sentir, por crescer, por nos tornarmos adultos. Não há rosas sem espinhos, nem felicidades sem tristezas, nem, também, não o esqueçamos, infelicidades sem alegrias... Como diria Alberto Caeiro, num poema que já aqui citei:

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se,
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...


E o dia de hoje esteve cheio de sol.


 
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