Masoquismo
Este post vai ser um post masoquista. De alguma forma, estou a precisar que doa, que doa tanto que a dor se apague a si própria. Ou que doa tudo e depois passe.
Recebi há momentos um mail com uma fotografia: a sobrinha de uns amigos queridos, acabada de nascer. Uma bebé de olhinhos fechados, dormindo tranquila na sua caminha. Olhei para ela, sorri, e percebi, pela milionésima vez, que desejo imenso voltar a ser mãe.
Há uns anos engravidei pela segunda vez. Fiquei feliz - ficámos felizes, os três; eramos três, nesse tempo... Passei três meses enjoadíssima, com um sono horroroso, a cabeça zonza e humor de cão. Na altura de fazer a primeira ecografia, fomos os três, contentes, para vermos o maninho que lá vinha. Descobrimos que não era um, mas dois. E estavam mortos. Acontece imenso no primeiro trimestre da gravidez, mais ainda quando se trata de gémeos. Costuma suceder apenas aos outros. Dessa vez foi comigo.
Nos dias que se seguiram, senti-me um cemitério. Fui internada. De novo tive contracções e as malditas dores de rins que sentira quando a minha filha nasceu - só que desta vez não ia nascer ninguém, os meus minúsculos filhinhos estavam mortos. Eram dores sem sentido, portanto, sem nada que as justificasse e fizesse esquecer. Ao meu lado, uma outra mulher passava pelo mesmo, com a agravante de ser a primeira gravidez, depois de anos a tentar. Não nos conheciamos até nos colocarem no mesmo quarto da maternidade. Nas longas e tristes horas que passámos juntas, demos as mãos e falámos, chorámos, consolámo-nos mutuamente. Demos força uma à outra de uma forma que nunca pensei ser possível, de mãos dadas, cravadas uma na outra. Nunca mais nos vimos.
A vida impediu-me de voltar a tentar engravidar. Primeiro, contra-indicações de ordem médica. Depois, as muito mais complicadas contra-indicações de um casamento mais que falhado. Chegou-me a passar pela cabeça a ideia totalmente estúpida de não me separar antes de ter outro filho - seria de um egoísmo atroz... Deixei de conseguir olhar para lojas com roupas de bebé. Quando entro nelas, coloco uma armadura. Quando a minha filha me diz que quer ter um irmão (e di-lo tantas vezes...), coloco a mesma armadura. Mas hoje a armadura foi totalmente ineficaz perante a imagem de uma bebé recém-nascida, tranquilamente a dormir no seu berço. Veio tudo à lembrança, as lágrimas aos olhos, a verdade ao de cima: quero voltar a ser mãe. Quero voltar a ter um filho a crescer dentro de mim. Quero voltar a ter uma mão pequenininha a agarrar com toda a força o meu dedo. Quero voltar a amar e a ser amada de tal forma que juntos queiramos partilhar a vida e juntos queiramos fazer um filho e ver crescer os filhos e o amor.
Avisei que o teor deste post era puro masoquismo. Mas o propósito acima enunciado foi atingido. Só falta o resto, tudo o resto...
Recebi há momentos um mail com uma fotografia: a sobrinha de uns amigos queridos, acabada de nascer. Uma bebé de olhinhos fechados, dormindo tranquila na sua caminha. Olhei para ela, sorri, e percebi, pela milionésima vez, que desejo imenso voltar a ser mãe.
Há uns anos engravidei pela segunda vez. Fiquei feliz - ficámos felizes, os três; eramos três, nesse tempo... Passei três meses enjoadíssima, com um sono horroroso, a cabeça zonza e humor de cão. Na altura de fazer a primeira ecografia, fomos os três, contentes, para vermos o maninho que lá vinha. Descobrimos que não era um, mas dois. E estavam mortos. Acontece imenso no primeiro trimestre da gravidez, mais ainda quando se trata de gémeos. Costuma suceder apenas aos outros. Dessa vez foi comigo.
Nos dias que se seguiram, senti-me um cemitério. Fui internada. De novo tive contracções e as malditas dores de rins que sentira quando a minha filha nasceu - só que desta vez não ia nascer ninguém, os meus minúsculos filhinhos estavam mortos. Eram dores sem sentido, portanto, sem nada que as justificasse e fizesse esquecer. Ao meu lado, uma outra mulher passava pelo mesmo, com a agravante de ser a primeira gravidez, depois de anos a tentar. Não nos conheciamos até nos colocarem no mesmo quarto da maternidade. Nas longas e tristes horas que passámos juntas, demos as mãos e falámos, chorámos, consolámo-nos mutuamente. Demos força uma à outra de uma forma que nunca pensei ser possível, de mãos dadas, cravadas uma na outra. Nunca mais nos vimos.
A vida impediu-me de voltar a tentar engravidar. Primeiro, contra-indicações de ordem médica. Depois, as muito mais complicadas contra-indicações de um casamento mais que falhado. Chegou-me a passar pela cabeça a ideia totalmente estúpida de não me separar antes de ter outro filho - seria de um egoísmo atroz... Deixei de conseguir olhar para lojas com roupas de bebé. Quando entro nelas, coloco uma armadura. Quando a minha filha me diz que quer ter um irmão (e di-lo tantas vezes...), coloco a mesma armadura. Mas hoje a armadura foi totalmente ineficaz perante a imagem de uma bebé recém-nascida, tranquilamente a dormir no seu berço. Veio tudo à lembrança, as lágrimas aos olhos, a verdade ao de cima: quero voltar a ser mãe. Quero voltar a ter um filho a crescer dentro de mim. Quero voltar a ter uma mão pequenininha a agarrar com toda a força o meu dedo. Quero voltar a amar e a ser amada de tal forma que juntos queiramos partilhar a vida e juntos queiramos fazer um filho e ver crescer os filhos e o amor.
Avisei que o teor deste post era puro masoquismo. Mas o propósito acima enunciado foi atingido. Só falta o resto, tudo o resto...