Um pouco mais de azul

sexta-feira, abril 16, 2004

Epílogo

Final do dia, hora de fazer balanço dele (sim, eu sei que já é 1h26 da manhã, mas o meu dia só acaba quando vou para a cama). Dia estúpido até mais não. Em que o trabalho não rendeu nadinha, em que estive com uma neura do caraças. Há dias assim. Parece tudo mais negro, nem sabemos bem porquê (bem, eu até tenho uma justificaçãozita ou outra, mas não são chamadas para o caso). Dias de pôr tudo em causa. De perguntar a mim mesma o que ando eu a fazer na vida, agarrada a coisas que não interessam a ninguém, que ninguém valoriza - para quê, afinal?
Lembro-me do Velho e do Mar, do Hemingway (é o único livro do Hemingway de que verdadeiramente gostei; mas também não os li todos). E agora, a dúvida existencial: será que é nesse livro? Ai, que esta memória... Bem, não importa: se não for nesse é noutro qualquer, o que interessa é a história que ia contar e que surge no livro (seja ele qual for). Um turista americano falava com um pescador, perguntando-lhe porque é que ele não estava a pescar; ele responde que tinha pescado de manhã; argumenta o turista que se fosse pescar também à tarde, ganhava mais, e vai desenvolvendo o seu raciocínio no sentido de mostrar ao outro que quanto mais trabalhasse mais ganhava e com o dinheiro ganho poderia ter muitas coisas. Entre elas, poderia um dia ficar sem necessidade de trabalhar, olhando o mar. Responde o pescador que é exactamente isso o que já está a fazer. Sempre gostei deste diálogo (e é uma vergonha estar com estas dúvidas sobre a sua autoria; em minha defesa alego que, se quiserem, debito toda a minha tese até agora escrita, e ela já vai grande, sem quaisquer falhas de memória). Mostra bem como muito do nosso lufa-lufa diário é perfeitamente inútil, porque buscamos uma série de coisas que, afinal, não nos fazem mais felizes. Eu gosto muito do que faço, como creio já ter ficado patente; mas quantas vezes me interrogo sobre se valem a pena os sacrifícios que este trabalho exige (ainda para mais quando vêm propostas destas da ministra - lá volto eu ao mesmo...). A ideia da reforma nas Grenadines, a explorar um barzito, a passear num barco à vela, é cada vez mais sedutora. Melhor ideia: deixo para a reforma a investigação, e vou para as ilhas agora...


 
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