Um pouco mais de azul

quinta-feira, abril 15, 2004

Aborto

Devia estar a fazer outras coisas, mas acabei por ficar por aqui e, lendo mais opiniões sobre o tal projecto de financiamento da investigação que me tem trazido azeda, acabo por dar com um dos melhores textos que já li sobre o aborto. É este um tema complicado, sobre o qual me custa sempre falar, mas que me importa muito. Está fora do calendário blogosférico, mas está no meu calendário pessoal, que é o que interessa para mim.
Já em tempos aqui deixei uns apontamentos para um dia escrever sobre o assunto, o que não se chegou a concretizar. Deixo agora este link para o Conta Natura, que nos fornece um texto muito equilibrado e lúcido sobre o assunto; este outro para o Comprometido Espectador (posts de 1/12 e seguintes; desculpem a minha ignorância quanto a linkar directamente para um post específico), com o qual estou em absoluto acordo; este e este para o Contra a Corrente, que coloca (a 18 e 25 de Janeiro, se não me engana) questões que me obrigaram, e obrigam, a pensar. Todos estes textos colidem uns com os outros em vários aspectos. Porque não é uma questão fácil.

Fica aqui a minha opinião sobre o tema. A minha, muito pessoal, sobre mim mesma: nunca seria capaz de abortar. Se um acaso levasse a que engravidasse, por muito que isso provocasse um terramoto na minha vida (e como provocaria...), essa gravidez seria aceite e levada até ao fim, contra tudo e todos, se fosse caso disso. Não é uma frase pouco reflectida a que acabei de escrever: é uma declaração de princípio a cumprir. Se estivesse grávida de um bebé sofrendo de uma deficiência como a trissomia 21, esse bebé seria benvindo na mesma. Se a deficiência detectada fosse incompatível com a vida, estaria perante a mais difícil e terrível decisão, porque a esperança de que as coisas não fossem tão más como o diagnóstico pré-natal fazia temer ficaria sempre a pairar; tinham de me provar com toda a certeza que não era possível a vida, ou que esta seria de um sofrimento atroz durante o pouco tempo que durasse, para eu ser capaz de aceitar. Se fosse a minha vida a estar em perigo por causa da gravidez, não saberia optar; um dia, grávida da minha filha, tendo-se colocado essa mesma questão em conversa, o pai dela optava, sem dúvidas, pela minha vida; eu nunca o conseguiria fazer, apesar de todo o instinto que nos leva a procurar a sobrevivência, porque há todo um outro instinto, o de protecção pelo filho que começa muito, mas muito antes de ele nascer.

Caramba, lembro-me de cada tema para escrever... Porque me meto eu em coisas complicadas? Se já estava meio pró neura, agora fiquei de todo... Volto mas é para o trabalho, sonhando com a tal reforma dourada, sob o sol das Grenadines... e com um rancho de petizes saudáveis e felizes em meu redor.


 
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