Um pouco mais de azul

sexta-feira, março 03, 2006

Onde se fala da co-incineração e da gripe das aves

Acabo de ler que o governo anunciou o arranque da co-incineração nas cimenteiras de Souselas e Outão nos próximos meses. A ideia de José Sócrates enquanto ministro do Ambiente vai vingar com ele como primeiro-ministro. Dizem os ecologistas, nos jornais cá da terra que desde há uns dias não falam de outra coisa, que a legislação europeia sobre a queima de resíduos industriais mudou entretanto, que é muito mais rigorosa no que toca à segurança. Diz o ministro que tudo será feito com toda a transparênciae segurança.
Mas alguém acredita mesmo nisso, neste nosso país do deixa-andar e da desresponsabilização?
Num país onde uma cimenteira trabalha décadas a fio deixando sequelas graves na saúde da população local, como há semanas comprovou um estudo, sendo agora essa cimenteira uma das seleccionadas para a co-incineração?
Num país onde uma participação sobre uma ave morta, comunicada ao número de telefone disponibilizado para a gripe das aves, não é tida em conta, além de que o tal telefone não funciona 24h sobre 24h, como se conta, na primeira pessoa, na Aba de Heisenberg? E se o passaroco estivesse mesmo infectado? E o que dizer dos patos que continuam à solta em certas zonas verdes de Coimbra, podendo contactar com aves migratórias que já se vêem em bandos a esvoaçar sobre a cidade, e às quais decerto agradará a ideia de irem matar a sede nos lagos onde os patos vivem? Será idiota pensar que esses patos deveriam ser desde já colocados num local protegido por forma a minimizar o risco?
Eu cá, que não tenho nem a mania das doenças nem sou fatalista, confesso que não me sinto lá muito segura com as garantias que as autoridades fornecem nem num caso, nem no outro. Soa-me assim como aqueles médicos que nos mandam embora depois de nem sequer terem olhado para nós, e nos deixam com uma sensação infelizmente nem sempre errada de que nos estão a despachar e não a tratar...

Além disso, faz algum sentido que uma das cimenteiras escolhida esteja situada na periferia de uma cidade que pretende ser conhecida como "cidade da saúde", e a outra no meio de um parque natural belíssimo que devia era ver encerrada a cimenteira, e não ter lá resíduos perigosos a queimar? Não há mesmo nenhum outro sítio onde se possa fazer a queima, se ela for de facto indispensável?


 
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