Um pouco mais de azul

quinta-feira, outubro 13, 2005

Pensando alto

Reli outro dia alguns posts antigos. Vejo, à légua, a imensa diferença entre a minha forma de escrever de antes e a de agora. De uma transparência em que existia algo de candura, da candura de quem escrevia a coberto de um total anonimato, passou-se à cortina cerrada só entreaberta por consentimento consciente, e ainda assim com uma contenção que me faz resumir em meia dúzia de palavras o que, noutros tempos, diria em muitas frases. Por vezes - como hoje - sinto saudades de escrever como dantes. Mas isso tornou-se impossível: a partir do momento em que o diálogo se estabelece, em que o anonimato é quebrado, começa-se a usar máscaras. De alguma forma, quando a 1poucomais deu lugar à Zu - que pode ser nome de gente, que é um diminutivo pelo qual, inclusivamente, passei a responder fora daqui - quando essa mudança se deu, dizia, mudou também o resto. Como se a mudança de nickname reflectisse a alteração que sentia na forma como eu própria me via face à minha exposição bloguística. Não que a Zu não seja tão eu como era a 1poucomais; mas a Zu usa máscara - a 1poucomais não a tinha. E a máscara passou a existir à medida que os laços com quem me lê se estreitaram, o que pode parecer um paradoxo, mas ao mesmo tempo se compreende tendo em conta o tom fortemente confessional de muito do que escrevia. Recordo-me de ter saído com alguns bloggers que já conhecia pessoalmente, mas com quem a proximidade tinha sido criada aqui e não "lá fora", no dia seguinte a ter escrito um daqueles meus posts magoados, catárticos, exorcizadores de fantasmas. Dei comigo a pensar que estava ao lado de pessoas que sabiam de mim aquilo que ignora quase toda a gente que comigo diariamente convive. E isto é o que me parece paradoxal: à medida que desconhecidos se tornam conhecidos, a capacidade de não usar máscaras diminui (ou passa para o plano das conversas privadas). A perda da espontaneidade e da transparência é, talvez, o preço a pagar pela criação de laços reais - reais no sentido de existirem para lá da blogosfera, porque há laços que não saem deste meio e são bem autênticos. Bem, se é assim, vale a pena pagá-lo. Porque por este meio passei a conhecer uma série de pessoas que eu gosto muito, mas mesmo muito que façam parte da minha vida.

Podia continuar a escrever noite fora, se não me impedisse o soninho, que agora tenho de me levantar todos os dias quase à hora das galinhas (a verdade manda-me especificar que são galinhas que gostam de acordar pelas 7 e tal). Falo só do incómodo que há bocado tive ao descobrir que alguém chegou a este blog ao pesquisar "parvo". Isso é coisa que se procure na net?????? Quem procurava "parvo" encontrou o que eu outro dia escrevi sobre estar apaixonado. E pronto, faz-me espécie saber que quem procura "parvo" na net encontra as minhas reflexões sobre o balão de ar quente que pode ser apaixonarmo-nos, por mais parvas que essas reflexões até possam ser. Percebem o que eu quero dizer? É que se vem aqui alguém à procura de "Um pouco mais de azul", da Zu, da 1poucomais, vem à procura ou do poema que dá o nome ao blog (o que é legítimo), ou à minha procura. Mas que qualquer parvo em busca de parvo dê de trombas comigo e com o que eu escrevo sobre o amor... enfim, custa-me a engolir.
No entanto, se não houvesse forma de dar com este blog através de motores de busca, quantas das pessoas que me lêem não teriam nunca aparecido aqui e me fariam falta?


 
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