Anotações à margem
Tenho precisado de pegar nos cadernos onde, ao longo destes anos de investigação, tomei muitas das minhas notas. Tais cadernos não valem apenas pelo que contêm de informações úteis para a minha tese. Têm um valor muito especial: as anotações à margem que a minha filha ia fazendo. Ao pegar-lhes, ontem, recordei como ela decorou pedaços de páginas em branco com desenhos, ou classificou o que eu escrevia como se fossem exercícios da escola primária: "muito bom", "para a próxima quero frases completas", "devia ter usado a folha até ao fim", "incompleto".
Quando a tese terminar, vai haver um grosso volume em cima da mesa. Por detrás dele, muitas histórias, registadas somente na memória de quem nelas participou. Entre elas, estas anotações, para mim repletas da mais doce ternura, de que nunca me desfarei.
Enquanto eu escrevo, ela canta e dança na sala, de novo ao som do "Cats", de bigodes e nariz pintados com o meu lápis preto dos olhos. Está melhor, obviamente. Nem preciso de lhe pôr o termómetro ou de perguntar se lhe dói a garganta para saber.
Quando a tese terminar, vai haver um grosso volume em cima da mesa. Por detrás dele, muitas histórias, registadas somente na memória de quem nelas participou. Entre elas, estas anotações, para mim repletas da mais doce ternura, de que nunca me desfarei.
Enquanto eu escrevo, ela canta e dança na sala, de novo ao som do "Cats", de bigodes e nariz pintados com o meu lápis preto dos olhos. Está melhor, obviamente. Nem preciso de lhe pôr o termómetro ou de perguntar se lhe dói a garganta para saber.