Um pouco mais de azul

segunda-feira, agosto 30, 2004

Barcos e abortos

Navega perto da nossa costa um barco a que dão o feio nome do Barco do Aborto. Não gosto do tema do aborto. Sinto-me sempre muito desconfortável, como já em tempos escrevi, porque há uma questão moral básica que raramente vejo discutida com argumentos sérios e que considero fundamental. Limito-me, pois, a duas ou três notas e a citar um artigo.
Primeira nota: acho essa coisa de um navio vir falar de aborto pelo mar fora, e transformado em clínica ginecológica, uma coisa muito esquisita. Cheira-me a folclore extremista e demagógico, não gosto. Será que se arranjariam navios para ir falar de outros problemas, bem mais graves que os do aborto? Em países que consideram as mulheres como objectos pertença dos homens?
Segunda nota: os números de abortos clandestinos citados por cada jornal, cada blog, cada notícia que leio nunca são iguais. Há-os para todos os gostos, o que demonstra que não se faz verdadeiramente ideia de quantos abortos são praticados clandestinamente em Portugal.
Terceira nota: outros números, mais seguros e invariáveis de fonte para fonte, são apresentados, e esses incomodam-me muito. São os das mulheres que entram nas maternidades e hospitais devido a complicações relacionadas com abortos. Neles, asseguraram-me, juntam-se os casos de aborto provocado e os de aborto espontâneo. Essa mistura não devia ser feita. Também eu entrei numa maternidade devido a uma gravidez que não foi avante, e recuso-me a fazer parte de estatísticas de abortos desejados, porque nada fiz para perder os filhos que esperava, muito pelo contrário. O meu registo na maternidade não pode ser contabilizado dessa maneira.

Como disse, não quero estender-me nesta matéria. Prefiro remeter para um artigo de alguém insuspeito como é Zita Seabra, que escreve no Público com grande sensatez e pondo vários pontos nos ii quanto a toda a polémica em torno deste barco. Está aqui.


 
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