Um pouco mais de azul

quarta-feira, junho 09, 2004

A morte saiu à rua num dia assim

Este verso do Zeca Afonso veio-me à ideia mal soube da morte de Sousa Franco. Fiquei triste. Não gosto de política, não gosto de falar de política, resguardei-me da campanha eleitoral ao ponto de quase conseguir esquecê-la. Mas gostava da figura de Sousa Franco. Gostava do seu ar desajeitado e genuíno. Gostava de um homem que se via estar a sentir-se como peixe fora de água em tantas ocasiões, embaraçado no mediatismo. De um homem que não mudava de imagem por motivos de marketing político e mantinha os seus óculos esquisitos - e assim passou, para mim, a imagem, rara entre os nossos políticos, de um homem honesto.
Morre Sousa Franco na recta final de uma campanha eleitoral a que o país assistiu de costas voltadas. Que serve apenas para os políticos se ouvirem a si mesmos, para os jornalistas terem com que se entreter e para muitos analistas e comentadores arranjarem assunto para falar narcisicamente durante horas. E para gastar dinheiro a rodos, claro está. Alguém vota num qualquer partido por causa da campanha? Duvido. Eu não o faço. Para quê todo este folclore?
O mais absurdo é que Sousa Franco teve um ataque cardíaco depois de uma cena que nada tem sequer a ver com as próximas eleições, se bem percebi. Bulhas no seio do seu próprio partido, em torno de Narciso Miranda, imagine-se. A morte tem um humor negro e perverso, quando resolve sair à rua, num dia assim.


 
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