Um pouco mais de azul

terça-feira, junho 15, 2004

Decididamente...

... hoje o dia devia ter sido de estar quieta, calada, sem acesso à net nem atender o telefone. Hoje parece que há uma cabala, uma conspiração para que me venham as lágrimas aos olhos. Já conseguiram, podem parar. Já houve telefonema de desabafo de quem não sabe se perde o emprego ou o conserva graças à ineficiência e falta de educação de um dos nossos ministérios. Já houve mail de me torcer o coração de um amigo afastado da filha que adora (e como eu gostava de o poder ajudar, e nada posso fazer senão mandar-lhe um grande, enorme abraço). Já houve ler isto e ficar triste, porque desde que sou mãe sinto como se todos os meninos do mundo pudessem ser a minha filha, e por isso um menino que sofre é sempre de algum modo a minha Miosótis. Já houve abrir um blog e ler esta carta linda e pensar que era exactamente assim que eu queria sentir, mas que não foi nada disso que aconteceu comigo, e que só quem passa por elas sabe quanto dói ver ruir projectos e sonhos de que me sinto roubada. Já houve abrir este outro blog e saber que em parte foi inspirado por passar por aqui, e perceber que tive toda a razão em ficar a lê-lo quando o descobri, porque diz uma série de coisas que me têm passado pela cabeça sobre blogs e sobre a vida e sobre o que ando afinal para aqui a fazer. Já houve, enfim, deparar com o pedido que está há tanto tempo atravessado na minha garganta sem ousar sair, e não ousa sair porque não há quem o ouça se eu o fizer.
Já houve isto tudo, hoje, e o mais que não conto mas anda cá dentro, em cima de uma indizível sensação de cansaço, de que tudo quanto faço é arrancado a ferros, de que cada passo pesa toneladas, de que quero pôr uma tabuleta na porta a dizer "trespassa-se" e desaparecer daqui para fora.
Mas sou casmurra. Casmurra e orgulhosa. É precisamente nestes momentos em que as lágrimas aparecem, em que me sinto mais frágil, em que as forças parecem falhar que, depois de "pingar" um bocado e de escrever umas coisas como as que acabo de escrever, me vem um ataque de genica e fúria. Cerro os dentes, arregaço as mangas, dou um murro na mesa e juro a mim mesma que vou até ao fim, que vou conseguir. E que a tese acaba, e que a minha vida entra nos eixos, e que vou chegar lá. Ao azul.

PS - Também acredito no Peter Pan. No Grande e no Pequeno. Juntos, de mãos dadas, chegam a todo o lado.


 
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