Um pouco mais de azul

segunda-feira, março 01, 2004

Poema

Como já outro dia disse, há por vezes coisas que vêm ter connosco sem as procurarmos. Há tempos, encontrei a minha vendedora da CAIS preferida - uma mulher grande, forte, que vende revistas e oferece sorrisos doces. Comprei a desse mês (não me recordo qual), ganhei o sorriso e pus-me a folhear a revista. Encontrei um conjunto de belas fotografias e de poemas ainda mais bonitos. Entre eles, um poema que desde então me tem acompanhado. Este:

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma cousa para trincar
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se,
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...


Alberto Caeiro


 
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