Santa?
Pela Terra da Alegria, fiquei a saber de um site chamado PensaBem. Uma coisa muito católica, especialmente no sentido em que menos me identifico com o catolicismo. Acerca deste site, leia-se o que muito bem diz o José.
Mas não era (por ora) para falar propriamente do site que resolvi escrever. É que lá encontrei uma pequena biografia (não poderia ser muito maior, aliás...) de uma santa que apenas conhecia de nome: Santa Maria Goretti, a quem chamam "a pequena e doce mártir da pureza". Resolvi ir ler - não que a hagiografia seja o meu género literário preferido, note-se, e que eu não tenha nada mais importante para fazer à 1 da manhã...
Fiquei então a saber que, em 1902, um energúmeno de 20 anos, resolveu que ia abusar de Maria Goretti. As famílias de ambos partilhavam uma casa humilde numa aldeia italiana. Ele reparou na rapariguita de 12 anos, fresca na sua inocência de quase criança, como por certo a larguíssima maioria das meninas da mesma idade e do seu tempo. É descrita como educada em ambiente de grande fervor católico, modesta, cheia de pudor, envergonhada diante de conversas mais atrevidas. Perante os avanços do gajo, resistiu, e por isso ele apunhalou-a 14 vezes. A menina ainda foi transportada com vida para o hospital, mas acabou por morrer. Antes, porém, houve tempo para lhe dar a extrema unção, e o padre perguntou-lhe, entre outras coisas, se ela perdoava ao seu agressor, ao que ela respondeu afirmativamente - prova do seu coração generoso.
Uma história triste, como vêem. Mas suficiente para fazer da menina uma santa? Canonizem então, por favor, todas as meninas abusadas, violadas, agredidas, que ao longo dos séculos se defenderam e resistiram às agressões e disseram que o que lhes pretendiam fazer era pecado, era feio, conduzia ao inferno, tal como lhes fora ensinado na catequese. E veja-se nisso não a defesa da virgindade em si, mas do direito de ninguém abusar do seu corpo - ainda por cima intocado. Quando leio que um dos argumentos usados para a canonização foi o facto de ela se ter mantido fiel ao mandamento de Deus mesmo sob ameaça de morte, só posso perguntar se a resistência não seria exactamente o natural numa menina (ou numa mulher) assustada; e se a besta que a atacou não a tivesse ferido, mas antes decidido violá-la, a menina não conseguiria impedi-lo - alguém teria defendido a sua santidade se ela tivesse deixado de ser virgem?
Mas não era (por ora) para falar propriamente do site que resolvi escrever. É que lá encontrei uma pequena biografia (não poderia ser muito maior, aliás...) de uma santa que apenas conhecia de nome: Santa Maria Goretti, a quem chamam "a pequena e doce mártir da pureza". Resolvi ir ler - não que a hagiografia seja o meu género literário preferido, note-se, e que eu não tenha nada mais importante para fazer à 1 da manhã...
Fiquei então a saber que, em 1902, um energúmeno de 20 anos, resolveu que ia abusar de Maria Goretti. As famílias de ambos partilhavam uma casa humilde numa aldeia italiana. Ele reparou na rapariguita de 12 anos, fresca na sua inocência de quase criança, como por certo a larguíssima maioria das meninas da mesma idade e do seu tempo. É descrita como educada em ambiente de grande fervor católico, modesta, cheia de pudor, envergonhada diante de conversas mais atrevidas. Perante os avanços do gajo, resistiu, e por isso ele apunhalou-a 14 vezes. A menina ainda foi transportada com vida para o hospital, mas acabou por morrer. Antes, porém, houve tempo para lhe dar a extrema unção, e o padre perguntou-lhe, entre outras coisas, se ela perdoava ao seu agressor, ao que ela respondeu afirmativamente - prova do seu coração generoso.
Uma história triste, como vêem. Mas suficiente para fazer da menina uma santa? Canonizem então, por favor, todas as meninas abusadas, violadas, agredidas, que ao longo dos séculos se defenderam e resistiram às agressões e disseram que o que lhes pretendiam fazer era pecado, era feio, conduzia ao inferno, tal como lhes fora ensinado na catequese. E veja-se nisso não a defesa da virgindade em si, mas do direito de ninguém abusar do seu corpo - ainda por cima intocado. Quando leio que um dos argumentos usados para a canonização foi o facto de ela se ter mantido fiel ao mandamento de Deus mesmo sob ameaça de morte, só posso perguntar se a resistência não seria exactamente o natural numa menina (ou numa mulher) assustada; e se a besta que a atacou não a tivesse ferido, mas antes decidido violá-la, a menina não conseguiria impedi-lo - alguém teria defendido a sua santidade se ela tivesse deixado de ser virgem?