Um pouco mais de azul

segunda-feira, agosto 02, 2004

Praia, precisa-se

Preciso de encontrar uma praia que sinta como minha. Tive-a na infância - praia nortenha de águas calmas, quebradas as ondas nos rochedos que criavam uma pequena enseada e que tinham, nas suas pocinhas, milhares de segredos a descobrir. Essa praia já não existe. A poluição encarregou-se de a destruir por completo, à medida que uma fábrica de produtos lácteos em crescimento tornava um inofensivo ribeiro num cada vez maior esgoto a céu aberto.
Nunca mais senti como minha uma outra praia. Não gosto das praias da zona onde moro. Detesto a Figueira - demasiado urbana, demasiado Coimbra C e desfiles de vaidades, de passeios dos tristes por ruas apinhadas de gente, com uma praia assolada pela nortada a que se chega depois de andar quilómetros, e um mar perigoso e frio onde nunca estou sossegada com a minha filha. E sem rochas, só mar e areia. Em Buarcos há rochas, mas de uma estranha cor, lisas, e o espaço das praias é cada vez menor pois a costa regride todos os anos nessa zona. Do outro lado do rio, na Gala, o panorama não é muito melhor. Mas o pior de tudo para mim são mesmo as recordações e os encontros imediatos.
Mira tem sido a alternativa. Foram lá as férias do ano passado. Tem a barrinha, uma zona óptima para andar de bicicleta com a garota, uma praia ampla que não exige grandes caminhadas, forma-se na maré vaza uma espécie de piscina com que as crianças deliram - mas falta alguma coisa àquela praia para poder ser a minha. Faltam as rochas, os recantos, a água calma de que tanto gosto...
Não vou à Tocha há séculos; guardo a vaga ideia de uma perfeita parvónia de mar batido e cortada pela nortada. Quiaios ainda mais - e a esta ligam-me recordações bonitas, mas das que quero bem enfiadas no fundo do baú onde estão guardadas.
Queria uma praia onde voltar ano após ano e que conhecesse como as palmas das minhas mãos. Queria que a minha filha tivesse a sua praia.
A praia que mais senti como minha foi aquela que se vê numa foto ali em baixo: Odeceixe. Com mar para todos os gostos, um imenso areal onde vêm morrer ondas pequenininhas, mil e uma pocinhas cheias de algas, caranguejos e anémonas Foi lá que a Miosótis as viu pela primeira vez. Mas fica tão longe...


 
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