Um pouco mais de azul

sexta-feira, dezembro 16, 2005

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Esta é a foto que o Diário de Notícias on-line usa hoje para ilustrar o artigo sobre a pequenina Fátima Letícia, que continua a lutar pela sobrevivência com as poucas forças dos seus 50 e tais dias de vida maltratada. Uma foto que me faz pegar num tema que sigo, e sobre o qual prefiro o silêncio da minha indignação e uma prece pela bebé, mas de que agora falo, porque está aqui atravessado.
Pelo que leio, todos os responsáveis pelos diferentes serviços/instituições que foram prestando assistência à bebé vão sacudindo a água do seu capote. Como era de esperar, como é costume neste país que cultiva a irresponsabilidade e impunidade. O problema é que uma bebé não é uma boneca, como a da foto. Essa, pode-se colar, ou deita-se fora e substitui-se por outra, nova. O mesmo não acontece com uma menina de carne e osso, a quem nada devolverá a vista de um dos olhos e não se sabe que lesões irreversíveis sofrerá, caso consiga sobreviver.
Mas todos fizeram o que havia a fazer, todos actuaram como deviam actuar - e ninguém se espantou porque uma bebé em risco foi entregue aos cuidados de uma avó que vive debaixo do mesmo tecto que os que colocam em risco a criança? E será precisa uma formação assim tão especial para que quem faz parte das comissões de menores não achem estranhas as entradas sucessivas da bebé nas urgências hospitalares? E a GNR, sob cuja jurisdição fica a aldeia onde tudo isto aconteceu, não é informada dos antecedentes de acusações de abuso sexual por parte do energúmeno que é infelizmente pai da menina?
Entretanto, uma criança minúscula luta pela vida no Hospital Pediátrico de Coimbra. Um hospital cujo belíssimo trabalho é por todos reconhecido, e um exemplo do que se pode fazer apesar de todas as dificuldades logísticas. Um hospital que espera há anos por novas instalações, porque nem sequer a segurança necessária existe no velho edifício conventual onde funciona. Um novo hospital que o governo central promete há anos e anos e com o qual acena em tempos de eleições, cujas obras estão paradas há meses por haver erros graves no projecto e ninguém sabe quando estará pronto, nem ninguém na verdade se importa muito, nessa Lisboa centralista que vê pouco para além do rio Tejo e do seu próprio umbigo. Mas também ninguém será responsabilizado por isso, nem pela derrapagem de custos mais do que certa.


 
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