Um pouco mais de azul

quarta-feira, junho 30, 2004

Desafios

Estamos nas finais do Europeu. Pela minha parte, os festejos hoje foram poucos. Não que não esteja contente, mas porque estou em fase em-mim-mesmada (mais uma palavrita que andava à espera de ocasião para ser usada). Vou andar um bocado silenciosa, aviso já. Não por estar em reflexões profundas sobre o que é blogar (essas ficam para depois). Mas porque tenho os meus desafios pessoais a jogar, e preciso de muita concentração para isso. Logo, nada de grandes posts. Nem nos sítios do costume ando a comentar como é hábito. Tenho de vencer, definitivamente, o enjoo da tese e mostrar à gazela / crocodilo / monstro feio quem é que manda - que não haja dúvidas, sou eu, tenho de ser EU!

Pedras de que gosto

terça-feira, junho 29, 2004

Actualização do post anterior

Eu sabia que me ia arrepender. Uma menina encharcada chapinha numa varanda toda molhada. Há mais água fora que dentro da bacia grande e das outras bacias mais pequenas que ela foi buscar. Os toalhões que preventivamente ali coloquei estão ensopados. Mas ela está feliz, e não é isso o principal?
Pela minha parte, começo a aguardar ansiosamente a hora em que ela vá para a cama e em que o silêncio reine, de novo, cá por casa. E espero que o pai se decida a levá-la até à praia nos próximos dias. Fazia bem a todos.

Um pouco de aqui

O rádio toca. Estou agarrada ao computador. Uma petiza palra sem cessar na varanda, a chapinhar na maior bacia da roupa que há em casa e que a maluca da mãe encheu para ela brincar. Como se faz uma tese...

Refrescando as ideias



Sobre blogs

Ando com vontade de escrever sobre blogs, o que é escrever num blog, o que faço aqui, o que me tem permitido aprender, saber, sentir, descobrir. Adio, contudo, o momento de o fazer. Por manifesta falta de tempo para escrever um texto que obrigatoriamente terá uma densidade diferente da usual. Por necessidade de deixar certas ideias maturar (o que implica também tempo para reflexão, o tal que me falta). Porque me sabe bem ter este espaço e corro o risco de descobrir, no final dessa reflexão, que é melhor acabar com isto.
Adio, pois, o texto. Vou, no entanto, lendo as reflexões de outros acerca do assunto. Numa delas, diz-se que nalgumas ocasiões, ao escrever aqui, se faz uma ligação directa à alma.
Bonita ideia. Subscrevo. Anda por aqui muito da minha alma. E é em boa medida isso que me está a inquietar...

segunda-feira, junho 28, 2004

E mais pinguins



Não resisto. São lindos, não acham?

Nota - Vai ser como as Grenadines: volta e meia, pimba, um pinguim. E por falar nas minhas ilhas douradas, nem pensem que me esqueci delas. Apenas não me apetece sonhar com elas neste momento, dá demasiada vontade de fugir para lá...

Pinguins



Gosto de pinguins. Descobri um site cheio de deliciosas fotografias destas aves patuscas (chegam lá via foto). Neste tempo de calor acho-as especialmente refrescantes. Já sabem: vai haver pinguins aqui, ao longo do Verão.

Pensamentos do dia

As empregadas domésticas valem o seu peso em ouro. Percebemos isso com especial acutilância no dia em que calha faltarem.

É delicioso ceder ao sono quando ele nos invade a seguir ao almoço. Estendermo-nos na cama, e deixarmo-nos ir adormecendo, entre pensamentos que se tornam confusos, difusos e finalmente sonhos.

Ter um blog também é isto

Recebi do Bioterra o pedido de divulgação do Dia Internacional de Apoio às Vitimas da Tortura, patrocinado pela Amnistia Internacional. Ficam os links da secção portuguesa da AI e do site da organização em que foi lançada tal campanha.

domingo, junho 27, 2004

Gosto disto



Do Charlie Brown. Do Snoopy. De me sentar assim, a ver a imensidão de um lago ou do mar.

Depressa, mudemos de assunto

Isto de tanto andar a falar em política está a deixar-me estranha. Deitei-me outra vez quando os pássaros cantavam (está a tornar-se mania... queixei-me anos a fio de horários virados do avesso, se ele sabe ainda me manda umas piadas que não me apetece ouvir). Levantei-me às 2 da tarde, almocei às 3, às 4 dançava na sala com a minha filha, às 5 dou conta que acabei de ler uma série de blogs que falavam de política. Vou é trabalhar na tese. Insanidade por insanidade, antes uma que faça diminuir a distância que falta para o fim desta "neverending story" (em inglês, porque me recordei da música, mas não de quem a interpretava, claro, ou não seja a minha memória para estas coisas a desgraça que já várias vezes apregoei).
Ao trabalho, pois. Apesar de me apetecer muito mais agarrar na cachopa e irmos as duas até à praia. Há ideias que não deviam ocorrer quando se tem tanto que fazer... Fico dividida, com um diabinho e um anjinho, cada qual do seu lado da minha cabeça, segredando-me ao ouvido, como nas bandas desenhadas. "Praia, já", diz um; "Trabalha, já falta pouco, depois vais descansada para a praia", diz o outro; ainda não percebi qual deles diz o quê. Depois conto quem venceu.

Nós não servimos só para apoiar a selecção



Terceiro post de carácter político seguido... Algo se passa comigo. Ou com o país. Vejo esta imagem, criada pelo Barnabé, em blogs de esquerda, direita e "não alinhados". É sintomático, creio.

sábado, junho 26, 2004

Opereta

Tudo o que se tem dito e sabido sobre esta reviravolta na nossa vida política mexeu comigo. Em lugar de trabalhar, salto de blog para blog, escolhendo os que se dedicam a temáticas políticas, dos vários quadrantes. Leio as Blasfémias, o Mar Salgado (tenho saudades do FNV), a Causa Nossa, o Barnabé, o Terras do Nunca. Pela Grande Loja chego à crónica do Vasco Pulido Valente. Revejo-me nos desabafos do Forum Comunitário. Ao mesmo tempo, ouço de novo os Magnetic Fields(já avisei que sou de fixações musicais, além de ter preguiça de tirar os CDs da aparelhagem). Uma das canções chama-se In an Operetta. Não podia ser mais apropriado.

E à custa destas reviravoltas, é o segundo post seguidinho sobre política, neste espaço onde nunca pensei escrever acerca disto!

sexta-feira, junho 25, 2004

O que é isto?

Anda uma pobre mortal enredada em trabalhos científicos à mistura com obrigações maternais, e a dizer meia dúzia de patetices mais ou menos inspiradas no seu blog. Vai à festa de fim de ano da escola da filha e regressa a casa já de noite, com a barriguinha cheia de caldo verde, broa e canções do Carlos do Carmo cantadas por um "animador de festas" com boa voz (coisa rara). Eis senão quando dá de caras com a notícia de que o primeiro ministro está de partida para Bruxelas e que deixa a governar, em seu lugar, o Santana Lopes! Palavra que ainda não me refiz. São demasiadas emoções fortes para o país. Ontem a vitória na bola, hoje isto?
Leio as versões on-line dos jornais nacionais. Nenhum desmente ou revela que o 1º de Abril mudou para hoje. Passeio pelos blogs políticos. Por uma vez, linko o Abrupto - que não precisa dos meus links para coisa nenhuma, e nem aquenta nem arrefenta ao* Pacheco Pereira que eu goste ou não do seu blog. A escolha do quadro e das poucas palavras que o acompanham foi muito do meu agrado.
Dá-me uma enorme vontade de fazer as malas e ir daqui para fora, tal como diz o meu caro Walter. Centro de Investigação das Grenadines, será desta que vais mesmo ser criado?

* Com artigo, Ma-Schamba; sou muito atrevida, às vezes.

Reflexões para consumo próprio

E isto de ter um blog tem muito, mas muito que se lhe diga também.
Às vezes dou comigo a pensar que uma qualquer frase que acabo de dizer seria um bom mote para um post. Leio um texto, um poema, vejo uma imagem, e lembro-me que gostaria de os reproduzir aqui. Isto é um bocado esquisito.
O pior é quando certas frases nos perseguem e querem à viva força sair cá para fora, para o blog. São em geral umas parvoices mais ou menos enigmáticas, destinadas a não ser entendidas, mas que dão um gozo dos diabos a quem as escreve (a mim, pelo menos, dão). Há pouco, num comentário ali em baixo,não resisti a uma dessas tentações. E a ela regresso, referindo a vontade que por vezes me dá de torcer o pescoço aos meus canários. Isto, juro, não explico. Nem explico porque é que neste momento me apetece mais piscar-lhes o olho, com um sorriso de cumplicidade. Vocês é que me entendem, não é, pardalecozitos?

Isto de se ser mãe...

Depois da alegria da vitória portuguesa, deu-me vontade de trabalhar. Finalmente, inspiração. Até desoras, claro. Quando me deitei, os estúpidos dos pássaros (desejo escrever isto desde que li o Diário de Adrian Mole) os estúpidos dos pássaros, dizia (assim repito), já cantavam. Antes das 9 tinha alguém a cair (literalmente) sobre mim, chamando-me com entusiasmo. Antes das 10, com menos de cinco horas de sono, estava a levar uma menina à escola para uma manhã de brincadeiras. Com um sorriso. Isto de ser mãe tem mesmo muito que se lhe diga...

As cores hoje são estas



(Obrigada, Blue)

quinta-feira, junho 24, 2004

Ganhámos!

Não vi o jogo, foi promessa solene. Mas dei comigo a sofrer com o prolongado silêncio que reinava na vizinhança. Quando ouvi o brado anunciando o golo, saltei para a TV e confirmei. Ao segundo golo, a mesma coisa, dando comigo aos pulos, com a Miosótis ao colo. Depois foi de novo o silêncio. Não aguentei mais, liguei a TV. Assisti ao golo que deu a vitória a Portugal. Ficámos as duas aos berros e aos pulos na sala e na varanda.
Fui atacada pela futebolite aguda, pronto. Só me falta ir para a rua buzinar e gritar por Portugal. Nem pareço eu. Mas, caramba, é Portugal nas meias-finais do Europeu!

Prazer em tons de azul

Porque hoje isto é especialmente verdade

Outro dia, vieram-me as lágrimas aos olhos ao ler um texto da Catarina (sem link, pelas razões já apontadas) sobre o que é ser mãe sozinha. Hoje, por uma série de razões que não interessa explicar, sinto especialmente o peso de ser mãe sozinha. E em lugar de encontrar outras palavras para traduzir o que tal significa, uso as dela, que tão bem dizem o que há para dizer.

"Ser mãe sozinha não é não ter mais ninguém que carregue os sacos de supermercado. Não é dar banhos todos os dias e fazer jantares e brincar e ajudar nos trabalhos de casa e deitar e ler histórias e dar beijinhos e palmadas e ralhar sem ajuda. Ou levar e buscar os filhos à escola, correr de um lado sempre sem tempo. Preocupar-se com doenças e pediatras e vacinas e remédios e dividir-se em duas quando é preciso abraçar um bebé doente e fazer um banho morno e limpar o vomitado do chão e mudar a cama a meio da noite. Levar os filhos ao parque infantil e inventar passeios para os dias de chuva nos fins de semana. (...)

Não. Ser mãe sozinha pode ser assim, mas não é isso.

Ser mãe sozinha é (pelo menos para mim) ver mães que não são sozinhas, ver os seus filhos, olhar para o meu e pensar: esta criança tem uma dor no coração. Pode ser pequena ou minimizada, pode nem dar por isso. Mas tem. É o desespero e a responsabilidade de saber que depende de mim que, apesar de ter essa dor, o meu filho cresça feliz."

quarta-feira, junho 23, 2004

Já cá faltava um poema

Aqui onde se espera
- Sossego, só sossego -
Isso que outrora era,

Aqui onde, dormindo,
- Sossego, só sossego -
Se sente a noite vindo,

E nada importaria
- Sossego, só sossego -
Que fosse antes o dia,

Aqui, aqui estarei
- Sossego, só sossego -
Como no exílio um rei,

Gozando da ventura
- Sossego, só sossego -
De não ter a amargura

De reinar, mas guardando
- Sossego, só sossego -
O nome venerando...

Que mais quer quem descansa
- Sossego, só sossego -
Da dor e da esperança,

Que ter a negação
- Sossego, só sossego -
De todo o coração?


(F. Pessoa)

Pretty in blue



Chegou-me das ilhas, trazida por uma gaivota. Obrigada!

terça-feira, junho 22, 2004

Onde se fala de abraços e de um amor que nunca morre

Falava-se outro dia, num daqueles blogs de mamãs que considero um privilégio ler (e que não linko, por expresso pedido dessa mãe, que não quer grande publicidade), de abraços a três. Ou seja, de abraços de pai, mãe e filho, apesar de os pais estarem separados, e da importância desses abraços. Pela minha parte, fiz questão que não deixassem de existir. Apesar da separação, tem havido momentos a três. E nesses momentos, se vem a propósito, abraços a três. Não é fácil. Para mim, pelo menos, não é. Mas vale a pena. O amor pela nossa filha é maior do que o desamor, o desencanto, a desilusão.

segunda-feira, junho 21, 2004

Proibida a entrada a homens (excepto aos listados, claro está)

As palavras são como as cerejas, e a propósito de jogadores de futebol falou-se de beleza masculina. Por uma vez, o Um pouco mais de azul vira cor-de-rosa. Desafiada pela Cassandra para fazer uma lista de homens que acho bonitos e charmosos (porque o charme é muito, mas muito mais importante do que a simples beleza física), aqui vai, numa brincadeira, uma selecção de actores. Deixo de lado muitos dos sex-symbols da sétima arte de hoje, mas há uma data deles que nem sequer conheço, ou cujo nome não sei. A ordem de apresentação é arbitrária, com excepção do primeiro lugar, ocupado, indiscutivelmente, por Cary Grant.
Da lista tem de fazer parte Sean Connery (a partir do momento em que deixou de ser James Bond, e sobretudo com o cabelo grisalho), tal como o dono de uns magníficos olhos negros que dá pelo nome de Ben Chaplin (num post antigo aparece uma foto do rapaz, de que o Boss não gostou, e nisto de homens bonitos ele é entendido; mas eu gostei daqueles olhos assim que os vi). Não pode faltar também o Harrison Ford, nem o Paul Newman e o Robert Redford (especialmente em África Minha). Junto-lhes ainda James Stewart, pelo charme. E dou-me conta que, tirando o tal quase desconhecido dos olhos bonitos, só estou a referir actores que estiveram no auge há umas largas décadas e ou já morreram, ou andam na casa dos 60, 70 ou se calhar 80 anos, neste momento... Provavelmente isto quer dizer alguma coisa sobre mim. Como, por exemplo (apresso-me a explicar), que vou pouco ao cinema.
Actores mais novos: Hugh Grant (tem o seu quê de snob enjoado, eu sei, mas mesmo assim "mi piaggia"); Richard Gere; Brad Pitt num filme em que faz de terrorista do IRA (apenas nesse); Keanu Reeves; Ralph Fiennes; o inglês que faz de Vermeer no Rapariga com Brinco de Pérola cujo nome me escapa. E chega, já estou farta de pensar em homens bonitos.

Figos

Não, este post não tem nada a ver com o tal morenaço cuja foto anda em todo o lado, dá pontapés com mestria numa bola e ganha mais num mês do que eu em... não vou fazer contas, ou fico de neura e mando mesmo a tese pela janela fora. Adiante.
Estou a falar de figos, os frutos da figueira. Os figos que detestava em miúda, mas eu era uma tola que também não gostava de batatas fritas aos palitos nem de fiambre, e pior que tudo, do recheio delicioso de um bolo que a minha avó fazia. Penso imensas vezes nas fatias carregadas desse recheio de amêndoa que dei à minha irmã, com a nostalgia de quem sabe, agora, o que perdeu. Penso também nos figos que não comi sempre que os como, gulosa. Como hoje.
Ofereceram-me figos apanhados esta manhã de uma figueira algures no Ribatejo. Figos "caseiros" que quase se esborracham quando os abro à mão. Tenho passado a tarde a comê-los. Alguém é servido?

Vermelho e verde



Atendendo a um pedido, como forma de "apitar" e dando uma alegria à minha filha, que acha o Nuno Gomes tão bonito e vai gostar imenso de o ver aqui.

Pretty in pink

domingo, junho 20, 2004

O som dos golos

Tinha a televisão e o rádio desligados. Soube do golo português no preciso instante em que a bola entrou na baliza espanhola, através do grito que se ergueu em uníssono de todos os prédios vizinhos.

O meu amor

(Teresinha) O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai


(Lúcia) O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai


(As duas) Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz


(Lúcia) O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai


(Teresinha) O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai


(As duas) Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz


Ontem ouvi Chico Buarque. Hoje deixo aqui mais uma das canções belíssimas que ele colocou em bocas femininas.

Por vezes

Faz bem afastarmo-nos do computador. Boa tarde!

sábado, junho 19, 2004

Para mais tarde recordar

Penteando e secando o cabelo depois do banho:
- Mãe, hoje não gosto da minha cabeleireira.
- Não gostas, filha?
- Não. Adoro!

Vários beijinhos depois:
- Se eu te der 100 beijinhos por dia, no final de uma semana dei-te 700. E no final deste mês vão ser 30x100, 3000 beijinhos. Quantos vão ser ao fim de um ano, mãe?
- O ano tem 365 dias...
- Não, este ano é bissexto, são 366. 36600 beijinhos, mãe. São 36600, não são? Com números grandes atrapalho-me a dizer sem os ver escritos.

- Mãe, não há ninguém no mundo a quem eu goste tanto de dar beijinhos como a ti!
- Filha, também és tu quem mais gosto de beijar.

sexta-feira, junho 18, 2004

Há dias assim

A cada vez que me consigo concentrar no trabalho, falam-me, tocam à campainha, telefonam-me, fazem-me sair de casa. Começo a sentir a impaciência a fervilhar cá por dentro.

Azul



(com a devida vénia, copiado daqui)

Pensamentos nocturnos

Sabe-me bem estar acordada a esta hora, frente ao computador, trabalhando ou passeando por blogs. A casa está calma, a Miosótis dorme tranquila, a música toca baixinho; é como se a paz se instalasse em meu redor e em mim, como se me reconciliasse com muitas coisas que por vezes incomodam ou irritam.

quinta-feira, junho 17, 2004

Todo o sentimento

Chico Buarque faz 60 anos no sábado, soube-o aqui. Nada melhor para comemorar tal data do que recordar as suas canções. Esta, por exemplo, de que tanto gosto.

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu

O que se faz

Na sala procura-se o Nemo. Aqui soam os acordes doces, sublimes da Sonata ao luar de Beethoven.

Lubrificação cerebral

Os meus neurónios funcionam melhor quando mastigo. Escolha ideal: flocos de cereais, "a seco". Mais precisamente, Kellog's Especial K com frutos vermelhos. Não sujam as mãos, não se esmigalham, são pequenos, estaladiços e saborosos. E ajudam a manter a linha, dizem. A publicidade enganadora afinal serve para alguma coisa: apazigua a consciência feminina no início da época balnear.

A não esquecer

Fazer letra decente quando tomo apontamentos. E números que consiga ler. Pelo menos eu.

Verso

La terre est bleue comme une orange

(Paul Eluard)

Dentes & moedas

Este serão caiu mais um dentito à minha filha. Já está na caixinha dos dentes (uma caixinha muito gira com a forma de um molar sorridente), junto de todos os outros (uns dez, talvez). A caixinha foi religiosamente colocada debaixo da almofada, à espera da visita da fada dos dentes em que nunca acreditou, mas que é uma história bonita demais para não manter. Não me posso esquecer de ir deixar uma moeda debaixo da almofada antes de ir dormir, ou haverá uma pontinha de desilusão.
São ecos de velhas tradições perpetuadas de pais para filhos, para netos, para sempre...

quarta-feira, junho 16, 2004

Disparates (2)

Portugal ganhou no jogo com a Rússia, o país está contente, eu estou bem disposta - nada melhor do que deixar por aqui mais um disparate. Depois de posts sérios e tristes, riamos com vontade.
É mais uma história que me chegou por e-mail. É contada na primeira pessoa, mas por favor não pensem que sou eu a protagonista!!! Enviaram-ma como tendo vencido um concurso promovido por uma rádio canadiana sobre situações reais embaraçosas. Merece o prémio, sem a menor dúvida. Numa altura em que se discute a presença feminina e masculina na medicina, vem de algum modo a propósito.

Tinha consulta no ginecologista. De manhã cedo, recebo um telefonema da empregada do consultório, informando que a minha consulta tinha passado para esse mesmo dia de manhã às 09h30. Tinha acabado de tratar dos pequenos-almoços do meu marido e crianças e eram precisamente 08h45 - fiquei em pânico, não tinha um minuto a perder.
Tenho a certeza que sou igual a todas as mulheres e que temos todas muito cuidado e uma particular atenção com a nossa higiene pessoal, principalmente quando vamos ao ginecologista, mas, desta vez, eu nem sequer tinha tempo de tomar um duche. Subi as escadas a correr, tirei o pijama, agarrei uma toalha lavada e dobrada que estava em cima da borda da banheira, desdobrei-a e molhei-a, passando-a depois, com todo o cuidado, pelas "partes íntimas" para ter a certeza que ficavam o mais frescas e lavadas possível. Meti a toalha no saco da roupa suja, vesti-me e "voei" para o consultório.
Estava na sala de espera havia uns escassos minutos quando me chamaram para fazer o exame. Como já sei o procedimento, deitei-me sem ajuda na marquesa e tentei, como sempre faço, imaginar-me muito longe dali, num lugar como as Caraíbas, ou qualquer outro local lindo e pelo menos a 10 000 km daquela marquesa. Fiquei muito surpreendida quando o meu médico me disse: "Oh lá lá, hoje de manhã fez um esforço suplementar, mas ficou toda bonita!" Não percebi muito bem o cumprimento, mas não respondi.
Fui para casa nas calmas e o resto do dia desenrolou-se normalmente: limpei a casa, cozinhei, tive tempo de ler uma revista, etc. Depois da escola, já terminados os deveres, a minha filha, de 6 anos, estava preparada para ir brincar quando gritou da casa de banho: "Mamã! Onde é que está a minha toalha?" Gritei-lhe que tirasse uma do armário. Quando me respondeu, juro que o que me passou pela cabeça foi desaparecer da face da terra; o comentário do médico martelava na minha cabeça sem descanso. A minha filhinha disse-me só isto: "Não, mamã, eu não quero uma toalha do armário, quero é aquela que estava dobrada na borda da banheira, foi nessa que eu deixei todos os meu brilhantes e as estrelinhas prateadas e douradas!"

Eis que o circo chega à cidade

Durante o ano inteiro aguentei as obras do estádio, em volta do estádio, de acesso ao estádio. Todos os dias passei por ruas escavacadas, ora cortadas ao trânsito do lado direito, ora do lado esquerdo, ora dos dois lados. Amanhã chega o Euro. A escola da minha filha vai estar encerrada e não se pode circular de automóvel na maior parte das ruas pelas quais passo quase todos os dias. Há placas sinalizadoras escritas em inglês, que devem ser para iniciados nos mistérios futebolísticos, porque não as entendi. Nos acessos à cidade e por ela fora surgem umas setas brancas e cor-de-laranja indicando o caminho para o estádio. São divertidas: assinalam a distância, mas na única que vi de perto dei com uma grande mentira. Cinco minutos desde os Arcos do Jardim até ao estádio? Só se for de patins.

Muito obrigada

A todos vocês, que me lêem, que me escrevem o que ali em baixo ficou registado. Não sei como dizer o que me fazem sentir.
Quando escrevo aquele género de textos não quer dizer que esteja lavada em lágrimas a sentir-me miserável (sou tão pouco exagerada...); claro que não estarei em dia sim, mas felizmente sou uma optimista incorrigível. Há coisas que se vão acumulando, juntando umas às outras, enchem o cálice e ele transborda, e é então que começo a escrever sem quase dar por ela e sai disto. Saem coisas que raramente digo, que estão cá dentro mas às quais poucas vezes dou expressão. Mas aqui tenho deixado sair o que penso e sinto quase "em estado puro". Escrever pode ter um efeito de catarse e exorcismo fantástico. Depois fico envergonhadíssima, quando tomo consciência de que fui lida e quando esse efeito já se faz sentir (é quase instantâneo, é o que vale). Ao receber as vossas palavras tão bonitas, carregadas de empatia e carinho, sinto-me orgulhosíssima de vos ter como leitores, sinto-me privilegiada. Fico de sorriso de orelha a orelha e de coração quentinho - esta é uma expressão assim a modos que pirosita, mas de que gosto muito, por tudo o que significa de calor humano, de ternura, de conforto.
Por tudo isto, com a minha faltinha de jeito para dizer isto de forma mais bonita e menos lamechas, mas sentindo cada palavra do fundo do coração, repito: muito, muito obrigada por estarem aí. Ou melhor, por estarem aqui.

Para uma filha, de um Pai

Não fui eu, apenas, quem te deu os olhos castanhos, cor de mel.
Não fui eu, apenas, quem te deu o sorriso doce e o ar mais terno.
Mas serei eu, sempre, quem estará contigo, ao teu lado.
Quando os olhos se embaciarem.
Quando os medos te assolarem.
Quando as dúvidas te atormentarem.
Porque eu estou aqui. Sempre estive.
Mesmo quando pensaste que eu poderia fugir.
Mesmo que eu vá para longe, levar-te-ei comigo.
Serás o caminho que eu hei-de percorrer.
Juntos, saltaremos as pedras, os obstáculos, venceremos a dureza da caminhada.
Estarei sempre ao teu lado.
Mesmo quando não me vejas e eu possa estar longe.
Porque eu quero ver-te crescer.
E ajudar-te a crescer.
E crescer contigo.


Só mudei três palavras. Porque mudou a cor dos olhos e "juntas" passou a "juntos".

terça-feira, junho 15, 2004

Decididamente...

... hoje o dia devia ter sido de estar quieta, calada, sem acesso à net nem atender o telefone. Hoje parece que há uma cabala, uma conspiração para que me venham as lágrimas aos olhos. Já conseguiram, podem parar. Já houve telefonema de desabafo de quem não sabe se perde o emprego ou o conserva graças à ineficiência e falta de educação de um dos nossos ministérios. Já houve mail de me torcer o coração de um amigo afastado da filha que adora (e como eu gostava de o poder ajudar, e nada posso fazer senão mandar-lhe um grande, enorme abraço). Já houve ler isto e ficar triste, porque desde que sou mãe sinto como se todos os meninos do mundo pudessem ser a minha filha, e por isso um menino que sofre é sempre de algum modo a minha Miosótis. Já houve abrir um blog e ler esta carta linda e pensar que era exactamente assim que eu queria sentir, mas que não foi nada disso que aconteceu comigo, e que só quem passa por elas sabe quanto dói ver ruir projectos e sonhos de que me sinto roubada. Já houve abrir este outro blog e saber que em parte foi inspirado por passar por aqui, e perceber que tive toda a razão em ficar a lê-lo quando o descobri, porque diz uma série de coisas que me têm passado pela cabeça sobre blogs e sobre a vida e sobre o que ando afinal para aqui a fazer. Já houve, enfim, deparar com o pedido que está há tanto tempo atravessado na minha garganta sem ousar sair, e não ousa sair porque não há quem o ouça se eu o fizer.
Já houve isto tudo, hoje, e o mais que não conto mas anda cá dentro, em cima de uma indizível sensação de cansaço, de que tudo quanto faço é arrancado a ferros, de que cada passo pesa toneladas, de que quero pôr uma tabuleta na porta a dizer "trespassa-se" e desaparecer daqui para fora.
Mas sou casmurra. Casmurra e orgulhosa. É precisamente nestes momentos em que as lágrimas aparecem, em que me sinto mais frágil, em que as forças parecem falhar que, depois de "pingar" um bocado e de escrever umas coisas como as que acabo de escrever, me vem um ataque de genica e fúria. Cerro os dentes, arregaço as mangas, dou um murro na mesa e juro a mim mesma que vou até ao fim, que vou conseguir. E que a tese acaba, e que a minha vida entra nos eixos, e que vou chegar lá. Ao azul.

PS - Também acredito no Peter Pan. No Grande e no Pequeno. Juntos, de mãos dadas, chegam a todo o lado.

Intervalo para não reflectir

Há alturas em que nada parece fazer sentido. Ou tudo parece ganhar sentido. Ou qualquer coisa desse género, que não estou interessada em aprofundar neste momento - não sei se estou a ser lúcida se idiota. Se calhar um bocado de ambas as coisas.
Idiota mesmo é estar a escrever palermices enigmáticas quando tenho tantas coisas para fazer. Aqui fica uma inconfidência: não me apetece fazer nenhuma delas.

segunda-feira, junho 14, 2004

Disparates

Tenho andado demasiado séria, demasiado introspectiva e desencantada. Basta disto. Apetece-me dizer disparates - já o afirmei repetidas vezes, umas boas gargalhadas são um magnífico remédio para a alma. Também dizem que rir e sorrir é uma boa ginástica para os músculos faciais. Vamos a isso.
Deixo-vos uma pequena história que muito aprecio. Não faço ideia de quem a inventou. Foi-me enviada há séculos por uma das gentis almas que ao longo dos últimos anos me faz rir via e-mail.

A 20 de Julho de 1969, na qualidade de comandante do Módulo Lunar Apollo 11, Neil Armstrong foi o primeiro homem a andar na Lua. As suas primeiras palavras depois de caminhar sobre o satélite: "That's one small step for a man, one giant leap for mankind", foram transmitidas por televisão para a Terra e ouvidas por milhões de pessoas. Mas imediatamente antes de reentrar no módulo, proferiu uma enigmática observação: "Boa sorte, Mr. Gorsky".
Muitos na NASA pensaram que se tratava de uma piada de circunstância visando um qualquer cosmonauta soviético rival. No entanto, e depois de se ter investigado, não havia nenhum Gorsky tanto no programa espacial soviético como no americano.
Ao longo dos anos, muita gente questionou Armstrong a respeito do seu "Boa sorte, Mr. Gorsky", ao que ele apenas sorria. Em 5 de Julho de 1995, em Tampa Bay, Florida, enquanto respondia a perguntas depois de uma conferência, um jornalista trouxe de novo a velha questão. Mas desta vez, finalmente, Neil Armstrong respondeu que Mr.Gorsky já tinha morrido e achava que já podia revelar o mistério.
Em 1938, quando Armstrong era um miúdo e vivia numa pequena cidade de Midwest, estava a jogar baseball com um amigo nas traseiras da casa. O amigo bateu uma bola que voou e aterrou no jardim do lado junto à janela do quarto. Os vizinhos eram o casal Gorsky. Quando se aproximou da janela para apanhar a bola, o jovem Armstrong ouviu Mrs. Gorsky gritar para Mr.Gorsky: "Sexo oral! Tu queres sexo oral?! Pois só vais ter sexo oral quando o puto aqui do lado andar na Lua!"

Fim de tema

Encerrando o tema das eleições, já que a política não é, de todo, uma temática sobre a qual goste de escrever, aqui fica uma citação, homenageando Santo António e o Padre António Vieira, que na boca do santo colocou um sermão aos peixes cheio de sabedoria, como nos recordou Pedro Caeiro, do Mar Salgado.

Foi um pouco estranho escrever sobre política e, sobretudo, ver citadas e consideradas lúcidas as minhas desencantadas reflexões por um blog de referência nestas matérias, a Grande Loja do Queijo Limiano (onde há muito tenho o hábito de passar, e à qual agradeço a citação). Na verdade, o que gostava mesmo era que me provassem não ter qualquer razão naquilo que escrevi. Para bem de todos nós. Para bem da esperança no futuro deste cantito de terra à beira-mar plantado de que tanto gosto.

domingo, junho 13, 2004

Noite eleitoral

Escrevo enquanto Ferro Rodrigues discursa. Vai extrapolando das eleições europeias para a situação nacional, como já era de esperar, já que toda a campanha eleitoral foi feita nesse sentido. Se fosse a ele não cantava demasiada vitória. Não acredito que os votos de hoje se devam propriamente aos méritos do PS e do que tem feito enquanto oposição. O que os portugueses que se deram ao trabalho de ir votar (menos de 40% dos eleitores, note-se) quiseram dizer não foi que o PS é bom, mas sim que o PSD a governar com o PP são maus. Quando se andava descontente com o governo PS, votou-se PSD, não propriamente por neste colocar grande expectativas, mas como punição para os socialistas. Agora foi ao contrário. O terrível é isto mesmo. Vota-se sempre no mal menor.

Já foram votar?

Se alguém por aqui passar e não tiver ainda votado, não se esqueça de o ir fazer. Eu vou votar daqui a bocadito, fugindo ao maior calor. Voto sempre. Nunca me abstive. Não deixo nas mãos dos outros o direito de dizer o que quero ou não quero. Pelo direito ao voto morreu e continua a morrer muita gente. A abstenção é, para mim, uma arma ao serviço daqueles que vão querendo lançar o descrédito sobre a democracia. Mas esta, por muitos defeitos que tenha (e sabemos tão bem como a nossa democracia enferma de tantos males...), e parafraseando vagamente Churchill, é o melhor regime político que conheço. O direito de voto é a base da democracia. Votar é, por isso, mais do que um direito: é também uma questão de consciência e um dever. Vamos lá votar.

Domingo à tarde

As duas primas brincam no corredor. Brincam aos médicos. Dão-se mutuamente injecções, fazem operações, curam males imaginários. Sorrio: recordo os tempos em que, da idade delas, gostava tanto de brincar assim.

Nas últimas semanas, a minha filha tem andado a mostrar o seu pior lado: o mau génio. Manifesta-se especialmente comigo. Sempre foi assim, despejando sobre mim as más disposições, a par dos anseios, dos medos acumulados, dos segredos que a mais ninguém conta. A maior confiança na mãe tem este reverso da medalha muito desagradável, sobre o qual tenho conversado com ela muito a sério. Aos poucos, com esforço, vai aprendendo a dominar-se. Mas custa...
Contudo, a minha filha tem uma qualidade muito bonita que a ajudará a superar esse defeito. Tem um coração generoso e sensível. Ainda há pouco o evidenciou, ao tratar o avô com um carinho extremo. A sua relação com o meu pai é complicada: a reacção face à situação em que ele se encontra tem muito de recusa, de não perdoar o facto de ele já não ser o avô que brincava imenso com ela. Mas hoje, talvez por saber que o avô não anda bem, deu-lhe um beijo cheio de carinho, acariciou-lhe a careca, agarrou na sua mão para brincar com ela, com uma doçura tão grande... Ele correspondeu com o único sorriso dos últimos dias.

Será assim que se resolve alguma coisa?

Leio esta notícia no Público. Desgosta-me a atitude do Sindicato dos Professores. Não que os professores portugueses, desde o 1º ciclo ao ensino superior, não tenham imensas razões para se queixar. Mas que vantagem terá uma acção deste tipo? O governo assusta-se e apressa-se resolver os milhentos problemas dos professores? A roupa suja lava-se em casa.

sábado, junho 12, 2004

Intimismos

Ouço o Music in a foreign language quando estou virada para dentro. A letra abaixo é de uma das desencantadas canções que Lloyd Cole canta nesse álbum melancólico e, sobretudo, intimista. Música para ouvir em dia-de-ouriço-cacheiro-enrolado-sobre- si. Gostava de ter o talento de traduzir em palavras o que é um dia assim. Não tenho, por isso calo-me. E ouço Lloyd Cole.

No more love songs

Rather than you, she said
I prefer solitude
Rather the company
I prefer cigarrettes

Even Los Angeles
Suffers occasionally
Do you have somewhere to stay?

But no more love songs
Not for me

I gave er whisky
And she gave me everything
There was a boy, she said
Beautiful, eloquent
He went to Spain
And where he went, she went

No Joan of Arc
She was broken discarded
And that was a long time ago

Still, no more love songs
No more love songs
stil, you might as well live

I'll drink to harmony
Peace and disarmament
I'll dance the victory waltz

But no more love songs
No more


(Lloyd Cole)

Respirando ar e flores

Aos links ali do lado juntam-se mais dois. Dois blogs em sintonia um com o outro, o Respirar o mesmo ar e a Flor de Areia. No primeiro, li alguns dos textos mais tocantes que encontrei nos últimos tempos no mundo dos blogs, entre os quais uma longa e sentida apologia da não-violência que calou fundo em mim. O segundo, ainda recém-nascido, tem como epígrafe uma das frases mais bonitas do meu episódio preferido do Principezinho: "Se vieres, por exemplo, às quatro horas da tarde, às três eu já começo a ser feliz", explicava a raposa àquele que estava a tornar-se seu amigo.

sexta-feira, junho 11, 2004

Uma notícia boa!

Acabo de saber, através dos veneráveis irmãos da Loja do Queijo, que Avelino Ferreira Torres foi condenado. Por uma vez, um autarca corrupto não saiu do tribunal como herói; foi condenado a três anos de prisão com pena suspensa e à perda do mandato.
Agora gostava de saber uma coisa: continuará ele a ser o candidato à presidência da câmara de Amarante nas próximas autárquicas?

Bandas de garagem

Em frente ao meu prédio há uma garagem onde se junta um grupo de adolescentes com delírios musicais. Têm uma falta de jeito assombrosa. Dos instrumentos que tocam (?) não sai som que se consiga ouvir sem um arrepio na espinha. Felizmente, a garagem fica do lado contrário ao do meu apartamento. Com a janela aberta, porém, o som chega até mim; acabo de os ouvir assassinar mais uma música qualquer.
O mais engraçado é ver a minha filha a tapar os ouvidos sempre que os ouve e a protestar que eles não sabem tocar coisa alguma. Continua assim, filhinha querida. E, já agora, continua a achar que eles se vestem como palhaços e ficam com aspecto de parvos de cabelo espetado e oxigenado. É assim mesmo, com sentido crítico e bom gosto, que gosto de ti, meu amor.

Aftas e templates

Nunca arranjem uma afta na língua. Dói que se farta, incomoda, não deixa raciocinar. Enquanto a coisa (leia-se a acção combinada de anti-inflamatório, um elixir e uma daquelas droguinhas para pincelar que arde imenso) não dá efeito e não consigo trabalhar, aproveito para pôr em ordem os links aqui ao lado. A quantos de entre os blogs acrescentados mencionaram o Um pouco mais de azul, muito obrigada. Não é por isso, porém, que fazem parte desta lista. É porque gosto de os ler. Quando tenho tempo, o que cada vez será mais raro nas próximas semanas.

Em tons de azul (número não sei quantos, perdi a conta)



Pablo Picasso, Nu azul

quinta-feira, junho 10, 2004

No alto de fragas

O dia foi em boa medida assim, no alto de fragas, olhando o passado. E perto de carvalhos - a minha árvore por excelência. E em óptima companhia. Resumindo: um dia muito bom.

Disparates

Depois de dizer coisas sérias que provavelmente não devia sequer dizer aqui, nada melhor do que disparatar com um pensamento douto e profundo (e de muita experiência feito): não há como roupa usada, já adaptada ao nosso corpo, especialmente se for roupa interior.

quarta-feira, junho 09, 2004

Carta para ti

Hoje fazes-me falta. Não sei porquê hoje em especial, mas fazes. Ao entrar em casa, senti-me estupidamente só e a precisar do teu ombro. Hoje apetecia-me enroscar ao teu lado no sofá, pousar a cabeça no teu colo e ficar assim, contigo a falar-me baixinho, a fazeres-me festas no cabelo, docemente, a dares-me carinho. Apetecia-me mimo, o teu mimo.
Sinto-me meio idiota a escrever isto aqui, sabes? Onde me sei lida. A consciência de que se é lido muda alguma coisa na nossa capacidade de deixar a alma falar - já várias pessoas o disseram e agora é a minha vez de o sentir. Paciência. Prefiro escrever no blog do que num dos muitos pedaços de papéis a que perco o rasto. Assim, um dia mais tarde, ao reler este post, lembrar-me-ei que no dia 9 de Junho de 2004, pelas 22h, estava a sentir a tua falta. Ou tu, lendo-me (não te esconderei a existência do "Um pouco mais de azul", e só se tu não fores tu é que não compreenderás), saberás que te quis ao meu lado neste dia, de tal modo que tive de o traduzir por palavras e escrever-te.

A morte saiu à rua num dia assim

Este verso do Zeca Afonso veio-me à ideia mal soube da morte de Sousa Franco. Fiquei triste. Não gosto de política, não gosto de falar de política, resguardei-me da campanha eleitoral ao ponto de quase conseguir esquecê-la. Mas gostava da figura de Sousa Franco. Gostava do seu ar desajeitado e genuíno. Gostava de um homem que se via estar a sentir-se como peixe fora de água em tantas ocasiões, embaraçado no mediatismo. De um homem que não mudava de imagem por motivos de marketing político e mantinha os seus óculos esquisitos - e assim passou, para mim, a imagem, rara entre os nossos políticos, de um homem honesto.
Morre Sousa Franco na recta final de uma campanha eleitoral a que o país assistiu de costas voltadas. Que serve apenas para os políticos se ouvirem a si mesmos, para os jornalistas terem com que se entreter e para muitos analistas e comentadores arranjarem assunto para falar narcisicamente durante horas. E para gastar dinheiro a rodos, claro está. Alguém vota num qualquer partido por causa da campanha? Duvido. Eu não o faço. Para quê todo este folclore?
O mais absurdo é que Sousa Franco teve um ataque cardíaco depois de uma cena que nada tem sequer a ver com as próximas eleições, se bem percebi. Bulhas no seio do seu próprio partido, em torno de Narciso Miranda, imagine-se. A morte tem um humor negro e perverso, quando resolve sair à rua, num dia assim.

Onde se fala acerca da tese

A tese, essa espécie de monstro que assombra a minha vida há anos. A tal que está a chegar perto do fim, sem que no entanto sinta esse fim próximo. Demoro a escrever. Uma gestação é sempre um processo moroso.
Releio o que escrevi nos anteriores capítulos. Como muitas outras vezes, espanto-me. Fui eu quem escolheu cada palavra, quem as ordenou, quem as distribuiu de acordo com uma lógica por mim pensada. No entanto, agora que me releio, quase não me reconheço como autora. É como se o texto ganhasse uma vida própria, tivesse recebido com a aprovação final uma carta de alforria relativamente a mim. Passei a ser leitora de mim própria. Sabe bem gostar do que leio; quando não gosto, corrijo, melhoro, aperfeiçoo. Ao tornar-se o texto independente de mim, ganho uma neutralidade, uma capacidade crítica que antes não existia da mesma forma.
Uma nova fase na construção desta tese começa hoje. Exigente, mas aliciante. Muito mais do que a anterior, que me deu vontade de atirar tudo pela janela fora. Agora o trabalho interpela-me, lança-me olhares sedutores. Está a chamar por mim. Vou ter com ele.

terça-feira, junho 08, 2004

Alegrias da vida em apartamentos

No apartamento de baixo discute-se forte e feio. A minha vizinha, quando berra, fica com uma voz áspera, feia, desagradável. Batem portas, ouvem-se passos apressados e rápidos casa fora, as vozes alteradas chegam cá acima quase inteligíveis. Sinto-me sempre incomodada por me sentir testemunha de coisas destas. Penso nas vezes em que terão sido eles a ouvir as discussões cá de casa. Espero, sinceramente, que nunca a minha voz tenha soado como a dela.

Ainda mais curtas

Com a minha irmã existe a ligação do sangue. Mas não existe empatia. Nem, a bem dizer, simpatia. Que pena. Adoraria ter uma irmã que fosse a minha melhor amiga.

Curtas

Ontem falava do alívio do silêncio. Hoje o silêncio pesou toda a manhã, com a ausência da minha Miosótis querida. Faz falta o barulho de fundo, mesmo quando sabe bem não o ouvir. Contradições de mãe - partilhadas por uma empregada-galinha.

Madrugada

Hoje, esta coruja teve de se levantar com as galinhas. Bom dia (ensonadíssimo...) a todos.

segunda-feira, junho 07, 2004

Defeitos da natureza

As crianças deviam ter dois botõezinhos incorporados. Um para baixar o volume do som, outro para lhes diminuir a energia. Hoje teria sido excelente poder contar com a ajuda desses dois botões miraculosos. A perspectiva de uma visita de estudo da escola que dura todo o dia e os leva em passeio para longe daqui deixa os garotos numa excitação imensa. Bonita de ver, mas muito difícil de aturar. Desde que chegou a casa até ir para a cama, a Miosótis não esteve sossegada um minuto. Até a lavar os dentes cantarolava e dançava. Só agora, com o silêncio a reinar na casa, volto a ser capaz de ouvir os meus próprios pensamentos.

Mais arte simples



Pablo Picasso, O mocho

Descobri uma data de desenhos assim fantásticos com os quais me encantei; o blog é que paga...

(À falta de coisas para roer escrevo aqui. Não faz o mesmo efeito, mas pelo menos também não engorda...)

Comichões

Pronto: falei em piolhos e comecei a sentir comichão pelo corpo todo. É inevitável, sou sugestionável. Passei um tormento uma vez, quando dava aulas ao 2º ciclo e tinha um aluno muito porquito, coitadinho, que insistiu em se encostar a mim durante todo o tempo que durou uma acção de formação sobre piolhos. Não se riam, foi terrível.

Coisas para roer

Estou com falta de coisas para roer. Não há bolachas em casa, nem flocos de cereais. Só pão, mas o efeito não é o mesmo. Não dá para roer, e eu preciso por vezes de roer enquanto trabalho. Mastigar algo duro e seco, como as bolachas e os flocos, estimula-me o cérebro. Acho que um dia me ofereço como voluntária para um estudo sobre o assunto (já alguém se terá lembrado de tal coisa?) - na condição de em troca ter a despensa permanentemente abastecida destes carburantes.
Também me ajuda a alinhar ideias coçar a cabeça vigorosamente. Era terrível no meu tempo de estudante: no meio das frequências esquecia-me que estava num lugar público e punha-me a coçar a cabeça. Se calhar passei por ter piolhos, que horror!

A arte simples

Fala assim hoje João Vasconcelos Costa da arte despojada de grandes artifícios, dando como exemplo os desenhos em meia dúzia de traços feitos por Picasso. Partilho o gosto. Deixo-lhe aqui um cravo vermelho, caro mentor do indispensável Professorices.

domingo, junho 06, 2004

Onde se fala de esqueletos e de frigoríficos

Sosseguem os meus leitores: não sou nenhuma assassina que conserva os esqueletos das vítimas no frigorífico. Mas, na verdade, durante alguns meses houve um esqueleto pendurado nele. Passo a explicar o que se passou (é melhor fazê-lo antes que algum serviço secreto de luta contra o crime leia este blog e me venha pedir contas...).

Ofereceram há tempos à minha filha um livro sobre o corpo humano que se desdobra num boneco em tamanho natural mostrando o esqueleto, os músculos e os principais órgãos do corpo humano. A Miosótis gosta muito de biologia, pelo que tal livro foi uma oferta muito apreciada. Como tem uma herança genética altamente professoral, adora dar aulas. As vítimas ora são as bonecas, ora a nossa muito paciente e amiga empregada. Para lhe poder ensinar biologia sem prejuízo das tarefas domésticas, nada melhor do que levar o esqueleto para a cozinha e pendurá-lo num dos lados do nosso enorme frigorífico. Foi assim que, durante meses, o esqueleto ali esteve, e só de lá saiu quando a brincadeira perdeu o interesse e a fita-cola que o prendia deu de si. Já me tinha habituado à presença dele,depois de uma primeira fase em que me pregou alguns sustos quando ia distraída à cozinha a meio da noite e dava com aquela figura na minha frente. É por isso que agora olho para o frigorífico e sinto-o despido.

Muito gosto eu disto

Enquanto a minha filha dormia, consegui apoderar-me do novo volume do Babyblues e devorá-lo quase todo. Deixo um bocadinho para se divertirem também. Muito me revejo nas aventuras do dia-a-dia desta família!

Bizarrices

Vou imensas vezes à cozinha às escuras ou acendo apenas a luz da despensa. Não gosto de acordar os canários.

Pela milésima vez nas últimas semanas, sinto o meu frigorífico nu: falta-lhe o esqueleto.

A vontade de escrever esta última frase surgiu logo na primeira vez que tive tal sensação. Se me pedirem, explico. Se não tiverem curiosidade, deixo assim. Diverte-me. Podia ter-me dado para pior...

sábado, junho 05, 2004

Mãe 0 - Filha 2

Entramos na loja de música; alguém me aparece com um CD que gostava tanto, tanto de ter... A seguir, entramos na livraria: olho para as estantes de poesia. O mesmo alguém vem toda contente informar-me que saiu mais um volume do Babyblues. Agora, estou a ouvir uma colectânea de êxitos musicais mais ou menos insuportáveis e aproveito a concentração na música para ir dando uma olhadela à banda desenhada, pois só lhe volto a pôr um olho em cima quando ela tiver acabado de o ler...

Ainda recordações de viagem



Marc Chagall, O Paraíso (Nice, Museu Le Message Biblique)

na rua do firmamento a noite caminha espalhando poemas

E. E. Cummings

Apenas um verso, adequado a estas horas tardias. Boa noite!

sexta-feira, junho 04, 2004

Dos nomes que damos àqueles que amamos

Tenho aqui referido a minha filha como Olhos Azuis: o anonimato que impus impede-me de a chamar pelo seu nome. O nome escolhido ainda antes de ter nascido, antes sequer de os pais casarem. O nome que se desmultiplica em vários diminutivos, ternurentas formas de a chamar. Às variações em torno do seu nome junta-se uma série de petits noms que fazem parte das nossas brincadeiras de mãe e filha desde que ela era muito pequenina. Chamava-lhe miosótis (vou adoptar esta designação aqui, a partir de agora), florzinha, e nomes de animais. Consoante os dias, ela era o meu esquilito, pinguim, gatinha, coelhito; ora escolhia eu, ora ela. Era também, muitas vezes, por ser comprida e magrinha, a minha minhoquinha. É horrível, eu sei, mas a verdade é que esta sempre foi a designação preferida (ainda é, em momentos de mimo). Talvez por ser única: não acredito que mais nenhuma mãe seja maluca ao ponto de chamar tal coisa a uma filha!
Tinha a Miosótis 3 ou 4 anitos e saiu de casa numa grande birra, zangadíssima comigo. Nesse dia, ela era um esquilinho e disse-me: "Vou fugir de casa e viver para o alto daquela árvore!" (apontava para a grande árvore que existe mesmo ao lado do nosso prédio). Cheia de vontade de rir mas com uma cara muito séria, fiz-lhe ver que se fosse viver para o alto da árvore eu ia ficar com muitas saudades. A birra ficou por aí; mãe e filha seguiram o seu caminho, de mãos dadas.

Tudo o que está perto pára

tudo o que está perto pára,enquanto uma estrela cresce

tudo o que está longe respira um sonho dinal de sinos;
perfeitamente delineados contra o esplendor da tarde
estão assombrosos os e tranquilos montes

(não onde não aqui nem no azul de cada um mas no dos dois)

e a história incomensuravelmente é
mais rica na doce e mera morte de cada dia:
tal como não imaginados segredos condensa

douradamente enorme toda a flutuante lua.

o Tempo é um estranho companheiro;
mais dá do que tira
(e ele tira tudo)mas nenhuma maravilha encontra
a verdadeira desaparição pois apenas alguma mais intensamente
permite
a perda,o ganho
- o amor! se um mundo acaba

mais do que todos os mundos começam a(vês?)começar


E. E. Cummings (trad. Cecília Rego Pinheiro)

Amizades no mundo de hoje

Não há dúvida que as alterações introduzidas na nossa vida pela facilidade das comunicações e pela internet se reflectem no campo das relações humanas. Um bom exemplo disso são os blogs. Neste, como já várias vezes disse, têm surgido empatias, simpatias e amizades que passam para o "outro lado" da vida. Não sabia que podia ser assim, mas é. Também não sabia que uma amizade se podia cultivar pela quase exclusiva via das sms, mas pode. E por isso estou com um grande sorriso nos lábios, neste preciso momento.

quinta-feira, junho 03, 2004

Acampamento

Esta noite, quando fui ter ao quarto, onde a minha filha brincava, para a meter na cama, deparei-me com um lindo espectáculo. A cachopa tinha tirado o colchão da cama que não se usa e fizera um verdadeiro acampamento no meio do chão. Se calhar devia ter-lhe ralhado por estar tudo em desordem. Em vez disso, sorri e perguntei-lhe se queria dormir ali, como se estivesse acampada. Escusado será dizer que a proposta foi aceite com grande entusiasmo. Acho que a mãe ainda é pior que a filha!

Digam lá se não concordam

Em lugar de estar a ficar com os miolos a ferver em torno das minhas papeladas, não é muito mais interessante dissertar sobre as maravilhas do Technorati, que a cada vez que lá vou me dá números diferentes para os links deste blog?
Mesmo com omissões na lista, verifico que tenho uma data de actualizações de links para fazer, bem como agradecimentos para pôr em ordem. Fica para quando tiver tempo. Primeiro tenho de ver o lado do dossier do que ainda não fiz diminuir, à medida que engorda o outro lado, do já feito. Infelizmente, não basta virar as folhinhas de um para o outro lado das largas argolas metálicas.

Alguém conhece?

Será que alguém por acaso conhece alguma mezinha milagrosa contra enjoo de tese? Não recomendem viagens que não resulta: faz diminuir os sintomas mas não cura o enjoo. Será que Nausefe (será esse o nome? maldita memória selectiva) funciona, como durante a gravidez?
E já agora, haverá alguma ainda mais milagrosa que faça o trabalho render à brava, mesmo quando feito com o tal enjoo?
A mezinha mais polivalente de que me lembro é o óleo de cedro, mas não me parece que se aplique nestes casos (não tentem perceber, isto é uma bastante private e não menos idiot joke).

Mais uma recordação de viagem



Henri Matisse, As abelhas (Nice, Museu Matisse)

Qual abelhinha zumbidora e laboriosa, lanço-me ao trabalho.

Há metafísica bastante em não pensar em nada

Assim se chama um poema de Alberto Caeiro, com o qual me identifico bastante, e de que há pouco falei ao comentar um post do Holocénico. Antes de mergulhar de cabeça num mar de documentos para os quais não me apetece olhar, aqui fica o poema.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

quarta-feira, junho 02, 2004

10 000

Quando este post estiver a ser publicado, o contador que sigo e considero mais fiável e inteligível terá marcado as 10 000 visitas. Estou vaidosa!

Subsídio de alimentação

Será que existe algum subsídio de alimentação especial para quem tem uma filha que come que nem frieira? Tenho de me candidatar a algo do género.
Ontem ao jantar, a minha Olhos Azuis deixou espantados os convivas ao servir-se por três vezes. Hoje ao almoço, devorou a comida. Agora, comeu o dobro do que eu comi. E não engorda - cresce magrinha, esguia que nem um junco!

Calor

Se este maldito calor que se faz sentir na minha quente cidade continua, desisto da tese e vou daqui para fora. Não consigo fazer nada de jeito assim. Raios partam as mudanças climáticas que fazem a temperatura subir para os 30º e mais no início de Junho!

It's only time

Tenho ouvido o CD vezes sem conta. Especialmente esta canção. Sou um bocado de ideias fixas, ou melhor, de músicas fixas, e esta é tão bonita... Já o Jorge o tinha dito há uma data de tempo; foi da sua Roda Livre que "rapinei" a letra.

why would I stop loving you
a hundred years from now?
it’s only time
it’s only time

what could stop this beating heart
once it’s made a vow?
it’s only time
it’s only time

if rain won’t change your mind let it fall
the rain won’t change my heart at all

lock this chain around my hand
throw away the key
it’s only time
it’s only time

years falling like grains of sand
mean nothing to me
it’s only time
it’s only time

if snow won’t change your mind let it fall
the snow won’t change my heart not at all

I’ll walk your length
and swim your sea
marry me
marry me
and in your hands
I will be free
marry me
marry me

why would I stop loving you
a hundred years from now?


(Magnetic Fields)

Será que está tudo doido?

Ainda mais do que eu já achava que estava? Ou será que passaram o dia dos disparates para 2 de Junho?
Ora vejam esta notícia do Público. Então agora começa a falar-se de quotas de homens no acesso às Faculdades de Medicina? Porque são mais as mulheres a entrar do que os homens? Então isso não prova apenas que muitas raparigas têm melhores notas, porque se dedicam mais ao estudo no secundário do que os rapazes, como já é sabido, aliás? Os homens, coitadinhos, precisam de quotas para entrar nos cursos?
Esclareço desde já que acho imbecis os critérios de selecção dos candidatos ao ensino superior. Não acredito em médias de 18 ou 19. Não acredito em milhares de candidatos que as alcançam anualmente, que não falham com o nervosismo dos exames. Acho que se estão a criar robots adaptados para responder automaticamente a questões, não jovens com espírito crítico, capacidade de raciocínio, etc, etc. Mas se as regras do jogo são estas, rapazes e raparigas devem estar em igualdade de circunstâncias, ora! Outra coisa fará sentido? Outra coisa não será mais que um disparate pegado, fruto de machismos idiotas?
Lê-se no jornal, também, uma entrevista com alguém que defende a presença dessas quotas (homem, claro está). E o que diz é, para mim, de bradar aos céus! A maternidade impede a dedicação plena das médicas? A gravidez passou a obstáculo? Não venham com tretas (como se diz nessa entrevista) de que uma licença de parto estraga a possibilidade de uma carreira cirúrgica - se calhar alguma coisa está errada com tal carreira, se é impossível ser interrompida durante 4 meses... Se for um homem que parta uma perna e demore igual tempo a recuperar já não haverá problema de retomar a carreira?
O grande problema passa mais por outro lado, a meu ver - também abordado na mesma entrevista. É que isto de um homem ser consultado por uma urologista é capaz de ser vexatório para a sua virilidade... Não atenta contra a feminilidade, no entanto, ser consultada por um ginecologista, pois não? Deixem-se de tretas. Pensem é em formar bons médicos, seja qual for o seu sexo. Pensem em modificar o imbecil sistema de selecção dos candidatos às universidades.

Este texto foi escrito a quente. Fiquei fula ao ler isto. Fula mesmo.

Preguiçando

Estou preguiçosamente a digerir um jantar que me soube muito bem. Ficar-me-ia mal dizê-lo se me estivesse a referir apenas à comida, dado que a cozinheira fui eu (com excepção de uma deliciosa torta de que comi mais do que o bom senso aconselhava). Mas refiro-me, sobretudo, à companhia, à conversa, à calma. A repetir, sem dúvida, sempre que houver oportunidade.
Mas, já agora, perdoem-me a imodéstia, a comida também me agradou - ou não tivesse preparado o meu prato de bacalhau favorito!
O pior é arranjar coragem para trabalhar de barriga e alma cheias...

terça-feira, junho 01, 2004

Coisas boas

Entre as coisas boas que o meu casamento teve, conta-se a descoberta do jazz. Foi graças ao meu ex-marido que me apaixonei pela voz da Ella Fitzgerald, que conheci Coltrane, entre outros, que (ainda) andam cá por casa muitos CDs de jazz e que estou aqui a trabalhar ao som de Chet Baker, Autumn in New York. Moral da história: todas as coisas têm um lado positivo.

Dia da Criança

Já que hoje é o Dia da Criança, aqui fica mais esta foto do Zé: uma flor numa mãozinha infantil. Serve ela, também, para te dar os parabéns, com um beijo muito grande.

Sabem que mais?

Gosto de ter este blog. Gosto dele assim, calmo, caseiro, familiar. Gosto de quem passa aqui e me deixa as suas palavras - amigas, carinhosas, empáticas.
Este mundo dos blogs tem-me reservado muitas surpresas. Uma ou outra foram desagradáveis - já esqueci, não contam. Quase todas têm sido boas, deliciosas, mesmo. A sensação tão especial de encontrar pessoas, e não simples palavras sem dono, sem alma. A certeza de algumas amizades, que são sinceras apesar da distância e do anonimato. A delícia de aqui encontrar alguns dos amigos de todos os dias, ou de só de vez em quando. A alegria de ver partilhados interesses, gostos, preocupações, que tantas vezes quem me rodeia não partilha nem entende. A empatia.
Encontro um pouco mais do azul que procuro neste espaço. Sinto que outros o encontram também e aqui se sentem em casa. Não sabia que ter um blog podia ser assim. Não imaginava que pudesse ser uma experiência tão rica e gratificante. Ainda bem que a vida nos reserva belas surpresas.

Impressões de viagem

Não que as minhas impressões de viagem interessem especialmente, mas como um destes dias, sentada na praia, me deu para escrevinhar, em lugar de deixar o papelucho por aí até se perder passo para aqui o que então escrevi. Em Nice, no dia 29.

Estou junto ao mar. Em vez de areia, esta praia tem pedras, seixos rolados de diferentes tamanhos e cores. O mar é azul turquesa - mas nesta hora do final da tarde, com o sol escondido por entre umas nuvens, ficou apenas azul claro. Pequeninas ondas rebentam mesmo aos meus pés e fazem rolar os seixos, provocando um barulho diferente do usual nas nossas praias de areia fina. Sinto saudades da minha filha - apetecia-me ouvir a sua tagarelice aqui ao lado, enquanto brincasse. Apetecia-me ouvi-la chamar: "Mãe".
À minha direita, ao fundo da Baía dos Anjos, muito longe, avista-se a azáfama do aeroporto, onde aviões não páram de aterrar e descolar. Do lado esquerdo, um alto penhasco delimita a Baía e esconde o porto. Muito ao fundo, as silhuetas dos barcos dão-me vontade de partir. Poucas gaivotas passam por aqui. É pena: fazem-me falta.
Atrás de mim ficam os edifícios emblemáticos de Nice: os hoteis de luxo, o Negresco, o West-End. Não sei em qual deles se situa aquele filme célebre do Cary Grant e da Grace Kelly, cujo nome nunca sei ("O ladrão de jóias?"). Lembro-me mal do filme, mas guardo a recordação de um grande edifício cheio de janelas, de ambos na praia e em Monte Carlo. Seria em Nice? Seria em Cannes?
Gosto da praia assim, quieta, quase sem ninguém, ao final da tarde. Sabe bem não fazer nada e deixar, simplesmente, os pensamentos correr, sem destino, olhando o mar, vendo os seixos vir, e ir, e voltar, devagarinho, ao sabor da leve ondulação.


 
Site 

Meter